terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Projeto de Processos (3)

Mantivemos nossas palavras.
Na primeira reunião, na casa do Brasil, fomos os 4. Começamos a desenhar o processo e estudar as reações químicas necessárias. Fizemos grande progresso.
Na segunda reunião, também no Brasil, um rascunho geral do processo saiu. Paulo chegou uma hora atrasado, e opinou pouco. Já dava para começar a usar o simulador.
Na terceira reunião, já no laboratório, Paulo avisou na véspera que não poderia ir. Foi a última notícia que tivemos dele. Passamos as 2h aprendendo a usar as setas. 
Bem.. o trabalho foi semestre adentro, junto a outras matérias. Conseguimos desenhar um projeto esbelto que não funcionava. Estávamos longe da pureza necessária. Em dado ponto, chegamos a usar os 2 simuladores ao mesmo tempo, já que não tinha ninguém lá mesmo, para testar mais variáveis. Chegamos a sair do laboratório por volta de meia-noite, expulsos pelo segurança.
Variamos um monte de fatores: temperatura e pressão de reação, catalizador, tipo de coluna de destilação e seus parâmetros. Chegamos a considerar uma reação em etapas, mas ninguém queria redesenhar o reator.
Foi quando eu tive a ideia de inverter o reagente em excesso. Não custava nada além de tempo para tentar. Sucesso retumbante: a pureza passou muito dos 99% requeridos. Ainda passamos uns dois dias polindo o arquivo: ajeitando a ordem das peças, encurtando setas e usando números mais redondos possível. A pureza passou dos 99,95%.
Versão impressa e disquete foram entregues duas semanas antes do prazo. Nota 10 para os 4. Sim, eu mantive o nome do Paulo tanto no arquivo quanto na impressão.

Uma semana depois, Brasil me procurou.
- Cara, animal o trabalho de Projeto de Processo.
- Putz, ficou assim. Também curti.
- Graças a você.
(Sim, eu fui o MVP).
- Cara, foi sorte também. Inverter o excesso era uma ideia que você ou o Renato poderiam ter tido.
- Mas foi você quem teve.
- Aprendemos e passamos: isso é o que importa.
- E ainda te devo desculpas pelo Paulo.
- De modo algum. Ele não incomodou.
- Esse é o ponto. Você disse que ele não ia aparecer e nós duvidamos. Você não apenas detonou ao ajustar a simulação,mas já tinha acertado antes disso ao dizer que ele não faria nada.
- Esse acerto era fácil. Eu conheço o cara e fiquei de olho neles nos últimos anos.
- Mas tem uma coisa que eu e o Renato queríamos te perguntar.
- Manda.
- Mano... você odeia o cara, sabe que ele não ia aparecer... Por que diabos você deixou ele no grupo?
(eu ainda não queria admitir)
- Ah.. ele não faria diferença mesmo.
- Mas você fez questão de por o nome dele no trabalho. Por que ?!
(não aguentei)
- Brasil, você sabe que aqui na USP, matéria feita é matéria feita
- Sim.
- Você nunca mais volta a ela sem uma nova matrícula.
- Acho que nem assim.
(Brasil tinha um olhar assustado)
- Agora ele passou. Ele nunca mais vai poder cursar essa matéria. Ele nunca mais vai aprender a usar o Aspen.


- Cara... você pensou isso no começo do semestre?
- Lógico.
(Brasil estava branco)
- Cara, quero morrer teu amigo.

Eu lembrei desse caso esta semana. Achei o Brasil no Face e o adicionei. Ainda o considero pacas. Não sei do Renato, espero que esteja bem.


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