terça-feira, 1 de abril de 2014

50 Anos

Alguns, talvez muitos, usem a data de 31 de março como a do golpe militar de 64. Prefiro primeiro de abril, não apenas pelo fato de ser o primeiro dia em que o golpe estava consumado, mas pela piada envolvida na data.
Golpe, ok ? Não revolução: golpe.
De começo, aviso, ou relembro, o leitor de que não gosto da democracia representativa. Não gosto mesmo. Os representantes não conseguem representar seus eleitores nem quando querem, e em geral não querem. O modelo de democracia direta, usado de certo modo na Suíça (por exemplo), os cidadãos votam eles mesmos na propostas através de constantes plebiscitos e referendos. Tem mais chance de funcionar, mas ainda assim acabará sendo uma ditadura da maioria. Apenas como exemplo, garanto que um plebiscito feito hoje no Brasil resultaria em aprovação da pena de morte e rejeição do casamento gay. Apenas para dar exemplos...
Mas voltando ao ponto, a democracia representativa entrou pelo cano em 64. Os militares foram chamados a tomar o poder e o fizeram com apoio de parte da sociedade. Esse comentário é óbvio na verdade: ninguém governa isolado. Tanto é que foi por isso que Jango caiu: por estar isolado.
Seguiu-se o roteiro usual dos golpes de estado. Estabeleceu-se um governo provisório que logo achou por bem se prolongar no poder. O poder corrompe... Em dado ponto, como em todos os casos, passou a abusar da força que tinha. Aí acontece um fenômeno que me escapa à compreensão. Uma coisa é a tomada do poder pela força em um país. Outra coisa é o uso da quebra de direitos civis individuais. Não consigo entender porque a primeira leva necessariamente à segunda, pois são eventos um tanto diferentes. Vemos, inclusive, a segunda acontecer sem a primeira. Um governo militar poderia simplesmente ignorar as manifestações que contra ele acontecessem ou, como vimos em junho passado, tomar medidas cosméticas para desmontar o movimento. Poderia deixar falarem por dias, e contar com a falta de persistência. Não precisaria reprimir com violência. Mas reprimiu. Reprime. Creio que reprimirá. Não entendo porque precisa abusar da força, mas reconheço que sempre o fez, aqui e em outros países.

A ditadura brasileira é uma ferida aberta que dói e incomoda de tempos em tempos, especialmente nessas efemérides. É assunto ainda por se resolver. Se a Lei da Anistia foi uma bomba nas esperanças de se fazer justiça, revogá-la seria um golpe duríssimo em alguns princípios jurídicos fundamentais. A esta altura, acho melhor engolir esse erro, e que fique claro aqui também que a considero um erro, em nome de evitar um erro ainda maior.
E no meio de um governo péssimo na área econômica, completamente tomado por corrupção e desmandos e patético desempenho em política externa, surgem alguns malucos que pedem a volta dos militares. Aqueles mesmos que, de tão desaparelhados, mandam seus soldados para casa almoçar. Risível: faz-se uma manifestação para pedir por um evento que acabaria com manifestações...
Por fim, dizer que tudo que aconteceu no período militar foi ruim é tão patético quanto pedir sua volta. O conceito de universalizar a educação surgiu nesse período no Brasil. A indústria pesada (essa mesma que o PT está desmontando) é a base de qualquer economia sólida e foi estabelecida nesse período. Houve forte crescimento econômico tanto a criminalidade quanto a corrupção foram combatidos. Obras importantes, necessárias ainda operacionais foram feitas no período. Grandes e fortes empresas foram criadas e tem peso importante em nossa economia até hoje. Não percamos isso de vista, nem de perspectiva.
E não percamos a noção das coisas: a arma e a caneta precisam ficar em mãos diferentes.

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