terça-feira, 15 de julho de 2014

Copa 64: Alemanha 1 x 0 Argentina - parte 2

Chegamos ao andar superior e começamos a procurar nossos lugares. Foi um pouco confuso, pois a marcação não bate com as placas internas. Há uma razão para isso: o estádio estava com a área de imprensa ampliada em função da grandiosidade do evento. No dia a dia, isso retornará ao normal. Com a ajuda de um steward, achamos nossa fileira. Todos os assentos estavam ocupados menos dois: exatamente os nossos. Sim, amigo leitor: o lugar marcado está entrando na cultura brasileira. Claro que ajustes locais são feitos: Troca comigo? Posso sentar aqui um pouco? É que eu estou separado do meu grupo... Sem incidentes relevantes nisso também. 

foto que bombou no Face, com mais de 100 likes apenas no domingo

A primeira cerveja já tinha ido, e tínhamos um hora para outras cervejas (e seus respectivos copos) e circular um pouco. Aí nota-se a qualidade visual das torcedoras argentinas. Sim, as argentinas merecem a fama que têm: nenhuma delas era, sequer, média: tudo filé.
Os assentos são muito bons. Pessoalmente, acho que poderia apertar um ou dois centímetros aumentando a capacidade do estádio, mas entendo o critério utilizado para esse bando de gordos que o ser humano está se tornando. 
Seguem algumas fotos, com legendas explicativas

visão ampla do estádio

concentração argentina

concentração alemã

A maior concentração atrás do outro gol, pela entrada C, era de Argentinos. A segunda maior, na entrada E, era de alemães. Havia ainda um terceiro grupo menor de argentinos, entre as entradas B e C, bem próximos ao campo. O restante era torcida mista. Ao contrário dos dados da FIFA, que falavam em equilíbrio, os argentinos estavam em muito maior número que os alemães: 3:1. Mas a maioria era de brasileiros, obviamente torcendo pelos europeus. Em resumo: 1 alemão: 3 argentinos: 6 brasileiros a cada 10 torcedores. Esse foi nosso feeling.
O jogo foi visto por bilhões de pessoas. Comentar lance a lance é pointless. Pude ver o tal apoio e cantoria dos argentinos, e digo que é algo memorável. Dizer que eles cantam e gritam o jogo todo é exagero, mas o apoio dele é incondicional. Às vezes se calam, cansam, são humanos além de hermanos. Mas quando outro setor do estádio começa a cantar, eles reagem imediatamente. Cantam juntos a mesma música, e são várias letras e melodias diferentes. Perto do "sou brasileiro...", a diferença é brutal. 
A letra mais marcante mexe conosco:

Brasil, decime qué se siente 
tener en casa a tu papá.
Te juro que aunque pasen los años, 
nunca nos vamos a olvidar... 

Que el Diego te gambeteó, 
que Cani te vacunó, 
que estás llorando desde Italia hasta hoy.

A Messi lo vas a ver, 
la Copa nos va a traer, 
Maradona es más grande que Pelé

A resposta a isso era um sonoro "Pentacampeão". E a convivência era, em geral, pacífica. Houve um momento de tensão durante o primeiro tempo, por ocasião do gol impedido da Argentina. Eles comemoraram, mas a situação inverteu-se segundos depois. Talvez algum hermano tenha se irritado, talvez algum brasileiro tenha provocado demais: impossível saber sem ter visto tudo. Mas houve trocas de empurrões, xingamentos, ofensas. Não vi nada mais grave, mas soube de alguns mais exaltados que foram retirados do estádio. 
Terminou o jogo, 0x0.
Prorrogação, mais 15 minutos, 0x0.


Segundo tempo, e temos o gol. Explosão de alegria, no maior Schadenfreude da minha vida. 


O desabafo da minha vizinha de cadeira foi, digamos, por conta dela. O final da partida, que eu esperava ser tenso, foi tranquilo. Não vi qualquer confusão ou sequer xingamento entre torcedores. Nada. Aos poucos, foram saindo e indo embora, calados.
Na premiação, um momento especial:


Tentaram abafar na transmissão da TV, pelo que soube. Mas a verdade nunca será calada.
Depois de confraternizar com os alemães, caminhamos por dentro do estádio e saímos pela rampa principal. Seguimos pela passarela até o metrô, onde a passagem era gratuita e em menos de 10 minutos estávamos no Shopping Nova América, para última refeição e seguir viagem. No caminho, musica de saideira:

Argentina, decime qué se siente 
tener perdido la final.
Tener solamente duas Copa, 
Brasil sigue sendo tu papá..

A Messi no lo vas a ver, 
la Copa no nos va a traer, 
Di Maria tiene nombre de mujer

Até teve um ofendidinho olhando feio, mas ficou nisso, pelo menos até onde vimos. Descemos apenas 3 estações depois, como na ida.
Comi um curioso par de croissants em um local chamado Croasonho. Garanto que a comida é melhor que o nome. Por acaso, descubro que são 4 lojas em São Paulo já. Recomendo.
Às 21h30, pé na estrada. Erramos uma das saídas, perdendo 7 minutos, e depois tudo correu bem, apesar da grande quantidade de imbecis na estrada: todos os trouxas que não estavam na ida, estavam na volta. E de todas as subespécies: cariocas, paulistas e argentinos. 
Felizmente, nada ocorreu, e chegamos em casa cansados e felizes. Como relatei às 3h23 no Face, eu não queria dormir, mesmo depois de 22 horas acordado, e tendo dirigido 900km. Queria que aquele 13 de julho não passasse nunca. Que ele permaneça vivo na minha memória para sempre.
Você, leitor, que curte futebol: vá a uma final de Copa. Vire-se. Torne-se um jornalista esportivo, tenha contatos na área do futebol ou pague o ingresso (sinceramente, o caminho mais simples). Mas vá. Vale a pena, e muito.

Um comentário:

  1. Por isso que só vi na tv paga (Espn no caso), não tem essa de abafar nada. Sem contar que o conteúdo é muito melhor, mas enfim...

    Parabéns! Certamente, momento maravilhoso! Um dia pretendo ir a uma. E provocação deve existir sempre, sem isso esse esporte não seria completo (ou quase completo, se for considerar os boçais...).

    P.s.: Oremos pela aposentadoria do gaúcho de bigode.

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