segunda-feira, 29 de junho de 2015

Presente de Grego

Ok, com o anúncio feito ontem de feriado bancário de 1 semana (!) na Grécia, torna-se necessário dizer o óbvio: a Grécia foi pro vinagre. Então vamos falar um pouco sobre o que acontece lá.
  • Causas
A Grécia gastou o que não tinha e agora não tem como pagar o que gastou. Simples assim. Sou um radical opositor do conceito de se permitir governos contraírem déficit público. Entendo que isso possa acontecer momentaneamente, por uma queda de arrecadação de tributos, mas vejo isso como um cheque especial do banco: você usa para fazer um ajuste rápido e só.
O que me deixa curioso na parte da origem do problema é que contas nacionais são grandes demais para ficarem camufladas. Então foi permitido à Grécia fazer o que fez. Foi permitido por agentes internos, por outros governos, por bancos e pelos seus cidadãos eleitores, que foram mantando os governos onde estavam, sem nenhuma mudança radical de rumo, exceto uma no começo do ano, sobre a qual falarei em seguida.
Agora há uma fatura vencida de 1,6 bilhão de euros, tendo o governo menos de 100 milhões em caixa. Desta vez, os governos de outros países participantes do bloco do Euro não querem rolar a dívida, com quem diz: "Chega disso, criança. Comporte-se ou vai ficar sem mesada". Tratas-se mais de uma questão de comportamento fiscal do que de dinheiro, já que esse montante pode facilmente ser coberto por diversos agentes financeiros sozinhos. 


  • Consequências
A fatura chegou e agora alguém tem que pagar. Mas não estou narrando 2015 aqui, mas 2013, 2011 ou mesmo 2008. O governo grego precisava cortar severamente as despesas para fazer as contas, ao menos, entrarem o eixo. Se você acha dolorido o ajuste brasileiro, o grego foi muito, mas muito pior. Houve corte de pessoal e redução (não achei o valor, mas lembro-me vagamente de algo como 40%) nas pensões, aumento de impostos sobre diversos setores e por aí vai.
O povo foi às ruas protestar. E protestou. E o ajuste jogou o país em recessão, como esperado, que perdurou. O povo foi às urnas e nelas protestou novamente. Desta vez, escolheram um governo de esquerda radical e aí pavimentada a estrada para o desastre: sua plataforma era não aceitar mais ajustes fiscais.
Simplesmente não faz sentido, aliás como nada que a esquerda fala faz. Entende-se e se compadece da dor do cidadão grego que nada fez errado, talvez até tendo votado em candidatos derrotados, mas pela irresponsabilidade de seu governo, vê-se atolado em uma crise financeira, sem pensão, sem dinheiro, sem nada. Mas recusar-se a pagar a dívida nacional simplesmente não resolve problema algum, como eles estão a ponto de descobrir. 
  • Novas Medidas
Para pagar essa conta, o governo precisa abandonar o Euro adotar uma nova moeda. Pessoalmente não vejo outro jeito. Tendo controle sobre sua nova base monetária, o governo pode emitir moeda, o que não pode fazer com o Euro, e com ela pagar as dúvidas. Mas não existe almoço grátis, e uma operação que dobrasse o meio circulante do país, grosso modo, contrata uma inflação de 100% em poucos meses, para não dizer semanas. Daí inicia-se o ciclo de negociações salariais, e cada aumento come um pedaço do que o governo conseguiu para saldar as dívidas e novo ciclo inflacionário fica alimentado. Essa é a origem da estranha, mas correta, afirmação de que salário gera inflação. Não que realmente a gere, mas a perpetua. O que na realidade acontece é que a inflação é um boleto bancário para cada cidadão pagar uma parcela do déficit nacional. E cada cidadão que consegue um aumento salarial esquiva-se, naquele momento, de pagar sua cota e o problema permanece até alguém por ordem na casa. Nada que não tenhamos visto aqui nos anos 80 e 90. E doía, né ?
Curiosamente, ou não, há um plebiscito marcado na Grécia para o próximo domingo sobre a permanência ou não na zona do Euro. Fico aqui imaginando, rindo da armadilha lógica e populista desse plebiscito: se o povo votar pela continuidade, o governo grego fica oficialmente insolvente e não tenho ideia do que isso acarretaria. Os bancos vão executar as dívidas, sei lá, penhorando prédios públicos? Ou o mais simples, acontece um calote generalizado e azar de quem tinha títulos gregos na carteira (pessoalmente, não fico com muita pena de quem financiou esse furdúncio fiscal, mas enfim...). Vale observar que o calote, como visto em diversos casos anteriores, contamina os ativos de praticamente qualquer instituição financeira do mundo, em maior ou menor grau.
  • E se sair ?
Expliquei o lado grego da desgraça, que perduraria sem surpresa por alguns anos, para não dizer décadas. Mas a Zona do Euro teria suas conseqüência que, confesso, falho em entender as causas. 
Imaginemos se o Maranhão ou Amazonas deixasse a Zona do Real: qual o impacto real na economia do Paraná ? Honestamente, nenhum. A Grécia detém 1,35% do PIB da Zona do Euro. Dados aqui (e que site !!!) e aqui, equivalente a algo entre o que os referidos estados brasileiros. Notem que não se trata de "vaporizar" a economia da Grécia, ou do Maranhão ou Amazonas: eles apenas deixariam de usar a mesma moeda. Nada impediria uma empresa de São Paulo vender para uma empresa no Maranhão que usasse uma moeda local chamada, digamos, sarneys (S$). O mesmo se a Grécia adotar a Nova Dracma: os gregos continuariam a pode comprar BMWs alemãs. 
Então não entendo, de verdade, as previsões apocalípticas sobre a Zona do Euro por causa dos gregos e suas tragédias. Alguns dizem que haveria corrida bancária na direção norte, fugindo-se de bancos de países potencialmente mais vulneráveis, mas isso nada mais é do que os problemas deles mesmos afugentando as divisas. Não culpemos a Grécia por erros similares, embora menores, cometidos por lusos, espanhóis, irlandeses e italianos.

A conferir.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Só Coisas Boas (2)

Ok, acho que consegui repetir a dose, pelo menos desta vez. Lembrando que comecei aqui a tentar, uma vez por semana, a fazer um apanhado apenas das boas coisas que fiz na semana.
A semana foi de ajustes, e isso se refletiu (ou causou ?) efeito nos resultados positivos:
- cumpri, para minha surpresa até, a meta de fazer ao menos 20 minutos de arrumação por dia. Até extrapolei no primeiro dia, e beleza. O fato é que ainda tem bastante coisa pela frente, e precisarei continuar com esse objetivo por pelo menos mais uma semana. 
- desenrolei uma atividade no trabalho. Depois de ficar empacado por um mês, finalmente entendi como fazer um estudo aqui pendente. Agora estamos progredindo.
- tive um ótimo momento ontem na academia ao ajudar o colega e amigo Laurêncio em uma técnica. O interessante é que é uma passagem da 2a forma de facão que sempre tive dificuldade de fazer, mas depois de falar para ele como fazer, fui demonstrar. Deixei então as palavras funcionarem comigo mesmo e eis que fiz a melhor versão até hoje daquele movimento. O que me contentou não foi apenas acertar o movimento, mas (talvez) ter aprendido a ouvir minha própria voz nessas situações.
- Terminei 2 filmes pendentes no Netflix, e deixei a 5a temporada de House pendurada por apenas um episódio.
- fiz novos ajustes no casamento, um deles importante. 20x importante, devo dizer.
- agendei a próxima viagem de mergulho para o feriado paulista (chupa, Rio !) de julho.
- voltei à programação da viagem de Lua de Mel, que avançou bem.

Nada mal para coisas positivas. 
As negativas? Esqueçamos delas.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Haiti é aqui

Qualquer um que more em São Paulo identifica-se de imediato com a essa afirmação. O que noto e inspira este post é o que vem depois dessa afirmação. Em geral, umas das duas:
- O Haiti é aqui, que merda.
ou
- O Haiti é aqui, que lindo.

Antes de mais nada é preciso pontuar que há um problema de amostragem sério a ser observado. Há um viés que, na minha falta de conhecimento de um termo melhor, chamarei de viés de importância. Então, se você viu no face ou na rua 12 pessoas escrevendo/falando algo como a primeira e 6 pessoas escrevendo/falando a segunda, lembre-se que você tem entre 500 e 1000 amigos, parentes ou conhecidos que também notaram a presença dos haitianos, mas a grande maioria não se importou o suficiente para emitir uma opinião. E, como sempre acontece em questões sociais, a grande maioria está em uma posição moderada sobre o tema. Não se deve, portanto, tirar conclusões do 12 x 6 de qualquer tipo. 
Isto posto, quero relatar minha impressão sobre o caso. Vamos começar com uma descrição simples: o Haiti sofreu 3 grandes tragédias nos últimos 12 anos (para arredondar a conta): um revolta em 2004 que derrubou o governo, uma tempestade tropical que deixou 3 mil mortos no mesmo ano e um devastador terremoto em 2010, com mais algo entre 46 e 85 mil mortos e centenas de milhares de desabrigados. É muito, ainda pior para um país com 10 milhões de habitantes. E então muitos deles optaram por se refugir em outros países.
Mas olhemos o mapa abaixo:

