quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Auto-análise

Terminei há 10 minutos minha "semana sem reclamar", amigo leitor.
Não se preocupe, não pretendo voltar o modelo antigo: como disse o criador dessa ideia, é o tipo exato de projeto que, mais do que testar sua força de vontade ou habilidade de lidar com problemas, mexe com suas estruturas mentais.
A sensação é de estar do lado de fora de mim mesmo em cada conversa que faço. Estou (estive?) em um tipo de controle diferente. Nem pareço eu mesmo. Para os nerds de plantão, é como mudar o ângulo de visão em um jogo de corrida de carro: o objetivo é o mesmo, mas o modo como se controla as coisas é outro. Curiosamente, eu sou daqueles que, no videogame, prefere a vista de dentro do cockpit...
Eu já havia comentado aqui as primeiras observações feitas. Passados mais três dias, digo que expandi um pouco o universo. O foco agora não é mais "evitar reclamar", mas "evitar falar o que não é necessário". 
Sim, reclamar é, até onde notei, o maior responsável por falas inúteis. Eu diria 60% a 70% até. Sim, eu era (sou?) um reclamão. No entanto, o ato de remover, ainda que parcialmente, as reclamações das conversas, e com um novo modo de observar o processo comunicativo, achei, até com alguma facilidade, o próximo alvo: ostentação*.


Palavra que está no vocabulário popular há relativamente pouco tempo, noto que é algo que fazemos, todos nós, o tempo todo. Não sou diferente, embora queria achar que sou.
Ostentar é contar para os amigos que você achou ingressos baratos para um show na próxima viagem. É comentar com alguém que vai viajar. É citar um local visitado em outro país. É postar foto de lugar estiloso no facebook.
Tem mais por trás, disso, creio. Então, neurônios à obra: para esta semana, em adição a "não reclamar", incluo o "não ostentar". 

*Em tempo, exonero o funk do crime de ostentação. O funk já tem defeitos suficientes para ser insuportável, embora alguns deles sejam injustos: ainda acho o funk mais tolerável do que samba, pagode, axé e sertanejo. O funk apenas trouxe letras que praticam e falam da prática da ostentação, entre outras coisas. Como todo processo sócio-cultural, é causa e consequência o efeito estudado. Resumindo, a ostentação já existia sem o funk, apenas não tinha relevância ou não era tão percebido como tal. Tanto que o termo usado até então era exibicionismo. 



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