quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Lembranças

Ontem foi até o canalhas do Sindpd entregar minha carta de oposição à contribuição mensal. Explico, mas peço para que o leitor acredite.
O Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo - Sindpd - determinou anos atrás uma cobrança compulsória de mensalidade de todos os trabalhadores do ramo. Todos. Inclusive daqueles que trabalham em uma empresa de TI, mas que não sejam da área de TI. Tipo eu, auditor interno. E por algum caminho legal/judicial, certamente envolvendo uma bela propina, eles podem obrigar as empresas a descontarem o valor em folha de pagamento de todos os funcionários e repassar a quantia para ele. Sim, amigo leitor, isso desafia a lógica legal mais rudimentar, ao permitir que uma entidade de direito privado crie, na prática, uma taxa compulsória. Coisas desta república sindical onde vivemos...
Mas nem tudo é desgraça. Se o funcionário não for filiado, ele tem o direito de se opor ao pagamento. Basta escrever uma carta em duas vias declarando tal posição e entregar pessoalmente para os caras, em um período pateticamente curto (10 dias corridos, em janeiro) para se livrar dessa palhaçada por um ano.
E lá fui eu, ontem, cuidar disso. Por essas curiosidades, os caras alugaram um salão no Clube Juventus, na Móoca para tal intento. Pelo menos o atendimento, ao contrário de anos passados, é mais humano. Não perdi mais do que 5 minutos lá dentro. Na saída, observei pelas janelas do salão as piscinas do clube. E daí as lembranças.

Lembrei-me de minha infância, boa parte consumida no extinto clube C.A.F.E., localização às margens da represa de Guarapiranga. Tão antigo que nem encontro referência via google. Passei muitos domingos e algumas manhãs de dias de semana na época das férias de verão por lá. Muito futebol e piscina, além dos rudimentos de tênis que aprendi com o professor Gato (era o apelido do cara, não me olhem assim).
De todo modo, foi um período marcante pra mim. Curiosamente, as lembranças mais intensas são as negativas, por terem sido mais intensas. Nem por isso, o todo foi ruim, ao contrário. O que mostra que os bons momentos, embora menos intensos, tenham sido muito mais numerosos. 
Lembro de jogar muito futebol na quadra do fundo. Fazer e desfazer times e amigos. Muitos gols, muitas horas jogadas. Depois disso, correr em volta da piscina e nela pular. Por horas também. Lembro de ficar sempre procurando as melhores espreguiçadeiras para colocar perto do adulto designado para "tomar conta" das crianças (eu e minha irmã no caso): minha mãe ou minha tia. Minha tia, por sinal, que era quem nos levava em dias de semana para lá, época em que ela trabalhava à tarde e os dois sobrinhos estavam de férias. Não tenho certeza, mas parece-me que foram 2 ou 3 verões de intensas idas ao clube.
Olhei aquela criançada na piscina e notei que são exceção nesta era de condomínios fechados e videogames. Não que eles sejam ruins, mas tomaram o espaço do clube, instituição em desuso, para não dizer decadência. 
O clube me fez ter contato contínuo com gente que nunca tinha visto. Moleque novos apareciam todo final de semana para jogar. Nunca se sabia quando ia surgir o novo craque da turma. Mas também havia os de sempre, que batiam cartão na quadra antes das 8h do domingo. 
Aprendi as regras do basquete e do 21, variante de rua do mesmo. Aprendi a bater lateral. Aprendi a chutar com o pé esquerdo, e não era ruim nisso. Aprendi rebater com força no tênis, mas nunca com controle. Aprendi que meu backhand é nulo. Aprendi que nem sempre o técnico sabe o que está fazendo, pois ele também se desespera quando o gol não sai. Aprendi que fatores externos ao seu desempenho podem destruir sua posição no time. Aprendi que 2 frangos do seu goleiro te levam para uma decisão nos pênaltis. Aprendi que chutar o último pênalti no travessão é ruim, muito ruim. Aprendi que o melhor jogador do time pode ser seu amigo, mas vai ganhar mesmo assim, e com justiça, o prêmio de melhor do torneio. Aprendi a atravessar a avenida com cuidado. Aprendi que tem gente tirando racha na avenida. Aprendi que gosto mais de sorvete de massa do que de palito. Aprendi a não correr em volta da piscina. Aprendi que, na época, a garrafa de guaraná e de soda era maior que a de coca, por 10ml. 
Aprendi a conviver. 
Por tudo isso, agradeço ao C.A.F.E.. E pergunto como as crianças aprendem essas coisas todas hoje em dia.

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