mapa da América Centra, Caribe e parte de América do Sul e do Norte

Quem quer fugir do Haiti precisa de um barco para ir a qualquer outro país... exceto a República Dominicana, a outra metade da ilha por onde se vai a pé. De barco, as opções mais próximas são Cuba, Jamaica, Colômbia, Venezuela, Bahamas, Estados Unidos e México. Não citei países de menor importância mas quero deixar claro que tem bastante lugar mais perto deles do que o Brasil. Escolher o Brasil é, no mínimo, mas trabalho para quem está em necessidades e precisa de um chão para dormir e um prato de comida pra ontem.
Além disso, nenhum desses países fala francês como eles. A opção mais próxima para se falar bon jour, exceto duas ilhotas no caminho, claramente é a Guiana Francesa, que é parte integrante da França. Não sei dizer se haitianos foram acolhidos em algum desses países, mas certamente eram opções melhores que o Brasil.
Daí não entendo, mesmo, o esforço feito pelo governo do PT em trazê-los para cá. Sim, amigo leitor, é coisa do PT, que não apenas os trouxe, mas os enviou para o Acre, estado dominado pelo PT dá décadas. Desculpa, gente, não consigo mais aceitar explicações humanitárias em nada do que o PT faz.
E tinha como acabar diferente, o Acre não deu conta dos refugiados e passou a enviá-los para... São Paulo. Nada de Rondônia, Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul (que ficam no caminho de quem vem de ônibus, mas São Paulo).
Sim, tem caroço nesse angu. Ainda mais se você pensar que os caras estão em dificuldades desde, no mínimo, 2010. Por que esperar 5 anos para mandar um refugiado para um lugar seguramente melhor ?
Definitivamente, tem caroço nesse angu.

Daí os caras chegam aqui, mal falando português e começam a lutar por suas vidas. E quando eu imaginei uma nova leva de trabalhadores na construção civil, como foram os nordestinos nos anos 60 a 80, fui surpreendido com... camelôs.
Ei, péra aí. O camelô precisa entender alguma coisa do que vende e precisa falar a língua local. E não adianta da uma de chinês e dizer "tlinta" sem saber o que é "tamanho grande". Notei um aumento na presença deles no segundo semestre de 2014. No final do ano, chegou o momento de fazer um contato, e comprei uma camisa de futebol para uma festa de final de ano da empresa. A negociação correu bem tranquila e o rapaz entendeu "maior" sem nenhum problema. Na ocasião, eu medi a camisa do Palmeiras em um colega corinthiano e o cara se afastou: "tira isso de perto de mim". Típica piada de boleiros brasileiro, o rapaz haitiano entendeu e riu conosco. Nova surpresa nisso. Esta semana, comprei um fone de ouvido de outro deles, na mesma região. R$ 10 por um fone excelente, com microfone ainda por cima. 
Gente, esses caras não vieram aqui a passeio, vieram a trabalho. Estão lutando com garras afiadas por um lugar na nossa sociedade. E estão conseguindo. Se um camelô não é exatamente um emprego formal, certo que não se trata de um bandido. 
Não sei o quanto um camelô é um empreendedor e o quanto ele é um elo em uma cadeia maior de suprimentos. Mas é certo que há uma dose de cada.
Sei que isso é uma amostragem besta. Já soube de haitianos trabalhando como frentistas, garçons, açougueiros, cozinheiros e, claro, construção civil. Mão de obra pouco especializada, mas dentro do tal "sistema". 


Isso me leva aos que os odeiam. Podem me explicar por que ? Sim, eu sei que já tínhamos, e temos, nossos próprios problemas aqui. Vejo sem teto e cracoleiros quase diariamente nos 2km que caminho entre minha casa e meu ponto do fretado. Será que esses brasileiros não precisavam de ajuda antes de irmos contratar mais gente precisando de ajuda no Haiti ? Sim, sem dúvida.
Só que neste momento, vejo os haitianos muito mais como solução do que como problema. Estão trabalhando, ganhando suas vidas honestamente e se integrando a nossos hábitos e nossa cultura. Gostei disso. E enquanto escrevo, por que o tais sem teto e cracoleiros não estão trabalhando e tantando sair da situação em que estão, hein ?

Então peço aos que se ressentem deles que repensem suas posturas. Deixa o haitiano trabalhar

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Só coisas boas

Ouvi isso hoje na rádio CBN, então comento. Uma pesquisa (não foi citada a fonte) apontou que pessoas que prestam atenção apenas às coisas positivas da vida são "25% mais felizes". Não se assuste, amigo leitor: os próprios apresentadores tiraram um sarro da questão da medição da felicidade. Isso é feito por questionários ou por níveis de dopamina das cobaias? Havia duplo cego?



