quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Esférico

Se tem um caso da época da faculdade para contar aqui, é este. Lembrei por causa do amigo Pedro Neto. 

Estávamos lá pelo 4o ano, fazendo Termodinâmica II, quando chegamos para uma prova. Era o professor André Antunha que, ao contrário da maioria dos meus colegas, sempre considerei um cara genial. As provas dele eram completos sufocos, mas nunca com o objetivo de prejudicar a nota dos alunos. O objetivo era medir a capacidade dos alunos de saírem do sufoco.
No caso de Termo 2 (para os íntimos), trata-se de uma matéria que estuda transferência de calor por vários métodos: condução, convecção e irradiação. Nesse dia, teríamos uma prova de condução apenas.
Para condução, a geometria do objeto é crítica, especialmente por causa da camada limite térmica. Na época, o prof. Antunha nos apresentou a formulação matemática para apenas três formas: placa plana infinita, cilindro de comprimento infinito e esfera. Segundo ele, a maioria das formas reais pode ser aproximada por essas três geometrias. Nunca trabalhei no ramo para saber, mas de algum modo essa afirmação não apenas me pareceu correta, mas mudou o modo como vejo os objetos físicos até hoje.
Embora eu não me lembre de dados precisos, a questão da prova (era sempre questão única) era mais ou menos assim (coloquei as grandezas como X, mas era dadas):

Você vai assar um peru congelado a -x graus, de x kg em um forno com temperatura x graus. O forno possui controle de convecção. Considerando-se que o peru possui calor específico x e condutividade térmica x, quanto tempo leva para o peru estar completamente assado (seu centro estar a uma temperatura de y graus). Considere o peru homogêneo e esférico.

Um peru esférico.
Depois do choque inicial, bastava esfriar (pun intended) a cabeça e o problema não tinha absolutamente nada de complicado.
Mas era um peru esférico.
O assunto tomou conta da faculdade toda, não apenas no nosso ano, mas a história se espalhou. Chegou ao nosso jornalzinho local. 
Um peru homogêneo e esférico.

Pois ontem, o irmão Pedro Neto, hoje professor universitário, me passa a imagem a seguir no Facebook:


Certas coisas não mudam...

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