quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Negacionismo

Amigo leitor, aproveito a véspera de feriado para causar alguma confusão. O tema do dia é o Aquecimento Global. Mas antes, preciso ver o que diabos é um "negacionista". 
Não consegui encontrar nenhuma definição realmente isenta de negacionismo. Pudera: o termo está sempre ligado a temas sensíveis e importantes. Não se encontra negacionismo em resultados esportivos ou concursos culturais, mas em análises históricas e estudos científicos. As principais vertentes onde ele aparece são o Holocausto (onde os negacionistas declaram que não houve a morte de 6 milhões de judeus), na biologia (onde os negacionistas não aceitam a Teoria da Evolução de Darwin) e na Ecologia, onde os negacionistas questionam ou negam o Aquecimento Global. Já cutucando, seriam os ateus os negacionistas de deus ? Como se pode ver, não tem como o debate acabar de modo totalmente pacífico.
Já que ninguém se deu ao trabalho, vou definir negacionismo como o ato de discordar de uma corrente de pensamento claramente estabelecida e com forte apoio da comunidade científica. O leitor fique a vontade para negar minha definição.
Isto posto, há graus variados de efeitos dos negacionistas. Negar a Teoria da Evolução por si só é algo apenas risível. É uma corrente religiosa histérica que é incapaz de perceber que a Evolução em nenhum ponto nega a existência de deus, apenas coloca a Bíblia no seu devido lugar: como alegoria. Essa turma se torna incômoda com tentar impedir de modo direto ou indireto (neste caso com a tosca Teoria do Design Inteligente) o ensino da Evolução nas escolas. Mas no limite, pouco efeito causam no mundo real.
Os negacionistas do Holocausto incomodam um pouco mais. Não que eles pretendam ressuscitar ou acordar como zumbis os 6 milhões de judeus mortos pelo Nazismo, mas negam a quantidade alegada. De fato não há como contar corpos, o que obriga a todos a trabalharem com estimativas. Não sei de onde o número de 6 milhões veio, mas não ia me sentir aliviado se tivessem sido "apenas" 1 milhão. Mas isso incomoda apenas pela citação. Certa vez, em uma aula de História na escola perguntei pelos 20 milhões de russos mortos e fui alvo de fortes protestos dos colegas semitas (eu não sabia que eram tantos). E olha que eu nem neguei o Holocausto, apenas coloquei que outras matanças também ocorreram. Alguns desses colegas nunca mais falaram comigo.
O pior tipo é dos negacionistas do Aquecimento Global. Essa turma questiona tanto a existência do fenômeno quanto a participação humana no processo. O problema pode ser grave, pois esse tipo de atitude pode adiar ou anular mudanças comportamentais ou tecnológicas causando um atraso sério, grave ou potencialmente catastrófico nas necessárias medidas para contê-lo (o Aquecimento).
Muito prazer, leitor, eu sou um desses.
Guarde suas pedras, permita-me eu me explicar. Minha bronca é mais com as medições do que com as conclusões. De tudo que li sobre o assunto até hoje, espanta-me a falta de precisão nas medidas de temperatura. E com isso, acaba faltando qualidade científica na definição do fenômeno. Daí o fato de eu negar não a sua existência ou extensão, mas a baixa qualidade das medida. Considero inconclusivos os estudos que o afirmam. O maior problema está no método. Seguem meus questionamentos
1) Mede-se a temperatura em diversas estações de medição e calcula-se uma média. Mas média do que ?
2) Média da temperatura média do dia ? E como é feita essa média diária ? Mede-se a temperatura a cada hora e tira-se a média das 24 medições ? Ou a cada meia hora, com 48 medições ? Faz diferença 24 ou 48 ? Ou é uma medição contínua ?
3) Ou é a média da máxima ? Tira-se a temperatura máxima de cada dia e tira-se a média da máxima ? Talvez.
4) Ou é a média da mínima ?
Complicado...
5) O que acontece se uma estação não medir ? Isso afeta a média geral ? Se sim, quanto ?
6) Qual é a temperatura média do planeta em 2005 ? Pode procurar aí, amigo leitor, e você vai achar várias respostas. Em qual confiar ?
Minha bronca é com a falta de medições claras. Se você não consegue medir um fenômeno, como pode dizer que eles está se intensificando, oras.
Para completar, lembro a questão da falecida URSS. Com a queda do regime ao longo dos anos 80, diversos programas foram sendo paulatinamente desativados pelo país. Veja o que sobrou do programa espacial soviético perto do que havia antes. Mas uma das atividades afetadas foi a ciência e entre elas aconteceu a desativação de estações climáticas na Sibéria. Com isso, alterou-se seriamente a base de dados, pois eram justamente as estações que mediam as menores temperaturas que deixaram de medir e apresentar seus dados para o cálculo da média global. É como tirar a Etiópia do mapa antes de se medir a fome mundial. 
Repito que me considero um negacionista light do Aquecimento Global. Gostaria que mais recursos fossem destinados a esse assunto. Não tenho nada contra um uso mais consciente da energia. Mas afirmar que o planeta vai aquecer 1 ou 5 graus (eles sequer conseguem um concenso sobre o valor) se não pararmos de fazer uma montanha de coisas é uma afirmação ainda prematura do ponto de vista da análise científica.

