quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Um Cubo (2)

Hanashiro Tanaka viveu toda sua vida em Tóquio. Chegou a cogitar sair da metrópole japonesa quando estava por iniciar seu curso superior, mas acabou se acomodando por ali mesmo. E era pela universidade de Tóquio que ele lecionava a pesquisava sobre comportamento de gases em condições extremas. Tanaka não se importava de viajar, mas dormira terrivelmente mal a última noite.
Tanaka notou que Penske não economizava com o conforto de seus convidados. Por ter sido o penúltimo carro a chegar, notou outros cinco muito parecidos saindo logo antes dele, e um sétimo chegando praticamente junto ao dele. Por isso, não se surpreendeu ao chegar no hall de entrada da mansão de Penske e encontrar 5 outros convidados, nem quando o último chegou. 
Conhecia apenas dois deles, por trabalharem na mesma área de pesquisa. Modo de dizer, verdade seja dita, porque a rigor não existem dois pesquisadores procurando a mesma coisa no mundo, tão ampla que a Ciência se tornou. Ainda assim, congressos e seminários acabavam juntando semelhantes e foi assim que ele conheceu James Dumbar, americano que detestara de pronto, e William R. Judd, um britânico típico por quem simpatizara em especial pelo jeito fino e educado. Não era, no entanto, frequentador tão assíduo de eventos científicos, então não estranhou o fato de não conhecer mais ninguém. Aproximou-se de Judd, que conversava com uma mulher bem mais velha:
- Como vai, Will ?
- Oh, Hanashiro! Quanto tempo! Dois anos?
- Algo assim. Creio que tenha sido naquele evento em Roma.
- Lá mesmo. Como puderam fazer aquilo conosco, Hanishiro!? Uma cidade com gastronomia tão encantadora e no entanto... - O olhar de reprovação de Judd era patente.
Ao seu lado, a senhora se empertigou, mas Judd reagiu a tempo de evitar um constragimento:
- Dr. Tanaka, esta é a Dra. Annette Rousseau, de Marselha.
O japonês, que sempre ficava desconfortável nessas situações, estendeu a mão e a cumprimentou. Não sabia como proceder com francesas, então optou pelo mais seguro. Ela aceitou o gesto, medindo-o de cima a baixo. Ele arriscou conversar:
- Também estuda física dos gases, doutora?
- Ah... sim, mas não como vocês, rapazes. Meteorologia.
Tanaka não era capaz de diferenciar uma nuvem de chuva de e uma de fumaça, e ficou subitamente incomodado com isso. Tentou brincar:
- Imagino o que vocês estava discutindo então.
- Derrotar novamente os alemães. Ainda não fizemos isso neste século. - O humor inglês podia ser perfurante.
- Ora... deixe-nos de fora desta vez.
Os três riram. Ao longe, Dumbar reprovava a ideia de jogar conversa fora, mas ninguém ligava para a opinião dele. 

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