quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Auto-análise

Terminei há 10 minutos minha "semana sem reclamar", amigo leitor.
Não se preocupe, não pretendo voltar o modelo antigo: como disse o criador dessa ideia, é o tipo exato de projeto que, mais do que testar sua força de vontade ou habilidade de lidar com problemas, mexe com suas estruturas mentais.
A sensação é de estar do lado de fora de mim mesmo em cada conversa que faço. Estou (estive?) em um tipo de controle diferente. Nem pareço eu mesmo. Para os nerds de plantão, é como mudar o ângulo de visão em um jogo de corrida de carro: o objetivo é o mesmo, mas o modo como se controla as coisas é outro. Curiosamente, eu sou daqueles que, no videogame, prefere a vista de dentro do cockpit...
Eu já havia comentado aqui as primeiras observações feitas. Passados mais três dias, digo que expandi um pouco o universo. O foco agora não é mais "evitar reclamar", mas "evitar falar o que não é necessário". 
Sim, reclamar é, até onde notei, o maior responsável por falas inúteis. Eu diria 60% a 70% até. Sim, eu era (sou?) um reclamão. No entanto, o ato de remover, ainda que parcialmente, as reclamações das conversas, e com um novo modo de observar o processo comunicativo, achei, até com alguma facilidade, o próximo alvo: ostentação*.


Palavra que está no vocabulário popular há relativamente pouco tempo, noto que é algo que fazemos, todos nós, o tempo todo. Não sou diferente, embora queria achar que sou.
Ostentar é contar para os amigos que você achou ingressos baratos para um show na próxima viagem. É comentar com alguém que vai viajar. É citar um local visitado em outro país. É postar foto de lugar estiloso no facebook.
Tem mais por trás, disso, creio. Então, neurônios à obra: para esta semana, em adição a "não reclamar", incluo o "não ostentar". 

*Em tempo, exonero o funk do crime de ostentação. O funk já tem defeitos suficientes para ser insuportável, embora alguns deles sejam injustos: ainda acho o funk mais tolerável do que samba, pagode, axé e sertanejo. O funk apenas trouxe letras que praticam e falam da prática da ostentação, entre outras coisas. Como todo processo sócio-cultural, é causa e consequência o efeito estudado. Resumindo, a ostentação já existia sem o funk, apenas não tinha relevância ou não era tão percebido como tal. Tanto que o termo usado até então era exibicionismo. 



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De quem eu não tenho pena (em New York)

Não posso dizer que não me divirto fazendo isso. Então retomo aqui a série, referindo-me à minha mais recente aventura no exterior.

  • Quem anda de carro
Sem dúvida, esta é a mais crítica de todas. Andar de carro em New York, de modo geral, é burrice aguda. Deixe as ruas para a polícia, bombeiros, ambulâncias e já teremos congestionamentos. Agora coloque os taxis. A cidade é muito, mas muito mesmo, compacta. É muita gente em pouquíssimo espaço. 
Mas para isso existe o metrô. Sujo, confuso, potencialmente caro. Mas incrivelmente amplo, 24 horas por dia e funcional. Salvo exceções do tipo dificuldade de locomoção permanente (cadeirante, idoso) ou temporária (perna quebrada), o sujeito morar em ou estar indo para local realmente muito distante do metrô ou condições climáticas extremas, deixe o carro em casa.
Aliás, não tenha carro: use taxi nesse casos especiais e pronto.
Mas...


Pois é...
Inclusive, note quantos taxis há nessa foto.
Pois é...
  • Quem come mal ou caro
E olha que eu paguei caro em pelo menos duas refeições...
Mas eu optei por isso, e espero que não tenham pena de mim. New York tem milhares de lugares para comer, com uma culinária riquíssima. Não, teimoso leitor, a culinária americana não se restringe a hamburger. Longe disso.
Ainda assim, tem trouxa que só encontra o lugar caro, incapaz de atravessar a rua e ver opções. Merece sofrer.
  • Quem fica entediado
Aqui o problema é diferente. Eu não consigo descrever o processo de ficar entediado em New York. Não me refiro a ter que esperar em uma fila ou pelo metrô. Mas se tem uma coisa que não falta por lá além de gente é coisa pra fazer.
No limite, compre um livro, oras, pois livrarias não faltam. Ou caminhe, pois é lindo.
  • Quem se perde em Manhattan
Vamos falar sério:a ilha é quadriculada por ruas e avenidas em ordem numérica. Há um sem número de prédios muitos altos planetariamente conhecidos (Chrysler, Rockfeller, Empire State, World Trade Center...). 
Não dá. Você não se perde por lá nem querendo.
Bem, quase... Sempre tem um ou outro indigno de pena.
  • Quem não visita o Metropolitan
(Esta tem endereço único e certo.)
Sério?
Mesmo?!
Quer dizer.. MESMO?!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Vida Longa e Próspera

Vez por outra vemos corporações cometerem erros crassos. Produtos bons, bem aceitos e lucrativos são descontinuados por falhas de distribuição, erros de posicionamento de marca e afins. Em alguns casos, a empresa inteira vai para o quiabo. 
Seria possível passar uma tarde listando casos apenas puxando pela memória, para dar alguns exemplos fáceis: Mappin, Simca Chambord, Gurgel, tênis Rainha e Bamba, Fanta Limão, Gellato... Hoje as baterias do Asimovia apontam para a Paramount.
Entre tantas franquias longevas e famosas como Star Wars, Harry Potter, 007, Marvel, DC, Senhor dos Anéis e outras mais artificiais e menos criativas (mas não menos lucrativas) como Jogos Vorazes, Divergente e Crepúsculo), tem uma com os fãs mais alucinados, fiéis, confiáveis e tarados: Star Trek
Apesar do muito bem sucedido reboot nos cinemas em 2009, com direito a sequência em 2013, a Paramount ainda se mostra completamente incompetente para gerir essa autêntica mina de ouro. Perdeu o diretor para o terceiro filme (ok, competir com montanhas encantadas de dinheiro da Disney é difícil), não consegue soltar novidades sobre o filme desde então e não produz uma série para televisão desde o fim de Enterprise, em 2005. Já vamos completar 10 anos órfãos. 
Embora os fãs não sejam tão numerosos quanto as franquias que citei acima, são os mais die hard da galáxia. Qualquer material produzir de Star Trek tem audiência cativa sólida. Você pode transmitir um episódio filler durante o Super Bowl, e a os índices são os mesmos. É simplesmente algo incompreensível.
Bem...


