quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guga e o Técnico do Guga

Amigo leitor, colega de treino, vai mais uma de minhas histórias na TSKF. Esta aconteceu muitos anos atrás, creio que em 2001 ou próximo a isso.
Na época, a TSKF tinha treinos de combate*. Eram duas turmas, uma às 5as-feiras (21h) na Matriz e outra aos sábados (16h) na unidade de Pinheiros (atual Vila Madalena). Eu estava em plena ascensão física, "me achando um monte" na época. Então eu fazia a aula de combate aos sábados e nas de 5a-feira eu ficava fora do treino, mas dentro da sala acompanhando a ginástica com o pessoal em aula.
Em um determinado sábado, o Mestre Gabriel pegou particularmente pesado com a carga física do treino. A primeira série de flexões foi de 100, e nem sei quantas mais fiz depois disso. O mesmo com os abdominais. Os chutes, alguém contou, foram 150 com cada perna. E seguimos com outros exercícios. 
Ao final do treino, o Mestre percebeu o desgaste físico e moral da turma. Estávamos mortos de cansaço e chateados por estarmos mortos de cansaço. Ele então decidiu que era hora de uma das suas preleções, desta vez para elevar o moral da turma cansada. Mandou todos sentarem e falou em tom brando, algo raro na época. A se lembrar que Gustavo "Guga" Kuerten era o grande astro do esporte brasileiro naquele momento.
- Gente, vocês todos sabem quem é o Guga, certo ?
- ...
- Pensem comigo: quem joga tênis melhor: o Guga ou o técnico do Guga (Larri Passos, mas o nome não foi mencionado).
- O Guga - respondemos todos.
- Então, para que serve o técnico do Guga ?
Em silêncio, pensamos sobre a pergunta por alguns segundos. O próprio Mestre Gabriel retomou as palavras.
- O técnico do Guga serve para fazer o Guga jogar melhor. Atingir sem potencial. Vencer. Aqui na academia não é diferente. Eu não aguento essa ginástica toda que vocês acabaram de fazer. Os bons são vocês. Os campeões são vocês. Eu só estou aqui para ajudar cada um, e a todos. 
Funcionou. Ainda mortos, com dores em dezenas de partes do corpo, saímos da academia minutos depois com o moral em ordem. "Somos bons. Somos campeões. O mestre disso isso !"

Bem... Na 5a-feira seguinte, eu fui até a Matriz como de costume. Treinei das 20h-21h e fiquei ali para fazer a ginástica da aula de combate. Naquele dia, o Mestre decidiu fazer a ginástica junto dos alunos. Logo de cara, foram 150 flexões de braço, com o tórax reto e firme como uma táboa, encostando o nariz no chão em cada uma das flexões. Ninguém passou de 120, acoxambrando no final. Depois teve mais pegadas de flexão, como ralando o cotovelo, batendo palmas, um braço... Seguiu-se uma montanha de abdominais que o pessoal até acompanhou. Nos chutes começaram a cair como moscas: dez de cada tipo em ritmo forte, sem descanso entre cada variação.
Todo o discurso do sábado desmanchou-se em uma poça de suor na 5a-feira. Estava definitivamente claro quem era o Mestre, quem realmente aguentava ginástica, quem era durão de verdade.

Você que vez por outra critica o Mestre por falta de conhecimento, falta de respeito, alguma chateação ou até por más influências, saiba: você não tem a menor ideia do Mestre que tem.

* Não pergunte sobre aulas de combate para o instrutor nem para o Mestre Gabriel. Para encurtar a conversa, eram outros tempos.

2 comentários:

  1. Me lembra meus bons tempos no Kendo. Primeiro "treino de inverno" que eu participeicoi algo desse nível. 5000 golpes na primeira sessão, 4 horas de treino de técnicas básicas depois, pausa para almoço, mais 4 horas de treino de combate, pausa para o lanche, mais treino (acho que foram 6 horas, não tenho certeza) de kata (meu primeiro treino com espada, por sinal) e depois meditação.

    Sei o que parece e é exatamente isso: começamos a treinar na noite de sexta e paramos no amanhecer do domingo. Sem parar para dormir. Estar fazendo um frio dos infernos naquelas noites não ajudou nada.

    Bons tempos...

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