segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Financiamento Privado

Curiosamente, o tema não têm causado comoção nas redes por si mesmo, mas muito mais pelo que o "iluminado" deputado Eduardo Cunha tem feito a respeito. Mas quero polemizar um pouco, ao ficar do lado da minoria. E desta vez, uma minoria bem minoritária.
Começando pelo fim, eu sou favorável ao financiamento privado de campanha. Ou seja, deixa como está. Aqui, começo fazendo uma observação sobre a ampla maioria contrária: o tema uniu azuis e vermelhos de modo pouquíssimo comum ultimamente. Talvez essa união explique a falta de polêmica. Mais, digo que todos têm suas opiniões baseadas no mais nobre sentimento anti-corrupção. E ainda mais, há uma argumentação lógica razoavelmente embasada em meus oponentes. Elogios máximos aqui. Sério.
A tese central, derivada da infindável Operação Lava-Jato, é que as doações de empresas para campanhas eleitorais viraram um enorme esquema de compra de influência (do lado empresarial) e desvio de recursos (do lado político). Não conheço quem conteste isso. 
Propõe-se, então, o fim das doações feitas por empresas, podendo apenas as pessoas físicas realizarem tal ato. Noto dois erros na proposta. Discorro.
Começando pelo mais simples de perceber, trata-se de uma medida que poderia em potencial lidar com a compra de influência, mas não toca no problema do desvio de recursos. Absolutamente nada está sendo feito de novo no sentido de coibir o uso de dinheiro de campanha para fins particulares. Não atinge o lado político da equação, e não surpreende por ser uma proposta feita por políticos.
Aqui, devo dizer que nem vejo nada a ser feito. A legislação atual já prevê punição para o assunto. Se ela não é aplicada, criar leis mais rígidas de nada adiantará. O que falta, como quase sempre, é Justiça.
Em segundo lugar, olhando o âmbito da compra de influência, a maioria dos brasileiros acha altamente inadequado uma empresa poder investir recursos ("doar" claramente mostrou-se um termo inadequado) em um candidato claramente esperando retorno quando este for eleito. E a solução para isso é proibir que as empresas comprem influência limitando esse "direito" às pessoas físicas ?!
Ora, não me faça rir, amigo leitor. Então vocês acham que a construtora Odebrecht não pode mais doar dinheiro para campanhas e partidos, mas está tudo bem se o Marcelo Odesbrecht fizer a doação?! Sério? Vocês acham bom o Adir Assad fazer doações pessoais? 
Espera... quem é Adir Assad? Tive que pesquisar: é um dos operadores do esquema, que usava as empresas Legend Associados, Soterra Terraplanagem e Locação de Equipamentos, Rock Star Marketing, SM Terraplanagem e Power To Ten Engenharia.
Aqui entra meu ponto seguinte. No exemplo Odebrecht, é fácil relacionar a pessoa física à jurídica. Mas e no exemplo Assad? Um belo dia, o tal Assad doa pessoalmente 1 milhão de reais a um candidato a prefeito e 1 ano depois, a Legend Associados ganha uma licitação na mesma cidade. Como relacionar os fatos? Só sabendo que Assad movimenta essa empresa. Se a empresa estiver em nomes de laranjas, a coisa complica bastante.
É o que a doação feita diretamente pela empresas descomplica.
Em outro aspecto, duvido que se consiga uma maneira legal de proibir a triangulação de dinheiro: empresa A doa x reais para a pessoa física B, que doa os mesmos x reais ao candidato C. Há dezenas de maneiras de mascarar isso: doando o dinheiro antes, doando o dinheiro depois, fracionando as doações da fase 1 ou da fase 2... Daí a empresa A doou aos candidatos C1 e C2 e o eleitor (ou mesmo o Ministério Público) não tem como saber. E se souber, tudo foi feito dentro da lei, e tudo acabou como já está.
Sinceramente, não é melhor deixas às claras quem está pagando o que, e combater de verdade os desvios e tráfico de influência? Na opinião deste blogueiro, sim.
Em passo seguinte, temos a doação de bens e serviços. O candidato C contrata a agência de marketing político B. Mas a empresa A, também cliente da agência, paga as duas contas em uma só fatura. Vai provar que isso aconteceu, agora.
Gente, o problema não está em como se compra, mas no fato de estar a venda. Simples assim.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Não é por 0,20%

E lá vem a CPMF de novo...



