segunda-feira, 9 de março de 2015

Porque eu não vou

Próximo dia 15 está marcado um grande protesto contra o atual governo federal. Não estou convocando ninguém a ir (ou não ir) a tal evento, mas fui convidado/desafiado a explicar porque não irei. Deixemos claro então: não irei
Não se trata de uma decisão irrevogável. Posso mudar de opinião, claro. Mas não é uma posição sentimental, é baseada em uma lógica que pretendo expor aqui e, por isso, pouco provável que seja mudada em tão curto período de tempo. Também digo que já pensei diferente, e estive nas ruas em 92, pedindo a saída de Collor por muito (mas muito mesmo) menos do que o que Dillma e Lulla fizeram e têm feito.
Preciso primeiro esclarecer brevemente um par de conceitos aqui. Quando dizemos que vivemos em uma democracia, precisamos lembrar que democracia é um conceito amplo e sujeito a variantes, como tantas ideias. A democracia pode ser direta, quando todos os indivíduos opinam diretamente sobre cada tópico discutido pela sociedade, ou representativa, quando os indivíduos elegem representantes que farão os debates em um fórum menor. Fácil de perceber, os representantes são os políticos. Eles são direcionados aos cargos que ocupam pelo nosso voto, e lá tomam as decisões. 
Em teoria, a democracia direta tem a vantagem de ser ampla e completa, dando potenciais ouvidos a todos os indivíduos igualmente. Esses ouvidos são na forma de consultas populares, plebiscitos e referendos, o que a torna cara e lenta se aplicada de modo absoluto. A democracia representativa, em teoria, torna os debates mais curtos, pois apenas um punhado de eleitos é consultado sobre cada assunto, no caso, em um parlamento. Porém, nem todos os setores da sociedade estão necessariamente representados em um parlamento, e distorções eleitorais podem fazer com que algum tipo de voz tenha força desproporcional. Ou seja, há vantagens e desvantagens em cada opção.
No Brasil, vivemos uma democracia representativa praticamente pura. Embora os mecanismos de consulta estejam previstos e detalhados, foram usados apenas duas vezes nos últimos 27 anos (contando apenas a atual Constituição): parlamentarismo e desarmamento, sendo que neste último caso o desejo popular foi simplesmente ignorado pelo governo (o Não venceu, mas continua impraticável um cidadão comum ter acesso a armas de fogo).
Isto posto, é preciso esclarecer que, uma vez eleito, um político tem seu mandato juridicamente assegurado pelo prazo determinado. Claro que pode ser removido de lá por complexos processos políticos, mas um mínimo de estabilidade é necessário e importante para que possa haver um debate duradouro sobre os temas pertinentes à sociedade. Mas é justamente isso que torna a remoção de políticos algo impraticável.
Digo isso porque apenas o Congresso Nacional pode cassar o mandato, por exemplo, de um Congressista ou do Presidente da República. Se aqueles 513 deputados e 81 senadores não quiserem, nada que não seja o risco eleitoral ou coação física. pode obrigá-los a a votar uma cassação ou impeachment. Na verdade, nada os obriga a coisa alguma. Isso tudo são fatos, amigos leitores, e não contém qualquer tipo de opinião, o que farei a seguir.

Na minha pouco humilde e nada modesta opinião, os representantes do povo podem simplesmente ignorar críticas e protestos pela totalidade de seus mandatos que, salvo algum ato de violência física, nada de mais lhes acontecerá. Nada. O pior que pode acontecer a um mau político é perder a eleição no pleito seguinte. Ainda assim, pode estar bem colocado politicamente a ponto de ocupar cargos junto a colegas que eventualmente venceram. Vide o aparelhamento da prefeitura de São Paulo pelos derrotados do PT em 2014.
Mas se teve uma coisa que a eleição de 2014 nos ensinou é que, sim, protestos e insatisfações populares não significam absolutamente nada sequer em termos eleitorais. E para não partidarizar ou fulanizar (eu avisei que ia usar esse neoverbo) o assunto, tanto Alckmin quanto Dilma venceram suas reeleições. Simples assim. 
Então, eu não acho que Dilma faz um bom governo, muito pelo contrário. Não estou nem um pouco satisfeito com os recorrentes casos de corrupção e apoio totalmente campanhas como "Dilma para Presidente Bernardes". Acho ela, sim, não apenas totalmente incompetente para o cargo que ocupa, mas responsável direta e possivelmente mentora do maior esquema de corrupção que já aconteceu neste país, com poucos casos dessa magnitude no mundo. 
Mas entendo que não faz o menor sentido perder minha preciosa tarde de domingo gritando palavras de ordem direcionadas a um seleto grupo de indivíduos residentes em outra cidade que podem simplesmente fazer vista grossa para isso. Tenho mais o que fazer da vida.

Para quem decidir ir: desejo boa sorte na empreitada e, de verdade, que vocês provem que eu estou errado. Eu queria muito estar errado nisso.

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