segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Um Cubo (1)

Matthew W Collins detestava viajar. Não era apenas uma questão de aeroportos, cartões de embarque, despacho de bagagens, reserva de hotéis, aluguel de carro, taxis e fusos horários. Era também ficar longe de suas rotinas, sua pia do banheiro, o cheiro do sofá velho e datado e do luminoso verde e vermelho da pizzaria do outro lado da rua. Ele nunca se desapegava das coisas e dos hábitos. Quarenta anos depois, inclusive, ele seria diagnosticado como acumulador compulsivo, distúrbio que ele já começava a apresentar nesse particular ponto de sua vida.
Matthew detestava viajar. De certa forma, o universo fora gentil com ele desta vez. De Chicago para Charleston a diferença era de apenas uma hora para frente. Havia diversas opções de voos com escala, mas seu anfitrião gentilmente escolhera um voo direto. Também havia um motorista a sua espera quando ele chegou, para levá-lo ao Restoration on King, melhor opção da cidade. Era início de abril, o que indicava mínimas chances de tornados e o fato de ser primavera traria pouca mudança de clima. Talvez, pensou Matthew, o anfitrião H. J. Penske soubesse disso tudo e tenha feito o máximo para agradá-lo.
Matthew detestava viajar, mas gostava de teorias, e esta não era uma teoria ruim. Penske conhecia sua ficha, a julgar pelo convite. Mencionava seu mestrado e doutorado em resistência de materiais, além dos trabalhados mais recentes. Não eram segredo: qualquer pessoa com acesso a publicações científicas encontraria tudo isso. Mas Matthew se sentiu reconfortado de parecer interessante aos olhos de Penske. E mesmo que o magnata do setor de transportes tenha ordenado a busca por algum de seus assistentes em vez de fazer a pesquisa pessoalmente, o simples fato de querer se informar agravada a Matthew.
Matthew detestava viajar, mas neste momento pensava sobre o que mais Penske poderia saber sobre ele. Matthew não gostava de esportes, embora achasse relaxante o vai e vem do puck do hóquei sobre o gelo. Não era apreciador de música também, embora também não fosse algo que o incomodasse. Bebia além da conta, fato que sempre o incomodava mas, visto com sinceridade, não tanto assim pois jamais tomara qualquer atitude a respeito. Pelo menos nunca tinha passado por situações embaraçosas devido ao whisky. De fato, era uma situação intrigante, quase um desafio que tomou a atenção de Matthew durante a o trajeto pouco interessante até o hotel, ou mesmo no processo de registro. A verdade era que ele conhecia apenas a figura pública de Penske, nada mais. E não era exatamente um segredo depois de sair como capa da Time.
Matthew detesva viajar e adorava um mistério. Absorto que estava neste, não reparou que o Dr. Hanashiro Tanaka estava no saguão do hotel quando ele chegou. Quanto aos Drs. Annette Rousseau, Michael Rodriguez e Michael K. Garrett, que conversavam em um conjunto de sofás e poltronas de estilo vitoriano, Collins só seria apresentado a eles na manhã seguinte. Por isso, Matthew foi dormir sem imaginar a quantidade de trabalhos científicos em tão variadas área que estava sob o mesmo teto. Por isso, manteve-se adepto da teoria de que Penske procurara tornar seu deslocamento o menos desagradável possível. 
Matthew detestava viajar tanto quanto detestava estar errado. Era uma boa teoria, mas estava completamente errada.

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