Vic Mignogna entendeu isso e lançou o projeto Star Trek Continues. Em resumo, ele conserta o primeiro erro da Paramount, o cancelamento da série clássica após 3 temporadas nos anos 70. O projeto se propõe a lançar episódios novos da mais aclamada e respeitada série de ficção científica de todos os tempos. 
Quanto custa? Nada: acesse o site e veja.
Amigo leitor, veja. Reveja. Divulgue para os amigos e inimigos. E veja mais uma vez. O trabalho é simplesmente esplendoroso. Foram tomados cuidados com trejeitos, sotaques, gírias, efeitos sonoros... Seria muito mais fácil criar uma série nova, mas Mignogna optou pelo caminha mais difícil. 
Merece vencer. 

Já são 3 episódios, e gente graúda está topando participar. Não farei spoilers, veja você mesmo quem já apareceu. Neste momento, o projeto está em nova fase de kickstarter, para dois novos episódios. Na verdade, os episódios já estão custeados, e busca-se mais dinheiro para melhorar os efeitos visuais. Se chegarmos a 225 mil dólares, o episódio 6 sai do papel também.
Se 5 dólares não for tirar o leite dos teus filhos, eu peço por eles em nome do projeto. Colabore o quanto puder. Espero que Vic Mignogna tome conta da marca por nós. Em dois anos, já fez mais pela franquia do que a Paramount fez nos últimos 10 anos. 

Vida longa e próspera.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Fim do Primeiro Tempo

O amigo leitor que chegou agora a este assunto pode ver o início de tudo aqui. Em resumo, para o caso da preguiça ter impedido alguém de clickar, estou em um projeto para ficar uma semana sem reclamar. Cheguei mais ou menos à metade do projeto.
Notei, apenas depois do primeiro dia, uma coisa bastante curiosa. Por óbvio que seja, quando uma pessoa está sob restrição de algum tipo, uma das primeiras ações a serem tomadas é definir com clareza o objeto da restrição. 
Se você está em um cenário em que não pode tomar bebidas alcoólicas, é bastante simples definir o que deve ficar de fora. Se você está em restrição de açúcar, basta não comer doces. Se você está preso, então não pode sair de determinado local (no caso, um presídio) por motivo algum. Isso é simples.
Mas se você está em um regime de restrição calórica, surge uma parte da ignorância. O que é proibido comer, então, ou quanto pode? Já não é tão óbvio, certo? Ou então, se você deve "ser educado e gentil o tempo todo", precisa dar bom dia para 14 pessoas que pegaram o mesmo elevador que você? Pode ser um "bom dia" coletivo ou precisa ser individual? O amigo leitor percebe a sutileza?

No caso do meu desafio, o que é reclamar? Já no primeiro post pude pincelar sobre a dúvida no exemplo do restaurante. Mas quando se está 24 horas por dia no cenário de "no complain", é crítico saber exatamente o que é uma reclamação e o que não é. O que é, deve ser filtrado e morrer ainda na esfera dos pensamentos, sem ser externalizado. É preciso definir o que posso falar e o que não posso. A regra tem que ser clara.
Depois de gastar algum ATP, cheguei à uma definição informal. Para todos os fins, usarei os termos "reclamar" e "queixar-se", sem nenhuma intenção de criar uma norma ABNT para isso. Ambos os termos, reclamar e queixar-se, começam da mesma maneira: é o ato de uma pessoa falar negativamente de um objeto, situação, pessoa ou fato ocorrido. Porém, queixar-se é quando esse ato é feito em condições de resolver o problema. Reclamar é quando esse ato não tem como produzir qualquer efeito prático. 
Pois vejamos exemplos:
- cliente chama o garçom e indica que o prato veio errado: queixa.
- casal conversa entre si sobre o fato do prato ter vindo trocado, já a caminho de casa: reclamação.
- motorista pede passagem para outro que está parado em fila dupla: queixa.
- motorista comenta o quanto o trânsito estava ruim: reclamação.
- pessoa pede para outra reduzir o volume do televisão está incomodando: queixa.
- pessoa comenta o quanto o volume estava alto: reclamação.
Não posso afirmar que seja uma boa definição, mas está me servindo bem desde que a formulei no sábado. Mas o fato é que, com isso, passa a existir um filtro mental novo entre cérebro e língua, e esse filtro permite a passagem de queixas, mas não de reclamações. Isso porque as reclamações parecem nascer por geração espontânea... E como sou novo na utilização do filtro, ele ainda demora perceptivelmente para funcionar. Em resumo, estou conversando mais devagar. 

A segunda coisa que aconteceu foi uma percepção da quantidade de reclamações que vem à minha mente em fluxo usual. (Se eu usasse termos como "o amigo leitor não imagina como isso é difícil separar" seria uma reclamação). Suponho sem base alguma que isso também aconteça ao amigo leitor. Filtrar as reclamações de modo a que a conversa fiquem sem elas ajuda a perceber esse tipo de coisa. Depois de um tempo, comecei a notar o quanto os diálogos, mesmo mais lentos, são mais produtivos. Muito mais produtivos.
Daí, vi vantagem sim. Acho que nós, humanos, usamos uma técnica de comunicação por palavras conceituais que fica muito aquém de nossa capacidade de pensar. Melhorar a comunicação é remover uma parte desse limitador. O mundo pode se tornar um lugar mais racional, melhor. Pelo menos um pouco.
Estou gostando do resultado. 

Isso não significa que não falhei. Sim, eu reclamei, particularmente no sábado, quando tive um contratempo meio sério. Grande coisa ter tido o contratempo: ele provocou uma decisão minha, ok, mas ficar falando, ainda que por apenas 3 minutos até eu notar que estava reclamando, não produziu nada novo ou melhor sobre o contratempo, suas consequências e minha decisões sobre isso. Não fica muito mais "reclamação" do que isso.
Então errei. Não foi só essa, narrei apenas a mais marcante.

Vivendo, aprendendo e melhorando.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Link do Dia

Amigo leitor, segue uma análise sensacional sobre 12 ideias fracas (muito fracas) que a religião como um todo, nos proporcionou. Fica cada vez mais difícil isentar a religião de seus erros.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Foto do Dia

Tirei durante a semana, na Av. Jabaquara, próximo à TSKF. 


Triste isso, em vários níveis.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Será ?

