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terça-feira, 25 de abril de 2017

Desafio do Cavalo Azul

Como um contaponto que se pretende inteligente ao tal Desafio da Baleia Azul, proponho o Desafio do Cavalo Azul, aqui na TSKF. São 50 desafios para você fazer em 50 dias seguidos, iniciando em uma segunda-feira qualquer à sua escolha.


Já crio aqui dois modos: fácil e difícil. No modo difícil, você deve fazer todos os desafios exatamente na ordem proposta. No modo fácil, você pode inverter a ordem de até 2 desafios seguidos quaisquer, até 5x ao logo do projeto. Se ainda assim você tiver dificuldades, consulte este link.
Segue o desafio:

Dia 01 - Vá treinar
Dia 02 - Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo. 
Dia 03 - Vá treinar. Faça alongamentos após o treino.
Dia 04 - Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo. 
Dia 05 - Vá treinar. Faça alongamentos após o treino.
Dia 06 - Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo. 
Dia 07 - Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 08 - Vá treinar. Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo após o treino. Faça alongamentos após o treino. Não use elevador o dia todo.
Dia 09 - Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. 
Dia 10 - Vá treinar. Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo após o treino. Repita uma técnica qualquer a sua escolha 3x após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 11 - Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Não use elevador o dia todo.
Dia 12 - Vá treinar. Faça 20 flexões de braço, 20 abdominais e 1min de cavalo após o treino. Repita uma técnica qualquer a sua escolha 5x após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 13 - Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 14 - Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 15 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Não use elevador o dia todo.
Dia 16 - Faça 40 flexões de braço, 40 abdominais e 2min de cavalo. 
Dia 17 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita uma técnica qualquer a sua escolha 3x após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 18 - Faça 40 flexões de braço, 40 abdominais e 2min de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 19 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita uma técnica qualquer a sua escolha 5x após o treino. Finalize com alongamentos.Não use elevador o dia todo.
Dia 20 - Faça 40 flexões de braço, 40 abdominais e 2min de cavalo. 
Dia 21 - Tente convencer algum amigo/parente sedentário a praticar esportes.
Dia 22 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 23 - Faça 50 flexões de braço, 50 abdominais e 2min30seg de cavalo. Não use elevador o dia todo.
Dia 24 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 3x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 25 - Faça 50 flexões de braço, 50 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 26 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 27 - Faça 50 flexões de braço, 50 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 28 - Escolha duas tarefas quaisquer de outros dias e faça hoje.
Dia 29 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 30 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. 
Dia 31 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 3x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 32 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. 
Dia 33 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 34 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 35 - Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 36 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 3x cada após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 37 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 38 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 39 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 40 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.
Dia 41 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 42 - Tente convencer algum amigo/parente sedentário a praticar esportes. Observe o que você fiz diferente da outra tentativa (Dia 21).
Dia 43 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 44 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 45 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 46 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 47 - Vá treinar. Faça 30 flexões de braço, 30 abdominais e 1min30seg de cavalo. Faça alongamentos após o treino. Repita duas técnicas quaisquer a sua escolha 5x cada após o treino. Finalize com alongamentos.Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.
Dia 48 - Faça 60 flexões de braço, 60 abdominais e 2min30seg de cavalo. Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. 
Dia 49 - Fique o dia todo sem tomar refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Não use elevador o dia todo.Fique o dia inteiro sem reclamar de nada.
Dia 50 - Vá treinar. Reflita sobre o desafio

Vamos treinar ?

domingo, 27 de novembro de 2016

17

Há alguns anos, uma família se matriculou para treinar na matriz. Pai, mãe, filha mais velha, filho caçula, ambos crianças. Por essas coisas estranhas que chamamos de vida, eu tinha mais afinidade de conversa com a Silvia, a mãe.
Um dia, tivemos o seguinte diálogo:
- Há quanto tempo você treina, Norson?
- 13 anos.
- Uau... É muito.
- Sim, é.
- Puxa... precisaríamos treinar nós quatro por 4 anos para te ultrapassar.
- Não.
- Como não?
- Porque daqui a 4 anos, eu terei 17 anos de treino, e vocês, somados, 16.
Rimos juntos.
Eles deixaram a academia. 
Hoje eu completo 17 anos de treino.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

16

16.
Dobro de 8, quadrado de 4, potência de 2.
Camisa de Joe Montana.

É a idade mínima para votar e, tomara em breve, da maioridade penal no Brasil. Ou seja, em 16 anos, um bebê pode escolher um presidente da república. E fazer outro bebê.

16 anos é bastante coisa. Voltemos a 1999, para sentirmos o tempo passar:
- surge o Euro.
- uma dupla de amigos consegue dar a volta ao mundo em um balão de ar quente.
- uma dupla de retardados matou 13 pessoas além deles próprios em Columbine, EUA.
- Windows 98SE é lançado. Surgem o Napster e o MSN.
- Cinema: Star Wars: The Phanton Manace, The Matrix (podiam fazer uma continuação, né ?) e Fight Club.
- Termina a Guerra de Kossovo.
- Sega Dreamcast é lançado. GTA2 é lançado para PS.
Faz tempo, hein? Tive que pesquisar, embora eu soubesse alguns desses fatos de cabeça.

16 anos.
Terminei a segunda faculdade, editei uma porrada de livros, saí da editora, virei DBA, virei auditor. Namorei, namorei e eventualmente casei. Comprei um apartamento, vendi esse apartamento, morei de favor, morei de aluguel, comprei outro apartamento. Um corsa, um 206 e Lanus e um civic. EUA, Peru, Reino Unido, EUA, Alemanha, EUA, EUA e Hawaii.
Tudo isso desde 27 de novembro de 1999.
Branca, branca ponta-verde, verde, verde ponta-marrom, marrom, marrom ponta-preta, preta, 1o twan (escreve assim ?), 2o, 3, e recentemente 4o.

Foi nesse dia, 27 de novembro de 1999, que comecei a treinar na TSKF. Desde esse dia, 2341 treinos (sim, eu mantenho a contagem), que gerou uma série de números que, no final, desisti de colocar aqui. Curioso como mudamos a maneira de pensar enquanto pensamos. Como relatei a meu início aqui, comento agora outro aspecto desse tempão que estou na academia.
Falo em desafios. A vida passada em uma academia tem desafios a serem vencidos. Não estou me referindo a óbvio como aguentar a ginástica, superar a resistência, passar no exame. Estou falando de algo ainda menos substancial, mas tão real quanto.
Quais dificuldades cada um passa dentro da academia? Pois garanto que as minhas são apenas minhas. Relato porque minha experiência pode ajudar alguém que está na estrada há menos tempo. Então vão 3 delas.
Houve uma época, por exemplo, em que preocupou o fato de ser canhoto. Para quem não sabe, usamos armas de uma mão sempre na direita. Facão, espada... Como diabos isso é possível? Bem... é possível. Tanto que me tornei o primeiro canhoto faixa preta 5 anos depois de começar a treinar. 
Antes disso, porém, enfrentei dificuldades dentro de casa. Quem não... ? O fato é que uma nos idos de 2002, minha então namorada queria que eu desistisse dos treino. Ela teve seus problemas na academia e achava que eu deveria apoiá-la deixando a TSKF. Não foi fácil, eram cutucadas e patadas quase diárias sobre o quanto eu não a apoiava, o quanto eu não era companheiro, o quanto o dólar subia por causa disso tudo e que a estabilidade da órbita de Netuno estava em risco. Bem... eu fiquei. E ainda estou até hoje. Eventualmente ela mesma voltou a treinar por um par de meses.
Também vi amigos desistirem. Sempre se comenta na academia a importância de se ter amigos de treino. Pessoas com quem se relacionar para ajudar a criar vínculos. Ajuda sim: era uma turma enorme, uns 20 amigos, que nos encontrávamos fora da academia para jogar videogame, assistir animes, jogar futebol, comer e principalmente rir muito. Um puxava o outro, incentivava o outro. Mas eventualmente, ter amigos assim atrapalha também: um a um, quase todos foram saindo. Houve uma debandada forte enquanto em avançava pelo 1o tuan (agora tenho certeza de que escrevi errado pelo menos uma vez), cada um pelo seu motivo. Não julgo. Não para não ser julgado, pois isso é impossível (é como esperar que um tigre não te ataque porque você é vegetariano), mas porque julgar não leva a nada no fim das contas. Mas o exame de 1o para 2o foi bem difícil pois eu me sentia só, sem o apoio e torcida que tinha antes. A ajuda que foi importante na faixa verde tinha se tornado obstáculo então. Bem... eu passei. E fiz novos amigos, e alguns deles também se foram. Prefiro então ficar com as boas memórias que tenho de todos eles, sendo alguns ainda muito próximos tantos anos depois.

Contei aqui 3 de meus obstáculos. Não se impressionem, não foram os maiores. Longe disso. Mas espero que o amigo leitor possa fazer melhores escolhas ao ler. Não se preocupe em ter problemas: você terá. A questão é o que você vai fazer com eles. 
Eu os transformo em flexões de braço até hoje.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

TFC

Bem quando eu achei que não tinha mais nada para descobrir em lutas...


Agora divirtam-se no canal ou vídeos similares. 
Pessoalmente, acho que eles deviam usar camisas de times de futebol. Fica mais... realista.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Let the treta begins

Marco Polo é uma grata surpresa no Netflix. 
Gosto de história e gosto de séries, mas não é sempre que séries históricas funcionam. Lembro de ter visto episódios de uma série sobre o mesmo personagem nos anos 80 e ter fico bem pouco impressionado. Mas o Netflix me cativou desta vez.
De todo modo, com pequenos spoilers por ser episódio 3, segue o link no youtube (não sei se isso poderia ou deveria estar no youtube, mas não fui eu quem pôs). Aos colegas de TSKF, peço atenção aos primeiros 8 minutos, com destaque para 6 a 8 minutos. Inglês sem legendas, mas quem se importa...




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Básico de Lança

E lá fui eu, inocentemente, treinar na TSKF Matriz ontem. Como tenho feito já há algum tempo, optei por não entrar em aula e treinar por minha conta e risco. Se tem uma vantagem nisso é poder fazer as técnicas no ritmo que achar adequado e poder parar quando achar que devo. Isso inclui poder ver o que está acontecendo.
Daí estava no treino o João, há pouco graduado faixa marrom, terminando a temível técnica do básico de lança. 



Para quem não sabe, é um técnica muito cansativa. Usa-se demais as posturas. Achei um vídeo meio ruim (o vídeo é ruim, não a técnica) para quem quiser ter uma noção.


O problema central está nas transições cavalo para arco-e-flecha e de volta para cavalo. Qualquer aluno com uma semana de treino faz a transição. Mas no básico de lança, isso é feito, se não contei errado, 30 vezes. E isso arranca toda a velocidade da técnica, pois se o atleta se apressar, não fará corretamente a passagem pelo arco-e-flecha alinhando ombros e quadris, fundamental para a boa execução do básico. Não é a toa que se dizer que o básico de lança separa os bons meninos dos grandes homens
O João estava apanhando um pouco para acompanhar, o que é totalmente normal. O Mestre Gabriel decidiu, então, dar uma força. Pegou uma lança para ele mesmo e disse:
- Eu vou fazer com você, João. Acompanhe meu ritmo.
Eu parei para assistir o espetáculo. Não é todo dia que temos esse tipo de oportunidade. Vemos o Mestre Gabriel ensinando o tempo todo, o que já é um tesouro, mas vê-lo executar uma técnica completa é um evento bissexto. 
Não cheguei a ficar com pena do João, que fez o melhor que podia. Mas o Mestre o deixou para trás no básico 4. Postura sempre impecável, batidas firmes e precisas, transições completas, ritmo constante. Impecável. E terminou conversando normalmente, sem qualquer sinal de ter sequer levantado cadeira, quando todo nós saímos esbaforidos e procurando os restos dos pulmões pelo chão.
Magistral, amigosFoi a cena que justificou ter saído da cama ontem.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sempre há uma Primeira Vez

Diz o ditado que sempre há uma primeira vez para tudo. Em geral, usamos isso para nos referirmos a algo que, embora saibamos da existência e da possibilidade de ocorrer, achamos que não ia mais nos afetar.

(foto: minha sapatilha esquerda)

Em quase 15 anos de treino, eu nunca tinha furado a sola de uma sapatilha por desgaste. Tinha rasgado o couro, soltado a sola, soltado pedaços da sola, estragado a costura do couro, estragado a costura da sola e arrebentado incontáveis cadarços, inclusive desta.
Mas furado a sola por uso, nunca.

Em todos estes anos nesta indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece...

PS.: piada pronta: só a esquerda dá furo...





sexta-feira, 4 de julho de 2014

10 Anos

Há 10 anos era um domingo. Não fazia frio. Na verdade, estava um belo sol.
Depois de dormir mal exatamente todos os dias daquela semana, a noite de sono de sábado para domingo foi surpreendentemente boa. Meu relógio tocaria às 8h45, mas acordei 8h20, plenamente acordado e descansado. Olhei para o teto e disse a mim mesmo:
- É hoje.
Tomei meu clássico copo de toddy vendo a corrida de Fórmula 1. GP da França, na babaca pista de Magny-Cours. O tal Alonso era bom, mas eu torcia pro Schumacher, sabidamente o melhor piloto de todos os tempos. Schummi largou em segundo e venceu. Era um bom presságio.
Por volta de 11h30, tratei de fazer meu macarrão ao sugo. Não é algo que eu faça sempre, ao contrário. Mas era um plano específico para aquele dia. Queria almoçar somente carboidratos, como um maratonista. Eu pretendia almoçar pontualmente ao meio dia, mas o danado do macarrão ficou pronto antes. Comi com calma, controlando o que fazia pois estava ansioso. Muito ansioso.
Às 12h20 já tinha almoçado, lavado a louça e conferido a mochila 3 vezes. Decidi ir mais cedo.
O horário marcado era 14h, e eu deveria levar 30 a 40 minutos para chegar. Fui dirigindo como uma velhinha. A av. Paulista ficava interditada aos domingos, uma das várias ideias cretinas da ex-prefeita Martaxa Suplicy. Fui pela avenida Brasil, mas antes do parque Ibirapuera subi para a Domingos de Morais. Não era o caminho ideal, mas era por sobre o metrô: eu queria ter o metrô por perto como plano B, caso algo acontecesse com o carro. Não foi preciso.
Cheguei à Saúde às 13h10, antes do esperado. Parei o carro e entrei na academia. Lá estavam todos, eu fui o último a chegar. Pedro, Gabriel, Eros, Eris, Paulo, Fausto e eu faríamos o exame para faixa preta dentro de 45 minutos.
Cumprimentei a todos, trocamos sorrisos, mas o ar estava denso. Dava para sentir a tensão e a energia. Cada um de nós treinara 5 anos para chegar àquele momento. Cada um de nós estava no pico de preparo físico, técnico e mental. Cada um de nós poderia destruir um tanque de guerra naquele dia. Ninguém sabia quantas horas duraria o exame, nem exatamente o que aconteceria nele. Não saber é parte do exame. 
O Mestre Gabriel passou por nós sorridente e nos cumprimentou. Fez algum comentário engraçado e rimos um pouco. A tensão se afastou, mas retornou, como alguém assoprando uma teia de aranha. O Mestre então deixou o vestiário e ficamos os 7 ali.
Nos abraçamos como um time prestes a entrar em campo. Cada um falou um pouco, duas ou três frases de auto-incentivo. O exame é individual, mas aquela história no uniria para sempre. Juntamos as mãos e soltamos um "shaolin" nem baixo nem gritado. 
E fomos para a sala de treino, onde cada um e todos nós teríamos uma tarde absolutamente brilhante

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Treinem mais !

Seu Kung Fu está bom?
Você está mais forte, mais ágil?
Já consegue dar salto mortal?! Bacana!




(fonte: 9gag.com)

Treinem mais!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

3 e 9

Lembramos desta bizarra história outro dia, então achei conveniente deixar registrado por aqui. Envolve um "causo", com nosso colega Diego Sanches. 
Em tempos quase distante demais para sermos capazes de lembrar, treinávamos alunos e instrutores todos os domingos na matriz. Eram treinos duros e deliciosos. Muita ginástica, muita técnica e muita cobrança. O Mestre estava sempre sério, para não dizer bravo. Não perdíamos aquilo por nada. Lembro (ou aviso, para quem não tem esse conhecimento) o quanto a TSKF é uma escola rígida com relação ao currículo, sempre mantendo a ordem estrita de aprendizado.
Em um desses domingos, o Mestre havia puxado ginástica completa (na época, isso significava 10 flexões em cada posição, viu ?), e a matéria desde a faixa branca. O esquema era taolu-aplicação, taolu-aplicação, taolu-aplicação, taolu-aplicação... sem pausa para descanso, sem aguinha, sem nada... mais ou menos até ficarmos vesgos. 
Ali pelas tantas, já estávamos seguindo a matéria da faixa marrom. Já era uma vitória individual de cada um estar em pé, mas seguíamos em frente, obedecendo cada comando. Não havia acontecido nada de especial até chegarmos ao Toi Tchá de Tan Tui. Alinhamos em duplas, e fiquei na primeira dupla, de frente para o espelho, junto à entrada da sala de treino. Não contei, mas acho que eram algo entre 12 e 15 duplas para fazer a técnica. O Mestre, então, dispara:
- Diego, quais Toi Tchás você sabe ?
- O 3 e o 9.
Fica um silêncio de uns dois segundos e então todos olham para o Diego, lá no fundo da sala, em guarda 2 aguardando instruções. Como assim, 3 e 9?! Só precisou um rir e todos caímos na gargalhada de uma só vez. Até o Mestre dava risada daquilo.
Aquele treino nunca mais retomou o ritmo anterior. Aos poucos, todos foram dando um jeito de chegar perto dele e perguntar o que diabos era aprender o 3 e o 9, nessa ordem, sem seguir a numeração. 
O Diego deve ter explicado a situação umas 10 vezes só naquele dia. Em resumo, o Mestre havia feito uma pequena confusão e ensinara para ele o Toi Tchá 3 chamando de 1 e o 9 chamando de 2. Na quinta-feira anterior, Márcio viu aquilo e avisou. A técnica não estava errada, estava apenas totalmente fora de ordem. Isso foi explicado ao Diego, que simplesmente renumerou o que ele sabia e aguardou pacientemente a oportunidade de aprender os verdadeiros 1 e 2, e quem sabe um dia preencher as lacunas.
Faz tempo, viu ?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Fogos de Artifício

Domingo, 4 de julho de 2004.
Na véspera, Jeff Gordon vencia em a Coke Zero Daytonna 400, com um carro patrocinado pela Pepsi. Soltaram fogos na Victory Lane. Épico, mas não era disso que eu queria falar.
Os norte-americanos comemoravam o aniversário de número 228 de sua independência. Soltaram fogos por todo o país, como de costume. Mas não era disso que eu queria falar.
A amiga Maria Paula fazia aniversário, assim como faz hoje. Não sei se soltaram fogos, mas ficam os parabéns por hoje, e atrasados daquele dia, 9 anos atrás.
Naquele dia, ao contrário de toda a semana que o precedeu, dormi incrivelmente bem. O relógio tocaria às 9h da manhã, e acordei sozinho, descansado e sem sono às 8h40. Olhei para o teto e disse (ou pensei alto ?): "é hoje".
Tomei banho, o clássico copão de toddy e sentei-me para ver o GP da França. Vitória de Schumacher, que já liderava com folga o campeonato que viria a ser seu sétimo e último. Acho que soltaram fogos aqui também, mas não tenho certeza. 
O restante da manhã correu surpreendentemente redonda, sem absolutamente nada que desse errado. Fiz meu macarrão com molho de tomate, conforme planejado, e almocei por volta de 12h15.
12h40, hora de sair de casa. Optei por ir pela Av. Paulista. Não era o caminho ideal, mas eu queria ter sempre uma alternativa caso algo acontecesse com o carro no caminho. E seguir por cima da linha do metrô era uma boa. Segui sem nenhum incidente, dirigindo igual uma velhinha para evitar o que quer que fosse. 
Eu pretendia chegar à academia às 13h30, mas cheguei antes: 13h15. Já estavam todo por lá: Eros, Eris, Fausto, Paulo Cristiano, e os irmãos Pedro e Gabriel. Mestre Gabriel, Sifu Luis Fabiano e ainda Éder e Márcio completavam o time que nos avaliaria. 
Era dia do meu exame de faixa preta.
No vestiário, a tensão era tal que poderíamos cortar o ar com o facão. Mas estávamos, todos preparados. O mestre passou por nós, fez alguma piada e nos deixou ali mais alguns momentos. Antes de entrar na sala de treino, fizemos uma roda e, unidos, decidimos que iríamos passar todos. 
Por regulamento do exame, não me é permitido contar o que aconteceu ali naquele dia. Mas o fato é que todos nós fizemos um exame primoroso aquele dia. 
Passamos, todos. E não soltaram fogos para nenhum de nós. 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guga e o Técnico do Guga

Amigo leitor, colega de treino, vai mais uma de minhas histórias na TSKF. Esta aconteceu muitos anos atrás, creio que em 2001 ou próximo a isso.
Na época, a TSKF tinha treinos de combate*. Eram duas turmas, uma às 5as-feiras (21h) na Matriz e outra aos sábados (16h) na unidade de Pinheiros (atual Vila Madalena). Eu estava em plena ascensão física, "me achando um monte" na época. Então eu fazia a aula de combate aos sábados e nas de 5a-feira eu ficava fora do treino, mas dentro da sala acompanhando a ginástica com o pessoal em aula.
Em um determinado sábado, o Mestre Gabriel pegou particularmente pesado com a carga física do treino. A primeira série de flexões foi de 100, e nem sei quantas mais fiz depois disso. O mesmo com os abdominais. Os chutes, alguém contou, foram 150 com cada perna. E seguimos com outros exercícios. 
Ao final do treino, o Mestre percebeu o desgaste físico e moral da turma. Estávamos mortos de cansaço e chateados por estarmos mortos de cansaço. Ele então decidiu que era hora de uma das suas preleções, desta vez para elevar o moral da turma cansada. Mandou todos sentarem e falou em tom brando, algo raro na época. A se lembrar que Gustavo "Guga" Kuerten era o grande astro do esporte brasileiro naquele momento.
- Gente, vocês todos sabem quem é o Guga, certo ?
- ...
- Pensem comigo: quem joga tênis melhor: o Guga ou o técnico do Guga (Larri Passos, mas o nome não foi mencionado).
- O Guga - respondemos todos.
- Então, para que serve o técnico do Guga ?
Em silêncio, pensamos sobre a pergunta por alguns segundos. O próprio Mestre Gabriel retomou as palavras.
- O técnico do Guga serve para fazer o Guga jogar melhor. Atingir sem potencial. Vencer. Aqui na academia não é diferente. Eu não aguento essa ginástica toda que vocês acabaram de fazer. Os bons são vocês. Os campeões são vocês. Eu só estou aqui para ajudar cada um, e a todos. 
Funcionou. Ainda mortos, com dores em dezenas de partes do corpo, saímos da academia minutos depois com o moral em ordem. "Somos bons. Somos campeões. O mestre disso isso !"

Bem... Na 5a-feira seguinte, eu fui até a Matriz como de costume. Treinei das 20h-21h e fiquei ali para fazer a ginástica da aula de combate. Naquele dia, o Mestre decidiu fazer a ginástica junto dos alunos. Logo de cara, foram 150 flexões de braço, com o tórax reto e firme como uma táboa, encostando o nariz no chão em cada uma das flexões. Ninguém passou de 120, acoxambrando no final. Depois teve mais pegadas de flexão, como ralando o cotovelo, batendo palmas, um braço... Seguiu-se uma montanha de abdominais que o pessoal até acompanhou. Nos chutes começaram a cair como moscas: dez de cada tipo em ritmo forte, sem descanso entre cada variação.
Todo o discurso do sábado desmanchou-se em uma poça de suor na 5a-feira. Estava definitivamente claro quem era o Mestre, quem realmente aguentava ginástica, quem era durão de verdade.

Você que vez por outra critica o Mestre por falta de conhecimento, falta de respeito, alguma chateação ou até por más influências, saiba: você não tem a menor ideia do Mestre que tem.

* Não pergunte sobre aulas de combate para o instrutor nem para o Mestre Gabriel. Para encurtar a conversa, eram outros tempos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Flexões e Tabuleiro

Dando seguimento ao conceito de "treine mais, reclame menos", um ótimo jogo de tabuleiro para fazer exercícios. Assim, consigo juntar duas das minhas maiores paixões: jogos e Kung Fu.
Role um dado, ande as casinhas. Ao chegar na sua casinha, faça o exercício comandado. Se não aguentar, volta onde estava.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

sábado, 19 de janeiro de 2013

Um minuto

Sabe quanto tempo você precisa para começar a melhorar seu condicionamento físico ? Um minuto. É perfeitamente suficiente para um resultado bastante aceitável. Um minuto por dia.
É bastante simples, amigo leito. Fique um mísero minuto na posição de flexão de braços e... espere ! Basta deixar o tempo passar. Não relaxe, não fraqueje, não pare no meio. É só isso. Para as meninas, vale a regra usada na academia: fique com joelhos no chão. Rapazes, por favor, não sejam meninas, ok ?
Se por acaso estiver fácil, ao final do tempo faça as flexões de braço. Faça 3 flexões nos últimos 3 segundos. Se ainda estiver fácil, 5, 10... Tenho certeza de que você entendeu.
Agora vem a cereja em cima do bolo. Prepare-se. Sabe em que horas você pode fazer isso ? Imediatamente antes de tomar banho. Bem... acredito que você tome banho todo dia, então basta emendar esses dois compromissos. Como esse exercício pode cansar e até mesmo fazer transpirar um pouco, tomar banho logo em seguida ajuda a resfriar o corpo e já remover o suor.
Se você, como eu, tem aquecimento a gás em casa, ainda melhor. Ao se ligar o chuveiro, leva um certo tempo para a água quente chegar para seu banho. Use exatamente esse tempo para a posição da flexão.
Seguem algumas características desse trabalho
- rápido e simples de fazer.
- não exige marcar horário, lembrar de fazer nem altera sua rotina diária drasticamente
- não precisa de nenhum tipo de equipamento
- não custa um centavo
- trabalha tanto braços quanto o abdome
Se ainda assim, você não está convencido, use o GDE - Gerador de Desculpas Esfarrapadas para não fazer.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Porque competir

Já faz alguns anos que a TSKF promove o Brazil International Kung Fu Championship Tournament. Faz ainda mais tempo que a academia participa sistematicamente de campeonatos dos mais variados tamanhos nos mais longínquos cantos do mundo. Levamos delegações que variam de poucos a centenas de atletas para competir em todos os níveis, categorias, graus e tipos de competição existentes. Você já se perguntou para que diabos serve competir ?
Começo dizendo que acho muito peculiar que uma academia que conta com mais de 2.000 atletas regularmente treinando leve uma delegação de "apenas" 400 ou 500 para o torneio que ela mesma promove. Por mais que seja um volume de gente inalcançável por qualquer outra academia no Brasil, parece-me que a adesão ainda é baixa. 
Claro que existem os mais variados motivos para um determinado atleta não competir. Ele pode não ter dinheiro para a inscrição. O campeonato pode ser em uma data impossível para ele. Ele pode até estar machucado e não estar em condições de treinar duro para uma apresentação a altura da competição. Se ainda assim não for o caso, lembre-se do GDE - Gerador de Desculpas Esfarrapadas, disponível aqui.
Mas vamos pensar pelo outro lado da questão. Em vez de se falar em porque não competir, vamos falar em porque competir.
A primeira coisa que se observa em um atleta de competição é que ele treina com mais afinco (isso incluiu quantidade, assiduidade, ritmo, dedicação e seriedade). Por si só, isso já traz benefícios impossíveis de se mesurar. É lógico que o atleta inscrito não quer fazer feio no campeonato. Ninguém quer. Então, ao mesmo tempo em que os grandes campeões estão buscando ganhar novamente, os novatos (ou os que se consideram tecnicamente inferiores) estão em busca de um lugar ao sol. 
A segunda coisa que se observa, menos no atleta e mais no ser humano, é sua renovada capacidade de lidar com a pressão. Afinal de contas, o atleta vai subir no tatame e apresentar uma vez sua técnica, sem direito de errar, escorregar, esquecer uma parte ou recomeçar. Sim, isso é pressão e ela existem em todas as atividades humanas. O campeonato ajuda muita a gente a melhorar sua relação com a pressão por resultados e, no fim das contas, o Kung Fu pretende nos fazer pessoas melhores. 
A terceira coisa que se observa é um sentimento de grupo. Os competidores, longe de se odiarem, sentem-se parte da festa. O atleta conhece novas pessoas, faz novos contatos e novas amizades. E todos saem de lá com algo em comum que só pertence a eles.
A quarta coisa é o aprendizado do campeonato em si. O atleta vai competir com colegas que ele conhece, mas também com muitos colegas de outras unidades e, principalmente, com atletas de outras escolas. E eles trarão outras formas ou as mesmas formas feitas com padrões completamente diferentes (e nem por isso errados). Assistir as competições e aprender novos detalhes, novos movimentos, novas maneiras de se fazer os mesmo movimentos foi o que mais me motivou a ir nos campeonatos durante anos. 
Claro que deve ter gente que consegue ir no campeonato sem treinar mais, sem aprimorar a técnica, não aprende a lidar com a pressão, erra tudo na hora de competir, sai emburrado com a arbitragem, não conhece novas pessoas e nem percebeu que tinha coisas a aprender. Digo que "deve ter" pois realmente não os conheço: é o tipo que desiste da academia no mês seguinte ao campeonato e, honestamente, cai nas brumas o esquecimento antes do final do ano.
Admito que eu poderia continuar a lista, mas se até agora você não foi convencido, eu jogo a toalha.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Você não merece...

Embora eu não fique relatando isso aos quatro ventos, não é segredo que meus primeiros passos nas artes marciais foi no judô. E foram vários passos, pois fiquei lá dos quase 8 aos 14 anos de idade. Fui matriculado com o Sensei Machusso, a quem devo respeito a agradecimento por muito que ele me propiciou.
A ideia de treinar judô foi do meu hoje falecido pai, ele mesmo que havia treinado quando garoto. Esta belíssima história que relatarei não é minha, mas dele. Realmente recomendo aos seguidores do blog que invistam alguns minutos de suas vidas nisso.

No final da adolescência, meu pai (também chamado Norson para quem não sabe) treinou judô com o Sensei Kurachi. Em uma atitude muito atípica, especialmente entre jovens, ele optou por não disputar faixas, permanecendo anos na faixa branca. No judô, a faixa importa pouco pois o aprendizado não é estruturado em uma ordem "correta" e fixa. Mas a necessidade de se provar melhor nos faz buscá-las. A atitude do meu pai imediatamente o colocou em boa conta com o sensei.
Nessa época, havia um aluno faixa preta encrenqueiro na academia. Provocava pessoas na rua, em festas e em bares. Com a boa técnica que tinha, enfrentava dois ou até três oponentes sem dificuldades. Batia sem dó nas vítimas aleatoriamente escolhidas. 
Isso não é atitude de gente honrada e no judô isso é coisa séria desde a criação dessa arte no século XIX. Eventualmente o assunto se espalhou e chegou ao ouvido do sensei, que tratou de punir o rapaz. Convocou um treino especial em um horário alternativo, com a presença de todos os faixas pretas e meu pai. Ao chegar, o rapaz percebeu um clima pesado, mas não imaginou o que viria. 
Sensei Kurachi colocou o rapaz no meio do tatame com todos os alunos envolta. Passou-lhe uma descompostura épica dizendo que arrumar brigas não era coisa de homem, muito menos de judoca e ainda menos de faixa preta. Segundo meu pai, a bronca levou cerca de 90 minutos, e quem tem contato com japoneses sabe que ele podem gritar por bem mais tempo que isso quando necessário.
Ele então deu início a um treino físico como jamais havia sido visto na história da academia. Foram duas horas apenas de exercícios. Mesmo os faixas pretas mais antigos sentiram o peso do treino e o rapaz, por vezes desabou. Em todas foi erguido aos berros pelo sensei.
Isto feito, voltou-se a formação inicial, e o sensei convocou cada faixa preta a lutar com o rapaz, em uma espécie de shiai ritualístico. Os faixas pretas receberam ordens de vencer a todo custo. Todos venceram, alguns com alguma maldade na técnica. Mas nenhum deles o machucou ou quebrou algum osso: ele apanhava, mas seguia em condições de continuar apanhando. Um dos faixas pretas entre os mais ofendidos pelo nome da academia ter sido manchado em vez de lutar deu um soco no rosto do rapaz, dizendo:
- Você não merece um golpe de judô. 
Na vez do meu pai, que tinha técnica bastante inferior, o sensei ordenou:
- Deixe o Norson vencer. 
Já aceitando a punição, ele cumpriu a ordem e meu pai o derrubou em poucos segundos com a mesma dificuldade que levaria para derrubar um saco de batatas. E o massacre seguiu até todos terem lutado com ele. Todos venceram na técnica, com exceção apenas do meu pai (que foi ajudado pela ordem do sensei) e daquele faixa preta que deu um soco.
Ao final, o sensei mandou o rapaz tirar a faixa preta, o que ele obedeceu prontamente. O sensei disse então:
- Deixe sua faixa preta com o Norson. Ele vai guardá-la até que você a mereça novamente.
A lição foi aprendida de imediato. Nunca mais o rapaz arrumou briga. Em um caso, chegou a ser agredido sem motivo em uma confusão que nem era dele e, segundo relataram, recusou-se a reagir. Treinou firme por meses, com evolução nítida na técnica. Provou seu valor e recuperou sua honra em silêncio, até porque nenhum faixa preta da academia sequer lhe dirigia a palavra nesse período. 
Depois de meses, Sensei Kurachi considerou o castigo finalizado e convocou outra sessão de treinos, nos mesmos moldes da primeira com sutis diferenças.
A primeira diferença é que a segunda sessão não foi em horário especial, mas no horário normal de treino do rapaz. Ele foi pego de surpresa, portanto. Não houve sermão desta vez. Ao contrário, apenas uma meditação curta, de 5 minutos. O treino físico foi igualmente duro. As lutas também.
Mas o resultado foi ligeiramente diferente. Desta vez, o rapaz foi até mesmo capaz de vencer algumas, especialmente no começo quando ainda estava menos cansado. Segundo meu pai contou, ele deve ter vencido entre 1/5 e 1/4 das lutas todas, mas as vitórias foram todas antes da metade do shiai, quaando ainda tinha condições física de lutar.
Quando chegou a vez do faixa preta que o havia socado, o rapaz até tremeu o corpo, mas não fugiu nem recuou. Houve luta. Ele foi vencido por ippon
Na vez do meu pai, a mesma ordem:
- Deixe o Norson vencer. 
Terminadas as lutas, o sensei fez um sinal para meu pai, que correu no vestiário buscar a faixa preta do rapaz. Ele a recebeu aos prantos, assim como os colegas o receberam de volta aos sorrisos.
Isso, amigos, é uma coisa chamada honra. Não vejo mais essas coisas nos dias de hoje.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Posso ?

Comecei a treinar no final do outono de 1999, como a esta altura todos sabem. Portanto, logo se seguiu o verão e o calor de São Paulo pode ser um tanto cruel.
Como eu já havia sido praticante de outras modalidades de artes marciais, a questão de obedecer instrutores e seguir regulamentos não era nenhuma novidade para mim. Mas nem por isso eu estava adaptado ao sistema de treino e o corpo reclamava das dores iniciais de treinamento que, creio, todos os colegas tiveram em maior ou menor grau. Eu ainda era faixa branca, mas já sonhava com o exame que faria algumas semanas depois. E a sede, no calor, pega.
Um dia, eu fui treinar mais cedo, durante a tarde. Estava estressado com alguma coisa do trabalho e, como fazia home office, tinha essa liberdade. Foi uma boa estratégia, exceto pelo calor intenso. Amigos, estava realmente quente aquele dia. 
O instrutor comandava o treino em ritmo normal, o que é muito mais intenso que os dias de hoje. Ele me mandou repetir a parte que eu sabia do Tam Tui (na época era matéria da branca) alguma vezes. Três, eu acho. Obedeci sem pestanejar. Mas eventualmente, a ordem estava cumprida e eu estava, digamos, ocioso. 
Aproximei-me do instrutor e aguardei pela sua atenção. Eu disse:
- Posso tomar água ?
Ele me olhou com firmeza e respondeu:
- Pode. Mas depois fale comigo.
Não entendi, mas não era complicado de fazer, certo? Fui ao vestiário, tomei minha água e me reportei a ele conforme comandado. Ele olhou para mim e disse:
- Foi a última vez
- Desculpe, não entendi...
- Foi a última vez que eu deixei você tomar água. Acostume-se a treinar sem. Nem peça mais.
Eu gostei daquilo! Era um novo desafio proposto e, sejamos honestos, perfeitamente factível. Eu sorri e perguntei.
- Eu devia ter guardado isso para uma faixa mais avançada ?
- Devia sim. Mas agora está feito. - E sorriu de volta.
Nunca mais pedi. Depois daquilo, tomei água durante os treinos apenas duas vezes. Em ambas, recebi ordens expressas (uma vez do Mestre Gabriel e uma vez da Sayuri) de tomar água, o que também obedeci prontamente.
Mas posso afirmar, com razoável grau de certeza, que nunca morri de sede.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