Ok, trollagem a parte, devo dizer que o conceito fez sentido pra mim. E como a apresentado desafiou os ouvintes a fazer uma lista semanal apenas do que lhe aconteceu de bom, nada mais propício do que fazer isso na 6a-feira, dia internacional da cerveja. Complemento que isso está alinhado com este post, para quem não viu ou chego agora.
- Meu grande amigo e professor Rafael Garcia está de mudança para Fortaleza. Obviamente, não é a primeira despedida que enfrento. E costumo ficar triste, sou meio agregador de amizades e não quero que ninguém se afaste. Mas pela primeira vez conseguir ficar realmente feliz (e não apenas na máscara social) com isso. E fiquei feliz por estar feliz. Ah, vocês entenderam...
- Avancei muito na arrumação de minha estante nova. Ainda falta uma das portas, onde ficarão documentos e conta, mas sem dúvida uma vitória.
- Conheci a TSKF Itaim. Gosto de visitar todas as unidades e esta mudou-se há pouco tempo. Gostei, devo acrescentar. E fica a 200m de onde nasci e morei até os 24 anos.
- Imprimi os convites do casamento. Já não era sem tempo. 
- Terminei de ver a ótima Sense8.
Nada mal, hein ?

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Angra dos Reis - Dia 4: Só Alegria

E com isso, amigo leitor, chegamos ao dia final de nossa viagem. 
Pela manhã, depois do café e ansiosos pelo passeio, eu e Luciana oficializamos uma brincadeira com nosso equipamento. Usamos nadadeiras de mesma marca (Mares) e modelo (Avanti) e tamanho (Regular). Ela comprou vermelha, para combinar com as cores do equipamento e eu fiquei com amarelo. Mas então surgiu a ideia de trocar um dos pés, de modo a facilitar a identificação entre nós e pelos demais. 
E com isso nasceu o casal "Catchup e Mostarda". Melhor escolhermos nós mesmos o apelido, para evitar casos como "Netinho", "Vieirinha" ou "André não-normal". Caso venhamos a nos tornar fanáticos pela coisa, o Blog "As Aventuras de Catchup e Mostarda" surgiu nesse dia.
Voltamos ao barco Coral, novamente apenas entre novatos e navegamos por uns 30 a 40 minutos até a Laje Branca, uma pedra (conjunto de pedras ?) que aflora na superfície e que tem muita vida no entorno. O objetivo era, se o gás permitisse, circundar ela toda. Equipamos e caímos na água. Eu optei por entrar por último, pois tenho consumo elevado de gás e estava temeroso de sentir náuseas por ficar boiando.
O mergulho foi lindíssimo (Log #07). Vimos uma parede de uns 5m de largura por 8m de profundidade cheia de corais vermelhos. Também cardumes de sargentinhos, vários deles em tamanhos variados e um casal de tartarugas. Uma delas fugiu rápido, mas a outra achou por bem se esconder, o que deu errado. Vieirinha se divertiu com as fotos.
Meu gás estava perto do limite quando recebemos o sinal para subir. Ok, gastei muito mas não fui eu quem encerrou o mergulho. No início da subida ainda vimos um cardume de algum peixe azul inenarravelmente lindo. Enrolei um pouco para poder observá-los e então subi.
(Se você acha que leu isso no relato de ontem, pense de novo. Nunca que eu faria um relato trocado de dia, para depois apenas corrigir lá e copiar o texto aqui como se nada tivesse acontecido.)
Quem teve problemas na subida foi a Luciana. Engoliu água do mar na superfície e isso a fez desistir do segundo mergulho. Foi uma pena. 
O segundo ponto (Log #08), cujo nome me escapa, tem um helicóptero naufragado. Isso mesmo, amigo leitor: um helicóptero caiu ali e por lá ficou. Pudemos ver os corais se formando nele, um barato. É tão calmo que eu poderia ficar ali todo meu período de gás sem reclamar. Ainda assim, continuamos ao passeio. Eu estava preocupado por trabalhar com uma dupla nova, a Sheila. Conhecia ela do grupo, mas nunca tínhamos operado juntos. Fica aí uma sugestão para a Staff Divers e outras escolas: exercícios trocando dupla, para os novatos se acostumarem a condições diferentes. Felizmente, a Sheila é extremamente responsável e foi tudo tranquilo. O tempo todo checamos o status um do outro, seguindo o livrinho. 
Esta região é mais acidentada, com pedras maiores e de tamanhos mais aleatórios. Ainda assim, nenhum problema ocorreu. E fomos premiados, no último instante, com uma raia que veio nos visitar. Não era das grandes, mas foi o melhor momento de um ótimo passeio.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Angra dos Reis - Dia 3: Céu, Inferno e Céu

Acordei mergulhador. Bora curtir agora.
A temperatura subiu um pouco e as chances de outras corrente fria como que me surpreendeu na véspera acontecer era mínima (acho que não contei sobre isso...). O log de mergulhos estava bem atrasado e ainda pioraria um tanto. Mas bola pra frente.
Tomamos café no horário usual, com um pãozinho de massa folhada e queijo que estava matador. E logo fomos checar os equipamentos. 
Tudo em ordem, embarcamos no barco Coral, onde apenas os 8 novatos e seus instrutores estavam indo. A Staff Divers optou por separar as crianças dos adultos, claramente.
O ponto chama-se Ponta Grossa (Log #05), e confesso que ainda não conseguia ver muita coisa. Apanhando de mim mesmo no movimento e na flutuabilidade, uma simples distração me faz subir (ou descer) 4m antes que eu perceba. Não é algo que me chateie, apenas um ponto a ser trabalhado na técnica. Ainda assim, pude ver umas estranhas aranhas marinhas (sei lá eu se são artrópodes mesmo...) com patas longas e finas como destaque. Comecei a aprender a nadar melhor, usando outros tipos de pernada, e a girar o corpo para olhar em volta, especialmente para manter contato com a dupla. Terminado o percurso subimos sem necessidade de parada de segurança.
E subi para o inferno. Meu estômago embrulhou tão logo atingi a superfície. Algo estava muito errado. Ou subi rápido demais, o que não parecia ser o caso, ou eu realmente tenho problemas em boiar, ou mergulhar não é meu esporte ou algo assim. Foi forte, gente. E veio com pontadas de dor, digamos, desnecessárias. 
Subi no barco tão rápido quanto pude, desmontei o equipamento e me deitei. Por lá fiquei até voltarmos ao pier. Perdi o segundo mergulho, aquele no qual Luciana também teve problemas, que deveria ser no naufrágio do Pinguino.
Eu estava arrasado. Deixei uma boa grana em equipamento e tinha muita esperança de mergulhar no Havaí, em outubro. A viagem não deixaria de ser legal, até porque eu a programara antes mesmo de pensar em mergulhar, mas estava decepcionado. Assim fiquei a tarde toda, depois do almoço, quando optei por assistir a final da Champions League enquanto Luciana foi fazer uma trilha.
Ao anoitecer, Tatiana encontrou a mim e Henrique e disparou:
- Querem fazer um Discovery Noturno?
- Não dá - disse Henrique - preciso dormir um pouco
- Como é isso ?
- É para iniciantes, e você está certificado. Vai adorar, pois é tudo diferente.
Não parei para pensar. Eu estava de saco cheio daquelas náuseas, e passei a tarde toda pensando nelas. Era ridículo e eu deveria vencer aquilo. Não dei tempo ao meu corpo para ele se assustar:
- Sim. Quanto custa ?
- Putz, é com a Lurdinha...
- Dane-se: eu vou e resolvo com ela depois
Equipei o mais rápido que consegui. Henrique ainda me emprestou uma excelente lanterna de mergulho. Quando me dei conta, André estava equipando também e ia junto comigo. Só melhora. Andrei seria nosso instrutor. 
Ele ensinou alguns sinais básicos com a lanterna. Úteis e importantes. E simples, devo dizer. Relembrou os conceitos de segurança e partimos para a ação.
Entrei logo na água (Log #06). Não queria enrolar. Não queria dar tempo ao estômago para ele se ofender. Não queria deixar meu psicossomático agir. Afundamos e começamos a ver o que tinha a noite ali.
Bem... as cores mudam completamente com a luz noturna. Achamos uma parede com corais laranjas e amarelos em formações alternadas. Coiós e sargentinhos de sempre também estavam ali. Havia um tipo de alga/molusco/não sei que costuma ficar entocado durante o dia mas estava bem aparente à noite. Várias(os) por sinal, filtrando a água para se alimentarem. A lanterna do Andrei resolveu falhar e eu tentei ajudar com a minha. Fiz o melhor que pude, mas isso encurtou o mergulho para apenas 35 minutos.
Saí da água absolutamente zerado de problemas. Feliz, vencedor, dono de meu corpo meus órgãos internos, capitão de meu navio. Era isso que eu precisava: enfrentar a dificuldade e vencer. Só precisei mesmo dessa tentativa. 
Subi para o céu, notei depois. Eu era mergulhador de fato, e nada me tiraria isso mais.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Angra dos Reis - Dia 2: Prova Final

Ok, esqueci de colocar uma foto ontem. O problema é a falta delas. Fotos submersas exigem equipamento adequado e técnica de fotografia. Não tenho nenhum dos dois. Meu instrutor Vieirinha tem bastante coisa com ele, mas ainda não pude pegar. 
Então vai uma foto do dia anterior, a desagradável vista da varanda do meu quarto.


Depois de dormir decentemente, tomamos café e aguardamos uma vez mais no pier para mergulhar ali mesmo. Não tardou e estávamos na água, desta vez começando com o complicado exercício de equipar na água. Trata-se de colocar a colete montado dentro da água, e não em cima para depois pular. Pessoalmente, sou inexperiente demais para saber a aplicação dessa técnica. Só sei que não gosto dela. Mas fiz.
Depois afundamos para nova bateria de exercícios (Log #03). Remoção completa de máscara, subida completa com gás compartilhado com o dupla (duas vezes, afinal cada um tinha que fazer cada papel) e mais pivô. Isto feito, demos outro rolê pelo fundo, indo para mais longe e um pouco mais fundo. 
Em mergulho, alguns entendem que profundidade é o importante. Discordo e vou ficar com a fala do Henrique Miyamoto: mais fundo você diminui seu tempo de mergulho e aumenta o risco de problemas, mas em troca vê menos coisas. Claro que algumas coisas estão lá no fundo, mas para quem está começando não há necessidade alguma, pois tudo já é diferente.
A volta, no entanto, foi difícil. Meu estômago protestou fortemente, e uma forte náusea me pegou. Não comi o lanche de intervalo, o que alguns dizem ser um erro, e não melhorei nem com um comprimido de Vonau.
Como eu ainda tinha que validar minha prova, caí na água para o terminar o que tinha começado (Log #04). Combinei com Luciana um sinal para indicar que não estava passando bem e fomos. Os exercícios foram os mesmos do anterior, e ainda tive o disparate de trocar a máscara de mão durante a remoção. Pivô e subida compartilhada simulada sem problema algum. Mas quando fui sair para o passeio o estômago se recusou a ir. Sinalizei para Luciana e subimos. Uma pena.
Apaguei por 90 minutos antes do almoço, e ficamos por ali mesmo o resto do dia. Ao final da tarde, pelo menos recebi a confirmação de que todos fomos aprovados éramos oficialmente mergulhadores certificados. No entanto, eu estava pensativo sobre minhas reações estomacais. 
E ainda iria piorar antes de melhorar. 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Angra dos Reis - Dia 1: Viagem e Checkout

Então, dia 3 de junho, viajamos para Angra. Já comecei tudo com uma novidade: usei o Uber pela primeira vez, com enorme sucesso. Funcionou bem, motorista 5 estrelas, R$ 28 para levar quatro malas, duas das quais com alça, da Saúde para a Vila Mariana.
Chegamos na sede da Staff Divers, onde encontramos André e Henrique, e partimos de ônibus cheio.
A viagem era longa e cansativa, especialmente pelo horário. Fizemos uma parada para comer por volta de meia noite e chegamos a Angra por volta das 3h30. Jogamos as coisas em um barco, pois ainda havia a travessia de 1h até Ilha Grande. Pessoalmente, eu meio que dormi, meio que não, meio que não sei. 
O Sol começava a nascer quando chegamos à Pousada Nautilus, onde dormimos por 2 horas e meia, mais ou menos. Tomamos café e esperamos um tanto pelos dois primeiros mergulhos que aconteceriam ali mesmo, sem precisarmos de barco.
O primeiro mergulho (Log #01) foi bem tranquilo. Equipamos com calma e entramos pelo pier, com o chamado passo de gigante. Água gostosa de ficar e com equipamento bom, tudo fica mais simples. Vieirinha, nosso nipônico instrutor, estava sempre de olho na gente. Já tínhamos combinado os exercícios e logo estávamos no fundo. 
Fizemos alagamento parcial de máscara, compartilhamento de gás e recuperação de respirador. Ninguém deve problemas. Depois afundamos mais e fizemos o pivô, técnica que ensina a controlar a flutuabilidade. Depois fomos passear um pouco pelas redondezas. 
Neste primeiro passeio não vi quase nada. É normal os novamos estarem mais tempo pensando em respirar do que vendo coisas, e não foi diferente comigo. Claro que os sargentinhos, coiós e estrelas do mar estavam por ali, lindos como eu nunca tinha imaginado. As rochas também chama a atenção, com formações que não vemos fora da água. 
Fizemos o intervalo, durante o qual tivemos as instruções para o segundo mergulho (Log #02) sem pressa alguma e descemos novamente. 
Desta vez, fizemos a equipagem na água, o que me rendeu um corte na mão direita por esbarrar em um coral. Achei muito mais complicado e prefiro fazer no deck mesmo, ou dentro do barco se for o caso. Depois repetimos os exercícios da manhã, desta vez com mais desenvoltura, seguido de novo tour, para outro lado da região. Chegamos a 12m de profundidade neste. Na saída, meu estômago reclamou e fiquei com enjôos por uns 40min antes de conseguir comer.
A tarde foi para dormir, depois do excelente almoço servido pela pousada, já que tínhamos sono atrasado pacas. Jantamos, outra vezes muito bem, e apesar da soneca vespertina, estava todo mundo na casa às 9 da noite.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Mergulho: O Curso

