sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Um Cubo (3)

Dumbar virou-se de costas para o grupo, e por isso foi o primeiro a notar quando Penske abriu a porta de sua biblioteca e entro sorridente. Ninguém ali achava que Penske realmente lia os livros que possuía. O jovem magnata tinha fama de estar sempre usando a última versão de qualquer gadget recém-lançado, e não era raro portar um protótipo apenas para ser fotografado em sua mão.
Dumbar considero aquilo um alívio. Finalmente podia saber porque fora obrigado a deixar suas pesquisas em Harvard e viajar para atender aquele moleque mimado. Dumbar estava em um momento delicado de seus experimentos e não queria interromper o andamento de tudo, muito menos deixar o laboratório na mão daqueles "macacos com mestrado". Ele não sabia que estava a menos de uma hora de abandonar completamente o trabalho que fizera nos últimos trinta e dois meses, e que jamais concluiria por causa de um motorista alcoolizado com quem se encontraria tragicamente daqui a 8 anos.
Dumbar entrou primeiro e observou a mesa de reunião que em nada combinava com a Biblioteca. A falta de harmonia, por estranho que fosse, o agradou: Penske montara aquilo às pressas para receber a todos, e era importante apenas que todos se sentassem confortavelmente. Ao fundo da mesa, um típico flipchart branco aguardava sua vez de se tornar relevante.
Dumbar sentou-se e notou todos entrando e pegando suas cadeiras do lado oposto da mesa. Ele sabia que não era o mais simpático dos cientistas vivos, e gostava de ver as pessoas fugirem dele como se fosse um gambá social. "Como se esta mesa pudesse protegê-los", pensou.
Viu um trio composto pelo antipático (ao menos com ele) japonês  Dr. Tanaka, o britânico pedante Dr. Judd, e uma senhora provavelmente européia, que a esta altura já deveria detestá-lo. Atrás vieram três completos estranhos para ele, um dos quais claramente latino, que não conversavam entre si. Penske entrou por último, fechou a porta e os cumprimentou com entusiasmo:
- Bom dia a todos. Creio que alguns de vocês se conhecem, mas me permitam apresentá-los a partir de minha esquerda: Dra. Annette Rousseau, meteorologista, drs. Hanashiro Tanaka e Willian R. Judd, físicos de gases. Do lado direito, dr. James Dumbar, também físico de gases, dr. Matthew W. Collins, resistência de materiais, dr. Michael Rodriguez, químico e professor Michael K. Garrett, propulsores.
Dois aspectos chamaram a atenção de todos. Primeiramente, foi a diversidade de especialidades presente. Nenhum cientista, mesmo um bastante falastrão como Judd, tinha a pretensão de conhecer todos os colegas de sua área. Então não surpreendia chegar a um encontro, mesmo pequeno como este, e dar de cara com estranhos. Mas misturar tantas especialidades juntas era atípico, para dizer o mínimo. 
O segundo aspecto que todos, exceto Garrett, notaram foi a presença de um não cientista na mesa. Afinal de contas, Garret era professor mas não doutor, pelo menos na apresentação feita por Penske. Foi o anfitrião que tratou de quebrar o gelo.
- Imagino que os senhores se perguntem porque eu reuni um grupo tão eclético nesta sala hoje. Mas não é sem razão, afirmo. Preciso dos conhecimentos combinados dos senhores pois imagino que nenhum de vocês, com o devido respeito, consegue me responder sozinho o que eu preciso saber. E garanto que os senhores ficarão encantando em tentar me ajudar.
A pausa feita por Penske não surtiu o efeito desejado, e Dumbar acabou tendo que perguntar.
- Ok, senhor Penske. De que se trata esse assunto.
- De um cubo.
Garret sorriu ao ver a expressão de Dumbar.

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