sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As Faixas Contínuas

Interrompo o relato de viagem porque hoje é o dia para contar esta história e fazer uma pergunta (im)pertinente no final.
O caso que aqui lhes conto ocorreu há alguns anos. Não lembro a data exata, mas era uma sexta-feira de GP Brasil de F1, como hoje. É o que eu chamo de "aniversário moral" do ocorrido, independente do que esse calendário repetitivamente bobo de 365 dias diga.
Compramos ingressos para ver a corrida, e dividimos a responsabilidade pelo carro. No primeiro dia, 6a-feira, seria o Danillo Cocenzo (que já era um grande amigo, mas não shifu na época). Na semana da corrida, ocorreu algo que ele estava prevendo: não conseguiu se livrar do trabalho e não poderia ver os treinos livres de sexta-feira. Responsável como sempre foi, disparou com sucesso um plano B: no lugar dele (tanto como expectador quanto como motorista) iria Sr. Gilberto, pai dele.
Danillo nos tranquilizou, dizendo que o pai dele levaria uns 5 a 10 minutos para se acostumar conosco e depois conversaria numa boa. Mentira: no segundo farol o papo já corria solto, como se nos conhecêssemos há anos. Figura, sr. Gilberto !
Foi o sr. Gilberto que nos contou sobre a faixa branca contínua nos cruzamentos de avenidas. Algo como visto aqui, na via horizonta, do lado direito:


O amigo nota toda a sinalização de solo: a Avenida Horizontal tem fluxo da direita para a esquerda, em mão única. A pistas da direita e esquerda permitem conversões para os respectivos lados, enquanto a faixa central deve seguir em frente. Nas proximidades do cruzamento, surgem as faixas contínuas.
É fácil dizer a função das faixas contínuas: é proibido mudar de faixa. No cruzamento representado acima, é fácil entender o porquê: o motorista em uma das faixas laterais está atento à conversão à frente. 
E então, sr. Gilberto nos surpreende.
- Sim, essa é uma das funções da faixa contínua. Mas há outra. 
- Qual ?
- Você já notou que essas faixas existem em todos os cruzamentos, e não apenas onde há conversão ?
- Sim.
- E há mesmo nos cruzamentos onde algumas faixas não são afetas pela conversão, há em todas ?
- Verdade !

(observem o farol sem conversão à esquerda)

- É por causa da farol e da velocidade limite da via.
- QUE ?!
- Se você prestar mais atenção, vai notar que o comprimento da faixa contínua também varia de via para via. Nas vias mais rápidas, a faixa é mais longa.
- Olha... nunca prestei atenção. Mas por que isso?
- Ah, jovem! A faixa contínua também indica que, se você já estiver na área por ela delimitada quando o farol ficar amarelo, pode passar tranquilo pelo farol que só ficará vermelho depois que você passar.
- QUE ?!?!?!?!?!
- Isso mesmo. A faixa é mais longa em vias mais rápidas porque há mais espaço para passar no amarelo. Claro que isso não vale se estiver devagar, mas se estiver próximo do limite da via, dá certo.
Ver e ouvir o sr. Gilberto falando da faixa contínua era parte do espetáculo. Ele conta aquilo com alegria e emoção. Para ele, o carro (e talvez a roda) foi inventado apenas e tão somente para se fazer uso de tão genial criação humana: a faixa contínua.

Passei meses prestando atenção a isso. Procede, simples assim. Nunca tinham me falado disso antes. Nunca mais ouvi mais ninguém falando sobre isso depois. Será que a CET (que sinaliza a cidade) sabe disso ?
Não creio: com tantas mudanças de velocidade, não vi uma única faixa contínua ser encurtada proporcionalmente. 
Sr. Gilberto deve estar bravo...

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