Amigo leitor, em um post de uma amiga, foi divulgada a ideia de se evitar a "nova" novela da Globo, que se iniciou, pelo que entendi, ontem. O articulista, Gean Ramos, parece ter descoberto agora que as novelas são todas iguais. Eu descobri aos 8 anos...
Ok, desculpe, Gean. Não quis ofender (e acho que ofendi) no parágrafo anterior. Na verdade, seu texto é sim muito bom e muito útil. De verdade, eu divulguei para algumas pessoas e deixei o link aí em cima.
De todo modo, isso foi passado no facebook pela amiga Heloísa e gerou alguns comentários. Uma amiga dela postou feliz que não viu o primeiro capítulo e estava livre do vício.
Fui entrar na brincadeira e dizer que não se livra assim do vício, e fui postar os famosos 12 Passos dos Alcoólicos Anônimos. Nunca os tinha lido, então uma pesquisa rápida me levou a eles:
- Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
- Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
- Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
- Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
- Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
- Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
- Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
- Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
- Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
- Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
- Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
- Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.
E assim acabou meu bom humor, logo no passo 2. Trocar a bebida por religião ?! Ah, façam-me o favor...
O leitor teísta vai bater orgulhoso no peito e dizer: "que lindo, isso é deus tirando a pessoa do vício". Depois eu pergunto quem foi que colocou, então... Mesmo o leitor ateu de viés utilitarista vai achar isso positivo. Dirá algo como "ele trocou um vício que fazia mal ao corpo e à mente por outro que faz só à mente: é um ganho portanto.".
Discordo. É como amputar a perna da pessoa para salvar sua vida, quando um tratamento mais complexo, caro e doloroso salvaria igualmente sua vida sem perder a perna em questão. Acho um enorme prejuízo em termos sociais, portanto: prolifera essa mentira.
Acrescento, com maior tom de acidez, que há premeditação nisso. O dependente químico é uma pessoa que possuiu tendência, mental e/ou fisiológica, para se apegar fortemente a hábitos e condições. Por isso viciou-se. É o exato padrão da pessoa que se torna um fanático religioso. E vai lá o diacho do carola e lhe oferece justamente uma Bíblia, sabendo que o sujeito só precisa tocar naquilo para se viciar. Daí a vítima para de gastar com a pinga para gastar no dízimo, e temos o mais carneirinho dos fiéis. Perde a Ypioca para ganhar a Universal.
Para não ser totalmente ranzinza, vou postar o que achei aqui:
- Aceitamos o fato de que nossos esforços em parar de beber falharam.
- Acreditamos que devemos nos voltar para outros em busca de ajuda.
- Voltamos-nos a nossos pares, homens e mulheres, em especial àqueles que lutaram contra o mesmo problema.
- Fizemos uma lista das situações nas quais estamos mais propensos a beber.
- Pedimos ajuda a nossos amigos para evitar estas situações.
- Estamos prontos para aceitar a ajuda que eles nos dão.
- Sinceramente esperamos que eles nos ajudem.
- Fizemos uma lista das pessoas a quem tínhamos prejudicado e com as quais esperamos reparar os danos.
- Faremos o que for preciso para repará-las, de qualquer forma que não cause mais prejuízo.
- Continuaremos a fazer esta lista e a revisá-la sempre que necessário.
- Estimamos o que nossos amigos fizeram e estão fazendo para nos ajudar.
- Em troca, nos prontificamos a ajudar outros que nos procurarem da mesma maneira.
Mas continua me enfurecendo a mania teísta de se meter em todos os assuntos.
Sabe que diversos estudos apontam que, sem o elemento religioso, o processo de alteração de hábitos aplicado pelas instituições de combate ao vício não funciona? Descobri isso lendo alguns livros e me inteirando do assunto (veja bem, meu pai tem uma clínica de reabilitação de drogados, e segundo ele a informação acima é consenso entre todas as clínicas, não apenas por aqui).
ResponderExcluirO motivo disso é controverso, mas mesmo a comunidade científica internacional admite que não existe, no mundo, uma instituição de mudança de hábitos mais eficiente do que os Alcoólicos Anônimos. Mas eu entendo o seu preconceito.