A crise hídrica que atacou o estado de São Paulo no ano passado se espalhou. Esta semana, Rio de Janeiro de Minas Gerais ligaram seus sinais de alerta e começaram a falar em racionamento, em medidas emergenciais e tudo mais.


O vídeo acima, embora eu não concorde com 100% do que foi dito, é ótima explicação sobre o que está acontecendo. Chamo a atenção para o momento 4:40, quando o Pirulla aponta que o bicho ia pegar em MG e RJ. 
Pegou. Mas não é só mais água potável o problema. O governo federal já admite problemas na geração de energia. E é dela que vou falar hoje.
Esta semana tivemos um apagão relativamente sério, sobre o qual falei aqui. Naquele momento, pareceu ser uma questão de capacidade de distribuição apenas. Mas antes mesmo dele, na semana passada, um colega de academia chamado Rafael comentou as constantes quedas de energia que temos visto na cidade desde os últimos dias de 2014. Decretou ele:
- Isso aí já é racionamento disfarçado
Rimos, não apenas mostrar mais uma potencial desgraça a ser enfrentada, mas por ser plausível. A demora em se restabelecer a energia em tantos locais não é usual. Embora a Eletropaulo seja uma empresa longe de ser séria, o padrão de desatendimento superou por muito o histórico de incompetência deles.
Passados 4 dias do incidente nacional, os apagões continuam. Acontece que o calor acalmou um pouco, as chuvas não tem sido intensas, e os episódios de falta de luz continuam acontecendo. 
Aqui na PRODESP, temos uma usina (se você acha que eu quis dizer "gerador" e me enganei, saiba que, sim, temos uma usina termoelétrica aqui dentro). Quando a energia falta, a usina entra em operação e, em menos de 1 minutos estamos com energia no prédio inteiro. E neste cenário, a usina foi acionada por duas vezes esta semana, uma delas hoje pela manhã, com tempo tranquilo e seco. Não faz sentido. 
Não se o Rafael estivesse errado. A tese dele ganha força, portanto.
Será?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Challenge Accepted

Aceitei o desafio, pronto.
Em resumo, trata-se de ficar uma semana sem reclamar. O desafio chegou a mim por Ricardo Homsi, a partir deste link.


Vamos estabelecer/esclarecer algumas conduções.
Não vale:
- falar, expressar opinião negativa, comentar de modo pejorativo, fazer cara feia, tomar uma respiração funda frente um contratempo, escrever no blog ou no facebook sobre isso.
Vale:
- fazer com que o certo seja feito (por exemplo, solicitar a correção de um prato entregue errado no restaurante), deixar de fazer uma atividade desagradável (não é um exercício de masoquismo, é de autocontrole), evitar situações que possam gerar queixas, discordar (desde que com ponderação e educação). 
Valendo agora: 22/01/2015, 16h.

PS.: título corrigido, link original fica mantido.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Print do Dia

Hum...


UOL, 21/01/15: "Calor em São Paulo já é o mais quente em 72 anos".

Está quente mesmo: está até derretendo cérebros.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Apagou ?

E pensar que quando essas zicas acontecem, eu costumo estar em primeiro da fila com ingresso VIP...
O amigo (e)leitor que já tiver energia em casa ou no trabalho pode este texto. Se a falta de água é culpa do Alkcmin, a falta de energia é culpa de quem, então?
Vamos do começo: ontem houve um apagão seletivo em 7 estados e no Distrito Federal (sempre achei uma frescura não chamar o Distrito Federal de estado). 

foto: Apagão na Paulista, por Antônio Roberto Villa Jr, G1

Segundo informações, o ONS (Operador Nacional do Sistema) optou por desligar seletivamente partes de áreas dos estados e Distrito Federal de modo a evitar um colapso maior. O problema, segundo o ONS foi causado pelo excesso de consumo.
Ok, está fazendo um calor do cão do inferno esses dias. Claramente, 70% do país está sobrevivendo com ar condicionado, e isso consome uma energia brutal. Isso não é culpa do governo, tanto quanto a falta de chuvas também não é (quanto às chuvas, há espaço para algum debate). Mas o que aconteceu ontem tem origem parecida e diferente do problema da água.
A origem é similar sim: falta de planejamento e investimentos. Mas o problema elétrico de ontem foi falta de capacidade de transmissão, não de geração O mesmo problema de capacidade de transmissão que o governo jurou de pés juntos que não aconteceria durante a Copa do Mundo (e de fato não aconteceu) chegou agora. Até nisso somos atrasados... Sim, é chocante.
Por um lado, se (e é um grande se) a capacidade de geração estiver sob controle, eventos como esse não se repetirão tão cedo e nem com tanta frequência. Por outro, toda vez que tivermos picos de consumo como o de ontem à tarde, o ONS viverá momentos eletrizantes.
Esse é o resultado de 12 anos de falta de planejamento e investimentos no setor elétrico. O PT venceu as eleições de 2002 com muitos votos de eleitores insatisfeitos com o racionamento de energia que vivenciamos. Suas cabeças devem estar em curto-circuito agora, perguntando-se como diabos mudar de assunto a esta altura, de tanto que estão apanhando nas redes sociais.
Eu só digo: bem feito. E enquanto isso, a Dilma aumenta mais algum imposto...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Indonésia, meu Amor

Amigo leitor que se opõe à pena de morte, peço um minuto de paciência: o título do post é mais sensacionalista do que o conteúdo. Tudo pela audiência...
Alguém aí deixou de acompanhar a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira? Não, né? Pois esse é um dos pilares do meu argumento, mas já retomo esse ponto mais à frete.
De todo modo, Marco Archer foi fuzilado na madrugada de domingo na Indonésia. 


