segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

USA 4 - Dia 6: Carta para o Bernie

Acho que hoje em dia quase ninguém mais manda ou recebe cartas escritas, né? Mas se tem um sujeito que deve fazer isso, é o Bernie Ecclestone. Então eu queria mandar uma carta para ele. Há dois problemas nisso: não sei onde ele mora e escrever em inglês (ou qualquer língua não nativa) requer um domínio que eu ainda não tenho. 
Então vou deixar a carta aqui, sabendo que ele não vai ler mesmo. O segundo motivo para ele não ler é que ela está em português e o primeiro é o fato de que eu duvido que ele acesse internet. Digo isso baseado em declarações recentes que ele fez. Se alguém souber onde ele mora, avise. Se tivermos o endereço, peço ajuda para traduzir a carta. 

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Oi Bernie.
Posso te chamar de Bernie, não posso? Sei que você é um sujeito rico e importante, mas sempre te achei simpático. Vou tomar essa liberdade.
Bernie, ontem eu fui ver uma corrida de Nascar aqui nos EUA. Acho que você nunca ouviu falar, mas é uma categoria em que os caras colocam um carrões enormes e barulhentos, com todo mundo andando pertinho. Mó legal, dá uma olhada se tiver um tempinho aí.
Os caras não são chegados em tecnologia aqui não. Claro, tem mó esquema de cronometragem e transmissão da tv, mas os carros mesmo são simples. Pra você ter uma ideia, eles só adotaram injeção eletrônica em 2012. Aliás, é o Ron (Dennis) quem faz para eles, pode perguntar (mas não fala que eu chamei ele de Ron não, ok? Ele deve ficar bravo, e ninguém quer ver o Ron bravo). 
Com isso, Bernie, os carros são relativamente baratos de fazer. Claro que uma equipe campeã gasta muito mais do que o zé ruela lá no final do grid, mas o bacana é que tem o zé ruela no final do grid. Aqui tem 43 carros por corrida, e sempre fica gente de fora nos treinos. Aí na F1 nem sei se teremos 18 este ano. Pô, Bernie.
Eu comprei o ingresso em agosto. Até aí, a F1 vende com antecedência. Mas eu comprei exatamente para o lugar onde eu queria sentar. Em Interlagos, é tipo arquibancada mesmo, então quem chegar cedo senta nos melhores lugares. Falo por experiência. Você não tá organizando a bagaça direito. Pô, Bernie.
Daí, os caras não apenas mandam correspondência na minha casa no Brasil, como me convidaram para uma festa de lançamento das novas arquibancadas aqui. Eu não pude ir, estava sem terno, mas achei mó legal da parte deles. Nas vezes que eu fui na F1, e fui 14 em São Paulo, várias delas tive que ir buscar meu ingresso na véspera da corrida. Aqui você imprime em casa e vai. Pô, Bernie.
No ingresso tem todas as instruções do que pode ou não levar. Sabia que cada torcedor pode entrar com um isopor de 14 polegadas de cada lado, além de uma mochila? Cabe umas 20 brejas em um desses. Em São Paulo, os caras implicam até com a mochila. Pô, Bernie.
Tá vendo, Bernie, por que eu viajo pros EUA pra ver corrida, sendo que tem F1 na minha cidade todo ano?
Quando eu cheguei na pista, parei o carro no estacionamento. É digrátis, Bernie. Fica meio longe da pista, mas tem busão digrátis também pra levar nóis até a pista. Na F1 fica aquele furdúncio com os flanelinhas. Pô, Bernie.
Aqui tem um monte de lojinha. Os caras vendem de tudo, Bernie. Tem camiseta, boné, chapéu, agasalho, calça, miniatura, sacola, cooler, can cooler, adesivo, relógio, porta-credencial... E tem de vários pilotos. Se você é fã de um deles, pode comprar tudo do mesmo cara, que nem eu fiz. E também tem as coisas da pista mesmo. Tudo isso tem em várias cores, tamanhos, pra mulher e pra criança também. Acho que tinha até pra cachorro. E os preços são justos: uma camiseta custa uma camiseta, não uma mensalidade de escola. Paguei 18 em um boné e 26 em uma camiseta. Obamas, claro. Na F1, só tinha da Ferrari e vez por outra da McLaren. Uma vez teve coisa legal da Renault, mas tudo muito roubado. Uma camista chegava a 120 dilmas quando eu ia, e nem existia a Dilma ainda. Pô, Bernie.
Aqui também tem um monte de banheiro, tudo coisa fina. Dá até vergonha de entrar, mas depois de umas brejas não tem como evitar. Em Interlagos, só aqueles banheiros químicos que os caras só limpam na semana seguinte. Pô, Bernie.
Quando eu cheguei no meu lugar, que estava livre me esperando comportadinho, tinha um casal sentado ao lado. Fiz amizade com eles e são canadenses de Montreal. Eles também não assistem a F1 na casa deles, e viajam pra Florida pra ver corrida aqui. Viu só, Bernie, não sou só eu reclamando não.
Aqui tem narração local, um sistema de acesso às câmeras de tv que custa apenas 30 obamas, um sistema de abafador de som com microfone para você falar com seu amigo e tudo mais. Na F1, os caras implicam até se você trouxer seu radinho de pilha. Pô, Bernie.
Quando a corrida terminou, os simpáticos canadenses perguntaram se eu voltarei ano que vem. Foi quando eu me lembrei desse detalhe: além do lugar ser marcado, eu tenho preferência para comprar o mesmo lugar ano que vem. 8 meses antes da corrida, eles me avisam e, seu eu comprar, é meu. Na F1, fica todo mundo se acotovelando na fila 12h antes da corrida para entrar correndo e pegar uma visão aceitável. Pô, Bernie.
A corrida foi uma doideira, Bernie. Nas últimas 25 voltas os caras andavam em 3 filas paralelas e qualquer um podia vencer. Uns bons 20 caras tinham chance de vencer a corrida. Para 20 caras tem chance de vencer uma corrida de F1, a primeira coisa que você precisa fazer é colocar 20 caras na pista, né Bernie ? .
Sabe quanto eu paguei por isso, Bernie? 200 obamas. Era o segundo ingresso mais caro. Pulei a catraca do busão algumas vezes para conseguir vir. Em São Paulo, essa grana não compra nem no tal Setor G, o mais barato. Pô, Bernie.
Enfim, fiquei mó feliz aqui. Continuo achando esta parada mais legal que a tua. Dá uma olhada e copia umas ideias, vai. Você já está velinho, com 84 anos, mas do jeito que vai a coisa a F1 morre antes de você.
Abração, Bernie.

Um comentário:

  1. Não precisa agradecer:

    Bernie Ecclestone
    Formula One Management Ltd,
    6 Princes Gate
    Knightsbridge
    London. SW7 1QJ
    UK

    http://www.fanmail.biz/92643.html

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