quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Rio de Janeiro - Dia 12: Ciclismo

Depois de descansar bem pela manhã, segui para o Parque Olímpico. E no caminho, acompanhado por um shake de cereja bem meh, tive tempo para pensar no que estou fazendo aqui.
A verdade, amigo leitor é que eu queria ter sido atleta. Não estou falando daquele garoto de 6 anos que quer ser "jogador de futebol quando crescer". Sim, também passei por isso. É comum em nossa cultura.
Mas falo de um sentido mais profundo. Quem me conhece sabe o quanto sou competitivo. Minha esposa, uma vez, disse assim:
- Norson, você é o cara mais competitivo do mundo.
- Sou?
- É.
- Ganhei!

Também sou, por criação familiar e escolar, um doente apaixonado por esporte. Aqui, pesou demais a presença do Sensei Roberto Mashusso e, claro, de meu pai. A duas coisas somadas poderiam ter criado um atleta em mim. 
Joguei futebol, nadei e lutei judô. Nunca venci nada relevante em nenhuma deles. Nunca tive talento especial para esporte. Era bom, mas não ótimo. Não tenho o tal corpo de atleta. Minha qualidade sempre foi a persistência dentro da competição: eu me recusava a perder. Mas também devo dizer que não soube procurar algo mais pra mim. Era uma curiosa combinação de persistência acomodada. Spoiler alert: isso não faz um atleta olímpico.
Em 86, mudei de academia de judô. Talvez eu tivesse sido alguma coisa no judô. A decisão era a correta, mas não para onde fui. Acabei estancando meu progresso. Desisti em meados de 88. Talvez outra escolha em 86... Talvez nova mudança em 88...
Ainda em 88 eu pedalava muito. Quarenta quilômetros em qualquer tarde de sábado. Eventualmente, eu era rápido. Mas nunca achei um lugar para treinar ciclismo. Deixei para lá novamente.
Hoje, treino Kung Fu apenas para mim, e já se vão quase 17 anos nisso. Desisti de desistir, por assim dizer. Mas talvez tarde demais.

Indo para o velódromo, copo de cerveja na mão, fui observando o quão incrível é um velódromo. Pensei naqueles idos de 88. Se, se, se... Um garoto hoje tem muito mais como achar seu esporte do que eu tive. 
Se...

Meus devaneios foram interrompidos por um sino. As competições de ciclismo são um enorme barato. Tem gente pedalando o tempo todo, e há grande variedade de competições. Velocidade, perseguição, prova por pontos... De tudo. Não apenas é interessante em si, mas o programa olímpico é bem agendado. O tédio não pedala. E o velódromo é, simples assim, lindíssimo também por dentro.
Curti de montão.

Saindo de lá, notei-me emotivo. Era meus últimos momentos no Parque Olímpico. Eu podia ter sido atleta, pelo menos nos meus mais doidos sonhos, e virei torcedor. Comprei 17 de 3.5 milhões de ingressos. Juntei 10 dos 42 copos, e levei dias para fazer isso. Era apenas um cara qualquer andam ali. Foi o mais perto de ter sido um atleta olímpico que cheguei: gritei nas arquibancadas. 
E não gritaria mais. Estava indo embora de um Parque Olímpico. Não sei se algum dia estarei em outro. Fui buscar minha última garrafinha colecionável de Coca-Cola. Veio Coca-Zero. 
Mas estava salgada, misturada que estava com as lágrimas que engolia com dificuldade, por causa daquele nó que fica.
Ninguém viu.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Você me emocionou muito com esse texto, viu menininho que jogava bola na rua com ajudantes de pedreiro de um prédio que estava sendo construído em frente de casa, que treinava tênis no clube, que nadava desde pequeno, que lutava judô, etc. Não chegou a um atleta no esporte, mas chegou a um atleta na vida por tudo que passou e superou, amo você e você é meu atleta medalha de ouro.

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