sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Cunha x Dilma

Ouvi pela manhã, na rádio CBN, um comentário de Merval Pereira sobre a situação de Eduardo Cunha após as denúncias de ontem. "Está acabado", posso resumir assim.
Claro que isso levará meses, como levou com tantos presidentes de casas legislativas anteriores (Jáder Barbalho, Severino Cavalcanti, Antônio Carlos Magalhães... será que esses caras não sossegam não ?!).

(Pink e Cérebro: o leitor pode escolher quem é quem)

Pereira discorreu o mais sucintamente possível sobre o processo. Será um vai e vem de acusação e defesa, passando pelo plenário do STF, já que o sujeito tem foro privilegiado. Apontou que o poder de Cunha não desapareceu, mas vai minguar à medida que o processo tramitar.
Faz sentido. E que bom.
Ele então mencionou o papel da oposição no caso. Apontou que o PSDB e o DEM estão neutros demais, e que deveria se posicionar logo contra o Cunha. Também apontou que qualquer pretensão de passar um impeachment de Dilma começa mais fraca se for apresentada por Cunha.
Faz sentido. E que mal.

De novo, não estou discordando da análise do Pereira, ao contrário. O que me deixa muito incomodado é as coisas serem como são. Um presidente de casa legislativa acusado de seja lá o que for não deveria fica enfraquecido, deveria ficar afastado até as coisas se resolverem. Que volte se inocentado, oras. A casa perde influência, e o tal sistema de equilíbrio dos poderes balança. O tal presidente enfraquecido não consegue aplicar sua pauta, por "não ter moral junto a seus pares".
Ora bolas, isso também não faz sentido. Afinal, os deputados estão analisando propostas ou a força de quem a propôs? Faz alguma diferença quem teve a ideia? Se Hitler ressurgisse do inferno com uma ideia que conseguisse erradicar a fome ou o analfabetismo, a ideia seria ignorada apenas por ele ser um crápula?
Uma proposta ou um projeto de lei é bom ou ruim independentemente de quem o propôs. Isso é lógica básica, rudimentar até. Descartar pelo fato do autor se corrupto (ou comunista, ruralista, evangélico, da bancada da bola, etc.) é a definição de ad hominem: ataca-se o autor e não a proposta.
É ridículo que seja assim. Perde o país inteiro com esse tipo de comportamento mesquinho dos legisladores. Essa vontade de aparecer, de fazer média, de participar do jogo de influências joga a democracia representativa no lixo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Babaca

Babaca.
Em inglês*, douchebag.
Em alemão*, depp
Em francês*, douchebag
Em italiano*, cretino.
Em espanhol*, gilipollas.
*de acordo com o google tradutor.

Outro dia tive uma conversa nível épico com o amigo Leandro Rodrigues, que me alertou para uma visão que os americanos têm das pessoas através de redes sociais. Fui desafiado pelo Shifu Danillo Cocenzo a fazer um vídeo sobre isso, aceitei o desafio, mas como sou frouxo, vou escrever. Mas sim, Danillo, eu entendi o desafio perfeitamente e ficou para outra oportunidade.
A frase do Leandro foi: "não deixe os outros fazerem você parecer babaca". Mas o problema inicial é definir o que é "babaca" para só então você poder evitar que as pessoas te façam parecer um. Então discorro sobre o babaca (comportamento e espécie) para depois, em outro post, tentar não me tornar um. Corro o sério risco de errar fundamentalmente na parte 2 ao fazer a parte 1.

No Michaelis, achei como sinônimos: tolo, bobo, boboca. Deixei de lado o primeiro significado, por questões... estéticas.
O Dicio sugere os mesmos termos, suspeitamente na mesma ordem.
No Aurélio ajudou mais, e escolho os significados: 
2 - Que não é estimulante, interessante ou relevante.
3 - Que ou quem é muito ingênuo.
4 - Que ou quem tem pouca inteligência ou capacidade de decisão.
Na minha opinião de linguista leigo e torturador eventual do vernáculo, deveria ser uma soma, ou pelo menos combinação, dos significados. 

