sexta-feira, 14 de março de 2014

A Força do Hábito

O amigo leitor deve ter notado que fico meio filosófico às sextas-feitas. Não é diferente hoje. Começarei relatando um caso quase bucólico.
Certa vez, uns dois anos atrás, eu voltava do almoço. Já na minha mesa, peguei minha necessaire (que nome estúpido!) e lá fui escovar meus dentes. Aliás, em uma nota a parte, qual não foi minha surpresa ao descobrir que esse hábito de escovar os dentes após o almoço é tipicamente brasileiro... 
Voltando ao ponto, eu não sabia da encrenca que ia passar. Não tinha conhecimento de que houve um vazamento no banheiro acima do meu, até porque fica em outro andar. E que para consertar o mesmo, o que inclusive estava em andamento, foi necessário fechar toda a coluna de água daquele setor do prédio. 
Daí eu coloco a pasta na escova e abro a torneira apenas para pegar um pouco de água, o que se passar normalmente. Não sabia eu que a coluna estava fechada, e aquele meio litro de água era o penúltimo ainda presente na tubulação. Escovo os dentes e aciono novamente a torneira. Mas antes de enxaguar a boca, comecei lavando a escova, como fiz por (até então) quase 38 anos. E com a escova limpa e a boca cheia de pasta... a água acaba. 
Tremenda confusão. A torneira ao lado também não tinha mais água. Tremendo incômodo. O outro banheiro fica a 20m, pelo corredor central do prédio. Tremendo mico... Mas não teve jeito: cuspi a pasta, enxuguei a boca com o papel toalha, guardei as coisas e tal necessaire e segui para o outro banheiro, para terminar o serviço.
Naquele dia eu aprendi que meu processo estava errado. O correto era enxaguar primeiro a boca e só então cuidar da escova. Faz dois anos que notei isso e comecei a inverter a ordem das operações.
Bem... ainda não terminei de inverter. Até hoje eu escovo os dentes 3-4 vezes ao dia e o hábito de lavar a escova antes está arraigado em mim. Eu preciso pensar para fazer o que considero certo e ainda erro mais do que acerto.
Pense então, amigo leitor, em outros tipos de hábito ou mau hábito. Não dar seta ao mudar de pista, maneira de amarrar o tênis, maneira de colocar uma mochila nas costas, sedentarismo, racismo, sexismo, homofobia, nó na gravata... A lista é enorme e o leitor já deve ter extrapolado para seu caso particular. Mesmo em situações mais críticas do que meramente a ordem terminar uma escovação dental, temos enorme dificuldade em mudar. 
Mas somos craques em cobrar mudanças nos outros, não somos? Não queremos um país melhor? Não queremos um mundo melhor? Queremos, desde que não tenhamos que ir lá fazer a coisa toda, ou por achar que nossa parte já está feita. 
Duvido que esteja. Duvido que só você seja o motorista do bem que sempre deu passagem ao pedestre, que nunca fez download ilegal e que sempre usou fio dental após cada refeição (diabos, sabia que tinha faltado alguma coisa !). Não precisa bancar o herói, apenas faça o que deve ser feito. 

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