terça-feira, 17 de março de 2015

Covardia

Muito covarde a atitude do UOL em matéria publicada hoje sobre Pena de Morte. 
Caso o leitor não queira ler, o resumo dela está no título: especialistas afirmam que pena de morte não reduz a criminalidade. 
É o que eu chamo de meta-estudo (estudo sobre estudos). 88,2% dos especialistas entrevistados disseram que a pena de morte não reduz a criminalidade. O primeiro problema aqui é nivelar todos os especialistas. Quem disse que os 88,2% são tão bons (ou ruins) quanto os 11,8% que discordam? A segunda falácia é que o meta-estudo fala dos EUA, mas a manchete dá a entender que o resultado é global. Mas isso ainda são picuinhas. Vamos ao ponto central.
O ponto central é que a pena de morte não tem por objetivo reduzir a criminalidade. Assutado com minha afirmação? Não fique, pois provarei.
A criminalidade é um conceito de larga escala. É um complexo conjunto de indivíduos (criminosos, vítimas, agentes da lei), eventos (crimes, oportunidades), condições (pobreza, oportunidade) considerados como um todo em uma determinada área. Inclui desde o mais bárbaro ato de terrorismo até uma criança que jogou um chiclete no chão, passando por todas as nuances dessa escala. O maior defensor da pena de morte não pode achar que ela deva ser aplicada até para quem dirigir sem cinto de segurança, é uma situação rara para casos extremos. Acaba sendo, portanto, aplicada poucas vezes. Uma tática aplicada dúzias de vezes não tem como afetar centenas de milhares de eventos. Isso é absolutamente óbvio. 
Há, agora, a questão da aplicabilidade. Se pena de morte for aplicada em casos de homicídio apenas (exemplo hipotético), o ladrão de carros sabe perfeitamente que não está sob risco algum de ir para a cadeira elétrica. Que efeito seria esperado sobre ele então?!
Então, se a pena de morte é pouco aplicada e em tipos específicos de crimes, por que ela deveria afetar o conjunto completo de crimes? Temos aí a primeira grande covardia: cobrar da pena de morte um resultado para o qual ela não se propõe. 
Desviando um pouco do assunto, apenas para esclarecer, a pena de morte visa dar uma solução definitiva para um problema sério, perigoso e que não tem qualquer esperança mais. Um criminoso com múltiplas reincidências já deixou claro que não quer fazer parte do jogo social. Então nós não temos obrigação alguma de conviver com ele. Fim. 
Um último aspecto sobre a criminalidade é que todos os tais "especialistas" afirmam que o que reduz a criminalidade é a educação. Ok, aceito isso. Mas acho que o mais pacifista leitor vai ter que concordar que os resultados obtidos nesse sentido tem sido pífios. E fica aqui a segunda covardia, desta vez não por parte do UOL, ao se duvidar da pena de morte. Os que são contrários à pena de morte dizem que o que reduz a criminalidade é a educação, mas quando precisam criticar a pena de morte subitamente cobra dela a redução da criminalidade. Eles sabem perfeitamente que estão distorcendo os fatos ao dizerem isso e continuam dizendo, justamente por não terem argumentos reais no debate.

Mas o que realmente me trouxe aqui foi o comportamento do UOL acerca da matéria e seu impacto sobre os leitores. Primeiramente vem a área de "links relacionados", todos eles mostrando uns pouco casos bem particulares de condenações errôneas a pena de morte, sempre em tom melodramático. Já temos aí a terceira covardia, ao selecionar apenas um lado da discussão. 
Mas também ocorreu que o raciocínio que eu tracei aqui de modo relativamente apressado não é novidade alguma, e longe de ser conhecimento exclusivo meu. Com maior ou menor sofisticação, os leitores notaram isso tudo e começaram a atacar os pontos fracos da matéria na seção de comentário. Foi quando o UOL covardemente fechou os comentário dessa matéria. A surra estava enorme e eles cansaram de apanhar. Mas em vez de se retratarem ou permitirem que a liberdade de expressão tomasse seu rumo optaram pela versão autoritária daqueles que, uma vez mais, sabem que estão errados mas não querem dar o braço a torcer.

Vergonha, UOL.
Vergonha. 

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