quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tragédia Grega

A Grécia não sai do buraco. Está em crise profunda, com queda de 6% no PIB no 1o trimestre de 2012. Deve mais que o próprio PIB e não sabe como pagar essa montanha de dinheiro. E a culpa, claro, é dos especuladores. Ah, essa reclamocracia planetária em que vivemos...
Tenho algumas perguntas sobre o caso para os senhores economistas. Vamos desenvolver o tema, então.
A questão sobre a Zona do Euro é que um calote desse porte faria com que a Grécia tivesse que abandonar a moeda comum e retomar suas dracmas. Esperem aí. O que uma coisa tem a ver com a outra? Então a PanAm, quando veio a falência, abandonou a Zona do Dólar, por acaso? Ou quando o então governador Itamar Franco disse que o estado de Minas Gerais não tinha como pagar seus compromissos com o governos federal, alguém falou em tirar os mineiros da Zona do Real? Não, né? E ninguém colocou em dúvida a capacidade de pagamento da American Airlines ou do Mato Grosso em seus respectivos casos. Não enxergo qualquer relação entre um possível calote dos títulos da dívida grega com uma forçosa saída da moeda comunitária. O que a dívida grega e a Zona do Euro tem a ver uma com a outra?
Uma parte do problema grego é a crise econômica interna. Seus produtos são caros quando calculados em euros. Os teóricos do apocalipse sugerem que a recriação da dracma permitiria uma desvalorização da nova moeda fazendo com que os produtos gregos se tornem mais competitivos. Quanto a isso, não tenho dúvidas. Mas acho que as pessoas esquecem de uma coisa chamada economia de mercado. Quem produz são as empresas, não o governo. E quem deve é o governo, não as empresas. Uma retomada econômica é de suma importância para a civilização helênica, mas não é isso que paga a dívida do governo. Afinal, um crescimento de 10% na economia faria a arrecadação de impostos crescer 10%, o que ainda não paga nada. Como a retomada do crescimento econômico paga a dívida do governo ?
Vamos supor que haja uma explicação para a primeira pergunta que tenha escapado à minha compreensão. Se a Grécia tiver que recriar sua moeda local, naturalmente ela valerá menos que o Euro, como explicado há pouco. Fora uma corrida desastrosa por saques em papel moeda que já está ocorrendo neste instante, tudo o que se consegue com isso é que a dívida grega, calculada em hipotéticas dracmas, seja ainda maior do que já é hoje. Alguém, então, por favor, explique: Como a recriação da dracma alivia a dívida grega, que continuará calculada em euros ?
Os teóricos do apocalipse também argumentam que a saída da Grécia causaria uma crise de confiança na moeda comum. Quem seria o próximo a sair? Irlanda? Espanha? Itália? Temos aqui uma falácia do declive acelerado: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Uma debandada geral da moeda comunitária só faria com que quem ficasse permanecesse usando a moeda forte. Os remanescentes, sejam 16, sejam 3, manteriam seus negócios alinhados e, por uma série de facilidades, dariam preferência a fazer negócios entre si. Ou seja, sair do Euro para recriar dracmas, liras, libras irlandesas, pesos espanhóis ou o diabo que for, só vai fazer com que se saia do trem europeu, cuja locomotiva é a Alemanha. Alguém aí acha uma boa ideia perder negócios com os alemães ?
Uma das maneiras mais práticas de se desvalorizar uma moeda e ligando a impressora. Cria-se a nova moeda em paridade com o euro. Daí o governo liga a impressora, cria uma pilha de dracmas e as derrama na economia pagando suas despesas regulares. O excesso de dracmas frente ao euro faz a moeda desvalorizar pelo simples mecanismo de oferta-damanda, e gera uma inflação equivalente. Se, por exemplo, o governo imprimir duas vezes mais dracmas do que o meio circulante atualmente presente na economia, no final das contas a dracma valerá E$ 0,50, e uma inflação de 100% está automaticamente contratada para um período relativamente curto de tempo. Bacana, agora esse cenário leva a um cenário de estag-flação, pois não há nenhum mecanismo que garanta o fim da recessão no curto prazo, e uma inflação que pode atingir valores descontrolados em poucos meses. E todos os brasileiros sabem o quanto é trabalhoso deter um processo inflacionário. Como se pretende conter a inflação e retomar o crescimento ao mesmo tempo sob a nova moeda ?
Em resumo, o governo grego errou e serão os cidadãos gregos que vão pagar a conta, seja com corte de direitos e benefícios, seja com inflação, seja com ambos. Não tem outro jeito. Não tem outro final para essa tragédia, por mais que os teóricos de esquerda demonizem a austeridade. Não que a direita tenha feito trabalho melhor no governo grego, mas que não adianta tampar o sol com a peneira, isso está até óbvio.

Um comentário:

  1. O problema com os gregos é que eles acham que são japoneses: com uma economia voltada para uma moeda mais fraca do que a moeda forte de referência. O problema é que a Grécia não tem a capacidade produtiva japonesa, e nem tem nada a oferecer de mais fora o turismo...

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