quinta-feira, 3 de março de 2016

Sobre shortinhos

Causou alvoroço nas redes sociais (quando é que vamos parar de falar "redes sociais" e passar a falar "facebook", que é a única que realmente importa?) um protesto de estudantes do Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Acho que não preciso explicar o caso, então sigo para o editorial.
Afinal de contas, qual é o diabo do problema de deixar as meninas usarem o que querem?! Gente da Terra, será que mesmo em 2016 não temos maturidade ainda para deixar cada um fazer o que bem quer e assumir as consequências por isso?
Claramente a resposta da segunda pergunta é "não". Impressiona-me quantidade de gente que se posicionou contrária à reivindicação. E os "argumentos" vão do non-sequitur ao ridículo, a ponto de eu colocar aspas na palavra argumento.
O primeiro de todos é "escola não é lugar de putaria", ou variantes. Para começo de conversa, o fato de não ser lugar (e não é) não impede de ser (e é). Não estou apontando o Colégio Anchieta, que não conheço, como um antro da perversão. Mas grosso modo, todos nós sabemos que o acontece na vida adolescente de... todo mundo. Sim, acontece vez por outra sim.
O segundo argumento é que eles vão "aumentar os casos de pegação". Teve até doido falando em gravidez precoce. Interessante a pegação ser tratada como algo ruim, como doença, como mais perigosa que a Zika. Se o shortinhos aumentarem isso, será que não era mesmo um movimento esperando por acontecer? Aliás, alguém sabe de algum caso de dois (ou mais) adolescentes querendo fazer sexo e que foram impedidos por alguma proibição verbal nos últimos 150 anos?
Depois aparecem coisas como "escola é lugar para estudar" ou "elas não precisam do shortinho pois podem usar bermudas" ou "vão ficar com má fama"... A coleção de besteiras não termina nunca. 
Agora, nada como uma foto chamativa para ilustrar o post, não?

(Do que eu ia falar mesmo ?!)

Lembro de uma colega que tive na 6a-série. Acho que se chamava Cristiane e era "repetente" (para quem tem menos de 25 anos, saiba que ir mal na escola podia te fazer repetir uma série e isso era um estigma horrendo e inapagável). E moça usava o mesmo uniforme que todo mundo, mas de alguma maneira ela se fazia chamar a atenção. Em termos mais diretos, dentro daquela calça Adidas ela ficava gostosa pacas. Na minha cabeça, algo no nível da foto acima, mas duvido que fosse mesmo algo perto disso. Não lembro de ela ter ficado com fama de puta. Também não lembro de ter beijado nem mais nem menos meninos que as outras meninas: não houve vantagem competitiva. Mas lembro que houve algum bafafá sobre o modo como se portava, mostrando que não evoluímos socialmente nada nos últimos 30 anos. Só temos redes sociais para aumentar a escala de percepção.
No passo seguinte, pode ser, sim, que algumas (ou muitas) fiquem com má fama. Sobre isso, é um aprendizado geral. Por um lado, elas aprendem que as coisas que fazemos têm consequências e temos que lidar com elas. Por outro, também aprendemos todos que fama não significa coisa alguma: ser chamada de "puta" não faz da mulher uma. Que se danem os que assim as chamarem. No final, também aprendem que chamar as pessoas de nomes feios é mais feio que o nome chamado, sempre.
Por último, condenado que estou a seguir um código de vestimentas medieval desenvolvido para países de clima temperado (roupa social), sou completamente favorável às pessoas começarem a dar um basta em regras inúteis de vestimenta. Se eu não puder me beneficiar disso, que a próxima geração consiga.

Não creio que estejam propondo algo como essa foto. Mas se estiveram, e daí?!

Gente, menos mimimi, mais efetividade. Não vi um único argumento cabível contra os shortinhos, então sigo em meu posicionamento pelas liberdades individuais. E mais shortinhos, bermudas, chinelos. Mais conforto, por favor. Com urgência.

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