Já começa um problema aqui. Se uma pessoa faz um comentário que você não gosta e você reage chamando-o de "babaca", temos um conflito com o significado 2. Estimulante foi sim, ao ser irritante, ainda que reste ser um comentário de pouca inteligência. Então babaca seria ouvir, sabe-se lá porque, uma conversa sem qualquer análise pertinente entre duas pessoas desconhecidas sobre um assunto raso. No meu caso, duas senhoras repetindo frases da novela das 8 seria uma conversa babaca, na medida em que é desestimulante e sem inteligência alguma por ser apenas um apanhado de frases dos últimos capítulos.
Foco em "no meu caso". 
"Meu": primeira pessoa.
O leitor percebeu a sutileza? Espero que sim, mas escreverei (falarei) mesmo assim. Algo ser ou não estimulante é um conceito pessoal e individual, que varia com os interesses, histórico, bagagem cultural e até o momento em que se passa o fato. Não fica mais subjetivo que isso.
Minha bagagem cultural / de interesses inclui montes de nerdices, mas não todas. Adoro filmes, séries, livros mas não tenho paciência alguma para, por exemplo, programar computadores (coisa que fiz em um passado remoto, com relativa competência). Então dois caras debatendo código será algo necessariamente desestimulante para mim. E se, por acaso, eu achar os dois (ou um deles) falando besteiras, temos uma conversa babaca e, por conseguinte, uma pessoa babaca. Para mim. Certo de que o amigo dele discorda, e com razão, ao menos, etimológica. Então sujeito babaca é aquele que faz coisas babacas. Ok, segue.
Voltando às redes sociais, posso comentar aquilo que eu acho babaca. Mas com que utilidade, se o leitor tem interesses, ainda que ligeiramente, diferentes do meu ? Seria babaca uma postagem dessas ? Certamente.

Ai, ai... está complicado.

Comento então o que faço quando vejo algo babaca, para tentar fechar esta conversa: nada, porque não faz sentido! Quando vejo uma postagem que me desinteressa, pulo para a próxima rápido o suficiente para sequer poder citar exemplos(1). Se é desestimulante, requisito para ser babaca, é porque sequer merece atenção, que dirá um comentário. Talvez com o tempo, eu note que uma pessoa só posta coisas babacas o que faz dela um babaca !
Então é hora de deixar de seguir, pelo menos. 

(1) além, claro, das fotos de gatinhos(2).
(2) gosto de gatos, mas acho babaca(3) ver montes delas no Facebook.
(3) foi babaca da minha parte dizer isso ?

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

TFC

Bem quando eu achei que não tinha mais nada para descobrir em lutas...


Agora divirtam-se no canal ou vídeos similares. 
Pessoalmente, acho que eles deviam usar camisas de times de futebol. Fica mais... realista.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ecologia Vegana

Existem veganos e existem veganos ativistas. Este post é para os ativistas.
  • Conceitos

