sábado, 28 de março de 2015

O Imbecil do Dia

O Imbecil do Dia é o desembargador Joaquim Domingues de Almeida Neto, da 7a Câmara Criminal do Rio de Janeiro. Na verdade, ele é bicampeão, embora eu não o tenha citado no primeiro título. Vamos ao caso.
No dia 27 de fevereiro foi publicada uma decisão da referida anta liberando da prisão 65 marginais que brigaram no domingo anterior por ocasião do jogo Vasco x Fluminense, pelo campeonato Carioca de 2015. Segue link.
Já está errado aí. Os tais brigões foram presos em flagrante delito pela polícia por crime claramente definido no código penal. O tal delito é algo terrivelmente frequente não apenas em nosso país, mas em outros lugares do mundo também. Nenhum setor da sociedade tolera esses caras mais, e estamos décadas atrasados em relação a alguma medida para efetivamente tirá-los de circulação. Em um dos casos no qual a polícia conseguiu capturar uma quantidade pertinente deles, o desembargador solta todos eles 5 dias depois. Bastava a eles comparecem a delegacias de polícia em dias de jogos de seus clubes e tudo estaria bem. Impunidade, pura e simples.
Porém...
Não satisfeito com o que fez em fevereiro, esse mesmo babaca volta à cena um mês depois. Exatas 4 semanas depois do que vimos acima, ele simplesmente liberou todos os 99 envolvidos no confronto de sequer comparecerem à delegacia. Segue link.
Não é interessante ser o mesmo desembargador fazendo a mesma cagada ? Pois agora os brigões receberam sinal verde para voltarem a fazer o que fazem melhor em suas vidas: brigarem por causa de futebol. O recado dado é que "não pega nada".
E quando eu falo que a Justiça é o grande problema do Brasil, dizem que eu exagero.
Apenas para deixa claro, então:
Metetíssimo Senhor Dese,bargador Joquim Domingues de Almeida Neto: o senhor é um imbecil.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Modelo de Saúde

Há tempos estou ensaiando este texto. Na verdade, estou entre dois, saúde e estagflação, mas deixei o último para o mês que vem, para esperar o dados fechados de março.
Estou aqui fazendo uma viagem mental sobre um sistema de saúde mais fácil de ser compreendido pelas pessoas. O modelo que estou propondo é o de seguro, e não tem nome melhor, embora já usado, que Seguro Saúde.


Não, eu não gosto de seguro. Já fui deixado a ver navios e mais de uma oportunidade, o que me deixou com um pé e meio atrás. Mas tenho que reconhecer que alguns dos processos são bem arredondados. 
Basicamente, o cidadão passaria a ter um seguro contra "acidentes de saúde". O contrato de seguro seria algo extenso, obviamente, mas ficaria claro e explícito quais procedimentos estariam cobertos para o cidadão. Como o Ministério da Saúde precisa regulamentar cada procedimento (exame, consulta, cirurgia, intervenção, o que for...), haveria um código unificado para ser acessado pelo sistema de seguro. Se tem cobertura, o seguro cobre o custo do procedimento. Se não tem, lamentamos. 
Para a grande maioria da população haveria um plano básico com as coberturas mais óbvias. Que fique claro, não se trata de uma lista curta, mas ela reflete a capacidade financeira do governo cobrir os problemas de saúde da população. Com o tempo, essa lista vai sofrendo alterações, inclusões basicamente, pois espera-se que o desenvolvimento do país se reflita também nisso. 
Para as pessoas com melhor condição econômica (elite branca paulistana), os seguros particulares teriam coberturas adicionais, por um custo pago diretamente à seguradora. Não se apeguem a detalhes numéricos, mas vamos a alguns exemplos: 
- o seguro saúde básico (público) cobre 40 sessões de quimioterapia por ano enquanto os particulares podem cobrir 60, 120 ou mesmo ilimitado. 
- o seguro saúde básico cobre ilimitados acessos a pronto-socorro, assim como o particular.
- o seguro saúde básico cobre 2 procedimentos de parto por mulher durante toda a vida, mas o particular pode cobrir mais. (alguém notou a sutileza ?)
São apenas exemplo, não se apeguem a detalhes numéricos.