Vamos dividir essa conversa em três partes, e vamos tentar evitar que uma influecie a outra, na medida do possível.
  • Pena de Morte
Se a Pena de Morte é uma pena (penalidade, castigo), então é aplicada porque alguém cometeu um crime. Mas uma vez já cometido o crime, de que adianta punir o criminoso?
Pensando em um exemplo bem simples, se um motorista bater no seu carro, você quer ele presou ou prefere que ele pague pelo conserto? Eu prefiro que ele pague, especialmente se for realmente algo casual, fortuito: o motorista apenas se distraiu, não estava alcoolizado, em alta velocidade ou na contramão.
Escalando um pouco, seria similar a um caso de furto ou roubo? Já complica um pouco aqui: a pena seria, então, apenas devolver o que foi furtado ou roubado? Fosse assim, a tentativa seria sempre válida. Mas e quando não há como restaurar o que foi feito, como uma agressão ou um homicídio?
Daí surgem as penas. As penas possuem 4 funções distintas, simultâneas e nunca distribuídas na mesma proporção. Sem nenhuma ordem de importância, a pena visa: proteger a sociedade do criminoso, evitando que ele torne a cometer o delito, reeducar o criminoso, fazendo com que ele se torne um cidadão sociável (novamente), e dar um senso de retribution (desculpem o uso da palavra em inglês, mas não conheço uma tradução perfeita para expressar esse conceito. "Vingança", como alguns usam, é algo mais forte e intenso. "Retribuição" definitivamente não serve.). A última é servir de exemplo: ao se condenar um criminoso e tornando público o ato, outros potenciais infratores podem pensar duas ou mais vezes antes de caírem no mesmo erro.
Quando um ladrão é preso e condenado a 2 anos de prisão*, claramente o fator reeducação é o mais significativo. Ficar dois anos em um lugar sem poder sair dele, sem aproveitar as boas coisas da vida e sem contato com as pessoas queridas não é algo divertido. Já quando um estuprador fica 20 anos preso*, o fator retribution torna-se preponderante. Acho que ninguém aí vai dizer que são precisos mais de 2 anos para o sujeito entender que matar é errado. Então vamos manter ele mais tempo preso para... ele aprender 10 vezes mais que o que fez e errado? Ou para nos protegermos de um sujeito que supostamente já entendeu que errou? E quando um assassino costumaz pega prisão perpétua*, já estamos muito mais falando de proteção da sociedade do que os outros: se o sujeito permanecerá preso até o final de seus dias, pouco importa se ele aprendeu ou não com o erro ou se está ou não sofrendo: a sociedade em questão simplesmente desistiu dele não quer mais qualquer tipo de contato. Já pena de proibir um torcedor briguento de ir aos estádios de futebol, embora tenha fatores de reeducação e proteção, claramente é um exemplo para os demais. 
* não estou nem entrando no mérito sobre os variados sistemas prisionais pelo mundo.
Então, podemos notar com facilidade que esses quatro fatores variam, e muito, na composição da pena. Lembremos, amigo leitor, que outras formas de pena existem: multas, castigos corporais, mutilação, perda de direitos. Somos criativos nisso enquanto espécie.

A Pena de Morte é uma opção radical, não há dúvida. Ela tem o fator máximo de proteção existente e mínimo de reeducação. O fator retribution está intimamente ligado com a forma de aplicação da pena, e o século XX mostrou uma redução significativa deste fator na pena de morte, quando observamos menor adesão ao apedrejamento ou impalação em relação à injeção legal ou mesmo o fuzilamento. 
Para resumir em dois pontos antagônicos, a Pena de Morte tem uma grande qualidade e um grande defeito. Pena de Morte é irreversível: um erro na condenação não tem volta, é para sempre, fim, acabou e um inocente teria sido morto. Há casos. Por outro lado, pena de morte tem fator absoluto de proteção da sociedade. Um criminoso que foi executado não volta para cometer novos crimes. Não há casos. 
Mas não se pode negar que, dado o alcance midiático que esse tipo de pena tem alcançado, o fator exemplo não pode ser desconsiderado. E quanto mais barulho os opositores fizerem, mais estarão trabalhando contra sua causa. De se pensa, não?
  • Marco Archer
Acho que é ponto pacífico que o até então instrutor de voo errou feio. Existe uma razão para o tráfico de drogas na Indonésia pagar tanto pelo transporte de cocaína para dentro do país: a punição ao crime é muito severa. Isso desestimula os potenciais candidatos e, com isso, o valor oferecido aumenta. Esse parágrafo, por si só, derruba completamente a tese de que pena de morte não tem efeito preventivo no crime. Tem sim, e muito.
Pois agora cumpro a promessa que fiz no começo do texto e faço uma colocação forte: neste momento, a chance de algum brasileiro inventar de traficar drogas para a Indonésia é virtualmente zero. A combinação de intensidade da pena com o fato dela não ser adotada chamou muito a atenção da mídia. E com isso o fator exemplo ganhou intensidade desproporcional. Desta feita, o governo indonésio atinge pontualmente seu objetivo: coibir o tráfico de drogas em seu território.

foto: Marco Archer


Porém...
Era a primeira condenação do réu, pelo menos até onde consegui pesquisar. E salvo casos de genocídio, sou contrário à pena de morte por crime único. Não é questão de passar a mão na cabeça ou deixar o criminoso solto: tem que pagar pelo crime sim. Mas também acho que merece uma chance de recuperação. Não foi um homicídio com requintes de crueldade (Champinha, alguém?) ou um traficante costumaz procurado. Achou que conseguia e se deu mal, mas não era o fim do mundo o que ele estava fazendo.

Ou era?
Bem, agora entramos na questão das drogas em si. E não faz muito tempo que tomei posição sobre isso. Na minha opinião, o uso de todas as drogas deveria ser liberado total e completamente, sendo o usuário único e completo responsável por seus atos mesmo se estive sob efeito do que quer que seja.
Sim, pessoas vão morrer de overdose e de efeitos prolongados. Carreiras, amizades, recursos, famílias e vidas serão destruídas. Mas é um preço a se pagar pois nossa espécie simplesmente não entendeu que essas substâncias são absolutamente perigosas e condenáveis, e temos um problema crônico (genético?) com proibições. Se com todo aparato de repressão e campanhas de conscientização pessoas continuam a entrar no mundo das drogas, então talvez precisemos de um pouco de pressão evolutiva de modo a que pessoas com menor propensão ao uso das drogas tenham maior chance de deixar descendentes. 
Então, não, não era o fim do mundo o que ele estava fazendo.
  • Indonésia
Isso tudo me traz o título do post, onde elogio o país asiático. Não elogio a Indonésia por ter pena de morte nem por executar um brasileiro ou um traficante. Elogio por duas outras razões:
- trazer à tona o debate sobre Pena de Morte, tão desejada e tão ignorada no Brasil.
- por dar exemplo sobre com não deixar impune os que cometem crimes graves, pelo menos na opinião deles, em seu território. Não aceitaram apelos chorosos e pedidos infinitos de clemência. Nem tinham que aceitar mesmo. Aprendamos com isso.

