terça-feira, 8 de julho de 2014

Ufanistas

Em textos anteriores, critiquei os que são incapazes de notar a existência de um grande evento e os abutres reclamões de plantão. Hoje é a vez dos ufanistas poliana. 
Sim, teve Copa. Sim, teve problemas também.
Saindo do âmbito esportivo, que compete à FIFA e comentarei apenas na próxima semana, falemos dos aspectos estruturais e organizacionais da Copa. 
Antes de tudo, é fato sabido, amplamente comentado e longe de qualquer dúvida que houve um grave desserviço ao se optar por 12 sedes para a Copa do Mundo. Em uma conta simples, isso dá 5,3 jogos por sede, índice baixíssimo. Uma Copa com 10 sedes daria 6,4 e com 8, minha opção, daria 8 jogos por sede. Mais que isso, a escolha de 8 sedes proporcionaria exatos um jogo de oitavas de final por sede, e os jogos subsequentes (4 quartas, 2 semis e 2 decisões) também somam 8 e podem ser distribuídos sem problemas. A opção por 12 sedes serviu apenas a interesses escusos, para que se construíssem mais arenas e mais obras de mobilidade e apoio. Fingir que 12 sedes foi uma boa decisão é patético, ou petético, como gosto de dizer.
Ainda no aspecto das sedes, depois da errônea decisão de usar 12 sedes, errou-se novamente ao escolher algumas delas. Se São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre eram decisões incrivelmente óbvias, e Curitiba, Salvador, Fortaleza e Recife eram as opções naturais seguintes, Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal foram erros. Com todo o repeito às citadas cidades, seus times locais não fazem por merecer arenas de centenas de milhões de reais, simples assim. Seria mais correto escolher Belém, Goiânia, Florianópolis e Campinas se o assunto é futebol. Ponto.
Não é preciso mais de uma linha para o problema seguinte: superfaturamento. 
Depois veio a montagem da tabela, que escapa à compreensão do mais genial especialista em logística. Se o Brasil perder da Alemanha hoje, terá feito 7 jogos da Copa sem passar pelo Rio, sua casa oficial. Os jogos no Nordeste às 13h foram outra aberração inenarrável e indefensável. O deslocamento das seleções e torcedores, mal inerente ao tamanho do país, não obedecem a qualquer critério que tente equilibrar as distâncias. Tudo errado, portanto.
As sedes foram, então, encarregadas de definir suas obras necessárias ao evento. E tudo transcorreu na mais típica brasilidade: superfaturamentos, erros, atrasos, acidentes, mortes, tragédias. Algumas não foram terminadas, outras sequer iniciadas. Se eram tão importantes, por que não foram concluídas? Se não eram importantes, por que foram inclusas na matriz de responsabilidades?
No setor privado também não faltam críticas. Os setores aéreo e hoteleiro preferiram apenas faturar com a alta demanda em vez de criar um ambiente melhor de negócios. O resultado foi taxas de ocupação baixa nos hotéis das cidades sede e aviões vazios fora das datas dos jogos. A demanda por férias foi adiada e atrações turísticas de todo o país estão às moscas. 
A receptividade do brasileiro aos estrangeiros é fato, mas não como querem os ufanistas. É mais uma catarse coletiva, de um povo que tem consciência, mas não fama, de ser "cada um na sua" e agora se esforça para mudar de fora para dentro. Menos mal, é um processo de melhoria sim, mas não achemos que já éramos os mais receptivos do mundo. Nunca fomos. Se você acha que estou mentindo ou exagerando, experimente passar mal na rua e veja quanto tempo leva até alguém de fato lhe oferecer ajuda.
Termino nas pessoas. Onde estão os trabalhadores falando inglês ou espanhol? Não se falou tanto que grandes eventos fariam bombar os cursos de idiomas? Pois não fez. Os tão criticados brasileiros que não sabem se comunicar em Orlando e Miami são da mesma estirpe e renda maior que os brasileiros atendentes de hotel, taxistas, garçons e tantas outras profissões que se viram na base do humor, gesticulação e boa vontade para entender os que os estrangeiros falam.
A Copa passa e não deixa legados pertinentes. Deixa estádios novos, alguns onde não eram necessários, obras inacabadas e um reforço na imagem de que somos simpáticos. .

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