Antes, alguns conceitos, pois a terminologia está bastante mal empregada hoje em dia. E com a estupidez endêmica que assola a sociedade, só tende a piorar.
Meu primeiro contato com a palavra vegetariano era "pessoa que não come carne bovina". Tipo assim: não é isso, entende? Vegetariano é o sujeito que não come carnes, em uma definição bastante solta e imprecisa. E ainda há variações. Então vamos a elas:
Ovolactovegetariano é o sujeito que não consome carne. 
Ovovegetariano é o sujeito que não consome carne ou laticínios, mas consome ovos.
Lactovegetariano é o sujeito que não consome carne ou ovos, mas consome laticínios.
Vegetariano semi-estrito não consome carne, ovos e laticínios, mas consome mel.
Vegetariano estrito não consome carne, ovos, laticínios nem mel.
Menção honrosa para um caso do Maurício Jabur, que contou de uma pessoa que viveria noma boa sem carne, mas não podia ficar sem bacon: baconlactovegeteriano
Já há considerações aqui: enquanto uma pessoa, digamos, comum pode comer mais ou menos sem se preocupar demais, os vegetarianos (sic) precisam planejar sua alimentação com cuidado proporcional ao, digamos, radicalismo. Não é incomum precisarem de suplementos alimentares pelo simples fato de serem vegetarianos (sic). Mas aí, cada um é cada um...
  • Causas / Motivações
O que leva uma pessoa a ser vegetariana (sic) ?
As razões são de cunho religioso, médico, cultural-ideológico (que não deixa de ser religioso), estético e econômico. De modo geral, é uma combinação variada de todos eles.
  • Vegano
O Vegano é um caso a parte, um pouco diferente: é o sujeito que não concorda com a exploração de animais pelo homem. É, portanto, muito mais complexo do que tratar apenas de alimentação pois envolve vestuário, cosméticos, lazer, medicamentos e todos os demais aspectos da vida humana. 
Etimologicamente, um vegano deveria ser, antes de mais nada, vegetariano estrito. Não sou um, nem convivo com algum para afirmar se são assim mesmo.
  • Ativismo
Até aí, ok. Todos tem o direito de fazer o que quiserem de suas vidas. Mas surge então o ativista, aquele que quer que o planeta inteiro faça o que ele está fazendo já, agora, imediatamente, neste instante ou a galáxia inteira vai explodir dolorosamente no pâncreas dos que discordarem. Ou algo assim.
Na prática, tentam convencer os carnívoros (sic aqui também, pois na verdade somos onívoros) a mudarem seus modos de viver. Para isso, começam os argumentos dos mais variados, e vou me atentar ao ecológico, título deste post (até que enfim !)

O argumento ecológico faz contas e mais contas para afirmar que o planeta não comporta 8 bilhões de carnívoros (sic). Mostra que o gado gera quantidades intoleráveis de gases de efeito estufa. Mostra que a produção de gado estaria desertificando o mundo (embora neste caso, haja estudos em contrário). 


O divertido do argumento ecológico é "se todo mundo resolver comer carne, o mundo o não aguenta. Logo, não coma carne". Já há aqui um non-sequitur interessante. O mundo já tem vegetarianos (sic) pacas, mas parte deles é assim por questões econômicas: não comem carne por serem pobres. Mas com o crescimento econômico e consequente inclusão dessa massa de gente, muitos estão incluindo a carne em suas dietas. 
Ora, não seria mais fácil convencer essas pessoas a não incluir a carne do que os carnívoros a mudarem? Por que eu tenho que deixar de comer carne uma vez que alguém no Camboja recebeu uma promoção da fábrica de ipads e agora quer um bife? Falem com eles, oras.
Mas não é essa minha sugestão. Partindo da premissa duvidosa e não comprovada de que o planeta não suporta 8 bilhões de carnívoros, minha sugestão é outra: parem de ter filhosUma política planetária rígida de 1 filho por casal reduziria a população do mundo à metade em cada geração. Em 3 gerações voltamos ao 1 bilhão e há carne suficiente para todo mundo.
Se você pensar bem, leitor, verá que há tantos outros benefícios nisso, que dá até raiva de quem achar que é piada. Mas deixo esses para outro post.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Fica, Dilma !

(ficou longo, desculpem-me)
Tenho dito isso de forma sucinta e desconexa. Acho que é hora de organizar o pensamento. E me preparar para a porrada, pois desta vez devo arrumar treta com os dois lados do debate...


Há dois debates em curso no país. Por um lado fala-se de impeachment. Por outro, fala-se de renúncia. Não são a mesma coisa, por milhas. São raízes radicalmente distintas, procedimentos que sequer ocorrem na mesma esfera poder e com efeitos completamente distintos tanto nas instituições como no cenário eleitoral futuro. A única coisa em comum é que resulta no fato de Dilma não ser mais a presidente: todo o resto diverge.
  • Vamos a alguns conceitos:

