quinta-feira, 9 de abril de 2015

Estag-flação

Estag-flação não é um termo técnico, amigo leitor. É uma expressão em economês comum (se é que isso existe) para representar o cenário econômico no qual uma economia vive ao mesmo tempo dois problemas sérios: estagnação (baixo, nulo ou negativo crescimento econômico) e inflação
O leigo percebe apenas parcialmente o problema. Ambos parecem coisas ruins e desagradáveis e que precisam de medidas relativamente sérias para seu combate. E a junção das duas apenas parece uma combinação de azares, algo como um sujeito quebrar uma perna e pegar uma gripe ao mesmo tempo. A situação é muito pior do que isso, porém.  No caso da estagflação, o remédio de problema um dos problemas causa o outro e vice-versa. Explico.

Uma das melhores maneiras de se incentivar o crescimento econômico é o governo espalhar dinheiro no setor produtivo, nem que seja necessário imprimir moeda. A técnica mais usual hoje em dia é a redução das taxas de juros. Com juros mais baixos, as pessoas (físicas e jurídicas) tem menor propensão a deixar suas economias em aplicações e passam a procurar alternativas no setor produtivo. Projetos com menores taxas de retorno mudam da coluna "não atraente" para "atraente" por conta disso. Mais dinheiro circula, o que significa aumento de demanda por alguns bens e serviços, que vêem espaço para reajustes de preço. Ou seja, causa inflação
A segunda medida é a redução de empréstimos compulsórios por parte dos bancos, o que coloca mais moeda disponível para empréstimos. Os bancos passam a praticar mais empréstimos e novamente mais dinheiro circula, como acima. Inflação
A terceira e mais perigosa opção é a impressão de moeda. Neste caso, o dinheiro é injetado diretamente na economia na forma de gastos do governo. Em uma mesma tacada, há mais meio circulante e pressão em preços. Novamente, inflação.
Perde quem não sabe se defender da inflação, mas no geral, o país retoma os trilhos do crescimento.

Já o combate à inflação costuma passar pelo corte de liquidez. Os principais remédios são exatamente o oposto do visto acima: elevação em taxas de juros e aumento de empréstimos compulsórios. Observe-se o perigo da impressão de moeda, pois o oposto dela seria o governo queimar dinheiro para que ele deixasse de existir. Fazendo-se a conta acima ao contrário, isso deprime o mercado, podendo levar á recessão.

A estagflação, nosso momento atual, é a junção dos dois fenômenos. É como precisar emagrecer sem poder fazer exercícios. É como precisar acelerar o carro com uma curva fechada a frente. É como precisar atacar o time adversário com um jogador a menos em campo.
Aos que pensarem em contestar o fenômeno, basta ver os números:
Inflação: 8,13% anual no acumulado dos últimos 12 meses. 
Crescimento: 0,1% anual.
É exatamente, portanto, o cenário de desastre, provocado por anos de política econômica voltada para incentivo ao consumo pelas classes baixas (importante !) sem correspondente cuidado com a produção. 
Os caminhos agora são 3, e o governo não quer fazer nenhum deles:
- combater a inflação e afundar na recessão
- combater a recessão e deixar a inflação subir ainda mais
- combater os dois ao mesmo tempo, com um ajuste de contas sem precedentes no país. 
E agora, Dilma? Tem coragem de cortar a máquina? Tem coragem de desalojar seus amiguinhos dos milhares de cargos de (des)confiança para reduzir os custos do governo?

2 comentários:

  1. A resposta é não, ela não tem. Meu medo é que todo mundo acha que o governo do PT hoje está no fundo do poço, e o que eu vejo é que eles tem uma oportunidade sem precedentes de transformar a Dilma em mártir. Basta eles estarem dispostos a esquecer alianças e "queimar" gente.

    Em tempo: O que, nenhum post sobre a PEC 4330?

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    1. Não tenho opinião formada sobre a PEC 4330, por isso não falei dela. Se é pra só levantar pros e contra, não melhora muito.

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