sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Planejamento Multimodal

De acordo com o dicionário Michaelis:

sm (planejar+mento2V planeamento. 2 Ato de projetar um trabalho, serviço ou mais complexo empreendimento. 3 Determinação dos objetivos ou metas de um empreendimento, como também da coordenação de meios e recursos para atingi-los; planificação de serviços. 4 Dependência de uma indústria ou repartição pública, com o encargo de planejar serviços.

Então isso envolve, naturalmente, saber as condições que você tem para então pensar nas ações que vai tomar. 
Vejamos um exemplo prático. Periodicamente, a prefeitura de São Paulo precisa replanejar toda a malha de linhas de ônibus. Isso não é feito porque a versão anterior foi mal-feita, mas porque a cidade é um lugar dinâmico e que muda com o passar do tempo. Imagine uma grande fábrica com milhares de empregados entrando no turno das 8 da manhã. A fábrica fecha, mas a estrutura é transformada em um shopping center. Agora os milhares de pessoas não chegam e saem juntas, mas ao longo do dia. A malha de ônibus precisa ser atualizada. Em outro lugar, um conjunto de casas de baixa renda é derrubado e vira um condomínio de classe média. Mais pessoas vão morar no mesmo local, mas talvez a demando por coletivos diminua. 
Então a prefeitura usa algumas fontes de informação. A principal delas é o registro de usos do bilhete único, somado às passagens avulsas e pesquisas corpo a corpo ajudam a entender a rotina dos cidadãos, e então pode-se atualizar a malha viária. Ótimo.
Processo similar é feito pelo estado ao pensar as novas linhas de metrô. Ótimo.
Erros acontecem, claro. E não estou aqui para criticar erros de planejamento. Um clássico foi quando da introdução do Bilhete Único. Meses depois utilizaram a recém-criada massa de dados para recalcular as rotas, pois haviam encontrado ociosidade em algumas linhas. O resultado foi, por exemplo, algumas linhas trocadas por micro-ônibus abarrotadas de... idosos, que não entravam na massa de dados por não passarem pelas catracas. Que fique claro: incomodou, mas houve grande aprendizado com isso. Acontece.

Estou aqui, sim, para criticar a inexistência do planejamento, e o assunto nem podia ser outro:

(foto de Alexandre Correa: bicicletas invisíveis)

Façamos, então, as mesmas perguntas feitas sobre os usuários de ônibus para sabermos sobre usuários de bicicletas:
- quantos são?
- de onde vêem e para onde vão?
- quais as rotas preferidas?
- quais os horários utilizados?
Não estou perguntando tanto assim, hein? Não entrei no chamado nível 2, com perguntas impertinentes do tipo "o que faria você adotar/desistir do uso da bicicleta?" ou "e se chover?". 
Segue o link para CET, antes que algum leitor chato diga que eu não pesquisei. Há muitas informações sobre o que existe feito de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, bem como pontos de parada. Há uma afirmação solta de que "O aumento do número de viagens de bicicleta no Município de São Paulo, confirmado pelos resultados das últimas pesquisas de Origem e Destino do Metrô (1997 e 2007)". 

Números? Pfff.
Quantidade de ciclistas? Hahahahaha.

Amigo leitor, eles não fazem a menor ideia de quantos ciclistas de fato trafegam pela cidade. Podem ser, na verdade, ainda mais do que eles imaginam. E principalmente, é importante saber por onde esses ciclistas precisam, de fato, trafegar.
Sair pintando faixas vermelhas aleatoriamente pela cidade não resolve o problema algum. Na verdade, piora o problema do motorista ao remover faixas de circulação. E também não resolve o problema dos ciclistas, pois, como se vê na foto, eles podem não estar ali. Simples assim.
Então, não é questão de ser contra as ciclofaixas. Sou contra essa estupidez que está sendo feita em São Paulo. Ou, como prefiro, burrice aguda, da mesma cor das faixas.

3 comentários:

  1. Eu poderia argumentar que "aleatoriamente" não se encaixa sem que saibamos todos os dados. Mas por outro lado, também posso argumentar que saber mais dados do que os necessários comprovadamente compromete a capacidade de se tomar uma decisão.

    E é no espírito desse último comentário que eu te lembro que, em se falando de política, o número de ciclistas não importa. O único número que importa é esse:

    http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2014/09/1520360-80-aprovam-ciclovias-em-sao-paulo-sobe-aprovacao-a-haddad.shtml

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  2. Taxa de aprovação similar à do Nazismo.
    Sem mais.

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  3. Pode ser, mas ainda assim para um político, qualquer político, esse dado vale mais do que todo o resto. Basta pensar que o Alckmin escondeu a real gravidade do problema da água até a eleição passar por esse motivo (tenho racionamento de água no meu bairro já fazem pelo menos 3 meses).

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