sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Venceu o Carnaval

Uns bons 15 anos atrás, não lembro o ano exato, um amigo corinthiano chamado Paulo se aproximou de mim no final de semana seguinte ao carnaval e soltou:
- Você viu? O Timão ganhou o Carnaval.
- Verdade. Mas o Tricolor vai ganhar a Páscoa e o Corpus Christi. 
- ...

Sim, o Paulo ficou sem palavras. Paulo percebeu que estava se gabando do fato de uma parcela (da qual ele não faz parte) de uma torcida uniformizada (da qual ele também não participa), do time de futebol que ele torce (embora ele não frequente estádios) havia vencido um concurso musical-decorativo, do qual ele também não participara ou assistira que ocorre uma vez ao ano em um feriado.
Desculpe amigo leitor, talvez o parágrafo acima tenha fica longo e confuso. Peço que releia. Vou até copiar e colar, usando negritos estratégicos para facilitar. Se necessário, leia duas vezes. Eu espero:
Paulo percebeu que estava se gabando do fato de uma parcela (da qual ele não faz parte) de uma torcida uniformizada (da qual ele também não participa), do time de futebol que ele torce (embora ele não frequente estádios) havia vencido um concurso musical-decorativo, do qual ele também não participara ou assistira, que ocorre uma vez ao ano em um feriado.

Entendeu? 
Nem eu...

Em todos os meus quase 40 anos, nunca o carnaval fez algum sentido na minha cabeça. Começa sendo o mais chato dos feriados pois, ao contrário dos outros, é impraticável viajar. As pessoas agem como se fossem o últimos dos feriados na face ("face" de rosto, não "feice" de "facebook") da Terra. Você chega lá, seja lá onde lá for, e tudo que se encontra é baderna, barulho, música ruim, gente fedida se acotovelando e fila até para lavar as mãos. Pouco importa se você escolheu a praia de Joaquina, Boqueirão, Campos dos Jordão ou Bodoquena do Oeste: dá no mesmo. 
Opto por não viajar, assim ao menos economizo combustível e o stress da estrada. Fica o stress da cidade. Não sei, parece que a população total do país triplica no carnaval. A cidade fica transitável, mas cinemas e lanchonetes lotam como se não houvesse amanhã. Claro, também tem-se que aguentar o mesmo tipo nojento de música, embora um pouco mais distante e talvez protegido pelas janelas de casa. Ocasionalmente, há desvios e bloqueios de tráfego, obviamente sem qualquer tipo de aviso ou sinalização. Se você quer passar por uma rua onde tem um bloco com pessoas pulando igual macaco com sarna, problema seu: invente uma rota alternativa e torça para não haver outro bloco nela.
Ah, claro, tem os desfiles das escolas de samba. Interessante saber que samba precisa de escola. Com milhões em dinheiro público, claro. Depois falam da Copa... Tenho adotado a prática de usar fotos nos posts, mas aqui eu me recuso. Mas o desfile precisa acontecer, e uma parte das pessoas precisa incomodar o vizinho, eu no caso, com isso. 
O tal desfile consiste em construir veículos totalmente inúteis para pessoas em geral inúteis ficaram no alto acenando ou dançando, dependendo da suposta habilidade no assunto, lá no alto. No chão, um casta inferior paga montanhas de dinheiro para usar fantasias ridículas para cantar por 40 minutos uma música sem o menor nexo de 40 segundos em loop. Ficam pulando de um lado para o outro, mas precisam caminhar de forma dita ordenada por uma pista reta construída para esse fim enquanto dezenas de milhares de bobos ficam em volta assistindo e cantando junto. Sim, os bobos em volta também pagam por isso. Um pouco menos bobos são os milhões que assistem de casa, pois pelo menos ficam no conforto do sofá sem pagar nem o ingresso e nem os R$ 10 por uma cerveja morna e choca. E o sujeito sequer percebe que o processo é o mesmo que o do show anual do Roberto Carlos: se transmitirem o VT do ano passado, ninguém nem percebe.
O fundo alegadamente cultural disso é um tipo de música insuportavelmente chato, incapaz de se renovar em um século, usando instrumentos musicais irritantes e barulhentos para gerar uma cacofonia incompreensível e desagradável. Claro que isso deve ser gritado (cantado não seria um termo adequado nem de longe) em locais públicos, para incomodar bastante (quanto mais incomodar, melhor), especialmente quem não gosta disso. O resultado não gera qualquer legado positivo em qualquer aspecto humano possível ou imaginável. E ainda falam da Copa.
Mas o incômodo fica. Ah, esse fica sim...

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