Por último, apenas cito a indignação da presidente Dilma (a mesma que aplaudiu fuziladores como Raul Castro, ok?), pra mim, totalmente protocolar. É função do(a) presidente agir exatamente assim: protestar, indignar-se, ameaçar com sanções e rompimento de relações e, como tudo na diplomacia, não fazer porra nenhuma depois. 
Até aqui, não tenho nenhuma crítica a ela nesse episódio.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Promessas de Ano Novo (2015)

Vamos lá, pelo 8o ano consecutivo:

- prometo continuar gostando de cachorro, de tabuleiro, de RPG, de Nascar, de F1 e de Kung Fu. 
- prometo assistir House of Cards, True Detective (supondo que saia), Better Call Saul, terminar Arquivo X e caminhar (1 temporada ?) em Airwolf.
- prometo manter carro e casa em ordem.
- prometo não assistir Game of Thrones.
- prometo viajar para um novo país (EUA, Peru, Inglaterra e Alemanha não valem). Estudos apontam para Caribe ou Itália.
- prometo continuar falando mal de religião e do PT.
- prometo terminar o curso de sushi que comecei ano passado.
- prometo assinar Netflix.
- prometo manter minha Lista Negra em dia, e segui-la com afinco.
- prometo casar.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Vai Acabar

Tá feia a coisa, amigo leitor. Depois de meses de uma seca sem precedentes em São Paulo, estamos vivendo tecnicamente outra. Desse jeito, não há cantareira que aguente: a água vai acabar
Seca? Tá louco??? Com essa chuva toda, alagamentos, granizos, como diabos você fala em seca?! Não sou eu quem fala, é a Folha, aqui.
Confesso que não esperava. Confesso que a situação, embora séria, parecia ser momentânea. Confesso que acreditei que tudo voltaria ao normal. Neste momento, estou revertendo minhas perspectivas. 
A baixa nas chuvas na região da Cantareira mostra que o sistema não está se recuperando em mês de pico de chuvas. Como faremos em maio quando as chuvas acabarem (exceto no dia 19, tradicional data de chuvas intensas...)?
O amigo leitor se tiver alguma paciência poderia observar uma chuva qualquer e notar que o padrão está diferente sim. Aquelas chuvas longas de final de tarde não estão mais acontecendo faz algum tempo. Chove, mas chove bem menos, por menos tempo. Causa estragos, mas logo vai embora. Os ventos também pioraram. 
Como exemplo, peguei uma dessas há alguns dias ao descer do fretado. Eram 6h15 e eu estava a caminho da academia. Eu tinha uma margem de folga de 20 minutos: se passasse disso, eu perderia o treino. Pois a chuva intensa durou 5. Cheguei ao treino seco, cedo e preocupado com a cidade. 
  • Sobretaxa

Não sou especialista em recursos hídricos. Sou especialista em criticar coisas estúpidas. Faz parte do job description
Eleitores anti-tucanos passaram meses cobrando que o governador admitisse que há racionamento em São Paulo. Esta semana ele falou em "restrição hídrica", o que pra mim é a mesma coisa. Disse isso para poder cobrar a óbvia e necessária sobretaxa para quem aumentar o consumo de água. Não podia cobrar porque a ANA (Agência Nacional de Água) não permitia a tal cobrança se não houvesse racionamento, sendo que ela mesma impôs a redução da retirada de água do Sistema Cantareira. Achei alguns links sobre isso aqui e aqui.
Detesto esse puxa-empurra. Se a Agência já sabia, por que exige que o governador admita a existência do racionamento? Só para queimar o filme dele? Tarde demais, o cara já foi reeleito. E o governador reeleito também pode deixar de esconder o termo. Todos estão errados nisso

Em fim, passei para o time dos que acha que viveremos um cenário de Mad Max ainda em 2015. Preciso de um plano B.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Diversão pura

Hoje, no trabalho, toca o telefone em uma hora ruim (o dia não está ruim, apenas quebrou minha concentração, e isso me chateia...)
- Auditoria, Norson.
- Bom dia. Aqui é Milena, do jornal O Estado de São paulo. Posso falar com o Sr. João Batista* ?
- Ele não trabalha mais aqui há 3 anos.
- Ah... então é número comercial...
- Sim.
- Certo... Eu poderia aproveitar a ligação para lhe fazer uma oferta em condições especiais para o senhor assinar o jornal O Estado de São Paulo ?
- Não.
E desliguei.

Garanto: é reconfortante. Tentem um dia desses.

* João Batista é um ex-colega e amigo aposentado. Saiu da empresa em 2012.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Promessas de Ano Novo (Análise 2014)

E não é que eu continuo fazendo esta porra?
Ok, hoje é 13 de janeiro, estou um tanto atrasado. Eu estava viajando, o notebook não cooperou e, enfim, aqui estou.

- Prometo terminar de emagrecer (marca inicial: 75,0 Kg)
Hum... Acho que falhei. Devo estar nos 77. 
Droga...

- Prometo, de novo e mais uma vez, ler Astronomia até o fim
Quase, mas quase mesmo. Estou no final do volume 2, pois algumas coisas atropelaram. Mas quase.

- Prometo treinar Kung Fu tão logo possa voltar às atividades físicas (estimativa: abril/14)
Feito.

- Prometo novamente ver todas as corridas de Nascar e  F1
Feito.

- Prometo jogar Star Wars e MotE
Feito. E comecei D&D.

- Prometo, de novo, fazer a revisão do carro na data certa
Feito.

- Prometo fazer pelo menos um churrasco
Feito.

- Prometo viajar nas férias, para outro país (EUA, Peru e Grã-Bretanha não valem) (planos apontam para Alemanha desta vez)
Feito, Alemanha mesmo.

- Prometo, novamente, jantar fora em um lugar legal pelo menos uma vez ao mês e pelo menos 15 vezes no ano
Não contei. Mas o fato de ter completado o cartão de carimbos do rodízio japonês é um bom indício de que consegui.

- Prometo assistir pelo menos mais 3 temporadas de Arquivo X, incluindo episódios antigos pendentes, além das séries em andamento.
Feito com louvor. Terminei o que estava aberto, estou no meio da 8a temporada de Arquivo X e vi a 1a de Airwolf.

- Prometo não virar vegetariano
Fácil.

- Prometo não votar no PTFácil.

- Prometo continuar ateu
Nem fácil, nem difícil: é como respirar.

- Prometo continuar gostando de cachorroFeito.

- Prometo jogar PS3Feito.

- Prometo acompanhar de perto a Copa do MundoFeito com louvor. Ver a final em campo foi épico.