Bem, sendo honesto no texto, parece haver uma movimentação por parte do executivo no sentido de emitir uma medida provisória para recriar a infame CPMF, desta vez com alíquota de 0,20%. 
A matéria a que me refiro é esta, no UOL.
Bem... o tema é antigo e conhecido. Todos os problemas da CPMF já foram apontados, o pior deles é o fato de incidir de forma absolutamente heterogênea em diferentes cadeias econômicas. Também não faz o menor sentido o comentário de que atinge igualmente a todos, pobres e ricos. Uma pinóia: se é heterogêneo na economia, obviamente o será com indivíduos. Sim, deveremos ter a volta das confusas "conta investimento" e todos os trambolhos associados.
Também já foi discutido antes as vantagens do imposto: simples de entender, fácil de apurar e praticamente sem custo para arrecadar. E permite comparar o arrecado em impostos diferentes, potencialmente apontado sonegadores. Inclusive, nem é um imposto tão elevado assim.
O ponto central aqui é outro. Aliás, outros, pois são dois.
O primeiro é o fato de o governo não querer cortar a própria carne. Não falo de programas sociais ou investimentos: falo do custeio da máquina. Todos apontam os 39 ministérios. Todos apontam os novos carros dos senadores. A lista é imensa e nunca é tocada nos cortes. Nunca. O governo atual parece entender que tem direito a esses privilégio, o que é contradição até mesmo semântica. Pessoalmente, até entendo que os cortes na máquina não seriam suficientes. Mas pelo menos dariam uma sensação de "fizemos o possível, mas não foi suficiente". Mesmo pagando absurdos em impostos, o incômodo em pagar mais um seria menor. 
Mas meu segundo ponto é o quanto o atual governo está desconectado da realidade do cidadão brasileiro. A CPMF é um imposto antipático e odiado pela população em geral. Aliás, boa parte desse ranço foi criado pelo próprio PT enquanto oposição, pois ela nasceu em 1993, ainda em incarnação anterior (IPMF). Mas o governo parece simplesmente não notar isso. Parece não compreender que isso incomoda. Parece não ser capaz de sintonizar os sentimentos da população. Fosse, viria a público explicar com algo do tipo "sabemos que ninguém gosta, mas é necessário". Isso aliviaria as tensões. O governo Dilma 2 está completamente perdido, sem rumo algum.
Por último, descubro aqui que a origem teórica desse imposto foi Keynes, sempre ele. Cada vez gosto menos desse cara.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sobre Babacas

Finalizando com atraso um assunto que comecei aqui, seguem as conclusões a que cheguei sobre como não ser babaca. A questão central é que não se trata de um manual de regras, mas de procedimentos. Não, não são a mesma coisa, por milhas.
Basicamente, o problema é muito mais complicado para brasileiros do que para americanos (de onde veio o assunto inicialmente). Se o amigo leitor tiver um amigo americano, perca alguns minutos folheando as publicações dele, e você notará as seguintes diferenças significativas:
- postagens muito menos frequentes
- espectro de assunto muito mais fechado, possivelmente monotemático
- profundidade / utilidade maior em cada postagem
Isso é crítico para entender o ponto central: os americanos têm uma visão mais centrada de seus perfis de facebook. Alguns só usam para atividades profissionais, outros para temas sociais, outros para assuntos culturais. Mas rara é a mistura. Já os brasileiros são multifacetados: postam sobre o trabalho, cinema, família, futebol, política e religião. E, claro, gatinhos.
Isso é um reflexo das diferenças de nossas sociedades: um americano é cobrado a ser incrivelmente bom em um assunto, e apenas nesse assunto. Um advogado americano pode ser incapaz de usar um pendrive e precisar usar taxi por não saber dirigir se for um advogado vencedor de causas. Um ativista dos direitos humanos pode estar endividado até o pescoço e com a saúde em frangalhos, desde que consiga vitórias para sua causa. É sempre assim. 
Daí, o perfil deles no facebook refletirá apenas aquilo que ele é bom, independente de gostar de outras coisas. No exemplo do advogado, esperam-se posts sobre causa e pareces jurídicos. No caso do ativista, protestos e conquistas realizadas. Para nenhum dos dois fotos de gatinhos são boa coisa. As fotos de gatinhos são válidas para o dono da petshop ou para o ativista de resgate de animais. Mas estes só podem ter as fotos de gatinhos, nada de nerdices, política ou whatever.
Não são melhores nem piores que nós. Diferentes.

