terça-feira, 7 de abril de 2015

E se liberar ?

Meu post sobre a liberação das drogas gerou perguntas. Algumas delas eu mesmo havia previsto durante o texto, mas como ele ficou longo optei por deixar para a segunda parte. Aqui estou, então.
O ponto central que ficou em aberto parece ser de amplo escopo, mas na verdade pode ser resumido em uma só pergunta: quais as consequências disso? Se preferirem outras redações, temos algo como "Mas e o drogado dirigindo carro?", "Inocentes morrerão por causa disso" e afins. 
Tudo verdade.

Sim, amigo leitor, você leu certo. eu concordo com essas afirmações e vou mais longe. Seguem algumas coisas que imagino que possam acontecer em um período de 5 anos:
- o consumo total de cada uma das drogas vai aumentar (muita gente não consome apenas por ser proibido)
- o consumo assumido de drogas vai aumentar vertiginosamente (muita gente consome escondido por ser proibido e não vai mais precisar se esconder)
- alguns acidentes de trânsito levarão as vidas de algumas vítimas que não consumiram qualquer tipo de entorpecente. 
- as overdoses aumentarão um pouco mais do que a quantidade total consumida, pois serão alguns novatos azarados (para não dizer burros agudos) exagerando na brincadeira.
- aumentará um pouco, no médio prazo, a quantidade de doenças relacionadas ao uso de drogas (AIDS por exemplo). O mesmo para pneumonia, hepatite, insuficiência renal e outras.
- algumas pessoas perderão o emprego/carreira/amigos/família por causa do consumo de drogas. Será um número maior que o consumo total, pois isso já acontece hoje, mas a liberação acabará com as travas legais ao consumo, o que pode ter esse efeito nefasto em uma parte dos usuários.

Agora vamos a algumas coisas que não acontecerão:
- não teremos hordas de milhões de zumbis dependentes vagando pelas cidades em busca de mais uma dose, pela simples razão de que a maioria das pessoas não tem o menor interesse em experimentar essas coisas, eu incluso.
- não teremos uma explosão de casos de violência por parte dos dependentes, pois a quantidade de dependentes não aumentará significativamente.

O ponto é que essa medida tem por objetivo fazer nossa sociedade sair dessa adolescência planetária e finalmente entrar na fase adulta. É como aquele jovem querendo encontrar seu espaço no mundo e sai de carro, bebe um pouco mais do que deve e beija mais do que consegue contar. Se não deixar o cara bater um pouco a cabeça, ele não amadurece nunca.
A analogia é interessante em outras camadas. Assim com alguns adolescentes erram de forma trágica aqui não seria diferente. Como disse, overdoses, acidentes, tragédias pessoais e mesmo mortes acontecerão. Até aí, já morremos por balas perdidas e atropelamentos por motoristas alcoolizados, então... Mas isso nos levará ao patamar seguinte, onde seremos coletivamente capazes de lidar com substâncias psicoativas sem nos matarmos no processo.
Não tenho a pretensão de dizer quanto tempo isso levará. Talvez uma geração inteira, talvez ainda mais que isso. Mas acho que enquanto não dermos esse passo juntos continuaremos a vermos uns aos outros como crianças cuidadas por outras crianças.

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