- Ainda assim, prometo me interessar cada vez menor por futebol e suas maracutaias.
Pois é. Feito parcialmente, preciso renovar esta, com certeza.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

NY - Dia 10: Compras e Retorno

A noite do dia 1o de janeiro foi dividida em duas frentes. Enquanto Luciana pesquisava lojas de material de arte, eu brigava para fazer o notebook se comportar. Eventualmente, venci, mas o que me preocupa até agora, dias depois, é o fato de não ter certeza de como isso aconteceu.
Luciana levantou 4 lojas, 2 das quais haviam sido indicadas pelo simpático tiozinho da véspera. Como eu já tinha internet novamente quando ela voltou ao quarto, pude desenhar uma rota a pé pelo Googlemaps. Nem eram tão distantes assim. A primeira e última lojas eram as mais prováveis.

Ajudamos a abrir as portas da primeira: chegamos exatamente às 9h, o que poderia ser vital para o plano. Infelizmente, não tinha os lápis incas venuzianos que ela queria. Isso me deixou preocupado, por ser uma das favoritas. Ao lado da primeira, a segunda loja também não ajudou: nada dos lápis albinos aberrantes trifásicos.
O maior trecho a pé era entre a segunda e a terceira, o que nos permitiu achar uma loja adicional por acidente. Não deu em nada, porém: não vendiam os tais lápis malaios protoplásmicos ecológicos. Chegamos à terceira loja e claramente a situação estava ruim para eles: perguntamos e nada dos lápis anticorrosivos com bordas amendoadas. Aparentemente a loja mais antiga de material de arte em NY não vai nada bem das pernas. Uma quadra depois e chegamos à última.
Finalmente nossa saga terminava: eles tinham a tal caixa cretacolor ultimo set com 72 lápis (pra que 72 se só existem 16 cores?!). No entanto, em uma virada bastante hollywoodiana visando apenas tirar uns trocados com uma continuação barata, eis que Luciana não encontra os pastéis (de feira? um de carne e um de queijo, por favor...) que complementavam o pacote.
- Ah, tem lá na primeira loja...
- E por que não comprou quando fomos lá?
- Porque eles não adiantam sem os lápis. Só agora vale a pena comprar eles.
Tá... Bora voltar. Em 15 minutos estávamos de volta para... não achar.
- Mas você não disse que tinha ?
- Disse.
- E cadê ?
- Não tem. Acho que me enganei.
- Acha ?
- É...
Que joia... Pelo menos ela garimpou a loja e achou outro, que dava conta do problema, mas não sem um susto.

Eram 10h30. Dava tempo de ver outras coisas, no caso, outra coisa.
Voltamos de trem para NJ e visitamos o Home Depot, que ficava do outro lado da rua do hotel. Isso mesmo: levamos 10 dias para entrar em uma loja do outro lado da rua. Nem era exatamente para fazer compras, embora precisássemos de 2 cadeados. Acho bastante interesse ir nesse tipo de lugar, menos para comprar e mais para ver o que tem a venda. A quantidade de opções de lâmpadas, por exemplo, impressionou a Luciana. E os americanos, injustamente vistos como gordos preguiçosos, compram madeira em chapa aos montes por lá, ao contrário daqui onde esse hábito desapareceu. Por lá, existe e vive bem a cultura do faça-você-mesmo. Aqui, o famoso Peg & Faça morreu. 

Fechamos a conta do hotel, agradecemos o incrível atendimento que tivemos por lá e pedimos um taxi. Veio um carro que, creio, era dirigido pelo Dr. Who: por fora parecia uma Meriva. Por dentro, couberam nossas 4 malas deitadas e ainda havia 7 lugares sentados. Chegamos sem percalços ao aeroporto, para então eu notar uma mancada: as passagens tinham conexão em Washington, o que eu sabia, em aeroportos diferentes, o que eu não sabia. Isso significava pegar as bagagens no aeroporto Reagan, arrumar um transporte até Dulles e despachar novamente. A vantagem era minimizar o risco de perda de bagagem na conexão, já que eu mesmo estou cuidando disso, e alguma coisa para fazer nas 4 horas entre o pouso e a nova decolagem. 
4 horas, eu disse ?
Que tal 3h50? 3h30? 3h15 ? Pois é, amigo leitor: o voo que partia do apático aeroporto de Newark (não tinha nada para comer ali, e ficamos sem almoço!) começou a atrasar, progressivamente aumentando o grau de stress. Embora houvesse ainda um congestionamento em pista antes da decolagem, chegamos a Washington ainda dentro dos limites de segurança. 
Houve demora até para definirem uma esteira de bagagem para nosso voo, o que nos colocou em contato incidental com um casal de brasileiros que estava no mesmo cenário que nós. Ficamos amigos de infância, e logo trocávamos piadas. Típico.
O contato serviu para racharmos uma van até Dulles, o que nos levou com mais conforto e menor custo do que um taxi. Com alguma correria em Dulles, a bagagem foi (re)despachada e seguimos para o portão de embarque que era, simplesmente, o último do aeroporto. 
É sério: C2 é o último portão de embarque. Precisa pegar um monotrilho que para no terminais A e C, nessa ordem. Depois anda-se um tanto até os corredores. Os portões de número baixo são o corredor longo, em ordem decrescente. E juro para você amigo leitor que a contagem final fica: 5 - 4 - 3 - 1 - 2: o 2 é o último. 
Chegamos nele às 21h05, com início de embarque marcado para 21h20. Dava tempo para almoçar (sim, almoçar: lembra que não tinha nada para comer em Newark?). A lanchonete em questão foi uma delícia, um Subway melhorado, com ótimo atendimento. Descobri na fila que o voo atrasaria 20 minutos, o que permitiu comer com calma.
Embarcamos numa boa, para um último problema durante o voo. Ainda de barriga meio cheia do almoço, veio o jantar no voo: frango ou pasta. Luciana não come frango (vai entender...) e optei por acompanhá-la na massa.
Eu como muito devagar em voo, para evitar acidentes. Ainda estava no começo da salada quando ela abriu o macarrão e perguntei:
- O que é ?
- Bolonhesa.
"Nada mal", pensei. Mas quando fui comer, ao cortar o primeiro ravioli, tinha algo verde contaminando minha comida.
- Luciana, o que é isso, verde, dentro do ravioli ?
- Espinafre. 
- O que !?
- Ah, é espinafre.
- Mas você disse que era bolonhesa. 
- Não é, é espinafre com ricota.
- O QUÊ ?
Olhei para trás em pânico esperando achar um comissário ainda com o carrinho, mas era tarde demais.
- Luciana, você não sabe que eu não como isso? Não suporto espinafre e odeio ricota. Isso é nojento!
- Ah, você quer que eu saiba tudo que você come ou deixa de comer ?
- Não. Eu só queria saber o que diabos era o prato que estava na tua frente. Eu podia saber sozinho se comia ou não. Talvez pudesse ter trocado, né ?
Enfim: passei fome, que é melhor do que a náusea que o espinafre me causaria. Ainda pude capturar o pão que ela não tinha comido e sobrevivi até o café da manhã.