- A tese do impeachment baseia-se nas irregularidades cometidas pela presidente enquanto presidente ou enquanto candidata à reeleição. Mesmo aí tem outro erro: se a irregularidade foi cometida pela presidente, falamos de impeachment propriamente dito, mas se o problema foi com a candidata, trata-se de cassação (sim, eu tive que checar a grafia disso). O impeachment tira a presidente enquanto a cassação tira a chapa toda (Dilma/Temer). Ambos podem levar à novas eleições para mandato tampão, dependendo de quando e como forem feitos. Não muita certeza desses prazos...
- A tese da renúncia é diferente: a presidente não agrada quase ninguém mais. Fala-se em 6 a 7% de apoio, o que me parece um índice aceitável pelo que tenho visto e principalmente deixado de ver: a turma do "13 e confirma" desapareceu das redes sociais e agora posta fotos de borboletas e receitas de comida, tamanha vergonha que têm do que fizeram nas urnas em 2014 (e 2010, e 2006 e 2002...)
- Pessoalmente, eu odeio o PT e quase tudo que ele faz ou presenta hoje em dia. Quero que o partido se exploda o quanto antes. Não é surpresa para o leitor de longa data, mas achei importante registrar isso aqui para depois colocar minha opinião sem que o leitor estranhe demais.
  • Procedimento

A renúncia é um ato unilateral de um mandatário. Não depende de absolutamente ninguém para ser levada a cabo. Pega um papel de queijo, pede pra sair, e vaza. Ocorre dentro do Executivo, portanto.
A cassação é um procedimento dentro da justiça eleitoral, para a tese de irregularidades de campanha. Já devia ter sido feita, e duvido que venha a ocorrer, o que mostra (de novo, e mais uma vez) que o Judiciário é o maior problema do país. Lembremos que Collor foi impedido pelo Congresso e nunca condenado pela Justiça.
O impeachment é um processo político, dentro do Congresso Nacional. Obviamente, Poder Legislativo. Leva algum tempo, muito stress, muita gente querendo aparecer na imprensa. É um bafafá interminável e um mimimi que jamais veremos o fim pelo lado de quem perder.
Apenas para citar casos, Jânio renunciou, Collor foi impedido e não há casos de cassação de presidente no Brasil.
  • Consequência Imediata
Se Dilma sair ou for impedida, Temer assume e completa o mandato até 2018. Claro, se ele não for impedido também. 
Se houve cassação, Temer cai junto. Pelo que entendi, isso feito até o final de 2016 provocaria novas eleições para completar o mandato. Depois disso, o presidente da Câmara (GASP !!!) assume e completa o mandato (CF 88, artigo 80).
  • Consequência para as Instituições
Quer saber mesmo? Nenhuma em todos os casos. 
Sobrevivemos ao impeachment de Collor em 92 sem nenhum sobressalto institucional. Quando Mário Covas faleceu em 2001, todos sabiam que Alckmin seria o governador do estado. Não seria diferente em caso de renúncia, algo que o próprio Alckmin fez em 2006 para sair candidato a presidente.
A novidade seria o caso da cassação. Essa sim poderia gerar uma batalha longa, termos jurídicos se proliferariam na imprensa e, junto aos ministros da economia e técnicos de futebol teríamos 200 milhões de juristas em poucas semanas. 
E ainda assim, vida que segue.
  • Consequências Eleitorais

Aqui a coisa toda muda, e bastante. 
Um cenário de cassação permitiria não apenas uma batalha jurídica, mas ao PT tentar sair como "vítima de uma conspiração das elites". No caso provável da economia não se recuperar até 2018, o PT poderia se postar como oposição ao que eles mesmos fizeram, até mesmo com Lula encabeçando a chapa, e com os mesmos coiós de sempre apoiando: PSOL, PSTU, PCO e o escambau.
O cenário de impeachment é politicamente mais estável, por incrível que soe no primeiro momento. Uma vez feito, os partidos se fecham contra o PT. Poderiam lançar candidatos próprios à eleição de 18, mas jamais se aliariam ao PT: o custo em votos seria altíssimo. Se os grandes partidos se alinharem, teriam chances de fazer o presidente sem maiores sustos.
Um cenário de renúncia é mais caótico neste ponto. Dilma assume sozinha o custo político por tudo que está acontecendo. Temer presidente teria que buscar o apoio do PSDB, empurrando o PT para a oposição, onde ele sabe se virar muito bem. O cenário é bem diferente para 18: os anos de economia ruim permitem ao PT, talvez liderado por Lula, lançar uma candidatura do tipo "não era assim quando estávamos no poder". Seria uma cara de pau de níveis épicos, e que não leva menos de 25% dos votos. Altamente temerário, portanto.
  • Meus Dois Centavos

