sexta-feira, 14 de junho de 2013

Violência gera Violência

Amigo leitor, vamos discorrer algum vernáculo sobre as manifestações que tomam São Paulo nos últimos dias. Tentarei algo inovador como estratégia de pensamento: calma e serenidade.
Primeiro de tudo, acho necessário estabelecer algumas coisas óbvias. O leitor pode questionar a validade de se fazer isso, e minha intenção aqui não é dizer novidades, mas dizer todo o óbvio conjuntamente.
- O transporte coletivo de São Paulo é caro.
- O custo do transporte coletivo de São Paulo subiu acima da inflação nos últimos 18 anos.
- O transporte coletivo de São Paulo é ruim, basicamente por causa do trânsito.
- O custo de transporte existe e será pago, de um jeito ou de outro.
- Inflação é uma média: isso quer dizer que alguns itens encarem acima dela e outros abaixo.
- O Salário Mínimo subiu muito acima da inflação e bem acima do custo das passagens.
- É (ou deveria ser) livre o direito a qualquer tipo de manifestação.
- É (ou deveria ser) crime destruir patrimônio público ou de terceiros.
- Ir e vir para onde de desejar também é um direito.
- A imprensa tem que cobrir todo tipo de evento, e manifestações dessa magnitude são prioridade.
- A Tropa de Choque não foi treinada para entregar flores.
- Quando um indivíduo A joga um objeto de qualquer tamanho a qualquer velocidade que seja em um indivíduo B, esse objeto fará uma trajetória parabólica se vista de lado, mas reta se vista de cima. Postar-se entre os indivíduos A e B é uma maneira bastante eficaz de ser atingido pelo objeto em questão.
- O povo brasileiro é incapaz de prestar a atenção em mais de um assunto ao mesmo tempo.
Desafio qualquer um a contestar essas afirmações, e as tomarei como verdade para seguir meu pensamento. De todo modo, elas não se esgotam na descrição do problema.

Pois bem.
Um grupo aparentemente disperso e não organizado está revoltado com o aumento da tarifa dos ônibus. O aumento em si não é lá grandes coisas, então sente-se uma revolta mais ampla e nem por isso menos correta. Cerca de 5mil pessoas tem se reunido com o intuito de reclamar em princípio da tarifa do ônibus, mas do transporte em geral. Assim sendo, o movimento é válido tanto por princípio quanto por conteúdo.
Porém, existe no Brasil, e em São Paulo em particular, uma péssima mania de todos os protestos e protestantes: ele se sentem prejudicados em algo (válido) e com isso acabam bloqueando avenidas importantes, de preferência a Paulista. É um misto de querer chamar a atenção (válido) com externar a raiva (válido) descontando no próximo (totalmente inválido). Ainda nessa linha de raciocínio, acontece pontual e eventualmente de alguns indivíduos exageram ainda mais os sentimentos e acabarem por praticar vandalismo nos mais variados níveis. Percebe-se que a razão começa a se afastar do debate.
Isto posto, o poder público tem a obrigação de intervir. Essa obrigação visa manter o direito de ir e vir de todos que não participam do protesto, garantir a proteção ao patrimônio público e particular e garantir a segurança dos manifestantes. Esta última refere a uma situação muito rara no Brasil, que é a possibilidade dos manifestantes serem hostilizados durante a manifestação. Ainda assim, fica claro que a função da polícia não é bater nos manifestantes.
No entanto, como se pode ver em praticamente todos os protestos, os manifestantes fazem absoluta questão de fechar o trânsito e isso é errado (além de antipático ao movimento). A policia deve intervir sim para evitar isso e costuma ser nesse ponto que inicia-se o confronto. Em diversos casos são feitas reuniões entre líderes dos manifestantes e o comando da polícia, estabelecendo as regras do protesto. E quando não são seguidas, a polícia intervém para dispersar a aglomeração que está descumprindo acordos e regras e desrespeitando direitos de outros cidadãos. Isso fica ainda mais sério quando começam as depredações.
Notem que, até aqui, minha análise poderia ser aplicada a praticamente qualquer manifestação nos últimos 20 anos. Ninguém muda, ninguém aprende, ninguém evolui.

Entrando no caso particular, há vários erros de todas as partes:
- é mais um movimento que insiste em fechar avenidas.
- é mais um movimento que contém vândalos, sejam eles 1% ou 99% da massa.
- é mais um caso em que o poder público não sabe lidar com manifestações. O brasileiro é preguiçoso por natureza: basta deixar os caras protestarem 2 ou 3 vezes e, sem usar violência, apenas deter quem praticar vandalismo. Em um mês a brincadeira perde a graça, a semana de provas chega, o patrão cansa do sujeito que sai mais cedo e aos pouco o movimento é esvaziado. Será que nenhum governante é capaz de ver isso ?
- alguns profissionais da imprensa são de uma burrice pavorosa também. Não adianta mostrar crachá para a tropa de choque depois que o conflito começou. Fique de lado, saia da linha de tiro e evite problemas, amigo. A não ser, claro, que a intenção seja vitimizar a imprensa e isso se chama manipulação.
- o movimento Passe Livre não parece conhecer o princípio de que "não existe almoço grátis". Essa fatura vai para alguém. Podemos discutir um modelo de subsídio a tarifas e isso é perfeitamente válido. Mas isso causará redução de despesas em outras áreas ou aumento de impostos. Simples assim.

O assunto não acabou. Outros protestos estão marcados. Duvido que alguém leia isso a tempo de colocar sensatez na discussão. Na dúvida, evitem a região.

12 comentários:

  1. Concordo, exceto na parte da Imprensa. A polícia mirou de propósito nos jornalistas, com prova em vídeo e fotos. Não foram 2 tiros no olho por mera coincidência. Essa foi a maior burrada da história recente do Brasil. Agora só TODOS os formadores de opinião estão contra a Policia e o Governo de SP. Isso está muito longe de acabar...


    Fábio

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  2. Bom,vamos por partes:

    1) Concordo com o Fabio. A única coisa mais marrom do que a imprensa nessa história toda foi a merda que a polícia fez.

    2) Pelos dados mais recentes que eu achei do IBGE, o número de pessoas que a) são funcionários sem registro, b) pessoas que trabalham por conta própria ou c) não remunerados (grupos para os quais é seguro assumir que a totalidade ou quase ela não tem vale transporte) é que cerca de 43% de toda a força de trabalho de São Paulo.

    Ou seja, temos quase metade de todos os trabalhadores da cidade afetados por um aumento de 7% no transporte público.

    Some a esses caras pessoas como eu, para os quais um desconto de 6% no salário é MUITO maior do que o gasto que eu tenho pagando o transporte público do meu bolso e você vai ver que o número de pessoas afetadas diretamente pelo aumento não é pequeno.

    3) Eu não posso falar nada sobre ontem ou hoje, mas eu estava na Sé quando a "manifestação pacífica" chegou lá. E a PM estava de boa, só olhando, até os primeiros "manifestantes" começarem a agredir os transeuntes que queriam seguir o seu caminho e a quebrar coisas. E mesmo aí eles tentaram apenas conter os vândalos. Mas sabe como é, os militantes do PCB, PSTU e de todos os demais partidos que estavam lá tocaram a turba para cima da PM, aí deu rolo.

    Quem tiver dúvida, por favor me explique o que qualquer um nessa manifestação ganha quebrando os vidros da fachada da agência do Bradesco da Liberdade?

    4) Como disse um conhecido meu, manifestante é um ser humano, e como todo ser humano tem os bons e os ruins. Se você juntar algumas centenas (não precisa ser milhares, a estatística prova isso) sempre vai ter alguns fazendo merda.

    Policial também é ser é um ser humano, e como todo ser humano tem os bons e os ruins. Se você juntar algumas centenas (não precisa ser milhares, a estatística prova isso) sempre vai ter alguns fazendo merda.

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  3. Oi!

    Faço questão de levantar algumas curiosidades. Eu estava presente no manifesto quinta feira, fiquei boa parte junto de funcionários de mídias variadas. Tenho fotos tiradas com meu celular para provar qualquer relato. Vi a repórter da Globo receber "Boa Noite" de policial e gente da Folha ser recebido com bomba de efeito moral, que aliás explodiu na esquina em que eu estava com nem uma dezena de pessoas (em uma rua em que os manifestantes já haviam ido embora).

    O que eu vi ontem: o protesto foi "encurralado" na Consolação e a Tropa de Choque atacou simultaneamente de vários lados para aparentemente dispersa os manifestantes que realmente debandaram para todos os cantos. Função deles, certo? E tenho que dizer que, com justificativa ou não, executada com primor profissional. Em seguida começou a operação tiro ao pato.

    Abraço,
    Petri

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  4. Como visto temos idéias MUITO diferentes do q eh o direito de ir e vir. Além disso, a correlação que vc fez entre manifestar e "descontando no próximo" é completamente improcedente. Os unicos grupos q saem na rua com a idéia de foder alguém são as torcidas organizadas. Qdo muiti.

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    1. Se a correlação fosse imprecedente, o protesto não seria na Paulista, seria no Sambódromo.
      CQD.

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    2. Não existe protesto no sambódromo. Não é carnaval. Essa sugestão é completamente ridícula.
      Dano colateral não está entre os objetivos da missão.

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    3. É óbvio que o dano colateral está entre os objetivos ou o protesto não seria em um local de elevada circulação. Poderia ser em frente a prefeitura, que chamaria a atenção da midia do mesmo jeito e não atrapalharia as pessoas que nada tem a ver com isso.
      Ridículo mesmo é fazer questão de incomodar. E isso eu critico em todos os protestos.

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    4. "Ao menos, parece que ninguém defende mais uma concepção bisonha de democracia, que valia na semana passada e compreendia manifestações públicas como atentados contra o "direito de ir e vir". Segundo essa concepção, manifestações só no pico do Jaraguá. Contra ela, lembremos: democracia é barulho.

      Quem gosta de silêncio prefere ditaduras."

      Só sobrou você.

      http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2013/06/1296750-proposta-concreta.shtml

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    5. Ad hominem e ad populum no mesmo comentário ? Deve ser um recorde...

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  5. Aproveitando, reitero, não há como o comando da pm escapar da responsabilidade das acoes pois foi evidenciado por videos e mais videos que nao foi um ou outro pm e sim acoes taticamente coordenadas.

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    1. Com certeza voce nunca serviu no exercito para entender uma ordem dada por um militar por isso vou elucidar a situação com o assunto em si.
      o secretário de segurança do estado de São Paulo, pega seu telefone e ligar para o Tenente Coronel e diz:
      - Voce tem que dispersar essa manifestação.
      o alto comando vai lá e coloca seu contingente, nas ruas e fazem aquilo para com que foram treinados. Dispersar. A metodologia não mudou desde a ditadura pelo simples fato que ela funciona e devido a uma falha de que não somos um povo unido 900 policiais conseguem conter mais de 5000 pessoas (média de 5,5 pessoas por pm ). Então não tem essa de que elas não são coordenadas. Lógico que são, afinal eles são militares, foram treinados para receber ordens, e desacato a essa ordem é prisão administrativa com chance de ser expulso da corporação e a um belo processo por recusa de "cumprimento do dever".
      Ordem dada, é ordem cumprida filhão. E como o cara tem familia pra alimentar não sobra muita opção. Quer culpar alguem cumpra de onde partiu a ordem direta e não o grupo de policiais que não foram bem treinados pelo Estado.

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    2. Filhão? Se toca.

      E lê de novo o que eu escrevi, a culpa é do comando. É do secretário, é do Alckmin.

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