quinta-feira, 2 de abril de 2020

Classificando a Atividade

Vamos começar pelo óbvio: leilão em galeria de arte contemporânea é serviço supérfluo, enquanto pronto socorro de hospital é serviço essencial. Podemos partir dessa escala, amigo leitor? Suponho que sim.
Vamos, agora, pegar um setor econômico de "fácil" isolamento e esmiuçar um pouco: automotivo. Já está definido que podemos usar carros durante o isolamento. Na verdade, uma pessoa sozinha dentro do carro está mais protegida de contaminação do que o pedestre. Logo, os postos de combustíveis são serviço essencial: o carro não anda sem gasolina ou etanol. Ato contínuo, o borracheiro se torna essencial. O mesmo com o mecânico e o autoelétrico, certo?
E o funileiro?  Se o proprietário fez um amassado leve no carro, isso pode perfeitamente esperar algumas semanas para ser consertado, mas uma colisão mais forte pode tirar o veículo de circulação. Então, começou o bom e velho depende. E não faz sentido algum autorizar a oficina a consertar apenas os problemas sérios, adiando os leves: a oficina já abriu e o trabalhadores já estão lá. Aí temos aquela oficina de estofamento de veículos: ela abre ou fecha? E o especialista em ar condicionado automotivo? E a oficina som automotivo?
Amigo, se fecharmos a oficina de som automotivo por ser um serviço supérfluo (e é !), temos uma concorrência desleal com aquela oficina que faz autoelétrico e som automotivo: esta última pode funcionar e acaba levando vantagem indevida. 
Complicou, né?

Sim, classificar atividades econômicas, por si só, já é um rolo danado. 

O consultório odontológico é serviço essencial. Logo, o dentista vai trabalhar. Portanto, o(a) recepcionista também vai, ou o consultório para antes do terceiro paciente ser atendido. Daí temos uma cadeia de suprimimentos, sem os quais o consultório também deixa de funcionar. Pode ser que tenha estoque, mas não é assim com todos. Então o fornecedor desses suprimentos precisa trabalhar, mas já em regime de atendimento especial. Interessante...
O amigo leitor deve ter notado que, à medida em que nos afastamos do core business, o grau de urgência do serviço começa a diluir. No hospital, todo mundo trabalha durante a crise. No mercado, todo mundo trabalha durante a crise. No restaurante trabalhando apenas em delivery, já não é necessária a limpeza do salão, que está fechado. O salão de beleza está fechado... até entendermos que uma unha encravada em uma pessoa diabética não é estética, é atendimento de saúde, e pode até ser emergencial! Notam quantos "depende" podem aparecer?

Sim, gente... as interações e necessidade econômicas são extremamente complexas. Rotular e colocar em caixinhas estanques em larga escala é perda de tempo. 
No próximo texto, quem é você na fila do pão? Vamos olhar um pouco mais no trabalhador em vez do negócio em si. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário