segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Deu Ruim

Tem horas nas quais é preciso desistir. Por mais que se lute por uma causa, que as pessoas envolvidas mereçam o esforço, que haja culpados pela situação, simplesmente pode acontecer de não ser possível vencer. É com base nesta visão, que vou teorizar o que a querida amiga Renata Ferreiro propôs outro dia. Vou resumir, com muitas palavras dela:

Haiti, seguinte: deu ruim.
É uma pena, estamos todos tristes por vocês. Faz um recolhe aí e vamos sair dessa bagaça. Vocês são 10 milhões, então vamos ter que dividir essa parada: vai uns 2 milhões pros EUA, uns 3 milhões para Europa, 1 milhão para a América Latina e o resto damos um jeito. O último que sair apaga a luz, por favor.
Mal aí, mas não rolou.

(foto: Carlos Garcia Rawlings, da Reuters)

Não estamos (ela e agora eu) culpando o povo haitiano por nada. Não mesmoPodemos fazer uma longa discussão sobre governos autoritários, corruptos e incompetentes, o que ainda assim não é culpar a população (muito longe disso, por favor), por parte dos problemas. Podemos apontar isso como a causa da falta de infraestrutura local. Provavelmente é verdade. Podemos apontar essa falta de infraestrutura como um catalizador de problemas, que torna muito mais grave qualquer crise que por lá acontecer. Também deve ser verdade.
Mas gente... se for para reconstruir a parada toda a cada 3 anos porque passou furacão, terremoto, enchente, epidemia ou similar, simplesmente não vai rolar. A cada pouco esse lugar é assolado por alguma desgraça de escala nacional. A mais recente foi o furacão Matthew. Assim não dá.
Em tempo, para os que estiverem assustados com a proposta, pensem que a humanidade já fez isso. Segue lista, alguns lugares famosos e outros bem menos conhecidos:
- Chernobyl (Ucrânia)
- Ilha Hashima (Japão)
- Ararapira (Brasil)
Até aqui, estamos na escala de cidades. Na escala de locais, a lista de multiplica com estações de trem no EUA, minas de carvão na Rússia, igrejas e castelos pela Europa, parques de diversão pelo mundo tudo e assim vai. A proposta em questão é apenas maior, em escala de país. Maior, mas igual.
Em tempo, ninguém aqui quer destruir a cultura haitiana, muito menos as pessoas. São gente, devem ser tratados como tal em todos os sentidos. Já me manifestei favoravelmente aos haitianos no Brasil neste post. É meio que continuar a parada, só isso.
Ninguém disse que é bonito, apenas que pode resolver a parada mais imediata. Não acho que o leitor acharia bacana deixar os 50mil moradores de Pripyat, nos arredores de Chernobyl, adoecerem por contaminação radioativa. Sim, eles tem direito a viver e ter sua cidade, mas ali não tem como. Que pena! Segue. O mesmo para os demais exemplos.

Se der, a gente volta lá e começa tudo de novo depois. Nada contra também. 
Só que, no momento, não deu.
Mal aí.

Um comentário:

  1. Adorei! E como vc disse, não é contra o povo haitiano, ao contrário, é exatamente porque eles merecem algo melhor... Se isso é possível, já não sei... Se haverá, por parte de autoridades e governos, interesse em fazer algo do tipo, também não sei... Mas nenhum ser humano deveria ter que passar por isso, muito menos com tanta frequência. #deuruim

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