A primeira vantagem disso é a possibilidade de se ter de forma clara e definida a cobertura dos seguros. Assim como o dono do carro sabe quanto terá de cobertura caso provoque um acidente, o mesmo se dá com o paciente, que sabe exatamente o tamanho do problema quando tiver um. 
A segunda vantagem, como também acontece nos seguros de automóveis, é a criação de perfis. Por que eu tenho que pagar o mesmo seguro que um colega aqui do meu trabalho que é sedentário, obeso e, desculpem a palavra, bebum ? Idade e sexo não podem ser os únicos critérios de avaliação de risco de contrair doenças. E não acho justo que o risco que ele está causando seja compartilhado comigo. Ele tem todo o direito de ser sedentário, por exemplo, mas o risco de problemas de coração dele é o quádruplo do meu. Então quero ver isso refletido na minha fatura do seguro.
A terceira vantagem é a figura do risco agravado, também tirada dos seguros automóvel. Por mais que seu perfil de condutor esteja corretamente cadastrado na seguradora, se o motorista bater o carro tirando um racha a seguradora pode (e irá) se recusar a pagar o segurado, pois o mesmo elevou intencional e irresponsavelmente as probabilidades de sinistro. Aplicando-se à saúde, temos o clássico exemplo do tabagismo: está mais do que evidente que o tabagismo causa diversas doenças, notadamente o câncer de pulmão (também de laringe, entre outras diretamente relacionadas a esse péssimo hábito). Então a seguradora não teria obrigação de cobrir os custos de tratamento: o paciente que se vire. Esta seria uma norma que não apenas aloca os custos onde eles realmente estão, mas aproveita para demover as pessoas de uma prática notoriamente prejudicial à saúde. Não seria diferente de um sujeito que for atropelado em local onde é proibida a circulação de pedestres, de um moça buscando um aborto por escolha (que deveria ser permitido, mas não custeado pelo Estado ou pelo seguro) ou de um adolescente que se envolveu em uma briga de gangues (neste caso, a conta vai para os pais).
Entendo que só mexendo na parte mais sensível do corpo humano (bolso) as pessoas vão amadurecer. E isso trará outro assunto, que tratarei no próximo post

quarta-feira, 25 de março de 2015

Os Peitos da Angelina

Não sei como deixei passar a polêmica na época. Falha minha. Mas como o tema renasceu, e de modo igualmente negativo, vamos a ele.
Depois de passar por uma mastectomia dupla (remoção dos dois seios), Angelina Jolie passou por novo procedimento cirúrgico, desta vez para remover ovários e trompas. Novamente, tratou-se de medida preventiva contra o câncer. Segue link
Agora vamos ao ponto, na medida em que não costumo comentar a vidas das celebridades. Não que eu tenha algum tipo de sentimento negativo em relação a ela, ao contrário: acho uma atriz razoável e uma boa pessoa, na medida em que já tem três filhos adotivos, provavelmente mais do que qualquer leitor deste blog.
No entanto, espantou-me a seção de comentários na notícia linkada acima. Se tiver coragem, o amigo leitor pode conferir todos, mas vou destacar alguns:

"Essa mulher é ridícula!!! Pobre brad pitt em conviver com ela!!!" - lwyzkarloz

"Retire logo o cérebro." - Bitterborn

"A familia dela tbm tem varios casos de enfarte, vai tirar o coração mês que vem." - é tudo igual

Na verdade, estava pior, mas alguém apagou pelo menos 6 páginas de comentários na notícia. O que me recorda este texto. A mistura é explosiva: maldade com incapacidade de de interpretar textos. Mesmo no face topei com comentários maldosos do tipo "em breve vai remover os olhos para não ter miopia".

Será mesmo que as pessoas não conseguem entender o conteúdo da matéria, não querem entender ou apenas não leram? AJ (vou fingir que somos íntimos) tem um histórico doloroso de perda de familiares para o câncer, especialmente a mãe.
Não digo que ela mereça mais pena ou compreensão por isso. Mas o que aconteceu foi que ela usou parte do (muito) dinheiro que ganhou honestamente para se prevenir. Descobriu que possui genes altamente correlacionados com câncer de mama e optou pela dupla mastectomia preventiva. Agora o assunto ficou ainda mais sério, pois a matéria é clara ao declarar que sinais iniciais de câncer foram detectados em seus ovários.
E como é que tem tanta gente maldosa para criticar isso ?!
E moça tomou a decisão dela por ela mesma, pagou os procedimentos com seu dinheiro e está ciente das consequências do que está fazendo. Vale lembrar que isso só veio a público porque ela é uma celebridade. Fosse uma rica proprietária de terras ou executiva de uma empresa, a mesma decisão não chamaria a atenção. Por que, então, é preciso malhar tanto o que ela fez ?
Sério, é só dor de cotovelo mesmo ou tem algo mais que eu não consigo compreender?

Para AJ, toda saúde e rápida recuperação. 
Vamos marcar outro cineminha, querida?

segunda-feira, 23 de março de 2015

Criando Dissidências

Em 1440 (575 anos atrás), um certo alemão natural de Mainz e com forte propensão a se meter em encrencas financeiras finalmente inventou algo que funcionava. Com acionamento manual, a máquina que criara fazia várias copias seguidas de um mesmo mesmo texto, uma a uma. Em vez de ocuparmos um ser humano escrevendo manualmente linha por linha, a tal imprensa fazia isso de modo veloz, permitindo uma massificação da produção muito antes do conceito de massificação sequer existir. Esperto, optou por inicialmente vender Bíblias para igrejas e nobres, de modo a tornar sua invenção o mais inofensiva possível. 
Deu certo.