Por itens, novamente:
1) Não sei se a presidente cometeu irregularidades por não ter acesso aos documentos analisados. O que dá para dizer é que, se não cometeu, ela seria uma aberrante exceção dentro do PT. O que digo é que provavelmente há base para se falar em impeachment sim, mas não posso provar.
2) Está mais do que evidente que ela cometeu irregularidades na campanha. O caso dos correios é o mais patente, mas há caixa dois de 8, talvez 9, dígitos. Já deveria ter rolado cassação e, se fôssemos mesmo um país sério, nem teria assumido o segundo mandato.
3) Dilma enfrenta uma onda de impopularidade aguda, que pode se tornar crônica com a continuidade da crise econômica e casos de corrupção sendo revelados. Pode ser que não suporte a pressão, mas duvido: ela tem cara de pau suficiente para sentar no trono e dizer "só saio em 2019". Eleitoralmente falando, tem toda a razão ao dizer isso.

Daí eu procuro o melhor para o país. Deixo meus amigos de direita escandalizados quando afirmo que o segundo mandato é melhor que o primeiro, mesmo desastroso como está. A crise que enfrentamos é consequência até mesmo de besteiras lullistas, mas pelo menos parece querer corrigir alguma coisa. Parece haver preocupação com a meta fiscal. A inflação alta finalmente preocupa o governo. Admitiram até mesmo que há crise...
Era isso que eu pensava até a última semana, a ouvir o pronunciamento do PT glorificando os aumentos de gastos do governo federal, raiz da crise econômica que vivemos. Isso me assusta muito. Mas o PT é conhecido por dizer uma coisa, fazer outra e ainda afirmar que é o mesmo e que esteve sempre certo, culpando a elite golpista por qualquer inconsistência encontrada. Se duvida de minhas palavras, confrontem o que eles falaram e falam sobre privatizações com as... privatizações que fizeram.

Da minha parte, eu quero Dilma até o final do mandato. Sério.
Sim, há base forte para cassação, base razoável para impeachment e pressão popular pela renúncia. Mas eu quero que ela seja cozida em fogo brando, grelhada, assada e frita exatamente onde está. Que sofra, que seja xingada, que destrua a história de 4 vitórias seguidas de seu partido em pleitos presidenciais, que seja figura pública non-grata em restaurantes, praças, shoppings e praias do país todo. Que vire pária, espúria e indigna. Que afunde junto de seu partido.
Mas jamais esquecida pela que fez.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Não é tudo culpa do Haddad

Ok, está na hora de falar algumas verdades estranhas, antigas, profundas e doloridas (para alguns):

O problema da mobilidade urbana não é o Haddad. Ele é apenas uma importante engrenagem na estupidez, mas não é a única, nem a mais antiga e, temo, não será a mais duradoura. Segue meu ponto de vista, em bases históricas e pontuando a coisa no tempo.

Comecei a prestar atenção à mobilidade urbana antes do termo ser cunhado, em 1989. Até então, na virada de 14 para 15 anos, meu mundo era andar de bicicleta pelo bairro e voltar suado igual um porco para o almoço do sábado, apenas para repetir a dose a tarde. Avenidas, ônibus, os corredores de ônibus criados pelo ex-prefeito Mario Covas... nada disso importava porque não me afetava.
  • 88

