quinta-feira, 21 de março de 2013

Aborto

O CFM - Conselho Federal de Medicina chegou ao século XX (não ao XXI ainda). Em matéria publicada na Folha, o órgão decidiu apoiar a discriminação do aborto até a 12a semana de gestação. Segue link.
Não vou chover no molhado. A decisão é tão óbvia quanto recomendar que carros tenham portas. Mas chamou a minha atenção uma comparação ao final da matéria sobre argumentos favoráveis e contrários.
João Batista Soares, presidente do CRM-MG, declara: "Não se trata de questão religiosa. Enquanto médicos, entendemos que a nossa obrigação primeira é com a vida.". Não duvido que seja essa a obrigação primeira do médico, mas claramente o debate é a definição do que é uma vida e, portanto, é uma questão religiosa simSó acho que seria mais honesto da parte do Dr. João deixar isso claro em vez de negar.

4 comentários:

  1. Discordo num ponto: não acho que a questão seja religiosa. Pelo menos para mim nunca foi.

    OK, eu tenho minha visão religiosa do assunto, que honestamente não vem ao caso, mas acima disso essa questão para mim é mais econômica e de saúde.

    Econômica porque é ingênuo ver quem de fato pressiona pela legalização do aborto (não, não é a sociedade, e não, não são as "ONGs" de defesa dos direitos das mulheres - esse povo não tem força política para algo assim)e não associar com quanta grana isso pode gerar.

    E de saúde porque, honestamente, eu penso que engravida hoje quem quer. Informação tem de monte, se fala de sexo abertamente, ao contrário de 30 anos atrás, e contraceptivo tem de graça em qualquer posto de saúde. Isso posto, considerando a forma como você mesmo cansa de dizer que o brasileiro típico se comporta nessas horas, o que vai acontecer é que o aborto vai deixar de ser uma alternativa médica para casos de exceção onde a mãe não quer o filho (seja lá pelo motivo que for - bom ou ruim) para passar a ser método contraceptivo. Eu conheço muita gente que transa casualmente sem camisinha porque toma pílula, e boa parte dessas pessoas sequer se daria ao trabalho de controlar o consumo de pílulas se pudesse só abortar. Muita gente.

    Agora pensa nas consequências disso do ponto de vista de saúde pública.

    Até acho que aborto poderia ser legalizado (apesar de achar que a lei atual está boa do jeito que está) se essa for a vontade da maioria (sim, acho que deveria haver plebiscito para decidir algo desse porte).

    Mas acho que antes de sequer se preocupar com isso, deveriam se esforçar em melhorar o nível médio de educação da população. Questão de prioridades, e neste caso estão priorizando o lado errado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Apenas pela necessidade de se dizer que não é religioso já mostra que, no fundo, o interlocutor sabe que é, mesmo que não admita.
      A questão do aborto não é (ou não deveria ser em uma sociedade minimamente evoluída) um problema nem religioso nem de saúde. Deveria ser uma questão de liberdades civis apenas e tão somente.
      Não é o aborto liberado ou criminalizado que fará as pessoas ficarem subitamente mais ou menos espertas, cultas e/o inteligentes. O aborto liberado é um sinal jurídico/legal de que cada pessoa tem o direito de fazer o que bem entende consigo mesmo.
      Atualmente, não temos essa liberdade em nossa sociedade.

      Excluir
  2. Liberdade de qualquer tipo exige que a pessoa que a tem se responsabilize pelos seus atos. Também não temos isso em nossa sociedade, como você mesmo demonstrou alguns posts atrás.

    Simples assim.

    ResponderExcluir
  3. Tudo o que uma pessoa faz com seu corpo é de inteira responsabilidade dela. Não importa muito o que a sociedade pensa aí, mas banalizar o uso do aborto ou não é apenas uma questão de consciência.
    Poucas mulheres tocam no assunto. Mas acredite, a quantidade de mulheres que abortam hoje mesmo com a criminalização é alarmante. Eu tive colegas na escola que abortaram durante a adolescência, a fofoca na maioria das vezes não escapa do universo feminino, somos solidárias, não é divertido fazer um aborto. Conheço garotas que fizeram mais de um, e isso durante a adolescência. Todas sabiam os nomes de médicos e enfermeiras que clandestinamente praticavam o aborto. A maioria se arrependeu. Nenhuma fez por vaidade, na maior parte dos casos foi por medo de ser expulsa de casa.
    Acho a descriminalização ótima, independente do motivo que levou à decisão. Elas não vão parar de abortar, isso sempre existiu na história da humanindade e sempre vai existir. Mas vão parar os casos de garotas que recorrem a serviços clandestinos de falsos profissionais e acabam morrendo vítimas de imperícia. Casos horrendos de abortos feitos com cabides de arame e cabos de vassoura.
    E o melhor de tudo é que os dados sobre o aborto deixarão de ser hipóteses para se tornar oficiais, já que o sistema público e os hospitais terão prontuários dessas pacientes para que se façam estudos à respeito. E tudo o que se pode dizer sobre conscientização e prevenção vem daí.

    ResponderExcluir