Lá se foi um final de semana inteiro estudando para ser mergulhador. Sim, foi há alguns dias: 23 e 24 de maio. A coisa foi decidida meio na correria, e tomou um tempo que não tínhamos. Isso, inclusive, explica minha baixa produção aqui no blog.
O curso tem um total de 16 horas, o que nem é tanto assim se você comparar com, por exemplo, aprender a dirigir. E o grau de perigo, ou pelo menos as consequências dos seus atos, são similares: você pode morrer ou matar alguém se fizer uma besteira grande. Voltarei a isso mais a frente.
O formato normal do curso é um final de semana, com parte teórica pela manhã e prática à tarde. No nosso caso, devido a um processo de dedetização na escola de natação parceira da Staff Divers, fizemos todo o teórico no sábado e todo o prático no domingo. É um pouco pior, então fica a recomendação de dividir como originalmente proposto.
Longe de ser uma queixa, porém. Dificuldades acontecem para todos.
O curso teórico mostra um pequeno histórico do mergulho, exibe e classifica todos os equipamentos e mostra como eles funcionam.
Nunca deixe de respirar.
Depois disso, temos alguns critérios importantes de segurança. Questões como pressão, pressão parcial, efeitos do nitrogênio no corpo e os efeitos negativos da não observação dos procedimentos são vistas aqui. Eu não sabia que 30m de profundidade é um limite importante e que deve ser observado por causa dos efeitos da pressão parcial do Nitrogênio passar 3,2 bar. Se você não entendeu, não consigo explicar. Mas que é potencialmente perigoso, é.
Nunca deixe de respirar.
Depois vemos as regras de mergulho repetitivo, com o cuidado de calcular tudo em 3 tabelas que me deram breve revival da Poli. No final da parte teórica há uma prova de testes.
Nunca deixe de respirar.
O segundo dia foi a parte prática, quando acostumamos a usar os equipamentos todos. Roupa de neopreme, colete, cilindro, máscara, nadadeira, lastro, snorkel, respirador... cada coisa tem uma função e tudo age em conjunto. Não cabe explicar aqui.
Nunca deixe de respirar.
Na piscina, entramos de variadas maneiras, testamos cada item, sentimos o que cada parte faz. Aprendemos a nadar com a nadadeira, a controlar a flutuabilidade e a nunca deixar de respirar.
Não parece, mas cansa pacas. Pacas mesmo. Mas foi uma delícia.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Novo Skill: Scuba Diving

