quinta-feira, 12 de maio de 2016

O Bode na Sala

Convivo com a internet há muitos anos. Mais de 20. 
Ainda em 1994, um ex-amigo foi a primeira pessoa próxima a ter acesso à rede. Muito se falava dela na Poli, mas ninguém tinha muita certeza do que era e para que servia. No mesmo ano, um amigo da mesma turma conseguiu algo similar na Unicamp. Por causa dele, ganhei uma grana séria 2 anos depois. Isso foi antes do email ser de fato conhecido, para vocês terem ideia. Era um sistema de troca de textos cujo nome, honestamente, não lembro. O formato era algo parecido com o que viriam a ser os fóruns.
Um ano depois, em meu primeiro estágio na Escola Paulista de Medicina, foi minha vez. Acho que estou entre os 0,001% brasileiros que mais cedo tiveram acesso a ela. Lá eu tinha email e navegador Netscape para acesso web. A esta altura, já existiam as listas de discussão, algo que muitos dos leitores deste blog conheceram e até mesmo usaram, mas que a esmagadora maioria dos internautas nunca ouviu falar. 
Já com o acesso discado em casa, surgiu o IRC (internet relay chat). Para quem viria a conhecer as salas de chat da virada do milênio, o IRC era o mesmo conceito, com um acesso muito mais ágil, agradável e funcional, exigindo alguma prática com os aplicativos que o acessavam, 3 anos antes.
Mais a frente, vieram os fóruns, páginas onde se podiam colocar textos de modo permanente. As ideias era lidas por todos e debatidas. Ainda existem alguns bem ativos até hoje, dos mais variados temas.
A invenção seguinte foram as redes sociais. Orkut: quem nunca?
Orkut foi o primeiro modo de acesso à internet realmente utilizado em massa no Brasil. Depois veio o Facebook e agora, com o Whatzapp, atrevo-me a dizer que mais da metade dos brasileiros está em um mesmo ritmo de acesso. 

E por que narrei esta história por muitos conhecida e de modo tão simplório? Porque estou narrando apenas os modos de interação entre as pessoas. Por isso deixei navegação web, FTP, Naspster, Kazaa, e-mule, torrent e tantas outras coisas de fora.
O Whatzapp marcou, na visão deste blogueiro, uma grande novidade. Pela primeira vez as famílias passaram a conviver em algum modo de acesso à internet. Sim, eu sei que seus amigos, irmãos e talvez aquele seu tio que trabalha em TI usa Facebook todo dia. Mas pela primeira vez, há um modo de acesso utilizável por qualquer um que realmente queira: basta ter um espertofone com mínimos requerimentos de acesso à internet, e a sua avó pode instalar (ou pedir para você instalar) o Whatzapp para ela. E com o Whatzapp veio o grupo da família.

Maldita inclusão digital...

Não adianta, você pode ter mais ou menos sorte, mas um dia o grupo da família te acha e te inclui. E agora é um treta séria sair, bem séria, quando você quiser sair do grupo:
- Você não se importa com sua família, seu degenerado.
- "Claro que não me importo. Faz 18 anos que não apareço a um aniversário de primo e você só notou agora que eu me afastei porque vocês são um bando de malas falando da novela e do Biro-Biro?"
E agora vivemos mais uma onda de mau uso do recurso tecnológico, com os mesmos nichos que vimos desde a época das listas de discussão:
- o mal briguento educado
- o que não responde
- o missionário religioso
- o que passa corrente
- o que passa boato
- o radical politizado
- o gatófilo/floriculturista
- o que manda fotos do cocô do filho
Já tive que superar isso em 6 mídias anteriores, e toca ter paciência para mais uma. E novamente, surge o problema do que que abusa mesmo da paciência de todos. Ou, em um caso mais particular, que nem fez nada de mais no grupo, mas agora está afastado de todos. O grupo está lá, operacional, tecnicamente vivo, mas ninguém sabe o que fazer com a pessoa inconveniente. Há um bode na sala.
Desta vez, a conta mudou. Era fácil expulsar um estranho do fórum, do IRC ou até bloquear no Facebook. Mesmo que fosse um colega distante. Mesmo que fosse amigo de um grande amigo. Mas como você vai expulsar, por exemplo, um primo, um irmão, um cunhado ou um tio que trabalha em TI do grupo do Whatzapp sem começar a 3a Guerra Mundial?

Não sei a resposta, ok? 
Apenas imagino que os leitores tenham passado por algo similar já. Mas deixo um aviso: se você não passou pelo problema de ter uma pessoa inconveniente no grupo da família, talvez a pessoa inconveniente seja você.
Só um aviso.

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