Mas ele também teve tempo para fazer livros de outros assuntos. De certo modo, ele é o maior responsável pela futura derrocada da Igreja Católica na medida em que facilitou demais o acesso ao conhecimento científico. E nada é mais nocivo à Religião que o Conhecimento. Mas não era esse meu foco.
Lendo um texto hoje, dei-me conta de um problema quando da invenção da imprensa. A popularização do conhecimento era, na verdade, algo longe de ser realmente popular (não no sentido de ser agradável, mas de ser acessível). Se então estariam disponíveis livros de variados assuntos que antes eram restritos por dificuldades puramente técnicas, isso não ultrapassava a barreira da alfabetização. Para a maior parte da população, que era analfabeta, a invenção da imprensa não significou absolutamente nada. Nunca tinha me dado conta disso, por mais óbvio que seja.
Com isso, o abismo intelectual entre ricos e pobre cresceu vertiginosamente no anos seguintes. Essa não era, em momento algum, a intenção de Gutemberg, mas foi o que de fato se deu no primeiro momento.
Se fosse inventado hoje algum tipo de aparelho que permitisse enorme e barato acesso a conhecimento, mas que por razões técnicas quaisquer seria acessível a apenas uma parcela da população, você acha que os "pensadores" de esquerda deixariam isso existir numa boa ou chamariam esse aparelho de opressor das massas? Será que eles não chamariam isso de manipulador? De golpista?
Hein?

sábado, 21 de março de 2015

Falácias

Fazia tempo que eu devia ter feito isso. Então Douglas Donin passou na minha frente e fez ele mesmo. Então copiei e colei, com autorização dele.
Segue uma lista de falácias que, além de ótima referência de pesquisa, também serve para uma autocrítica eventual.

GUIA DE FALÁCIAS LÓGICAS
PELEGO EDITION

Ou seja: se quiser defender o Governo ou o seu partido, o faça - mas não incorra nos erros abaixo, pois, independentemente do conteúdo do seu argumento, ele está ESTRUTURALMENTE errado. A lista não é exaustiva, muitas categorias ficaram de fora... mas nada impede uma ampliação da lista, se necessária.

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*****Falácias de dispersão*****

FALSO DILEMA: são dadas duas alternativas quando de fato há três ou mais. Exemplo: “Ou você apóia o Governo, ou quer a volta da Ditadura Militar”.

APELO À IGNORÂNCIA: conclui-se que uma proposição é falsa (ou verdadeira) porque não se sabe se é verdadeira (ou falsa). Ex: “Não sabemos se a Dilma sabia o que ocorria na Administração da Petrobrás quando ela era do Conselho de Administração, LOGO, ela não sabia.”

DECLIVE ESCORREGADIO: consequências cada vez mais inaceitáveis são derivadas em série. Exemplo: “Se admitirmos que críticas possam ser feitas ao Governo, amanhã os militares estarão na rua com tanques de guerra”.

*****Apelo a motivos em vez de razões*****

PERGUNTA COMPLEXA: duas proposições são ligadas no que aparenta ser uma só pergunta. Exemplo: “Você é a favor do que o protesto do dia 15 pediu, ou seja, um golpe militar?”

APELO À FORÇA: o ouvinte é persuadido a concordar pela força. Exemplo: “Críticas ao Governo? Eu não discordaria do Governo se fosse você, pois seu chefe pode receber prints, e sabe como são as promoções no serviço público, né...”

APELO À PIEDADE: apela-se à compaixão ou simpatia do ouvinte. Exemplo: “A Presidente está triste, abatida, sua mãe está mal, logo, não podemos criticar o Governo.”

APELO À CONSEQUÊNCIAS: o ouvinte é prevenido contra consequências inaceitáveis. Exemplo: “Se admitirmos que o Governo é ruim, descobriremos que tomamos uma má escolha na eleição passada, e ninguém quer descobrir isso...”

LINGUAGEM PRECONCEITUOSA: associam-se valores morais positivos à causa defendida pelo autor. Exemplo: “O protesto do dia 15 é de uma elite branca, racista, machista e paulistana que odeia pobres negros, mulheres e nordestinos, logo, é evidente que ela está errada.”

APELO AO POVO: defende-se que uma proposição é verdadeira porque segundo a maioria da população ela é verdadeira. Exemplo: “Pouco importa se o Governo vai mal, é corrupto ou se inflação está incontrolável. O que importa é que a Dilma venceu as eleições, e isso blinda o Governo de críticas.”

*****Fugir do assunto*****

ATAQUES PESSOAIS (AD HOMINEM):
(1) ataque ao caráter da pessoa. Exemplo: “Dilma está certa, porque Aécio é cheirador.”
(2) referem-se circunstâncias relativas à pessoa (ad hominem circunstancial). Exemplo: “Dilma está certa, porque quem está falando mal dela é opositor. Óbvio que opositor tem interesse nisso!”
(3) invoca-se o fato de a pessoa não praticar o que diz (tu quoque). Exemplo: “Não podemos criticar o PT, porque o PSDB é corrupto também.”

APELO À AUTORIDADE:
(1) a autoridade não é um perito no campo em questão. Exemplo: “Como alguém pode criticar o PT, se o Gregório Duvivier falou que...”
(2) não há acordo entre os peritos do campo em questão. Exemplo: “Como alguém pode criticar o PT, se os maiores pensadores da esquerda nacional sabem que o socialismo que ele propõe é a melhor via para combater a crise internacional...”
(3) a autoridade não pode, por algum motivo, ser levada a sério — porque estava brincando, estava bêbada, etc.. Exemplo: “Ah, então é isso que os protestos querem? Mandar a Dilma para a Indonésia, de verdade?”