O sistema Daemon de RPG, que tenho orgulho de ter participado da criação e desenvolvimento, é considerado um sistema de perícias. Menos do que atributos, poderes, magias e outras coisas, o centro do jogo é rolar suas perícias de combate ou não-combate muitas vezes em uma sessão de jogo. Por isso os jogadores buscam aproveitar ao máximo os pontos que tem disponíveis. O cálculo dos pontos é baseado na inteligência e na idade do personagem. A idade reflete que o simples passar do tempo permite ao personagem aprender coisas novas.
Influenciado por minha própria criação, procuro todo ano aprender alguma coisa nova. Já fizeram parte disso os básicos que tenho de espanhol, o grande aprimoramento de meu inglês, planejamento de viagens internacionais, pintura de miniaturas, corte de sashimis e agora optei por Scuba Diving (Mergulho).
Não veio de dentro. Meu grande amigo André Leal sugeriu isso há coisa de 6 semanas, tendo em vista o planejamento em curso de minha viagem de outubro.  E em apenas 6 semanas estou certificado como mergulhador, já no nível 2.
Então começo agradecendo a um monte de gente, para a partir de amanhã contar como isso aconteceu. 
Primeiro, e mais importante, é ao André Leal. Experiente, ele viu a oportunidade se apresentar. Obviamente ele quer mais colegas de aventuras, mas principalmente quer dividir com o máximo de pessoas a diversão, alegria, benefícios, e curiosidades que só um mergulhador tem. Organizou uma vaquinha de proporções épicas para permitir que eu e Luciana fizéssemos o curso e a viagem de checkout. 
Claro, tenho que agradecer à minha noiva, e agora dupla, Luciana. Mergulho NUNCA é feito sozinho, e a dupla é a pessoa que está o tempo todo contigo durante o procedimento. É preciso entrosamento, diálogo, treino e muita, mas muita calma.
Em seguida, aos participantes da vaquinha. São muitos, nem mesmo o André soube enumerá-los com certeza. Entre citar alguns esquecendo outros e agradecer anonimamente, optei pela segunda. Vocês sabem quem são, mas não sabem o bem que me fizeram.
Na parte técnica, agradeço nominalmente a todos os envolvidos. 
Primeiro de todos, Glauco, instrutor do curso teórico e em piscina. Brincalhão, cuidadoso, técnico, atento, paciente e muito mais. 
Em seguida, ao Vieirinha, instrutor da minha turma de checkout. Outro poço de tranquilidade, está sempre sorridente e de bem com a vida. Ele tem um dos negócios mais diferentes que tive contato: cria codornas. Então segue o link da Granja Suzuki, em mérchand não remunerado.
Claro, preciso mencionar as duas colegas de turma, Justine e Mayumi. Justine é americana e, embora torça para os Seahwaks (ela é de Seatle) é um barato de pessoa. Por causa dela tivemos metade das instruções em inglês. Mayumi enfrentou sua dificuldade com... barcos... para fazer isso. Parabéns às duas.
Ao time todo da Staff Divers, incluindo Eric que estava ao meu lado para me ouvir no pior dos momentos, Tatiana que deu o ponta pé para a virada do jogo e Andrei, instrutor do Discovery Noturno (tudo isso a ser narrado no terceiro dia de viagem).
Por último, e não menos importante, Lurdinha Parra, maestrina dessa parada toda. Se a Staff Divers tem uma equipe de monstros na arte de ensinar e promover o mergulho, é a Lurdinha quem criou e mantém esse time, além de coordenar tudo que acontece fora da água.
Amanhã começo o relato dos treinos e viagem.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Um Muro com Pernas

Causou certo debate no Facebook esta semana um debate sobre mais um dos feitos fictícios de Ayrton Senna.
Tudo começou em matéria no UOL publicada dia 01/06/2015 e assinada por Julianne Cerasoli sobre o dia em que Senna abandonou uma corrida alegando que a batida que dera no muro ocorreu porque o muro se mexeu. Segue link. A matéria é o resultado de uma entrevista com Pat Symonds, então engenheiro da Toleman e hoje na Williams.
Vamos a algumas coisas que chamam a atenção na matéria. A primeira delas é a passagem "contou o inglês em entrevista exclusiva ao UOL Esporte". Porém, este blogueiro com espírito de auditor procurou algumas palavras chave no google e em menos de 5 minutos achou este link. É uma matéria em inglês, no site grandprix.com, assinada por Luís Vasconcelos e publicada dia 01/05/2015
Em primeiro lugar, faz bastante sentido uma matéria sobre Senna no aniversário de sua morte, e não um mês depois. Também é curioso o autor da matéria mais antiga ter um nome bastante brasileiro. Nota-se também que a matéria é mais extensa e mais detalhada, falando de outros aspectos da relação entre Symonds e Senna. E o mais pertinente a este caso é "the leading edge of the block was standing out by a few millimetres". Interessante como "alguns milímetros" virou "3 milimetros". "A few" pode ser 2, 3, 5 até. Segundo a matéria (ambas, no caso), algo teria movido o muro esses milímetros para dentro da pista e Senna teria batido por causa dessa diferença. 

(foto: quem era melhor e quem estava aprendendo)

Daí resolvi pesquisar sobre a corrida em si. Nada como uma passada rápida na wikipedia. E nela achamos o resultado oficial da prova. Senna abandonou na volta 47 por problemas de embreagem. Mas esses problemas teriam sido causados pela tal batida?
Não vejo como, pois exceto François Hesnault na primeira volta, em uma barreira de pneus, ninguém bateu durante a corrida. Se ninguém bateu, quem empurrou o muro para o meio da pista? E por que esperaram 47 volta para sacanear justamente com ele?

Gente, vamos parar com essa mania de aumentar os feitos de Senna?
Vamos parar de inventar coisas e endeusar Senna?
Vamos parar de chamar o cara de "herói" e chamar de "ícone" ou mesmo "ídolo"?

Que se diga algumas coisas antes de terminar este texto:
1) Senna era um pilotaço. Ninguém é campeão do mundo de nada por acaso, e ele foi três vezes.
2) Em toda essa historinha ridícula, não vi nenhuma declaração dada pessoalmente por Senna. É sempre a mesma coisa: alguém disse que ouviu dizer um cara comentando que Senna teria dito...
3) Na boa, mais chato que fã do Senna só Testemunha de Jeová, talvez. Talvez.