Ok, está na hora de falar algumas verdades estranhas, antigas, profundas e doloridas (para alguns):
O problema da mobilidade urbana não é o Haddad. Ele é apenas uma importante engrenagem na estupidez, mas não é a única, nem a mais antiga e, temo, não será a mais duradoura. Segue meu ponto de vista, em bases históricas e pontuando a coisa no tempo.
Comecei a prestar atenção à mobilidade urbana antes do termo ser cunhado, em 1989. Até então, na virada de 14 para 15 anos, meu mundo era andar de bicicleta pelo bairro e voltar suado igual um porco para o almoço do sábado, apenas para repetir a dose a tarde. Avenidas, ônibus, os corredores de ônibus criados pelo ex-prefeito Mario Covas... nada disso importava porque não me afetava.
- 88
Em 89 a prefeita Erundina (pior prefeita que esta cidade já teve) fez uma esculhambação com dinheiro público. No bairro onde morava, Itaim-Bibi, estávamos convivendo com uma obra há anos, o túnel sob o rio Pinheiros. A prefeita recebeu a obra em andamento e, faltando 120 milhões de dólares para ser concluída, ela gastou 30 para interromper a mesma. Burra aguda. Na mesma época, ela criou a municipalização dos ônibus, na qual pagava coisa de 200 dólares por ônibus por dia como forma de arrendamento para a cidade controlar os coletivos. Esse valor pagaria um ônibus de turismo de luxo pelo mesmo um dia.
Foi quando eu comecei a usar ônibus: minhas atividades começaram a sair da fronteira do bairro e não tinha como pai e mãe ficar me levando para cada coisa que eu queria ir. E nem era minha vontade ser levado para lá e para cá. E notei que os ônibus não eram confiáveis: horários inconstantes, greves de motoristas e cobradores, pontos mal planejados... um inferno. Em 1991 veio o pico: fiz cursinho na região da Ana Rosa. Sofri muito por usar ônibus em base diária e meu ranço com eles vem daquela época. Em palavras educadas, entendo que ônibus em São Paulo não são confiáveis como meio de transporte.
E eu via também as decisões da CET sobre o trânsito e comecei a notar um padrão. As decisões era incrivelmente burras. Mudava-se a mão de direção de ruas com resultado pior. Sempre. Faixas mal pintadas, falta de sinalização... era uma cagada atrás da outra. Formulei então a teoria de que a CET foi aparelhada pelo PT, por um bando de cretinos sem condições de estar ali.
- 92
No final de 92, a cidade elegeu Paulo Maluf como prefeito. Achei que as coisas melhorariam em 93.
Mas não. Muito caos se instalou na cidade com as obras feitas por ele. Os transtornos eram grandes, mas deveriam passar ao final das mesmas. Só que não. A CET continuava a fazer besteiras nas coisas simples. Lembro de transformarem minha rua de mão única em dupla sem nenhuma razão. Depois proibiram o estacionamento nas proximidades de uma esquina. Depois instauraram a Zona Azul, e voltou a ser permitido estacionar no mesmo ponto que antes prejudicaria o trânsito, mas agora com cobrança por isso.
Formulei então a teoria de que a CET continuava aparelhada pelo PT, pelo mesmo bando de cretinos, e que agora faziam tudo de sacanagem na tentativa de prejudicar o adversário político.
Formulei então a teoria de que a CET continuava aparelhada pelo PT, pelo mesmo bando de cretinos, e que agora faziam tudo de sacanagem na tentativa de prejudicar o adversário político.
- 96
E então Maluf elegeu seu sucessor, Celso Pitta (terceiro pior prefeito que esta cidade já teve).
Pensei assim: "evitamos o PT, mas a CET vai continuar a fazer besteiras". De fato continuou. Foi quando inventaram o rodízio municipal, radares foram espalhados pela cidade, túnel reversível... tudo piorava. Não posso mais falar de ônibus nesse período, pois simplesmente não os usava mais.
- 00
Fudeu: deu Marta Suplicy (segunda pior prefeita que esta cidade já teve). Lá vem aquele chororô infernal de não fazer obras necessárias, que tudo tem que mudar, que a população carente isso, o pobre aquilo... Mas pelo menos, pensei, "a CET vai parar de sacanear".