O importante foi chegarmos inteiros, sem pararmos na alfândega. E não deixamos os perrengues de última hora afetar nossos humores.

sábado, 10 de janeiro de 2015

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

NY - Dia 09: Financial District, Chinatown e Reveillon

Em um dia que teria ritmo bem diferente dos outros, pegamos a outra linha do PATH para o World Trade Center, em vez da linha usual até a rua 33. E descobrimos que ir por essa linha poderia ter sido um bom plano em outros dias, pela proximidade com as linhas azul, verde e laranja do metrô. 
Errando e aprendendo...
  • World Trade Center
Enfim, ao sairmos do PATH, vemos isso:

foto: World Trade Center

Gente, é alto. Tipo assim, muito alto. Tipo assim, realmente muito alto, manja? E não tirei essa foto ao lado dele não, foi a umas boas 3 quadras de distância. É alto...
O novo World Trade Center já está parcialmente operacional. Há algum movimento, há andares inteiros ocupados. NY está terminando de curar sua maior ferida. Que bom.
Infelizmente a visita ao topo ainda não está aberta, com previsão para primavera de 2015. Do meu ponto de vista, só mais um motivo para voltar lá.
Passamos pelo memorial do 11 de Setembro, também em obras adiantadas. Vai ficar lindo. Optei por não visitá-lo nesta viagem. Farei um combo na próxima. 

Cotação Asimovia: 3 sabres de luz

  • Distrito Financeiro

De lá, em poucas quadras estávamos em Wall Street. Ela mesma:

foto: NYSE

Houve um tempo em que pensei em trabalhar com ações. Depois mudei de ideia, mas se tivesse mantido, esse passeio seria minha ida a Meca. Soube que não há mais visitas à NYSE, por questões de segurança. Uma pena...
O distrito ainda tem um famoso touro com o qual centenas de pessoas tentam tirar fotos. Os turistas chineses estavam particularmente pentelhos nesse ponto, e não consegui uma foto que prestasse.

Cotação Asimovia: 3 sabres de luz

  • Chinatown
E vamos às comprinhas de cacarecos e bugigangas (nunca tinha reparado que "bugiganga" tem 3 "G"s...). De metrô, chegamos direto ao meio da muvuca. São lojinhas de variados tamanhos vendendo absolutamente qualquer coisa. Em uma das lojas que entramos tinha, em linhas gerais, ralos, panela, caneta, furadeira, bandaid, refrigerante, talheres, multímetro, caderno, lupa, pano de prato, doce, rodo, mangueira e travessas, entre muitas outras coisas. 
Mais ou menos nessa ordem.
Tudo em uma área de cerca de metade do meu apartamento.
Aqui, erramos uma parte do planejamento. Era importante ter trazido mais dinheiro vivo. A maioria daqueles caras não aceita cartão, e isso era previsível. Ainda assim, sobrevivemos. 

Cotação Asimovia: 5 sabres de luz

  • Caçadores do Lápis Perdido

A parte da tarde foi caçando um conjunto de lápis para Luciana. Havíamos comprado antes pela Amazon, mas foram entregues em terrível estado. Conseguimos o refund dias antes e saímos à caça. 
Passamos por 3 lojas, com a menção a um tiozinho simpático que reabriu a loja só por causa de nossas caras de cachorrinho magro, mas sem sucesso. Aparentemente, Luciana queria comprar uma mosca branca grávida de gêmeos albinos...
Saímos de lá com as mãos abanando e um par de endereços para procurar no dia 2 de janeiro.

Cotação Asimovia: 2 sabres de luz

  • Reveillon
Acostumados ao ritmo de dormir meio cedo, o dia 31 precisava de algo diferente. Voltamos para o hotel antes das 6 da tarde para tirar um cochilo antes do Reveillon.
Não tínhamos qualquer expectativa sobre a Times Square. O plano era ir até onde desse e beleza. O PATH estava terrivelmente lento, com longas paradas nas estações. Lá pela rua 23 (penúltima estação), parou de vez. Um grupo de nativos desistiu e saiu do trem, e eu os segui de imediato. "Eles devem saber o que estão fazendo", pensei. Eles trocaram para o metrô ali mesmo, na rua 23, e subiam para a Times Square. Fomos até a rua 42, cientes de que poderia haver um alvoroço por ali. 
A Times Square em si estava isolada pela polícia. Não perguntei o motivo, mas parecia que eles consideravam ela "lotada" e ninguém mais entraria. Eram 22h40. 
Saímos pelo Bryant Park e topamos com outra barreira policial, na rua desta vez. Parei para olhar em volta e medir a situação. Não ia adiantar dar uma de esperto e tentar passar. Contornar só faria andar à tôa.  Então, eu olho mais para frente na rua 42 e vejo a bola da Times Square bem à minha frente! 
- Luciana, vamos ficar é aqui mesmo. Olha aquilo !
Ela topou, claro. Subimos alguns degraus para a entrada do Bryant Park, que estava fechado, e nos instalamos ali mesmo, acima das pessoas à nossa frente. E eis que eu olho para frete, e vejo o show de luzes do Empire State. E atrás de nós estava o Crysler Building. Eu simplesmente tinha achado o único local da cidade onde se vê os 3 ao mesmo tempo
Aos poucos, a região foi enchendo de gente, mas nunca passou de 500 pessoas ali. Estava frio, mas fomos bem protegidos. Esperamos até a virada sem intercorrências. 
E vimos o seguinte:


Li comentários de que era isso mesmo que deveria acontecer. Confesso, neste momento, estar em dúvida. 
De fato, pode-se contar 10 piscadas da bola no video. Não achei outros videos comentando a falha. 
Por outro lado, as pessoas em volta ficaram sem entender nada. Será que eram todos novatos no assunto ali ? Todos os 500 ? Ninguém ali comemorou a virada, pois não sabia o momento exato. Não houve fogos até uns bons 5 minutos depois. 
Enfim, não gostei.

Cotação Asimovia: 2 sabres de luz

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Je suis Charlie

Impossível passar batido pelo tema que chocou o mundo ontem, então falemos do atentando covarde, calhorda, cretino, imbecil e estúpido cometido contra a redação da revista Charlie Hebdo em Paris.
Por ser este um blog opinativo e não informativo, procuro dar 24 horas entre os fatos e meus posicionamentos com o objetivo de (1) obter mais informações e detalhes sobre o ocorrido e (2) tentar produzir um texto menos emocional e mais provocativo. O primeiro parágrafo já deixa claro que falhei no objetivo (2). Então que se dane, e comecemos pelo começo:




Ok. Vamos então tentar entender do que diabos se trata este assunto, passo a passo.
Maomé foi um auto-intitulado profeta que viveu na região hoje parte da Arábia Saudita entre os séculos 6 e 7. Morreu em 632, mais de 1.200 anos antes da invenção da fotografia (já explico essa menção). Levo suas profecias tão a sério quanto a lenda do Papai Noel, e nisso não o trato de modo diferenciado em relação a nenhum outro auto-intitulado profeta. Mas vá lá: tem besta que acredita em qualquer coisa mesmo...
Naquele período, pela falta da tal fotografia, não há registros visuais confiáveis sobre como Maomé era. Então surgem, obviamente, representações artísticas. Portanto, qualquer representação dele é exatamente isso: uma representação, e não uma imagem confiável. Em termos práticos, se você desenhar um sujeito barbudo de turbante, ele só será Maomé se você disser isso na legenda. De fato, isso vale para qualquer ilustração feita por milênios. Não há precisão alguma.
Já que não há precisão, falemos da permissão. Aqui começa a bagunça. Primeiramente, o verbete cita que o Alcorão não proíbe as representações, isso acontece em um grau inferior de regras, os hadith. Ocorre que os hadith, como o próprio Alcorão, são regras a serem seguidas pelos muçulmanos. Como exemplo óbvio, eu não tenho nada, absolutamente nada a ver com isso. Mais que isso, o verbete esclarece que nem todos os muçulmanos são tão radicais assim com essa norma. Então, quando ouvimos os tais especialistas em mundo árabe (e "mundo árabe" não é mesma coisa que "mundo muçulmano") dizerem que qualquer representação de Maomé é ofensiva, uma pesquisa tosca mostra que não é bem assim, por algumas milhas.
O próximo ponto do meu raciocínio é a representação artística de uma figura histórica. Já vimos diversos trabalhos serem conflitantes sobre como eram algumas figuras históricas. O tal revisionismo, movimento relativamente recente (pelo menos no meu radar) tem mostrado algumas coisas bem diferentes de como essas pessoas eram. Exemplo bastante barulhento e controverso foi o filme Alexandre, o Grande. Mas basta colocar uma figura religiosa na parada e pronto: começa uma polêmica. Ninguém pode desenhar Maomé ou falar que Jesus era casado que uma turba enfurecida.
Neste ponto, eu já fico estarrecido, em especial com os muçulmanos, que tem uma posição tão radical contra a idolatria, ao contrário dos cristão que a praticam com força considerável. Se a representação (ou revisão, filme, texto, whatever ...) não é fiel ou está errada, por que tamanha ofensa ? Lembro-me quando Mark Zuckerberg foi assistir "A Rede Social" e, ao sair do cinema, disse que era um filme "divertido". Não processou ninguém, não deu piti, não se estressou (pelo menos em público): ignorou com elegância. 
Os religiosos (aqueles do "ofereça a outra face", sabe ?) são incapazes disso. Precisam brigar, protestar, ofender, xingar, agredir, destruir e matar. Nos anos mais recentes, os cristãos não têm matado tanto, mas o passado os condena nisso, e muito (Inquisição, alguém?). Daí as teses se reforçam em torno de classificar a religião como uma fonte autônoma de violência. Segue um ótimo texto do Carlos Orsi sobre isso.

Ó! Que descoberta! (Carlos, caso esteja lendo, não é uma ofensa, ok ?)

Ainda não entrei no caso específico das charges, que são um passo seguinte. A charge, mais do que retratar uma personalidade, faz piada dela ou com ela. De fato, seria ridículo da minha parte dizer que um desenho e uma charge são a mesma coisa, ou mesma categoria de ofensa. Entendo perfeitamente que algum muçulmano possa não ver nada de mais em um quadro e ficar ofendido com uma charge.
Porém....
O problema é a tolerância, como sempre. Religiosos têm a mesma capacidade de serem tolerantes que a gasolina para apagar incêndios. Quando são minoria em alguma região, pedem para serem aceitos e tolerados até se tornarem maioria, quando rapidamente passam de oprimidos para opressores. Não encontro exceção em milhares de anos de história.
Pergunto, amigo leitor, por que se pode, então, fazer charges sobre política, futebol, arte e cultura pop, mas a religião tem (ou pretende ter) foro privilegiado?
Por que eu posso fazer uma piada com o PT, PSDB, Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, Big Brother Brasil, novela, black blocs e o diabo que for, mas não posso fazer uma com Maomé, Jesus ou o Papa ?

Por que eles merecem mais respeito?

Simplesmente não merecem, ponto. São todas ideias humanas, criadas, desenvolvidas e difundidas por nós, e como tão estão na mesma hierarquia. Não, não tentem comparar com piadas racistas ou machistas, pois as pessoas não escolhem nascer mulheres ou afro-descendentes. Mas escolhem, sim, serem petistas, tucanos, corinthianos, sãopaulinos, acompanhar a novela e o Big Brother ou protestarem por míseros 20 centavos. Ou acreditarem em Jesus, Maomé, Kardec, Buda, Inri Cristo, Rael ou até misturar um pouco as coisas. 
Religiões são escolhas, e escolhas são ideias. E como sempre disse aqui, ideias não merecem respeito, pessoas merecem respeito. Ideias existem para brigar entre si, no plano das ideias. 
Deste modo, este blog se posiciona de modo absolutamente radical pela liberdade de expressão total, completa e absoluta, sem proteções ou santuários para críticas a ideias de toda sorte. Culpar os cartunistas ou mesmo pensamentos do tipo "eles pediram por isso" tem exatamente a mesma lógica de culpar a mulher pelo estupro.

Que o mundo dos cartoons abra uma guerra contra os radicais religiosos. E que pegue pesado nisso.