sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ele desiste

Está em voga a reforma do Ensino Médio no Brasil. Do pouco que li, gostei bem pouco. Segue artigo opinativoEntre começar este post e concluir, já surgiu uma nova onda de boatos, então está cada vez mais difícil saber a verdade. Segue link desmentindo o fim da obrigatoriedade dos ensinos de Educação Física e Artes, entre outras. Tratarei disso outro dia. 

É com com algum espanto e muita consternação que leio a afirmação de sempre, no primeiro link, o artigo opinativo.

"Se o aluno carregar defcits de anos anteriores - o que tem acontecido -, não haverá disciplina opcional que o segure na escola. Ele desiste."

Como assim, o aluno desiste
Faço aqui meu relato pessoal, de quem fez duas escolas particulares (uma de baixo custo e qualidade média, seguida pela outra de custo e qualidade altos). No meu tempo (já pareço um velho falando?) quem ia mal repetia de ano, e isso era uma enorme carga social e emocional no estudante. "Repetente" era o equivalente ao "looser" dos americanos, embora mais específico. E a repetência era a causa-raiz da evasão escolar, diziam estudiosos que defendiam a aprovação automática.
Hoje temos a aprovação automática em parte do sistema e o tema evasão escolar continua a existir. Não sei se ela diminuiu: não tive paciência de procurar dados de longo prazo (agradeceria se alguém o fizesse). Mas sei que o assunto ainda preocupa.
Mas o fato é que nesses anos todos (25+), tentou-se a progressão continuada, novas tecnologias em sala de aula, novas técnicas de ensino, aumento na carga horária, melhorias de infraestrutura e até o aumento da idade mínima para trabalhar (de 14 para 16 anos), todos tidos como vilões do ensino. E de algum modo, voltamos a falar de evasão escolar....
Que eu não nego a existência, vamos deixar claro! Não dá para discutir com números e, mesmo não os tendo, se eles apontam que a quantidade de formandos é perceptivelmente menor que a quantidade de matriculados anos antes, há evasão. Assumirei que sim.

Agora volto a ser anedótico ao lembrar dos repetentes de minha era. Nenhum deles, nunca, deixou de estudar. Alguns mudaram de escola, outros mudaram de cidade (e de escola), mas nunca testemunhei um único caso de evasão.
"Ah, você é classe-média (coxinha, reaça, elite branca paulistana...) e não convive com a realidade das classes menos favorecidas".
É verdade, narrei isso de início. Mas vamos juntar as peças então. Se eu sempre foi classe média e nunca testemunhei um caso de evasão escolar, mas a evasão escolar existe, o que tem de diferente na tal classe média que mantém seus filhos na escola até o final do ensino médio, e por vezes os leva ao ensino superior?
Porque... se não era a repetência, não era a idade mínima para trabalhar legalmente, não era a tecnologia em sala de aula, não eram as técnica de ensino, era o que então?

Sinceramente, eu via quando adolescente pais muito mais firmes. Por incrível que pareça eu estar mencionando isso, tenho a sincera impressão de que o problema vem de casa. Os pais de meus amigos, colegas e contemporâneos de escola jamais considerariam tirar o filho da escola porque ele repetiu de ano ou "não quer mais estudar". Esse conceito simplesmente não existia. Depois de meia dúzia de chineladas (sim, era a medida final depois de opções mais brandas), o moleque voltava para a escola nem que fosse para ficar longe das havaianas da mãe. Na verdade, estou sendo muito exagerado aqui, pois o cenário de um estudante de, sei lá, 12 ou 14 anos querendo sair da escola era algo completamente alienígena.
Não vejo, portanto, qualquer relação entre evasão escolar e problema como repetência, grade curricular e afins. Nem algo parecido com relação.
"Ele desiste" diz o articulista.
"Os pais deixam ele desistir" responde este blogueiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário