Às vezes, amigo leitor, tenho rompantes de otimismo. Estou em um deles hoje, mas não se preocupem: isso logo passa.
A crise hídrica que vivemos em São Paulo (Sudeste ?) não causa estranheza a (quase) ninguém mais. Já li um artigo que entende que o termo "crise" não mais se aplica, mas sim uma mudança significativa de paradigma no que se refere ao consumo de água. O articulista defende que crises são passageiras, e ele não entende este caso como tal.
As campanhas de mudança de hábitos de consumo de água, a esta altura, não promovem mais reduções no consumo de água, mas uma sedimentação dos novos hábitos. Novos que deveriam ser antigos, mas enfim...
cartilha economia
No entanto, surge a reboque o grau seguinte de conscientização: o consumo indireto. Ainda que a passos lentos, como todo processo de mudança social, as pessoas começam a entender que os produtos que consomem usam água em sua produção.
Em uma primeira linha, não deve tardar a surgirem tabelas comparativas. A marca X do produto consome 20% a menos de água na produção que a marca Y do mesmo produto: compre X. Em alguns casos, isso beirará a paranoia, o que não deve me surpreender. Ainda assim, é um raciocínio perfeitamente válido.
Outra linha, esta sim a que me importa mais, é o questionamento do consumo em si. Não importa se a marca X consome menos água na produção do que a marca Y: o produto é realmente necessário?
Muitas vezes não é. Muitas mesmo. Lembro de um artigo (e cometo aqui o grave pecado de não citar a fonte) no qual o autor comentava sobre cortadores de grama. Narrava morar em um subúrbio no qual sua quadra tinha 6 casas. Somadas, não tinham 100 metros quadrados de jardins. Somadas, tinham 6 cortadores de grama. O articulista não se furtava de sua responsabilidade. Dizia com razão que nenhum dos 6 moradores fizera nada errado individualmente, mas muito errado do ponto de vista coletivo: seria perfeitamente possível haver um só cortador de grama para todos, e em um esquema de revezamento cada um precisaria cortar a grama de todos apenas duas vezes por ano para que todos tivessem belos jardins. Concordei de pronto.
Em uma frente diferente, o carro é considerado hoje a fonte de todo o mal da galáxia. Daí a Ciclocracia que tenta se instalar em São Paulo, espero que sem êxito.
Começo a achar que que essas duas paradas vão se juntar em questão de semanas. Os motoristas vão apanhar como nunca...
De todo modo, meu lado otimista é sobre a conscientização do consumo. Qual é a necessidade de comprar mais uma panela, mais uma jaqueta, mais um perfume ou uma máquina de lavar louça (que fique claro, é o eletrodoméstico que nunca me convenceu de sua funcionalidade). Precisamos mesmo trocar de Iphone de novo? Será que não podemos ser felizes com 4 cervejas em vez de 6? Não seria possível terminar aqueles 14 outros sapatos antes de comprar um novo, ainda que em promoção?
Não são questões novas. O consumismo já está sob fogo cerrado há muito tempo. Mas antes eu via isso de um grupo muito reduzido e sem qualquer expressão numérica. Mesmo desarticulados (e que continuemos - observe a primeira pessoa do plural - assim !) os opositores a esse comportamento ganham números. Vejo outros comentando o mesmo que eu. Vejo mudança, e para melhor.
Não é todo dia que vejo isso. Deixem-me em modo poliana por um tempo.
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