15 comentários:

  1. Opa.

    A "negacionismo" do holocausto é mais conhecido como o movimento do "Revisionismo Histórico".

    Se n me engano, na ponta da calculadora eles estimam que SE foram executados, esse numero não é mais que 500 mil de judeus mortos.

    Sobre aquecimento global, é senso comum que as cidades possuem uma alteração de temperatura confrontadas com historico. Mas isso é uma mudança de microclima, vc vai até a castelo branco, anda 20 km e essa elevação já não existe.
    Eu pessoalmente defendo a as teorias de aquecimento das CIDADES, e considero o aquecimento "global" nada mais que marketing especulativo.

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    1. Então...
      Quando é para falar que determinado personagem histórico, de repente, era homossexual, é revisionismo. Quando é para recalcular mortos de minorias barulhentas, é negacionismo. Depende MUITO de quem é afetado pela mudança de interpretação.
      Mas gostei da inclusão do micro-clima ao debate.

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  2. Sobre o Design Inteligente, a única coisa que eu digo do assunto é que se os colégios quisessem ser realmente neutros, eles ensinariam ambos os pontos de vista e deixariam cada um concluir o que quiser. Mas é interessante que nenhum dos "lados" envolvidos parece querer isso.

    Sobre o Holocausto, o maior problema da comunidade judaica é que eles se sentem inferiorizados se dizemos que o número não era esse, ou se lembramos que a maioria das pessoas que morreram no Holocausto, pelos estudos mais recentes, provavelmente não eram judeus. Vai entender.

    Sobre a teoria do aquecimento global (faz toda a diferença lembrar que se trata de uma teoria cientificamente falando) eu sempre repito a mesma coisa: de um lado, defendendo que isso é bobagem, tem meia dúzia de cientistas. Do outro, defendendo o aquecimento global, tem um POLÍTICO. Cara, nem sei por onde começar a apontar o problema nisso.

    Basta dizer que uns anos atrás um amigo meu mandou para a minha lista de discussão o estudo do Al Gore falando sobre o aquecimento global. E eu, depois de criticar o texto inteiro, disse que eu ainda me surpreendia em como alguém poderia levar a sério um texto que um veterinário não-formado com alguma noção de método científico conseguia apontar os erros...

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    1. Muito errado quanto ao Desing Inteligente. Neutro é não ensinar isso na escolar e nem sequer deixar um absurdo desses passar pelo portão. Lugar de crendice maluca é na igreja. Não tem dois lados coisa nenhuma nisso.
      Sobre as demais, concordo totalmente contigo. De fato, tem política demais no assunto climático e corporativismo étinico-religioso no Holocausto para que se tenham discussões saudáveis sobre cada tema.

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  3. Como disse um sábio: a não ser que você possa provar uma teoria em detrimento de outra, ambas são válidas, goste ou não. Mas aí a teoria deixa de ser teoria e passa a ser lei, como todo mundo que conhece o método científico sabe...

    De mais a mais, como alguém que teve as melhores aulas sobre Darwinismo num colégio Adventista do Sétimo Dia e que teve as maiores lições sobre religião dentro de um laboratório na Universidade, eu não espero mesmo que você concorde.

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    1. Falso.
      Uma teoria só é séria (ou no caso, "teoria" mesmo) se houver algum fato da realidade que se encaixe.
      O Design Inteligente não passa de pregação disfarçada de teoria. Tem tanta validade quanto o Monstro do Espaguete Voador (louvada seja sua macarrônica existência).