Em 89 a prefeita Erundina (pior prefeita que esta cidade já teve) fez uma esculhambação com dinheiro público. No bairro onde morava, Itaim-Bibi, estávamos convivendo com uma obra há anos, o túnel sob o rio Pinheiros. A prefeita recebeu a obra em andamento e, faltando 120 milhões de dólares para ser concluída, ela gastou 30 para interromper a mesma. Burra agudaNa mesma época, ela criou a municipalização dos ônibus, na qual pagava coisa de 200 dólares por ônibus por dia como forma de arrendamento para a cidade controlar os coletivos. Esse valor pagaria um ônibus de turismo de luxo pelo mesmo um dia.
Foi quando eu comecei a usar ônibus: minhas atividades começaram a sair da fronteira do bairro e não tinha como pai e mãe ficar me levando para cada coisa que eu queria ir. E nem era minha vontade ser levado para lá e para cá. E notei que os ônibus não eram confiáveis: horários inconstantes, greves de motoristas e cobradores, pontos mal planejados... um inferno. Em 1991 veio o pico: fiz cursinho na  região da Ana Rosa. Sofri muito por usar ônibus em base diária e meu ranço com eles vem daquela época. Em palavras educadas, entendo que ônibus em São Paulo não são confiáveis como meio de transporte
E eu via também as decisões da CET sobre o trânsito e comecei a notar um padrão. As decisões era incrivelmente burras. Mudava-se a mão de direção de ruas com resultado pior. Sempre. Faixas mal pintadas, falta de sinalização... era uma cagada atrás da outra. Formulei então a teoria de que a CET foi aparelhada pelo PT, por um bando de cretinos sem condições de estar ali.
  • 92

No final de 92, a cidade elegeu Paulo Maluf como prefeito. Achei que as coisas melhorariam em 93. 
Mas não. Muito caos se instalou na cidade com as obras feitas por ele. Os transtornos eram grandes, mas deveriam passar ao final das mesmas. Só que não. A CET continuava a fazer besteiras nas coisas simples. Lembro de transformarem minha rua de mão única em dupla sem nenhuma razão. Depois proibiram o estacionamento nas proximidades de uma esquina. Depois instauraram a Zona Azul, e voltou a ser permitido estacionar no mesmo ponto que antes prejudicaria o trânsito, mas agora com cobrança por isso.
Formulei então a teoria de que a CET continuava aparelhada pelo PT, pelo mesmo bando de cretinos, e que agora faziam tudo de sacanagem na tentativa de prejudicar o adversário político.
  • 96
E então Maluf elegeu seu sucessor, Celso Pitta (terceiro pior prefeito que esta cidade já teve).
Pensei assim: "evitamos o PT, mas a CET vai continuar a fazer besteiras". De fato continuou. Foi quando inventaram o rodízio municipal, radares foram espalhados pela cidade, túnel reversível... tudo piorava. Não posso mais falar de ônibus nesse período, pois simplesmente não os usava mais.
  • 00
Fudeu: deu Marta Suplicy (segunda pior prefeita que esta cidade já teve). Lá vem aquele chororô infernal de não fazer obras necessárias, que tudo tem que mudar, que a população carente isso, o pobre aquilo... Mas pelo menos, pensei, "a CET vai parar de sacanear". 
Então... não.
Foi uma surpresa. Minha tese de eles estavam aparelhados por petistas babacas se dissolveu como Tang em uma cachoeira. Espalharam Zona Azul por todo canto, os corredores de ônibus foram esquecidos, túneis que começam e terminam em faróis... uma estupidez maior que a outra.
  • 04
Ninguém quis saber de Marta: era a vez de José Serra. Que mal esquentou a cadeira e deixou o cargo para Gilberto Kassab.
E com eles veio a Controlar, que poderia ser uma coisa boa ao se retirar veículos sem condições da cidade, mas virou apenas um aborrecimento burocrático com, claro, pagamento de uma taxa.
  • 08
No confronto direto entre as duas última administrações a cidade optou pela mais recente: Kassab foi reeleito contra Marta. Foi o primeiro prefeito reeleito, sendo que ele mesmo não era o cabeça da chapa anterior. 
E foi na gestão dele que começaram a reduzir as velocidades de algumas vias. Logicamente, as que tinham radares. A Controlar pegou de vez. Falaram em aumentar o rodízio e a indignação foi geral. Não teve coragem de falar em pedágio urbano. Criou sérias dificuldades para os fretados em 2010, que transportam centenas de milhares de pessoas por dia, sem razão alguma.
  • 12
Vem Fernando Haddad, atual prefeito. O cara chega com pose de moderninho, de bom moço. Mas logo começa a fazer bobagens usuais, mas nenhuma de destaque. Depois dos protestos de 2013, o cara perdeu completamente o rumo. Sei lá, deve ter achado que era com ele (também era, mas não só) e não soube lidar com isso. 
Primeiro, saiu fazendo montes de faixas de ônibus. O conceito é correto, desde que elas tenham um mínimo de critério. Não tinham. A faixa da avenida 23 de Maio é o exemplo. A da avenida Jaguaré, outro:


