sexta-feira, 3 de junho de 2016

Economia Comportamental

O ser humano é capaz de fazer coisas incrivelmente inteligentes e incrivelmente burras. E não estou falando como espécie, mas como indivíduos mesmo. 
Notadamente, as coisas burras acontecem quando a pessoa decide deixar de pensar e agir por impulso, por instinto, por amizade, por raiva, por amor. Ou seja, quando deixa algum sentimento tomar conta da decisão. Não tem como dar certo, vejam.
Pois acabei de me pegar na armadilha justamente em um caso de economia comportamental, um daqueles centenas de temas que as ditas ciências humanas é capaz de detectar, mas não de explicar e muito menos de resolver, que é o que deveria de fato ocorrer.



Por trabalhar em uma empresa de TI, estou ligado (gostando ao não) ao SINDPD: Sindicato dos Profissionais das Empresas de Processamento de Dados. O fato de trabalhar em área administrativa não parece ser relevante para eles.
Ocorre que, em um assombro anti-democrático e ilegal, o SINDPD pode cobrar contribuições mensais obrigatórias de todos os potenciais filiados, mesmo que não sejam filiados. É isso mesmo: se você for um engenheiro que trabalha em uma empresa de TI, mesmo que queria contribuir para o sindicato dos engenheiros, é obrigado e pagar o SINDPD mensalmente, descontado em folha. E tem decisão judicial sustentando esse lixo. É de cair o cu da bunda mesmo.
Existe uma única saída para isso. O empregado precisa ser não-filiado e, anualmente apresentar pessoalmente uma carta de oposição a essa cobrança para que ela não seja feita, em um curto período de 10 dias corridos no começo do ano. Verdade seja dita, nos últimos 3 anos esse procedimento tem sido mais tranquilo de ser feito, mas quando eu entrei nessa área eram filas horrendas e um atendimento patético. Suficiente para pegar ódio desses caras.

Agora vamos ao ponto deste post.
Esta semana, recebi um folheto da chapa de oposição na eleição que se aproxima no sindicato. Uma das propostas dela é acabar com esse vergonhosa cobrança. Simpatizei de imediato com a chapa, embora eu mesmo seja não-sindicalizado e não vote, portanto. E passei pelo caminho mental a seguir:

"Puxa, bacana isso. Se os caras deixam de cobrar, precisam apresentar resultado de fato para atrair novos filiados. Isso faz deles caras focados. Que bom, a categoria precisa disso. Em um cenário desses, acho que retomo minha filiação e os pagamentos". 

O leitor notou a enrascada em que me meti sozinho? Só pelo fato da contribuição deixar de ser obrigatória, eu passei de ferrenho opositor para potencial apoiador. Sendo que o valor em questão é obviamente o mesmo.
Isso é um caso clássico dos disparates que as pessoas fazem com seus dinheiros. R$ 15 por mês são R$ 15 por mês, independente de você estar pagando porque quer ou porque é obrigatório. Deixar de ser obrigatório não é um motivo para se passar a pagar, oras.
Esse é o resultado de uma decisão não-racional. Agi movido por simpatia à mudança. É mais estranho que amor, é anti-ódio: a simples remoção da causa da minha bronca (até aqui racional-ish) me fez considerar fazer uma coisa sem a menor lógica.
"Economia comportamental", ou "como as pessoas jogam dinheiro pela janela sem notarem". Digno de estudo mesmo.

Um comentário:

  1. Concordo, digno de estudo. A moral e a ética nos mobilizam a querer fazer 'a coisa certa', a 'consertar o mundo' - neste caso, acabar com a cobrança compulsória dessa ridícula mensalidade ...só que agora, deixará de ser compulsória, e será espontânea. rs

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