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  4. Tem certeza que você conhece o método científico? Porque não tem nenhum postulado nas definições dele dizendo isso.

    Aquela teoria que você discutiu nos primeiros posts do blog por exemplo: é bem argumentada, faz sentido, mas tem tanta chance de ser provada, hoje, quanto a existência do Monstro do Espaguete Voador.

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    1. Cara você sabe perfeitamente a origem do Design Inteligente. Por favor, não adicione ruído ao debate. Conheço perfeitamente o método científico e você também sabe disso, e é justamente ele que aponta o quanto o DI é rizível até mesmo como texto para passatempo.

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  5. Como nenhum argumento novo foi apresentado, e nenhum dos anteriores foi contra-argumentado, pela regras da dialética eu me limito a repetir o que disse.

    Mas antes de continuar, só responde uma coisa: você acredita em sorte?

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  6. Parceiro, vou simplificar para você. Dá uma passadinha neste link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Design_inteligente, com destaque para

    "O consenso da comunidade científica é de que a criação inteligente não é ciência, mas na verdade pseudociência. A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos já declarou que o "criacionismo, design inteligente e outras alegações de intervenção sobrenatural na origem da vida" não são ciências porque elas não podem ser testadas por métodos científicos."

    Quanto à sorte, eu a defino como uma maneira que as pessoas em geral vêem um grande conjunto de eventos que se resumem a um resultado final que elas não controlam e podem ter grande impacto (positivo ou negativo) em suas vidas. Como maneira simplificada de se comunicar, o conceito de sorte é válido. Como critério direcionador de decisões, é patético.

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  7. Cara, eu vou facilitar para você: pelo método científico (vindo da mesma fonte que você citou) NADA que não possa ser medido E provado é considerado passível de ser abordado pelo Método Científico. A repercussão óbvia disso é que você não viu ainda.

    Da mesma forma, pelo método científico a existência ou não de Deus NÃO É escopo da ciência. Pense nisso.

    Eu não acredito em sorte. Mas acho engraçadíssimo ler no mesmo verbete a tal sorte ser responsável por cerca de 50% de todas as descobertas científicas da história...

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  8. Você tem razão sobre deus não fazer parte do Método Científico. Assim como astrologia, búzios, ufologia, leitura de borra de café e similares: são todas falsidades criadas pela mente humana que, após escrutínio científico, foram descartadas como fatos não comprovados.
    Claro que não estou mencionando efeitos psicológicos disso sobre as pessoas: os efeitos existem e podem ser medidos.
    Mas a existência dessas coisas não faz parte.

    Sobre o DI, já concedeu ou ainda vai insistir ?

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  9. Claro que eu tenho razão. Na verdade, claro que Cambridge tem razão, foram eles, juntos com diversos institutos científicos europeus, que disseram isso. Do mesmo jeito que disseram que qualquer um que use ciência para tratar de algo que está FORA do escopo da ciência está, na verdade, praticando pseudociência.

    Mas você ainda não entendeu o óbvio do paradoxo que a definição do método científico causa na ciência, e porque esse paradoxo valida a teoria do DI. Sem isso, é como eu perguntar se você percebe qual é a cor da laranja e você responder que maçãs são verdes...

    BTW, eu desconsiderei o verbete em português sobre DI e estou considerando apenas o em inglês. O verbete em português é obviamente influenciado pela opinião do autor sobre o assunto e é tão tendencioso que beira o preconceito. Opinião pessoal não tem lugar numa enciclopédia, online ou não.

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    1. Realmente está claro que você está defendendo a DI como modelo científico apenas para trollar o debate. Você sabe perfeitamente que a DI é apenas Criaciniosmo com outro nome. Jamais foi considerada por qualquer publicação científica. Jamais apresentou dados falseáveis. Jamais apresentou previsões de efeitos ou resultados futuros. Não conta com qualquer suporte fora do eixo monoteísta judaico-cristão-islâmico. Enfim, é uma piada intelectual de graça discutível.
      Como eu não compactuo com esse método (trollar o assunto) neste forum, então o assunto se encerra aqui.

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  10. Your call, é o seu espaço.

    Mas eu não estou trollando. O argumento de que o método científico, pela definição dele, suporta o Criacionismo é antigo, e nem é meu (na verdade, é de um ateu).

    Só estou deixando claro que você só vê o lado que você quer de uma situação que tem obviamente mais de um lado. O que é esperado de uma pessoa que, pela escala de Dawkins, é obviamente um 7.

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