Então... não.
Foi uma surpresa. Minha tese de eles estavam aparelhados por petistas babacas se dissolveu como Tang em uma cachoeira. Espalharam Zona Azul por todo canto, os corredores de ônibus foram esquecidos, túneis que começam e terminam em faróis... uma estupidez maior que a outra.
- 04
Ninguém quis saber de Marta: era a vez de José Serra. Que mal esquentou a cadeira e deixou o cargo para Gilberto Kassab.
E com eles veio a Controlar, que poderia ser uma coisa boa ao se retirar veículos sem condições da cidade, mas virou apenas um aborrecimento burocrático com, claro, pagamento de uma taxa.
- 08
No confronto direto entre as duas última administrações a cidade optou pela mais recente: Kassab foi reeleito contra Marta. Foi o primeiro prefeito reeleito, sendo que ele mesmo não era o cabeça da chapa anterior.
E foi na gestão dele que começaram a reduzir as velocidades de algumas vias. Logicamente, as que tinham radares. A Controlar pegou de vez. Falaram em aumentar o rodízio e a indignação foi geral. Não teve coragem de falar em pedágio urbano. Criou sérias dificuldades para os fretados em 2010, que transportam centenas de milhares de pessoas por dia, sem razão alguma.
- 12
Vem Fernando Haddad, atual prefeito. O cara chega com pose de moderninho, de bom moço. Mas logo começa a fazer bobagens usuais, mas nenhuma de destaque. Depois dos protestos de 2013, o cara perdeu completamente o rumo. Sei lá, deve ter achado que era com ele (também era, mas não só) e não soube lidar com isso.
Primeiro, saiu fazendo montes de faixas de ônibus. O conceito é correto, desde que elas tenham um mínimo de critério. Não tinham. A faixa da avenida 23 de Maio é o exemplo. A da avenida Jaguaré, outro:
Algumas delas demandavam algo mais do que pintar o chão. Daí ele inicia as obras pertinentes. Ok.
E paralisa poucos meses porque surgiu uma ideia brilhante: ciclovias. É uma beleza de ideia: pegue uma via abarrotada de carros, remova uma faixa inteira, deixando 33% (redução de 4 para 3 faixas) ou até 50% (redução de 3 para duas faixas) mais abarrotadas, para que essa faixa, pintada na cor do partido do prefeito, permita o uso por bicicletas.
Isso mesmo: uma cidade grande, cheia de morros, onde chove sem aviso e sem lugar apropriado para estacionar as bicicletas tem centenas de quilômetros de ciclovias. Claro, da mais elevada qualidade:
"Que beleza!", diria o narrador.
Verdade seja dita, a da Paulista, mesmo com algumas falhas corrigíveis, ficou bacana. Mas não salva a média, recheada e mancas de tirar o emprego do Bozo.
Conclusão
Olhando o contexto todo, vemos que o problema não é o atual prefeito. O que ele fez foi (1) manter os estúpidos nas função de "planejamento" e (2) dar ouvidos a eles. Sim, ele tem sua parcela de culpa por isso.
Não é o prefeito quem pinta a faixa no chão ou faz a ciclofaixa onde tem árvore. Não é ele quem pinta o buraco. Não é ele que sugere fechar a Paulista todo domingo. Não é ele que tem a ideia de reduzir as velocidades das marginais deixando vias mais perigosas para depois. Mas ele deveria ser o cara que demite o cara que é chefe do cara que fez isso. Algo assim.
O problema é que esses caras da CET são gênios do mal que há décadas não acertam uma. Uma. Deve ser gente que odeia a cidade e quer prejudicar os paulistanos de todo jeito. O prefeito tem culpa de não dar cabo disso. Como tiveram culpa todos os que vieram antes dele. No momento, ele é quem tem a caneta para nos livrar dessa gangue perversa. Não sei o que leva essas pessoas a agirem assim, mas minha melhor teoria é essa.
A teoria alternativa é ainda mais terrível:
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