Esse caso aconteceu com um amigo meu. Fiquei com uma súbita vontade de contar aqui para vocês, mas não pedi autorização dele. Então vai com pseudônimo de Daniel como personagem principal. Também confesso que devo estar romanceando um pouco o ocorrido, mas não a descrição dele. Vá lá, tenho direito a isso, não ?
Conheço o Daniel há muitos anos, de eventos de RPG. Enquanto pessoa, é uma espécie em extinção: um sujeito muito educado, prestativo e sorridente, de coração enorme e inteligência proporcional. Um cara do bem, como dizemos hoje em dia.
Na época desse caso (não sei hoje), Daniel trabalhava com equipamentos de vigilância e segurança. Era um dos técnicos que instalava câmeras e sensores em prédios de modo geral. Creio que também lidasse com servidores de vídeo, backsups, racks e aquela parafernália toda que qualquer invasor sabe utilizar tão logo entre na sala. Bem, pelo menos nos filmes americanos é assim...
A empresa para a qual ele trabalhava (trabalha ?) conseguiu um bom contrato para montar a segurança completa de um presídio em fase final de construção. Posso estar enganado ao afirmar que era em Presidente Bernardes, SP. Note, amigo leitor, que o mesmo contrato com o presídio já com seus, digamos, moradores não seria tão amigável assim. Mas vazio, ainda com tinta fresca nas paredes, era apenas uma estrutura civil desocupada.
No fim das contas, a empresa optou por uma solução prática e curiosa: mandou a equipe de técnicos acampar no presídio durante a fase de instalação de equipamentos. Bem ou mal, é uma estrutura feita para, digamos, hospedagens de longa duração. E nova. Com isso, a equipe dormia ali mesmo, no presídio, o que trazia economia sensível de hospedagem e transporte. E ainda geraria um sem número de piadas e histórias entre eles, uma das quais vazou até este blogueiro.
Na época, Daniel morava com sua mãe em um condomínio em São Paulo. Ela, tanto quanto ele, achou divertido o caso do filho acampar em um presídio e comentou com uma vizinha de prédio no elevador. E diga-se, o relato é que a amiga também achou graça.
O problema é que conversa de elevador depende muito de qual andar as pessoas entram. E quando você não pega do começo, esse relato todo pode sair mais ou menos assim:
- ... e no fim, o Daniel está lá no presídio de Presidente Bernardes e não sei quando ele volta...
Imaginem então, a senhora de seus 60+ anos ouvindo isso. Pensou tudo que não deveria sobre ele. E mais engraçado ficou, apenas três semanas depois, quando ele estava de volta ao prédio, livre, leve e solto.
Daniel encontrou a senhora no elevador e, gentil como sempre foi, ofereceu-se para carregar suas sacolas. Ele já sabia que tinha corrido o boato sobre ele estar preso e achava graça disso tudo. A senhora ficou completamente intimidada pela presença dele no elevador, e encolhia-se em um dos cantos como se isso a fosse proteger. Mas a oferta de carregar a sacola havia aliviado um pouco a tensão. Ela, então, decidiu puxar conversa.
- Sabe o que é Daniel, é que eu ouvi o pessoal comentando que você foi preso...
Daniel resolveu brincar com ela. Arrancou o sorriso do rosto, aproximou-se a menos de 10cm dela e disse na voz mais grave que tinha:
- Melhor você ficar na sua aí, valeu ?
Pronto. Agora sim ela estava intimidada.
Daniel ainda teve a moral de descer no andar dela para levar a sacola até a porta sem dizer mais nenhuma palavra, ou sorrir, ou piscar. Faria isso no elevador, e depois ao relatar isso aos amigos.
Contou que, na reunião de condomínio seguinte, ele foi acompanhar a mãe, cujas opiniões passaram a ser surpreendentemente consideradas o supra-sumo da gestão condominal.
Creio que até hoje alguém acredite.
Será que ele vem dar uma ajudinha aqui no meu prédio?
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