segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vermelhos e Azuis

O relato a seguir completa 20 ainda este semestre. Lembrei dele hoje quis dividir com vocês. Dedico a todos os jogadores de RPG em geral, e ao ao amigo Alexandre Lee em particular.
Estava eu chegando na FAU para a abertura da 2a USPCON quando encontrei uma dupla de jogadores cariocas. Eles estavam relatando o ocorrido em uma mesa no Rio de Janeiro. Claramente bons e experientes jogadores, eles precisavam dividir com alguém o ocorrido. Não me recordo o nome deles e peço desculpas por isso. Chamarei a ele de "relator" e o companheiro de "amigo". 
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Os rapazes jogavam RPG já há alguns anos. Aquela vontade louca de matar monstros e acumular poder estava saciada, e eles tentavam alçar voos mais altos, por assim dizer. Na era ainda antes de Vampire: the Masquerade, isso não era nada fácil. Optaram pelo caminho de difundir o jogo, na esperança de algo genial surgir do acaso. 
Depois de semear bastante, chegou o dia de colher. Um dos jogadores que havia aprendido a jogar RPG com eles os convidou para jogar em uma loja do bairro.
- Criei uma aventura - disse ele - e queria que vocês dois jogassem. O resto da mesa já está montada. 
- Legal. Do que se trata ? - perguntou o anônimo relator da história.
- AD&D.
O rapaz era novato e havia começado pelo AD&D. Era natural que começasse mestrando a mesma coisa. Claramente teríamos uma aventura hack´n´slash, mas ele tinha que começar de algum jeito. Não era hora para recriminar.
O mestre apresenta fichas prontas: seis personagens de 1o nível, sem nada que chamasse a atenção, nem positiva nem negativamente. Uma boa maneira de se começar, sem dúvida. O mestre descreve sucintamente o ambiente coloca os aventureiros na estrada. E logo começam as peripécias:
- Vocês percebem uma sombra passando por vocês - diz o mestre.
- Olhamos para cima - diz um jogador.
- É um dragão - diz o mestre
Os jogadores experientes trocam olhares. "Durou pouco, hein ?" eles pensam.
- O dragão passa por vocês e pousa na estrada um pouco a frente. Ele é azul. - diz o mestre.
Os jogadores se entreolham. Ninguém diz nada. Os dragões cromáticos são definidos como maléficos em AD&D, e mesmo um grupo de 6 personagens de 20o nível pode ter sérios problemas para enfrentar um. São muitos poderes, iunidades, voo...  Alguns dos jogadores conferem a ficha em busca de algo que tenha escapado ao primeiro exame, mas logo mestre os interrompe:
- O dragão diz "Posso acompanhá-los em sua jornada ?"
Pasmos, os jogadores não conseguem responder. O relator é o primeiro a se recobrar do choque e responde:
- Ehrm... Claro !
- Aguardem um momento. Vou chamar meus amigos - diz o mestre em nome do dragão.
"Bem..." - pensa o relator - "já estamos aqui mesmo, a coca-cola ainda está gelada... Vamos ver o que vem."
Outros 3. 
Nada menos do que um grupo de 4 dragões azuis estão juntos e acompanhando o grupo de primeiro nível. A aventura não tinha mais salvação. Agora era hora de ver onde isso ia levá-los.
O grupo viaja pelo restante do dia sem incidentes. Também, pudera... Ao anoitecer, é hora de descansar. O amigo está mais no clima do jogo e toma a iniciativa das providências. 
- Precisamos montar turnos de guarda - diz o amigo.
- Não se preocupem - diz o mestre em nome do dragão azul líder - nós cuidamos disso.
Outra sequência curta de olhares trocados foi rapidamente seguida pelo ver movimento de expressão corporal "dar de ombros". E relaxaram, todos os jogadores.
Durante a noite, o mestre anuncia.
- O dragão azul acordou vocês. "Acordem. Estamos sendo atacados."
- O que diabos atacaria quatro dragões azuis ?! - pergunta o perplexo relator.
- Quatro dragões vermelhos - responde o mestre.
Arrependido de ter perguntado, o relator diz:
- Eu pego minha espada e espero uma chance de atacar. 
O mestre sorri e começa a rolar dados aos montes para executar o combate. Dragões voam e todo o combate se desenrola no modo aéreo. Em nenhum momento os personagens tem qualquer chance de interferir na luta. Trocam-se magias, bafos, golpes... A coisa toda dura meia hora até o mestre anunciar:
- Os dragões vermelhos estão fugindo.
Mais uma troca de olhares e o amigo diz.
- Ótimo ! Vencemos ! Podemos voltar a dormir ?
- Sim, podem - responde o mestre complacentemente.
Pela manhã, os aventureiros retomam a viagem, chegando ao destino convenientemente na hora do almoço. Mas então o mestre declara que a missão foi cumprida e assim terminava a aventura.
Com um misto de irritação, choque, perplexidade e sensação de tempo perdido, o relator se levanta calmamente, já puxando a alça da mochila para ir embora. Ele ainda consegue manter uma expressão neutra, evitando chatear o mestre. Mas é quando o amigo o interrompe.
- Mestre, fiquei com uma dúvida sobre a aventura.
"Só uma ?!" pensou o relator. O mestre olha para ele e aguarda.
- Mestre, como podem dragões azuis derrotarem dragões vermelhos? Todos sabem que dragões vermelhos são mais fortes."
- Verdade - responde o mestre - mas os dragões vermelhos eram thieves e os azuis eram fighters
- É... deve ter sido por isso.
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Moral da história: vamos com  calma ao criticar roteiros de filmes e jogos. Talvez você não faça melhor.

2 comentários:

  1. Olha é dificil comentar algo do genero pq já vi e fiz muita loucura.
    Mas ainda to procurando o motivo para os dragões azuis seguirem os pjs. Dava a impressão que os players eram um grupo de bichinhos de estimação que foram adotados temporariamente por diversão.
    E agora cai a grande duvida.
    MAS QUE PORRA UM DRAGÃO AZUL ESTAVA ANDANDO EM BANDO SE NÃO FOSSE PARA FAZER UM MASSACRE
    Ok a reposta do narrador "salvou" todo o contexto kkkkkkk

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  2. Old story... Se começarmos a publicar tudo que eu já vimos coletivamente em encontros de RPG, dá para ficar o resto do ano falando bobagem... :P

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