Então, o amigo leitor que pretende ser visível a olhos americanos precisa abdicar do que não for pertinente aos olhos que pretende agradar. Não se ofenda: se você quer brincar no play deles, siga as regras deles, oras.
Do nosso lado, isso acontece em menor intensidade, mas acontece. Já temos por aqui o fenômeno hater, embora em menor escala (a meu ver). Isso obriga cada um de nós a filtrar o que é postado em nossas timelines, primeiramente por nós mesmo, e em seguida por terceiros.
Siga, então, o seguinte roteiro:
- defina claramente para quem é seu perfil
- pense o que agrada e o que desagrada o público alvo de seu perfil.
- direcione as postagens para esse público alvo, filtrando o que desagrada.
- inspecione periodicamente o que for postado por terceiros.
- como brasileiro é mimizento até a medula, não adianta pedir para não postar determinado assunto: comece apagando e, se não der certo, feche a timeline.

No fim, algumas linhas práticas do que não fazer:
- evite postar demais: vai parecer desocupado (mesmo que seja mesmo um)
- evite correntes, informações falsas e exageros
- ninguém está interessado em 208 fotos da sua última viagem. O face pode ser um bom repositório na nuvem, mas não espere que os outros vejam: use álbuns privados
- ninguém está interessado nas fotos do seu bebê recém-nascido. Nem no seu gato.
- já sabemos em quem você votou na última eleição desde... a última eleição. Get over it.
- tem certeza de que este post sobre seu trabalho é uma boa ideia ? Na dúvida, não é.
E do que faz:
- Sim, as pessoas gostam de informações sobre cultura em geral. Divulgue uma vez um bom filme/livro/série/programa que tenha gostado.
- Sim, as pessoas ficam felizes por você. Então poste uma vez sobre algo muito bom, mas depois pare.
- Sim, divulgue informações verdadeiras e importantes.
- Sempre, sempre, divulgue a fonte e agradeça a origem dos dados, informações e opiniões divulgados.

Acho que é isso.
Comentários ?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Ausência

Peço perdão ao amigo leitor.
Sumi, não deixei endereço e nem mandei cartão postal. Pior: não avisei antes que sumiria.
Este post visa não apenas pedir desculpas, mas deixar claro para todos, inclusive para mim, que não desisti de blogar. É gosto, é interessante. É um espaço meu, onde escolho o tema, posso me posicionar sobre ele como achar melhor e deixar isso registrado para sempre nos cantos perdidos da internet. 
Também me ajuda a escolher palavras e maneiras de colocá-las. Essa parte é decisão minha: muitos blogueiros não se importam se vão magoar ou ofender alguém com o que escrevem. Eu me importo. Uso o blog para treinar como evitar isso. 
Erro.
Acerto.
Continuo.

As últimas duas semanas tem sido bastante ocupadas com planejamento de viagem, festa de casamento, trabalho intenso e parente próxima doente. Agora já nem tanto, devo acalmar a todos. São quatro fenômenos que coincidiram. 
Conto com a compreensão (e audiência) de todos.