terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Internação compulsória

Está no ar a nova polêmica sobre a cracolândia. Agora é a internação compulsória.
Para quem não sabe, desde ontem é possível a internação sem o consentimento do paciente, desde que acompanhada de recomendação médica e aprovada por juiz de direito. O paciente contará com defensor público e o processo é acompanhado por representante da OAB.
Peço agora que o leitor forme sua opinião antes de eu apresentar a minha. Pense por um ou dois minutos se a medida parece boa. Eu espero aqui.

Pronto ?

Pois bem. Sou totalmente favorável à medida que, na realidade muito me assusta em sua forma teórica. Começo pelo final. É famosa na literatura ficcional a situação do sujeito tratado como paciente mental apenas por ter inimigos no lugar errado (ou de um nível de poder com o qual ele não pode lidar). Pergunto: não temos casos similares no mundo real, com a diferença apenas de ser uma perseguição jurídica em lugar da psiquiátrica ? Temos, e muitos. Assim como perseguição política, midiática, informacional e até social. em uma situação limite, uma pessoa que não tenha amigos no meio médico ou jurídico pode ser vítima de um complô entre médico, advogado e juiz e acabar internada sem motivo real algum. 
Se você achou minha tese fora da realidade, troque o advogado por um policial do exército, o médico por um torturador e os anos 2010 pelos anos 1970 e fica mais fácil de entender meu temor. 
Considerações teóricas a parte, precisamos ver o lado prático. Por motivos que realmente escapam à minha compreensão, permitiu-se o desenvolvimento de uma região da cidade de São Paulo onde centenas, se não milhares, de dependentes químicos de crack e outra drogas perambulam a luz do dia como zumbis consumindo substâncias ilícitas a céu aberto e à vista de todos. Em um país sério, providências seriam tomadas no primeiro caso, não depois de milhares. 
E quais seriam as providências se não a mesma internação compulsória, alvo dos esquerdopatas neste debate? Como pode um dependente de crack, já com o sistema nervoso deteriorado, incapaz de se locomover, falar e pensar pode tomar alguma decisão racional sobre o que quer que seja? 
É claro que a internação compulsória produz menos resultados que a voluntária. É claro que o processo de recuperação do dependente químico depende, principalmente, do próprio paciente querer sair da situação em que se encontra. É claro que a internação compulsória gastará milhões de reais em tratamentos que não surtirão efeito algum em pacientes que tiverem recaídas tão logo estejam nas ruas. 
Mas deixo no ar a pergunta, já em apoio à medida adotada, aos que são contrários à medida: é para fazer o que então? Deixar assim? Esperar o dependente químico tomar a iniciativa? Façam-me o favor... Isso sim é burrice aguda.
Desculpem-me, caras, mas eu sou mais humanitário do que vocês.

Um comentário:

  1. Repito o que eu disse antes: dependência em drogas é, atualmente, tratada como doença. Nenhum dos estudos mais recentes vai contra esse pensamento, que ao meu ver é o mais correto.

    Então, considerando o vício como uma epidemia, os meios clássicos de combater o mesmo seriam atacar os vetores (traficantes e usuários), o que não tem dado resultado nos últimos... dez anos? Interessantemente, a internação compulsória entra nesse grupo, com um agravante: ela combate o sintoma, não a causa.

    Então deveríamos tentar combater os fatores de fixação do vício. Dos fatores clássicos, os únicos que eu vejo como passíveis de atacar hoje (terapia genética ainda não funciona nisso) estão as predisposições à depressão (li um estudo fantástico a respeito tratando de tabagismo, mas boa parte das conclusões se aplicam aqui) e o limiar de vício (sabe que menos de 1% de todas as pessoas que já usaram cocaína na vida acabam viciados?).

    Por que eu falei disso tudo? Simples: eu sou a favor da internação compulsória. Mas também sou honesto em admitir que isso, apesar de melhorar as condições atuais, a longo prazo não resolve nada. Só isso é pouco, e nenhuma ação tomada agora vai poder ser avaliada de verdade em menos de 10, talvez 20 anos.

    Exatamente como no caso do Bolsa Família, mas esse é outro assunto.

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