AUTORIDADE ANÔNIMA: a autoridade em questão não é declarada. Exemplo: “Vários estudiosos já concluíram que as medidas do PT são as melhores para combater a crise.”

ESTILO SEM SUBSTÂNCIA: sente-se que o modo como o argumento (ou o argumentador) é apresentado afeta a verdade da conclusão. Exemplo: “Óbvio que Gregório Duvivier tem razão, os vídeos da Porta dos Fundos são muito engraçados.”

FALÁCIA DA PRIORIDADE: Assumir que um problema só pode ser enfrentado se outro for previamente solucionado. Exemplo: "Os manifestantes não têm razão nenhuma para protestar contra o Governo Dilma, pois deveriam antes se preocupar com o que aconteceu no Governo FHC."

FALÁCIA DA PERFEIÇÃO: Sustentar que um problema parcialmente solucionável não admite solução parcial, apenas soluções totais. Exemplo: "É um absurdo cobrar punição dos corruptos do partido do Governo, porque todos os partidos tem seus corruptos, a corrupção faz parte da natureza humana, e a punição não vai acabar com a corrupção."


*****Falácias indutivas*****

GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA: a amostra é demasiado pequena para apoiar uma generalização indutiva sobre o domínio em questão. Exemplo: “Entrevistei duas pessoas no protesto, e os dois eram favoráveis à intervenção militar. 100% dos entrevistados! Logo, 100% das pessoas que estavam no protesto querem intervenção militar.”

AMOSTRA NÃO REPRESENTATIVA: a amostra não é representativa do domínio em questão. Exemplo: “Entrevistei um grupo de militares no protesto, e a maioria era favorável à intervenção militar. Logo, a maioria das pessoas que estavam no protesto quer intervenção militar.”

FALSA ANALOGIA: desprezam-se diferenças relevantes entre os objetos ou acontecimentos comparados. Exemplo: “As fotos desse protesto lembraram muito as da Marcha com Deus Pela Família e Liberdade, logo, querem a mesma coisa, a volta da Ditadura.”

INDUÇÃO PREGUIÇOSA: nega-se, apesar dos indícios favoráveis, a conclusão de um forte argumento indutivo. Exemplo: “Os manifestantes impediram Bolsonaro de discursar e se mostraram contra intervenção militar. Se eles são favoráveis às idéias de Bolsonaro e à ditadura militar? Impossível saber. Provavelmente sim.”

FALÁCIA DE OMISSÃO: não é considerada toda a informação relevante que devia pesar na conclusão de um forte argumento indutivo. Exemplo: “Hello friends from the world! Our elected leader is under a threat of COUP, with ABSOLUTELLY NO REASON. These are the facts. Help us!”

*****Falácias envolvendo silogismos estatísticos*****

ACIDENTE: uma generalização é feita quando as circunstâncias sugerem que deve haver exceções. Exemplo: “Várias pessoas foram inocentadas no processo do Mensalão, logo, não há UM CORRUPTO SEQUER no Governo!”

INVERSA DO ACIDENTE: generaliza-se o que apenas devia ser tomado como exceção. Exemplo: “Uma pessoa foi atacada na rua por estar com a camisa vermelha. É óbvio que TODOS os manifestantes são violentos!”.

*****Falácias causais*****

POST HOC: pelo fato de algo acontecer após outra coisa pensa-se que a coisa causa o algo em questão. Exemplo: “Bastou que se começasse a criticar o Governo e várias brigas e agressões aconteceram. É óbvio que este tipo de protesto contra o Governo causa comportamento violento.”

EFEITO CONJUNTO: conclui-se que uma coisa é causa de outra coisa quando, de fato, ambas as coisas são o efeito conjunto de uma causa subjacente. Exemplo: “O Governo não tem culpa pela crise econômica: ela é causada pela inflação, pelo desemprego e pela dificuldade de empreender no Brasil.”

INSIGNIFICÂNCIA: conclui-se que uma coisa é causa de algo, mas apesar de também o ser, é insignificante quando comparada com outras causas deste algo. Exemplo: “As pessoas estão bravas com o Governo e fazendo protestos porque estão sentindo reflexos da crise internacional de 2008. É exagero!”

DIREÇÃO ERRADA OU CONTRAMÃO: a relação entre causa e efeito é invertida. Exemplo: “Justamente porque a popularidade da Presidente baixou que as pessoas pararam de apoiar o Governo. Essa revolta toda é culpa dos índices e das pesquisas!”

*****Errando o alvo*****

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO: a verdade da conclusão já estava presumida nas premissas. Exemplo: “Como todos no protesto do dia 15 querem a volta da Ditadura Militar, é óbvio que o protesto é golpista.”

CONCLUSÃO IRRELEVANTE: um argumento apresentado para defender uma conclusão prova, em vez disso, outra conclusão. Exemplo: “Esse protesto é golpista, pois é inegável que várias pessoas dependem dos programas sociais do Governo.”

ESPANTALHO: o autor ataca um argumento diferente (e/ou mais fraco) do que o melhor argumento do opositor. Exemplo: “Basicamente, o que o protesto quer é a volta da Ditadura. Como ser a favor então de quem protesta contra o Governo?”

