sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Orgulho

Li outro dia sobre 12 de fevereiro ser o Dia o Orgulho Ateu. Junta-se ao orgulho nerd, orgulho gay, orgulho pagão, orgulho branco e tantos outros.
Tento entender. Orgulho é o sentimento que se tem por ter/ser/conseguir/apoiar/participar de/[ponha verbo aqui] algo. Intrigo-me.
O problema de minha compreensão é a gama de significados atingidos pelo tal sentimento. Vejo pouca relação entre ter orgulho de sua opção sexual, de sua cor de pele e de sua opção de entretenimento. 
A segunda não tem qualquer controle daquele que se orgulha. O sujeito ser branco, preto, azul, verde ou lilás está nos genes dele. Poderia nem gostar de ser o que é, mas gosta. E ao fazer questão de mostrar que gosta, temos o tal orgulho. Em algumas das cores, é considerado bonito, em outras, até crime é. Curioso pensar quem é o oprimido e quem é o opressor, mas isso fica para outro post.
Então vamos outro extremo da escala, o cultural. Apeguemo-nos ao nerd. Aqui temos um misto de preferências culturais, estilo de vida, tipo de carreira e até matérias preferidas da escola. Preferidas, hein? Tudo aqui é produto de escolhas, portanto. O sujeito gosta de matemática, gosta de programação, gosta de Star Trek e gosta de trabalhar sério e compenetrado. Ok, pode ser física, engenharia e Star Wars: o resultado em termos de perfil de grupo é marginalmente o mesmo. Adoro dizer "marginalmente" para que todos saibam que fiz, e passei, em Cálculo. Já me agrupei. Já mostrei meu orgulho pelas minhas escolhas.
Agora juntemos os dois orgulhos aqui dissecados com a precisão linguística de uma machado e o cuidado psicossocial de hipopótamo gripado e vemos que ambos são incompatíveis em origem e geram um resultado final, o tal orgulho, com um mecanismo bastante parecido.
Ora não se pode começar uma receita com farinha e outra com grãos achando-se que ambas resultarão em sopas. Se resultam, algo está errado no que se chama de sopa. E daí entra minha crítica ao orgulho, pior quando organizado e oficializado.
Se for para o orgulho por opção sexual, algo que apesar do nome não está claramente definido como geneticamente determinado ou como individualmente escolhido, e a mixórdia alcance valores planetários.

Não vejo sentido no sujeito sentir orgulho de nada. Problema meu se passei em Cálculo III, com o professor Diniz, sem fazer "rec". Problema meu se sei a regra do "par-e-ímpar de Star Trek". Problema meu se trabalho tão focado que pode cair um asteróide do meu lado e tudo que eu faço é reclamar da ocasional vibração na mesa. Já estou com vergonha, nada marginal, do que escrevi aí em cima.
Fazer questão de mostrar seu orgulho pelo assunto que for só ajuda a criar barreiras entre as pessoas. Os que estão dentro ficam mais dentro, mas os que estão fora sentem-se excluídos da panelinha, e isso gera sentimentos negativos como inveja, raiva e vingança. O que de bom tem nisso?
Fiquei sem entender.

Nenhum comentário:

Postar um comentário