sexta-feira, 1 de março de 2019

Portugal 1 - Dia 10 - Vila Nova de Foz Coa

Acordamos nos perguntando: "será que eles já entregaram o pão?". Do lado de fora, uma sacola de tecido protegia o pão quentinho do frio local. De verdade, nem lembro o que mais tinha no café da manhã...
Havia uma certa distância até o passeio matinal, e antecipei o fato de toda a subida até o hotel no dia anterior ter seu equivalente morro abaixo. Saímos com margem de tempo apertada, mas conseguimos chegar ao Museu de Vila Nova de Foz Côa no horário.
Vamos ao contexto então.
Nos anos 90, essa região essencialmente agrícola vivia uma séria decadência econômica. A produção de azeitonas e azeite estava em declínio desde os anos 80 e algumas propriedades já estava completamente abandonadas. Por anos, agricultores tentaram a produção de grãos, frutas e mesmo as oliveiras não mereceram destaque. O governo, então, quis fazer algo útil por ali. Sem muito o que perder ou tirar das pessoas, decidiu-se fazer uma barragem hidroelétrica no rio Côa, de modo a melhorar o suprimento nacional de energia. E realmente parecia uma boa ideia até então. 
Ocorre que, em 1992, pesquisadores acharam por acidente uma pintura rupestre em uma pedra. Para o amigo leitor que não sabe, é arte feita na pré-história, encravando e/ou pintando pedras. Acontece que, normalmente, esse tipo de coisa não está sozinha, vem em pacotes consideráveis.
Os pesquisadores correram, então, para mapear a região. Isso significa ficar observando cada pedra das duas encostas até uns bons 300m do leito do rio, o que significa morro acima, por alguns quilômetros de margem. Não, não dá pra cobrir tudo. Mas em 1994, foi emitido um relatório preliminar catalogando dezenas de pinturas e pedindo a preservação do local para estudos. O pedido foi ignorado.
As obras da tal hidroelétrica seguiam em bom ritmo, e não tardaria para a região ser alagada. Usou-se, então, a última arma disponível: fazer barulho na mídia. Ato contínuo, a comunidade acadêmia portuguesa apoiou os pesquisadores e os estudantes compraram a briga. O pedido era interromper as obras da barragem para evitar a destruição dos registros históricos, mas o governo seguia ignorando solicitações similares há 2 anos já.
Começaram protestos e manifestações. As eleições se aproximavam e a oposição entrou na discussão: prometeu parar as obras imediatamente se assumisse o governo. Houve, então, uma falha grave por parte dos governistas: uma tentativa malfadada de desqualificar a importância dos achados arqueológicos gerou forte simpatia pela causa. A oposição soube escalar o assunto e acabou vencendo as eleições de fato. E cumpriu a promessa de parar as obras. A hidroelétrica é assunto do passado hoje.
Atualmente, são 3 sítios básicos a serem visitados, com mais de 1.400 imagens catalogadas no total. Dois deles precisam ser visitados pela manhã, por questão de posição da luz do Sol. O outro, à tarde, pela mesma razão.
Todo esse prelúdio foi por causa de um dia curto e viagem e ficou pouco a relatar.
Ao chegar no museu, o passeio que programamos para aquela manhã estava indisponível pelas condições climáticas (chuva constante). Trocamos pela programação da manhã seguinte: Canada do Inferno
O guia Antônio nos levou de carro 4x4 até próximo ao local e foi nos mostrando algumas das figuras mais conhecidas. Isso tudo regado a explicações sobre como foram as descobertas (parte do texto acima), e como elas são analisadas. No entanto, a chuva continuava a nos castigar. Isso aumentava o risco de acidentes no passeio, tirava a luz para um bom aproveitamento das imagens e desgastava o corpo. Nenhuma foto realmente saiu boa. E já era o 5° dia seguido de chuva...
Terminado, voltamos ao museu de onde partia a caravana e o aproveitamos de ponta a ponta. Pelo menos aqui, tenho fotos de réplicas das pedras.

foto: Museu de Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de For Côa, Portugal, 2019

Então, finalmente aconteceu: o cansaço venceu. Abortamos o passeio da tarde, corremos para a cidade comprar queijos e voltamos para o nosso chalezinho no hotel. Passamos a tarde e noite dentro dele, felizes da vida, e recuperando o corpo. Pouco antes de dormir, o app de meteorologia dizia que estava -1°C na região. "É agora", eu disse.
Bermuda, camiseta e chinelo: fui lá fora curtir a temperatura civilizada. Delícia!

2 comentários:

  1. Com certeza o passeio não foi perdido. Os imprevistos e a mudanças de plano. Foi uma aventura que talvez vocês contem pelo resto da vida. Vocês aproveitaram o hotel com queijo e vinhos com camiseta bermuda e chinelo.

    Aventura fantástica!

    Beijos!
    Cintia

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  2. Grande, cansativa mas aproveitavel passeio, ainda mais com o friozinho

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