*****Falácias da ambiguidade*****

EQUÍVOCO: o mesmo termo é usado em dois sentidos diferentes. Exemplo: “Os opositores são coxinhas. E sabe o que significa coxinha? Significa policial militar mal-pago, que só tem dinheiro para comer uma coxinha no almoço. Então esperar o quê de um protesto de policiais militares, truculentos e despreparados para lidar com questões democráticas?”

ANFIBOLOGIA: a estrutura de uma frase permite duas interpretações diferentes. Exemplo: “Os protestantes estão gritando ‘ABAIXO A CORRUPÇÃO, FORA DILMA!’. Ou seja, querem a prisão de todos os corruptos, mas reconhecem que a Dilma é inocente!”

ÊNFASE: a ênfase numa palavra sugere um sentido diferente daquele que de fato é enunciado. Exemplo: “OK, sou obrigado a reconhecer que apenas uma minoria dOS MANIFESTANTES QUEREM DITADURA MILITAR!!!”

*****Erros de categorização*****

COMPOSIÇÃO: como os atributos das partes de um todo têm certa propriedade, argumenta-se que o todo tem esta propriedade. Exemplo: “Algumas pessoas pediam intervenção militar, logo, todo o protesto pediu intervenção militar.”

DIVISÃO: como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as partes têm essa propriedade. Exemplo: “Foi um protesto de um público em média socialmente mais privilegiado, que em maioria votou no Aécio na eleição. Logo, não há lá nenhum pobre, nem tampouco alguém que votou na Dilma e se arrependeu.”

*****Non sequitur*****

AFIRMAÇÃO DO CONSEQUENTE: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, B, portanto A. Exemplo: “Se a economia falha, as pessoas fazem protesto. Assim, se a economia falhar, será culpa de quem protestou!”

NEGAÇÃO DO ANTECEDENTE: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, Não A, portanto Não B. Exemplo: “Quando a Grécia quebrou, várias coisas aconteceram antes com a economia. A maioria destas coisas não aconteceu aqui, então estamos muito bem economicamente!”

INCONSISTÊNCIA: o argumentador usa premissas que não podem ser simultaneamente verdadeiras. Exemplo: “É importante informar que o Governo veio a público dizer que está tomando TODAS as medidas contra essa grave crise, e, também, ressaltar que, segundo Leonardo Boff, a crise é uma mentira da elite”.

*****Erros silogísticos*****

FALÁCIA DOS QUATRO TERMOS: um silogismo possui quatro termos. Exemplo: “O PT é de esquerda, e a Ditadura foi de direita. Logo quem é não é do PT é a favor da ditadura.”

MEIO NÃO DISTRIBUÍDO: diz-se que duas categorias separadas estão ligadas porque elas compartilham uma propriedade em comum. Exemplo: “Os petistas foram opositores da Ditadura Militar. Hoje em dia há pessoas que se opõem a uma Ditadura Militar. Logo, obrigatoriamente quem se opõe a uma Ditadura Militar é petista.”

*****Falácias de explicação*****

INVENTANDO FATOS: o fenômeno que se pretende explicar não existe. Exemplo: “A razão de todos os opositores estarem clamando, unanimemente, por Ditadura Militar, é porque eles têm problemas severos com a autoridade paterna.”

TORCENDO OS FATOS: a evidência para o fenômeno que está sendo explicado é tendenciosa. Exemplo: “Devemos nos preocupar com o perigoso fenômeno do ódio e da intolerância que foi o protesto do dia 15, conforme noticiado pelas reportagens da Carta Capital, Pragmatismo Político e Revista Fórum.”

IRREFUTABILIDADE: a teoria usada para explicar algo não pode ser testada. Exemplo: “Obviamente há uma conspiração americana para derrubar a Dilma, e uma prova de que é uma conspiração é que isso está escondido, não pode ser verificado...”

ÂMBITO LIMITADO: a teoria só pode explicar uma coisa. Exemplo: “Aquele ato isolado de violência é explicado pelo fato de que os opositores ao Governo são incrivelmente violentos e atacam pessoas assim que as vêem.”

PROFUNDIDADE LIMITADA: a teoria explicativa não apela a causas subjacentes. Exemplo: “O Povo votou em Dilma porque sempre elege os melhores governantes.”

*****Falácias de definição*****

DEMASIADO AMPLA: a definição inclui mais do que devia incluir. Exemplo: “Petista é aquela pessoa boa, que ama o próximo.”

DEMASIADO RESTRITA: a definição não abrange tudo o que devia abranger. Exemplo: “Uma pessoa boa é aquela que vota no PT.”

FALTA DE CLAREZA: a definição é mais difícil de entender do que a palavra ou conceito que está sendo definido. Exemplo: “Um bom Governo é aquele que respeita as múltiplas (re)vocalidades da multiplicidade de seres e estares das rugosidades culturais típicas da neo(anti, re, sobre)significação da sociedade enquanto construto sócio-dinâmico”

CIRCULARIDADE: a definição inclui o termo que está sendo definido como parte da definição. Exemplo: “Os únicos protestos que devemos aceitar são aqueles os quais podem ser por nós, de maneira exclusiva, aceitos.”

