quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Crédito ao consumidor e inflação

Amigo leitor, terei o disparate e a petulância de tentar explicar qual foi o grande erro da política econômica brasileira no lulo-petismo. E o problema essencial não é o Bolsa-Família.
Primeiro, falemos de economia de mercado. Gostem os esquerdopatas ou não, a economia de mercado existe. Ela é um fato social amplamente estudado razoavelmente compreendido. Estou falando daqueles conceitos de oferta e demanda que muitos conhecem. Resumidamente, a curva de oferta é crescente: quanto maior o preço, maior será a quantidade produzida. A curva de demanda faz o caminho oposto: quanto maior o preço, menor será a quantidade consumida. Ambos são comportamentos absolutamente naturais e racionais. Em conjunto, as duas produzem uma entidade bisonha (e considerada maléfica pelos esquerdopatas) chamada mercado. O ponto de encontro das duas marcará a quantidade produzida de um produto, bem como seu preço. Claro que é algo teórico, mas explica bem o fenômeno. Ainda a nível teórico, pode-se dizer que existe um par de curvas para cada produto. E, naturalmente, as curvas se afetam mutuamente, chegado-se a um conjunto agregado de valores. 
Essas curvas não são estáticas no tempo, até por cada uma representar o final de uma cadeia de suprimentos, cada qual com seu próprio comportamento. Vamos imaginar a descoberta de um novo poço de petróleo. Ela faz aumentar a oferta de petróleo em quantidade, deslocando o preço um pouco para baixo. Com o petróleo mais barato, pode-se produzir gasolina mais barata. Claro que não na mesma proporção de desconto, pois há outros custos. E com a gasolina mais barata, alguns novos consumidores podem se interessar em ter carros, aumentando a demanda e... o preço !

Economia não é algo simples. Talvez por isso não devesse ser deixada na mão de amadores.

Quando se fala em inflação, o assunto fica mais conceitual ainda. O problema é que o que está em análise não é um produto e sim o dinheiro em si. Isso faz todo o sentido, na medida em que inflação é o fenômeno da perda do poder de compra do dinheiro. Até aqui, ok ?
Pois bem. Pensemos em um sistema econômico onde há uma certa quantidade de bens e serviços sendo produzidos e uma certa quantidade de dinheiro circulando. Suponhamos que sejam quantidades constantes de ambos. O dinheiro circula e compra esses bens e serviços, ano após ano. Tudo está estável (isso se chama ceteris paribus, em Economês). 
Daí, é feito um investimento. Digamos que alguém "produza" dinheiro e use esse dinheiro novo para aumentar a produção de um bem. Aumenta-se a quantidade de dinheiro circulando, mas junto a isso aumenta-se a quantidade de bens e serviços produzidos também. Esse aumento provoca uma flutuação na relação entre bens/serviços e o dinheiro. Se o projeto foi inteligente, haverá ganho: a produção aumentou mais do que o aumento do dinheiro. neste caso, a economia cresceu de modo real e sustentado. Se o projeto foi ruim, há um excedente de dinheiro novo e isso gera uma pressão contra o mesmo. Há mais dinheiro do que bens e serviços e, pelo princípio do livre mercado, o dinheiro perde valor até o sistema se reequilibrar. Leia-se: inflação.
Se você achou estranha a ideia de se "produzir dinheiro", saiba que isso é perfeitamente comum, normal, permitido, legal e até taxado. Chama-se empréstimo. 
"Ora..", dirá o leitor, "... e onde diabos o empréstimo produz dinheiro ?". A resposta está nos juros. Se você pede 100 unidades monetárias emprestadas e precisa pagar 105 a quem lhe emprestou. Esses 5 excedentes (juros) são dinheiro criado.
  • E o Brasil no lulo-petismo ?
Mudando para o nosso cenário, o que acontece se o dinheiro emprestado, em vez de ser usado para aumentar a produção for usado para aumentar o consumo ? O chamado crédito ao consumidor. tão elogiado com fator de inclusão social, faz o que na economia ?
Basta raciocinarmos pelas lei de mercado. Se damos acesso a um empréstimo a um consumidor que o não tinha, ele toma esse dinheiro emprestado e consome, pagando juros. Na primeira linha de raciocínio, produz-se um excedente monetário sem correspondente aumento de produção: temos inflação, amigo leitor, contratada no médio prazo. Na segunda linha de raciocínio, temos um novo consumidor querendo comprar o produto sem que tenha havido um aumento prévio da produção. Se aumenta a demanda sem aumento da oferta, o preço sobe: temos inflação, amigo leitor, contratada no curto prazo.

Economia não é algo simples. Talvez por isso não devesse ser deixada na mão de amadores.

Em tese, diriam os esquerdopatas, a ideia é maravilhosa por dar acesso imediato a bens e serviços para as classes menos abastadas, incentivando o produtor a aumentar sua capacidade de produção. 
Behhhhh. Falso, amigo leitor. A primeira parte é verdadeira, mas a segunda não. Ponha-se no lugar do dono da fábrica que, da noite para o dia passa a vender seus produtos um pouco mais caros sem ter feito nada por isso. Por que diabos ele se arriscaria a investir no aumento da capacidade produtiva pagando juros elevados e sem a certeza de que a demanda continuará a crescer depois do boom artificial de consumo ? Ele simplesmente reajusta a tabela (adivinhem: temos inflação) e não se fala mais nisso.

É por isso, amigo leitor, que a inflação voltou ao Brasil. Bateu 6% ao ano, e parece que vai ficar nisso por um tempo. A política econômica do PT trouxe de volta a inflação em troca de votos para continuar no poder. 
E tem milhões de tontos votando nisso. Burrice aguda, não canso de afirmar.



2 comentários:

  1. Na verdade, a política de crédito ao consumidor é uma alternativa econômica muito boa, ela só não é AGORA, com os níveis de desemprego baixos como estão.

    Mas como eu disse para uma amiga minha esses dias, essa é uma decisão até certo ponto conservadora mas que faz sentido. Posso não concordar com ela, mas ela é uma escolha válida, diferente por exemplo da política da educação continuada que você criticou outro dia.

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  2. Na verdade, não, amigo.
    O timing de uma decisão é parte da mesma. Se você é diabético e erra o momento de tomar insulina, não adianta nada e pode até piorar a situação. O mesmo vale aqui e o resultado é essa inflação alta e crescimento baixo que estamos vivendo.

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