segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A chance de uma vida (1)

Saulo tinha 27 anos quando sua vida deu a reviravolta de que trata esta história. Nascido em Campinas, mudou-se para São Paulo para cursar Administração de Empresas aos 17 anos. Formou-se 4 anos depois, sem nenhum feito assombroso. Era apenas um sujeito comum vencendo as barreiras acadêmicas em busca de uma carreira.
Carreira esta que não teve um bom começo. Seu primeiro emprego foi marcado por uma desavença com o chefe. Era algo trivial sobre procedimentos internos, mas que acabou escalando para uma discussão acalorada. Saulo percebeu o erro ainda no calor dos fatos e ainda tentou contornar o problema, mas já era tarde. Acabou demitido semanas depois, mas pelo menos teve uma carta de recomendação. 
Seu segundo emprego foi um daqueles azares realmente injustos. Experiente com o erro anterior, estava disposto a seguir as regras do jogo, objetivo que cumpriu com ardor nos 8 meses que se seguiram. No entanto, uma reestruturação corporativa fez com que sua área desaparecem da noite para o dia. E lá estava ele com a segunda carta de recomendação.
As coisas só foram se encaixar quando ele aceitou uma oferta no setor bancário. Levou dois anos em vagas técnicas com muito trabalho e pouco reconhecimento. Quando ele achou sua brecha, conseguiu um cargo de coordenação e logo estava uma gerência baixa na corporação bancária de origem espanhola.
Depois de passar 15 meses ajustando processos e pessoas, finalmente pode tirar um merecido período de férias. Quatro meses antes das mesmas, escolheu Las Vegas como destino. Havia terminado um namoro recentemente e estava disposto a agir como um homem adulto e descompromissado no assim chamado playground da América. Não estava nos planos reatar com Patrícia semanas depois de comprar as passagens, e ela estava bastante desconfiada dos planos de viagem Saulo. Passagem e estadia pagos, ele não desistiu, mas optou por adaptar a viagem para outros passeios, por assim dizer, mais publicáveis. E seu gosto por carros o levou para uma sessão com um carro de corridas no autódromo local. Não sabia ele que essa decisão mudaria sua vida.
Saulo viajou em um domingo, pois a passagem aérea era sensivelmente mais barata. Chegou a Houston e logo emendou a conexão para Vegas sem maiores transtornos. Pegou um taxi até o hotel, apenas para descobrir que o mesmo oferecia um serviço gratuito de vans. É o tipo de coisa que irrita um sujeito cansado da viagem. Mas isso era culpa, de modo simples, do próprio Saulo. Seu domínio do idioma bretão, ao contrário do que ele mesmo achava, era sofrível. Passou o resto do dia perambulando pelo hotel cassino em forma de pirâmide, algo que parecia muito bonito pela internet, mas ao vivo era bem cafona.
No segundo dia de viagem, tomou coragem e começou a sair na rua. Almoçou e, de volta ao hotel, resolveu apostar. Perdeu comedidamente, como era seu estilo sempre que jogava pôquer. E como o jogo é o mais popular entretenimento da cidade, comprou o equivalente a uma rifa para o sorteio de um Corvette. Nunca passou pela cabeça dele que não teria o que fazer com o tal Corvette caso ganhasse, mas o destino se encarregaria de cuidar até deste aspecto. 
E assim ele terminaria o último dia normal de sua vida, indo dormir relativamente cedo e absolutamente sóbrio para aproveitar os 500 dólares gastos no tal passeio com o carro de corrida. 

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