CONDIÇÕES CONFLITANTES: a definição é contraditória. Exemplo: “Imprensa livre é aquela firmemente regulada, sujeita ao controle de mecanismos governamentais.”

*****minha contribuição*****

Provavelmente ela se encaixa em outra definição, mas gosto dela mesmo assim:

AD HITLERIUM: alguma ação foi tomada pelo regime nazista, que foi mau. Portanto a medida também é má. 

Parece um misto de ad hominem com apelo à autoridade invertido. Mas é um caso especial tão usado que achei que merece nome próprio.

sexta-feira, 20 de março de 2015

E agora, Fernando ?

Já faz tempo que critico a implantação das ciclovias em São Paulo pelo prefeito Fernando "Suvinil" Haddad. Não estou sozinho nisso: vejo postagens quase diárias sobre o tema. Apenas os cicloativistas conseguem racionalizar a situação para fabricar explicações das mais toscas. 
Mas agora engrossou para ele: o Ministério Público mandou parar a festa. Segue link
Não posar de eterno apoiador do MP, nem fazer juras de amor. Já o vi fazendo enormes besteiras. As piores foram no tocante às torcidas uniformizadas, mas eu poderia achar outros.
O que me chama a atenção, no entanto, são alguns termos usados na matéria. "nenhum estudo de impacto viário foi apresentado aos promotores de justiça, mas as ciclofaixas e as ciclovias de caráter permanente continuam a ser implantadas". Isso embasou o pedido de paralisação das obras, que acabou acatado pelo Tribunal de Justiça.


Vamos aos detalhes, porque é onde fica o diabo. A matéria é clara, mas vamos salientar que os tais estudos não foram apresentados aos promotores de justiça. Não significa, portanto, que os estudos não existem. Também ficou de fora da decisão a obra em curso na Av. Paulista, a única que, claramente, tem alguma coisa parecida com um projeto envolvido.
Veja, amigo leitor, não estou dizendo que o programa de implantação de ciclovias em São Paulo foi feito às pressas e sem qualquer planejamento mas...
Não, péra. Que diabos, eu estou dizendo isso sim. As coisas que estamos tendo que tolerar são pra lá de inadimissíveis. Ciclovias que ligam o nada a coisa alguma, vazias e mal feitas. Buracos pintados, desníveis perigosos, calçadas totalmente destinadas às bicicletas, e o famoso caso da ciclofaixa em frente uma escola. 


Aqui, os carros param na única pista que sobrou para o desembarque de alunos (faixa azul), para depois atravessarem a ciclofaixa (vermelha e branca). Além da rua ficar parecendo a bandeira na Malásia (ok, pode ser EUA ou Libéria também), nota-se que não sobrou uma pista à esquerda para ultrapassagem dos carros e o evidente perigo de crianças pouco inteligentes acabarem atropeladas por ciclistas pouco inteligentes. Burrice aguda.
Vejam as fotos aqui ou em qualquer outro lugar. 


O que me espanta a esta altura não é a cegueira do prefeito. A gente já sabe o partido dele, já sabe que não adianta esperar muita coisa inteligente vindo dali. De certo modo, entendo o que os cicloativistas estão fazendo: é uma defesa cega e ferrenha das ciclofaixas, muito menos pelo "trabalho" do prefeito, mas mais para estabelecerem o contraponto ao transporte motorizado. Discordo deles, mas entendo enquanto não agem como ciclofacistas.
O que me espanta de fato são os bobos, que nem ciclistas são, e que ficam procurando, obviamente sem achar, razões que justifiquem o que está sendo feito. E como não acham, apelam para todo tipo de falácia disponível (falarei de falácias no próximo post), praticando toda sorte de crimes conta a lógica.
Em tempos de tanta agitação virtual, e até protestos de rua, só peço ao leitor que não seja teimoso e reconheça os erros da atual prefeitura. Do meu lado, mesmo sendo opositor, prometo reconhecer os acertos. 
Pode ser assim ?

