Matthew W Collins detestava viajar. Não era apenas uma questão de aeroportos, cartões de embarque, despacho de bagagens, reserva de hotéis, aluguel de carro, taxis e fusos horários. Era também ficar longe de suas rotinas, sua pia do banheiro, o cheiro do sofá velho e datado e do luminoso verde e vermelho da pizzaria do outro lado da rua. Ele nunca se desapegava das coisas e dos hábitos. Quarenta anos depois, inclusive, ele seria diagnosticado como acumulador compulsivo, distúrbio que ele já começava a apresentar nesse particular ponto de sua vida.
Matthew detestava viajar. De certa forma, o universo fora gentil com ele desta vez. De Chicago para Charleston a diferença era de apenas uma hora para frente. Havia diversas opções de voos com escala, mas seu anfitrião gentilmente escolhera um voo direto. Também havia um motorista a sua espera quando ele chegou, para levá-lo ao Restoration on King, melhor opção da cidade. Era início de abril, o que indicava mínimas chances de tornados e o fato de ser primavera traria pouca mudança de clima. Talvez, pensou Matthew, o anfitrião H. J. Penske soubesse disso tudo e tenha feito o máximo para agradá-lo.
Matthew detestava viajar, mas gostava de teorias, e esta não era uma teoria ruim. Penske conhecia sua ficha, a julgar pelo convite. Mencionava seu mestrado e doutorado em resistência de materiais, além dos trabalhados mais recentes. Não eram segredo: qualquer pessoa com acesso a publicações científicas encontraria tudo isso. Mas Matthew se sentiu reconfortado de parecer interessante aos olhos de Penske. E mesmo que o magnata do setor de transportes tenha ordenado a busca por algum de seus assistentes em vez de fazer a pesquisa pessoalmente, o simples fato de querer se informar agravada a Matthew.
Matthew detestava viajar, mas neste momento pensava sobre o que mais Penske poderia saber sobre ele. Matthew não gostava de esportes, embora achasse relaxante o vai e vem do puck do hóquei sobre o gelo. Não era apreciador de música também, embora também não fosse algo que o incomodasse. Bebia além da conta, fato que sempre o incomodava mas, visto com sinceridade, não tanto assim pois jamais tomara qualquer atitude a respeito. Pelo menos nunca tinha passado por situações embaraçosas devido ao whisky. De fato, era uma situação intrigante, quase um desafio que tomou a atenção de Matthew durante a o trajeto pouco interessante até o hotel, ou mesmo no processo de registro. A verdade era que ele conhecia apenas a figura pública de Penske, nada mais. E não era exatamente um segredo depois de sair como capa da Time.
Matthew detesva viajar e adorava um mistério. Absorto que estava neste, não reparou que o Dr. Hanashiro Tanaka estava no saguão do hotel quando ele chegou. Quanto aos Drs. Annette Rousseau, Michael Rodriguez e Michael K. Garrett, que conversavam em um conjunto de sofás e poltronas de estilo vitoriano, Collins só seria apresentado a eles na manhã seguinte. Por isso, Matthew foi dormir sem imaginar a quantidade de trabalhos científicos em tão variadas área que estava sob o mesmo teto. Por isso, manteve-se adepto da teoria de que Penske procurara tornar seu deslocamento o menos desagradável possível.
Matthew detestava viajar tanto quanto detestava estar errado. Era uma boa teoria, mas estava completamente errada.
Matthew detestava viajar tanto quanto detestava estar errado. Era uma boa teoria, mas estava completamente errada.
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