TSKF, 13

Em novembro de 1999, meu então sócio Marcelo Del Debbio me fez um convite atípico. Éramos amigos há anos, tínhamos uma empresa com cerca de um ano e meio de vida e em franca expansão e diversos interesses culturais em comum. Ainda assim, ele praticava Kung Fu há uns 7 meses naquele momento e, empolgado que estava, chamou-me para uma espécie de festa que a academia ia fazer.
Eu tinha 25 anos e estava fora de forma. Havia feito alguns (acho que 4) ciclos de academia com pesos e achava aquilo meio bobo. Um outro amigo me dera o telefone de um cara que dava treinos de futebol. Segundo ele, eram treinos mesmo, não apenas os rachões que tanta gente já fazia em campos de society. Parecia bem legal a ideia de treinar para me aprimorar em algo que eu gostava. No entanto, o sujeito se mostrou um completo pamonha, incapaz de marcar um horário para eu ver o trabalho dele, ou até mesmo de me dar o preço da mensalidade.
Daí, a tal academia que o Marcelo e sua então namorada Luciana estavam fazendo ia abrir uma filial em outro bairro. O Marcelo treinava no Aeroporto e eu, morando no Itaim, não tava nem um pouco a fim de atravessar a cidade 3x por semana para o que quer que fosse. No entanto, a tal filial estava sendo instalada na rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros. Bem viável.
Lá fui eu ver a tal festa em um sábado a noite. O que a falta de uma namorada não te faz...
Sentado no chão perto da janela lateral, vi apresentações de formas muito impressionantes. Os atletas era pessoas comuns que haviam aprendido aquilo na raça pura. Não eram efeitos especiais. Não haviam cabos pendurando ninguém. O bastão era de bambu chinês mesmo. O facão, embora sem corte, podia machucar. E o que me tirou do sério foi uma luta combinada entre dois dos alunos mais antigos.
É lógico que não era de verdade. Ninguém ali estava batendo no outro. Nenhum dos dois era bandido ou comprador de encrenca. Mas o barato era que parecia real, mesmo eu sabendo que não era.

Eu quero aprender isso !

Depois da festa, que terminou com uma apresentação musical dos próprios alunos, fomos a uma lanchonte. Não lembro qual lanchonete. Não lembro que comi, embora provavelmente tenha sido um cheesbacon. Não lembro como ou que horas fui para casa.
Mas jamais esquecerei aquele troichá de Pam Pou Kiu.

Eu estava fazendo um tratamento naquelas semanas, tomando amáveis injeções de benzetacil. Isso atrasou minha matrícula por uns dias. Num sábado de manhã peguei meu carro e fui até lá. Conversei um pouco com o instrutor e fechei um plano semestral (suficiente para ganhar o uniforme) com 3 treinos por semana. Ele me contou que a tal técnica estava numa faixa um tanto avançada, mas que eu poderia chegar lá sim em coisa de uns 3 anos.
Esse sábado foi há 13 anos. Ainda faltam pelo menos outros 13.

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Complemento de postagem

Acabei de consultar minha agenda e descobri que estou com 1993 treinos (sim, eu marquei cada dia em agendas antigas e desde de 2007 está tudo no Google Agenda). Isso dá uma média de 2,94 treinos por semana. Portanto, não faço nada de excepcional, apenas sigo o que é recomendado pelos instrutores: perseverança e consistência.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Gerador de Desculpas Esfarrapadas

Alguns anos atrás, ainda na Era do Orkut, publiquei na comunidade da academia um texto parecido em conteúdo e igual em objetivo com este que segue. Na época, eu estava me tornando avesso a desculpas de um modo geral, e fiz um desabafo literário por escrito dando dicas de modo bastante sarcástico e debochado sobre como criar uma boa desculpa esfarrapada. A pedido do Mestre Gabriel, estou ressuscitando este assunto.
Quando você tiver um compromisso que não quer comparecer, às vezes dizer a verdade dói. Não no outro, dói em você ter que admitir sua preguiça, falta de vontade, incapacidade ou até mesmo burrice aguda. Nestas horas, o GDE - Gerador de Desculpas Esfarrapadas é a solução de todos os seus problemas. E tudo que você vai precisar é um dado, daqueles que você pode encontrar no War ou no Banco Imobiliário.
Jogue o dado uma vez para cada uma das tabelas abaixo e anote o resultado
  • Tabela 1 - evento
1 - reunião
2 - curso / treinamento
3 - casamento
4 - doença
5 - enterro
6 - encontro
  • Tabela 2 - pessoa
1 - filho
2 - namorada(o) / esposa(o)
3 - cachorro
4 - pai / mãe
5 - chefe
6 - amigo
  • Tabela 3 - condição
1 - imperdível
2 - inadiável
3 - urgente
4 - importante
5 - geral
6 - sem precedentes

Depois de juntar as 3 partes, floreie o texto com advérbios, adjetivos e conjunções. Mas nesta fase, tome cuidado para evitar combinações esdrúxulas. Vejamos alguns exemplos:
  • 1 - 5 - 3
"Putz, não deu para ir. Tive uma reunião urgente com meu chefe no mesmo dia."
Perfeita. Ninguém vai duvidar, salvo se você estiver desempregado ou tem 12 anos de idade. Considere seu contexto particular.
  • 4 - 1 - 6
"Cara, você nem imagina a barra que foi. Meu filho ficou doente, com uma virose fortíssima. Algo sem precedentes". 
Muito boa também. Todo mundo tem pena de criança e não vai levantar questões. Certifique-se apenas de que você tem mesmo um filho antes de mandar essa.
  • 5 - 3 - 5
"Amiga, você nem tá sabendo do babado. No dia da sua festa foi o enterro geral do meu namorado."
Ficou ruim. Nessas horas, é preciso mudar algum detalhe. Enterro é geral por natureza, então podemos omitir a tabela 3. E é melhor parecer coerente entre abertura e fechamento da frase.
"Ai, amiga, desculpa... Foi o enterro daquele meu ex-namorado, sabe ? Que dó.. acidente de carro. "
Já melhorou, certo ?
  • 3 - 3 - 3
"Mestre, não pude ir ao campeonato. Foi o casamento urgente do meu cachorro".
Hum.. not. O fato do Mestre gostar de cães não vai te livrar dessa assim. Nessas horas, é melhor até esquecer a rolagem e começar de novo.

Acho que vocês entenderam como usa. As aplicações são ilimitadas. O GDE pode ser usado para explicar praticamente todo tipo de ausência como treinos, campeonatos, confraternizações do trabalho, visita a amigos ou parentes, reuniões... Praticamente tudo.
Fique a vontade.