terça-feira, 17 de março de 2015

Covardia

Muito covarde a atitude do UOL em matéria publicada hoje sobre Pena de Morte. 
Caso o leitor não queira ler, o resumo dela está no título: especialistas afirmam que pena de morte não reduz a criminalidade. 
É o que eu chamo de meta-estudo (estudo sobre estudos). 88,2% dos especialistas entrevistados disseram que a pena de morte não reduz a criminalidade. O primeiro problema aqui é nivelar todos os especialistas. Quem disse que os 88,2% são tão bons (ou ruins) quanto os 11,8% que discordam? A segunda falácia é que o meta-estudo fala dos EUA, mas a manchete dá a entender que o resultado é global. Mas isso ainda são picuinhas. Vamos ao ponto central.
O ponto central é que a pena de morte não tem por objetivo reduzir a criminalidade. Assutado com minha afirmação? Não fique, pois provarei.
A criminalidade é um conceito de larga escala. É um complexo conjunto de indivíduos (criminosos, vítimas, agentes da lei), eventos (crimes, oportunidades), condições (pobreza, oportunidade) considerados como um todo em uma determinada área. Inclui desde o mais bárbaro ato de terrorismo até uma criança que jogou um chiclete no chão, passando por todas as nuances dessa escala. O maior defensor da pena de morte não pode achar que ela deva ser aplicada até para quem dirigir sem cinto de segurança, é uma situação rara para casos extremos. Acaba sendo, portanto, aplicada poucas vezes. Uma tática aplicada dúzias de vezes não tem como afetar centenas de milhares de eventos. Isso é absolutamente óbvio. 
Há, agora, a questão da aplicabilidade. Se pena de morte for aplicada em casos de homicídio apenas (exemplo hipotético), o ladrão de carros sabe perfeitamente que não está sob risco algum de ir para a cadeira elétrica. Que efeito seria esperado sobre ele então?!
Então, se a pena de morte é pouco aplicada e em tipos específicos de crimes, por que ela deveria afetar o conjunto completo de crimes? Temos aí a primeira grande covardia: cobrar da pena de morte um resultado para o qual ela não se propõe. 
Desviando um pouco do assunto, apenas para esclarecer, a pena de morte visa dar uma solução definitiva para um problema sério, perigoso e que não tem qualquer esperança mais. Um criminoso com múltiplas reincidências já deixou claro que não quer fazer parte do jogo social. Então nós não temos obrigação alguma de conviver com ele. Fim. 
Um último aspecto sobre a criminalidade é que todos os tais "especialistas" afirmam que o que reduz a criminalidade é a educação. Ok, aceito isso. Mas acho que o mais pacifista leitor vai ter que concordar que os resultados obtidos nesse sentido tem sido pífios. E fica aqui a segunda covardia, desta vez não por parte do UOL, ao se duvidar da pena de morte. Os que são contrários à pena de morte dizem que o que reduz a criminalidade é a educação, mas quando precisam criticar a pena de morte subitamente cobra dela a redução da criminalidade. Eles sabem perfeitamente que estão distorcendo os fatos ao dizerem isso e continuam dizendo, justamente por não terem argumentos reais no debate.

Mas o que realmente me trouxe aqui foi o comportamento do UOL acerca da matéria e seu impacto sobre os leitores. Primeiramente vem a área de "links relacionados", todos eles mostrando uns pouco casos bem particulares de condenações errôneas a pena de morte, sempre em tom melodramático. Já temos aí a terceira covardia, ao selecionar apenas um lado da discussão. 
Mas também ocorreu que o raciocínio que eu tracei aqui de modo relativamente apressado não é novidade alguma, e longe de ser conhecimento exclusivo meu. Com maior ou menor sofisticação, os leitores notaram isso tudo e começaram a atacar os pontos fracos da matéria na seção de comentário. Foi quando o UOL covardemente fechou os comentário dessa matéria. A surra estava enorme e eles cansaram de apanhar. Mas em vez de se retratarem ou permitirem que a liberdade de expressão tomasse seu rumo optaram pela versão autoritária daqueles que, uma vez mais, sabem que estão errados mas não querem dar o braço a torcer.

Vergonha, UOL.
Vergonha. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Bombou

Apesar de não eu ter ido por entender que não faz o menor sentido ir, seria ridículo da minha parte negar que foi o assunto do final de semana, em especial no domingo. Até porque a corrida de F1, uma das minhas maiores paixões, mais pareceu uma procissão do que uma disputa.
Claramente a manifestação da sexta-feira 13 foi inchada artificialmente pelas centrais sindicais. Havia gente paga para estar ali, aliás muito mal paga. Isso levanta uma vez mais a questão da responsabilidade política do indivíduo, com a famosa declaração do Barão de Itararé: "quem se vende sempre recebe menos do que vale". E foram R$ 35 mais um sanduba de mortadela...
Nem por isso a tal manifestação foi ilegítima. Se as centrais sindicais optaram por inflar artificialmente o evento, e para variar fizeram de modo tão tosco que foram pegos no pulo novamente, isso só é possível se existe um evento. Então passar ele de 3 mil para 9 mil pessoas com público remunerado (chute meu sem qualquer base séria para fazer afirmações) não muda o fato de que 3 mil pessoas (ok, eu chuto, mas sou consistente nisso) estavam lá. E como nenhum de nós está fazendo uma investigação técnica do que aconteceu, dane tudo isso: qualquer um pode discordar das acusações e não sejamos tolos de achar que ninguém discorda. É direito deles.
No domingo a escala foi completamente diferente, bem como o espirito da coisa. Diferentemente de defender um partido, o domingo. O protesto foi algo entre 20 e 100 vezes maior, dependendo de quem e como conta*. Que sejam 20, lembrando que ainda temos que descontar o inchaço do primeiro. Confesso que esperava maior, mas não semelhante desproporção.
* Já passou da hora de termos uma maneira séria de fazer estatísticas de eventos de rua. Nenhuma técnica mostrada me convenceu até hoje.

Tão relevante quanto a quantidade foi a variedade. Vendo apenas a questão do mandato presidencial, havia pessoas pedindo renúncia, impeachment, intervenção militar e golpe militar. Vamos deixar claro que essas 4 coisas são diferentes, antagônicas se comparadas as duas primeiras com as duas últimas. Ainda assim, essas quatro vertentes estavam de braços dados ontem. Pessoalmente, acho impossível estimar quantos apoiavam cada opção, lembrando que nem todos estava ali para falar do mandato presidencial: muita gente protestava por reforma política e outros contra a corrupção, assuntos relacionados mas diferentes. Só acho que os golpistas são menos numerosos do que a esquerda quer fazer acreditar, para surpresa de ninguém. 
Portanto, amigo leitor, não se iluda ao comprar o 2015/03/15 com o Fora Collor ou o Diretas Já, protestos igualmente grandes, mas de pauta única e homogênea. Este movimento não tem sequer nome, e só isso já indica essa pluralidade.
Isso tudo já mostra, na minha opinião, uma tendência de esvaziamento do movimento. Não acho viável tanta gente com opiniões tão diferentes continuar caminhando unida por muito tempo. 
Nada contra, digo. Entendo que o dia de ontem foi um exercício de tolerância e convivência. O que um inimigo comum não faz..

quinta-feira, 12 de março de 2015

O Disco está Triste

Um sujeito muito alto e magro. Se visto de frente, duas brilhos velhos ocupam o lugar das órbitas vazias. A única maneira de se saber que ele é um grande esqueleto era quando suas mãos - os ossos delas - saiam brevemente para fora das mangas da longa túnica preta que cobria todo o corpo. Mais ou menos assim Terry Pratchett descria Morte. 
Hoje criatura encontrou criador.


Pratchett foi uma das mais brilhantes mentes que se deu ao trabalho de pisar neste planeta. Dono de um humor refinado e apurado, não via fronteiras para os assuntos que tratava em seus livros. Usou um mundo de fantasia - Discworld - para lidar com as coisas do nosso.
Ainda assim, nunca faltou ao respeito com ninguém, sempre mostrando as características intrínsecas das pessoas, grupos e situações de modo exagerado. Certa vez, alguém me definiu Pratchett como "alguém capaz de falar do ser humano como se não fosse um de nós.". Talvez não fosse mesmo, tamanha inteligência que tinha.
Seu estilo fazia o que eu chamo de "piadas em três níveis". No mais baixo, descreve tudo de modo heterodoxo e nem por isso incompreensível. Se um dia toda a produção literária humana estiver digitalizada, Pratchett venceria um concurso de maior quantidade de combinações não usais de palavras. No nível médio, fechava parágrafos com pelo menos uma grande sacada. Era impossível ler seus livros rápido, sob pena de se perder alguma tirada por ainda estar rindo da anterior. No nível mais elevado, buscava referências que ele mesmo plantara em páginas, capítulos ou mesmo livros anteriores. E fazia com maestria, dando ao leitor permanente vontade de reler suas obras. 
Pratchett é um daqueles poucos que não deveriam ter o direito de morrerMas teve.Ou não: viverá para sempre em nossos corações.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Lição de Vida

Era uma vez um garoto chamado João, que morava no interior do Ceará. Pequeno, era chamado de Joãozinho por todos da família e escola. 
Nenhum dos seus colegas de classe gostava dele porque ele era muito burro. Não acertava nenhuma pergunta que a professora lhe fazia e errava todos os exercícios da lição de casa. A professora gostava ainda menos dele, sempre dizendo "Joãozinho, assim você me deixa louca" a cada pergunta estúpida que ele fazia.
Um dia, a mãe de Joãozinho foi à escola para a reunião de pais e professores e perguntou sobre seu filho para a professora. Ela teve um ataque de sinceridade e disse Joãozinho era um completo desastre. Disse que em toda sua vida nunca vira um garoto tão burro e que ele nunca seria ninguém na vida.
Chocada, a mãe de Joãozinho o tirou da escola e se mudou, com toda a família, para São Paulo. Ela tinha certeza de que daria a Joãozinho uma oportunidade na vida.
Vinte e cinco anos depois, a professora, já idosa, adoeceu. Coração, disseram os médicos. Era uma doença rara e de alta mortalidade. Os médicos disseram que era preciso uma cirurgia complexa que nenhum deles era capaz de executar, e que havia apenas um médico no país, no INCOR em São Paulo, capaz de salvá-la.
A professora não desistiu de lutar por sua vida e foi em busca da cura na grande metrópole. Depois de meses de espera, conseguiu ser atendida e teve a cirurgia marcada. Felizmente a cirurgia correu muito bem e ela foi encaminhada para a recuperação.
Quando ela acordou, o médico estava ao seu lado esperando. Ela abriu os olhos e encarou o jovem médico que a salvara. Ao vê-lo, perdeu a respiração. Ela queria agradecer pelo que ele tinha feito, mas não conseguia falar. Com o rosto ficando azul, ela ainda ergueu a mão, mas não conseguiu se expressar, e faleceu naquele momento.
O médico, perplexo tentava entender o que acontecera. Ele então olhou para trás, para onde a professora apontava, e lá estava nosso amigo Joãozinho, faxineiro da clínica, que desligara o respirador para usar a enceradeira. 
Você não achou que Joãozinho tinha virado um competente cirurgião cardíaco, né? 
Tem certeza de que acompanha este blog?

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Versão traduzida e adaptada de uma postagem no Facebook. Autor original desconhecido.