segunda-feira, 18 de maio de 2015

A Nova Era do Humor

Vamos ver se o amigo leitor se identifica com as piadas abaixo:

"Japonês, quando não faz na entrada, faz nada saída".

"O que significa uma loira, em um Uno, na frente do Bradesco ? Nada: Bradesco não é banco, Uno não é carro e loira não é gente".

"Por que caixão de cego só tem 2 alças ? Já viu lata de lixo com 4 ?!"

"Quando deus criou o segundo sãopaulino, disse "Xi..., queimou de novo" ". 

Aposto que não. Mas como escrevo pra um público seleto, estou seguro de que o amigo leitor identificou com facilidade as versões originais. Aqui nos meus (quase) 41 anos, digo que foram piadas dos anos 80. Leitores mais jovens que não dispõem de DeLorean modificados deve ter lido, ouvido ou mesmo contado as originais em seus respectivos momentos.
Claramente as versões originais destas piadas, embora sobrevivam no submundo do humor de mau gosto, são espécies em extinção. E não vão embora cedo o suficiente. Piadas racistas são inaceitáveis.
O que dizer, então, de piadas de loiras? Trata-se do mesmo tipo de critério: associar características negativas a um extrato populacional baseado em uma combinação de características que está além do controle das pessoas. Neste caso, combinação de gênero e cor do cabelo. É tão errado quanto etniaNa mesma linha, chegamos às piadas de nacionalidade. De novo, a pessoa não escolhe onde nasce.
As piadas de homossexuais merecem um aparte agora. Faço isso porque há uma divisão que eu faço entre o homossexualismo (dade ?) enquanto preferência sexual e a homossexualidade (ismo ?) enquanto comportamento. Existe debate amplo sobre a atração sexual ser determinada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais ou ser escolha. Mas quando o assunto é comportamento, claramente é escolha. Então fazer piada com um personagem homossexual que gosta de, sei lá, agir de forma espalhafatosa não é diferente do torcedor de futebol fanático que vai com a camisa do time em um casamento. Neste caso, o que é alvo da piada é muito menos o personagem e muito mais o comportamento. 
Ou assim acho eu. Muitos discordam, e é um tema espinhoso.
  • E agora ?
Ok, então se vamos entrar em uma linha politicamente correta e remover todas as piadas de cunho preconceituoso, é preciso estabelecer uma nova fronteira para o que pode e o que não pode ser usado. E estamos sofrendo bastante com isso nos últimos anos.
Casos de piadas mal aceitas estão pipocando por toda parte. O motivo básico é a fronteira, nem sempre clara, que separa características determinísticas das comportamentais.
Piada de corno pode? Ninguém escolhe ser corno exceto quando... bem, tem gente que escolhe sim! E aí, pode?
E piada de gordo? Afinal, o cara não faz regime porque não quer. Mas e o hipotiroidismo?
Ora, mesmo piada de nacionalidade deveria ser livre: qualquer um pode abandonar sua nacionalidade e adotar alguma outra... É? Vai você então: larga tudo que você tem e construiu, e começa de novo.

O humor está em fase de revisão. Como todo processo social, a gente sabe mais ou menos como começa, mas não tem a menor ideia do que vai dar no final. Apenas torço para que sobreviva. 

Um comentário:

  1. Bom, esse assunto é um tanto complicado. Eu pessoalmente sou a favor da liberdade de expressão, E ligo pouco ou nada para piada racista, mas entendo que o processo por calúnica, difamação e coisas do gênero estão aí para mostrar que existe limite entre liberdade de expressão e ofensa gratuita.

    Por outro lado, eu odeio com todas as minhas forças essa onda "politicamente correta" que tem afetado a tudo, principalmente o humor.

    O ponto é: a maioria das pessoas, e a absoluta maioria dos humoristas, simplesmente não parece conhecer o conceito de "limite". E usam a bandeira da liberdade de expressão para ofender e atacar.

    E sei que isso vai polemizar, mas sinceramente é minha opinião que se você passa anos ofendendo um idiota psicopata, se o cara perder a cabeça e te matar, você é tão culpado quanto ele pelo ocorrido.

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