Algumas delas demandavam algo mais do que pintar o chão. Daí ele inicia as obras pertinentes. Ok. 
E paralisa poucos meses porque surgiu uma ideia brilhante: ciclovias. É uma beleza de ideia: pegue uma via abarrotada de carros, remova uma faixa inteira, deixando 33% (redução de 4 para 3 faixas) ou até 50% (redução de 3 para duas faixas) mais abarrotadas, para que essa faixa, pintada na cor do partido do prefeito, permita o uso por bicicletas.
Isso mesmo: uma cidade grande, cheia de morros, onde chove sem aviso e sem lugar apropriado para estacionar as bicicletas tem centenas de quilômetros de ciclovias. Claro, da mais elevada qualidade:





"Que beleza!", diria o narrador.
Verdade seja dita, a da Paulista, mesmo com algumas falhas corrigíveis, ficou bacana. Mas não salva a média, recheada e mancas de tirar o emprego do Bozo.

Conclusão

Olhando o contexto todo, vemos que o problema não é o atual prefeito. O que ele fez foi (1) manter os estúpidos nas função de "planejamento" e (2) dar ouvidos a eles. Sim, ele tem sua parcela de culpa por isso.
Não é o prefeito quem pinta a faixa no chão ou faz a ciclofaixa onde tem árvore. Não é ele quem pinta o buraco. Não é ele que sugere fechar a Paulista todo domingo. Não é ele que tem a ideia de reduzir as velocidades das marginais deixando vias mais perigosas para depois. Mas ele deveria ser o cara que demite o cara que é chefe do cara que fez isso. Algo assim.

O problema é que esses caras da CET são gênios do mal que há décadas não acertam uma. Uma. Deve ser gente que odeia a cidade e quer prejudicar os paulistanos de todo jeito. O prefeito tem culpa de não dar cabo disso. Como tiveram culpa todos os que vieram antes dele. No momento, ele é quem tem a caneta para nos livrar dessa gangue perversa. Não sei o que leva essas pessoas a agirem assim, mas minha melhor teoria é essa. 

A teoria alternativa é ainda mais terrível:









quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Alguém explica pra mim ?

Vamos imaginar um carro com características específicas. Trata-se de um carro para uso especificamente urbano. Ele não tem como passar de 60 km/h por nada neste mundo. Não importa a motorização, o combustível (elétrico ?) nem a quantidade de passageiros (1, 2, 20...): o fato é que ele não anda rápido nunca. O uso é exclusivamente urbano (chega a pegar até a pista central das marginais paulistanas...). Além disso, por algum dispositivo qualquer, esse carro não anda em estradas. Não importa como, ele não vai nelas. 
 Pode ser uma aberração como o Twizy, da Renault:

Twizy: até onde o mal gosto pode chegar ?

Pergunto: devido à baixa velocidade de deslocamento, poderia essa carro não ter cinto de segurança? O leitor mais atento notará que o Twizy tem, mas não estou falando dele, estou elocubrando. Novamente: pode ter o cinto dispensado?
Bem... não né ? Afinal, acidentes podem acontecer e mesmo a 60km/h o impacto pode ser sensível e perigoso.
Ok.
Então...



Por que ônibus não precisa de cinto de segurança, hein?
Aliás, o que são essas eternas e insuperáveis barras de ferro por todo interior do coletivo, onde qualquer passageiro, especialmente idoso ou criança, pode bater a cabeça em caso de colisão ou mesmo freada brusca?
Acho engraçado, para não dizer triste, essa confusão de critérios. Lembro das tais cadeirinhas para crianças que se tornaram obrigatórias nos carros, mas não nos... taxis. Ora, se são tão necessárias assim, deveriam estar também nos taxis, vans, ônibus e trens!
Daí a gente fala que essas coisa são apenas para vender acessórios, e o pessoal se ofende...