sexta-feira, 25 de maio de 2012

A mente vazia é o atelier da mídia inescrupulosa

Ou algo assim.
Vi uma frase de efeito publicada na timeline do amigo Bruno Saggese ontem. Ele tirou a charge do ar em seguida, por razões dele, mas isso me provocou a escrever algo sobre um tema atual, dominante e persistente. É a Mídia, controlada por corporações, responsável pelas mentes cada vez mais vazias das pessoas com suas programações cada vez menos úteis ? Ou seria o oposto, e a programação seria reflexo do que se espera dela, e a Mídia seria apenas um espelho da Sociedade ?
Começando pelo começo, o que é a tal da mente vazia ? Em resumo, é essa coisa triste que se observa nas pessoas no dia a dia. Percebe-se o baixo nível intelectual das conversas em qualquer lugar: nos transportes públicos, nos restaurantes, na fila do cinema, até entre amigos. O preconceito com pessoas de menor grau de instrução ultrapassa os limites do ridículo aqui, pois mesmo Mestres e Doutores passam seus almoços discutindo Big Brother Brasil, se o gol foi em impedimento ou não e se a Xuxa fez bem ou mal em falar o que falou no Fantástico. Debatem-se as fotos da Carolina Dieckmann, a panicat que ficou careca e a última piada do Rafinha Bastos. Os mais engajados até falam em casos de corrupção nos governos, gastos para a Copa do Mundo e, talvez, na liberação do aborto de anencáfalos.
Mas ninguém mais fala em reforma tributária, em modelos educacionais, no que significa a descoberta de mais um planeta rochoso fora do Sistema Solar ou na teoria econômica por trás da atual crise do euro.
Ao compararmos o atual espectro de conversas das pessoas, temos uma clara sensação de perda de qualidade nos últimos 10 ou 20 anos. Um leitor mais idoso deste blog pode dizer 30 ou 40 sem ficar constrangido. Não é algo que se possa medir, mas no máximo exemplificar. Não acho necessário relembrar o que eu conversava com meus colegas André Inoue e Alex Hausch (este já falecido) no balcão do falecido bar Sangabi, mas certamente não era sobre novela das 8 nem sobre o Biro-Biro.
Dando um passo a frente no tema, é preciso olhar até mesmo como fiz para definir mente vazia. Abusei de exemplos de conteúdo de Mídia para tanto e isso, por si só, é sintomático até da minha parte. Será que nos rebaixamos a ponto de depender da Mídia até para definir nossos padrões ? Não, não chegamos a tanto, mas é certamente um recurso preguiçoso e não o usei levianamente. Fi-lo para chacoalhar o assunto. Creio ter conseguido.
Partindo da origem da mídia, para quebrar radicalmente o ritmo o texto, podemos simplificar a modelagem mental com o simples conceito de "ponto de origem" de uma ideia. De modo rápido, sabemos que um século atrás não havia televisão, rádio, internet e hoje tudo isso está aí. E muito segue desse conceito. Acompanhem.
Um século atrás não havia, por exemplo, transmissões esportivas ao vivo e hoje elas abundam nas telas. Então ninguém passaria um almoço inteiro debatendo um lance futebolístico, pois isso só seria possível para quem esteve no local do evento. E ainda assim dependia demais da percepção individual instantânea, pois mesmo os afortunados que estavam in loco não tiveram direito e replay. O debate era inócuo, logo era percebido, e se passava para algo mais nobre como o avanço dos bolcheviques na Rússia. Em algo momento neste século algum iluminado bolou a ideia de transmitir ao vivo uma partida de futebol na televisão e isso deu início a um processo social.
Um século atrás também não haviam telenovela, pois não havia a tele, apenas a novela. Então as pessoas liam os romances em vez de absorvê-los passivamente. Analogamente ao exemplo do futebol, alguém teve a ideia de filmar uma história para televisão em centenas de partes para manter a audiência cativa por meses.
O mesmo se aplica ao telejornal, à música brega, à entrevista com celebridades e tudo o mais. Então não se pode negar que o primeiro movimento é, sim da Mídia, que cria o conceito e o experimenta.
Mas sem audiência, nenhum desses conceitos perdura. Se o público não gosta, não vinga. Que audiência teria um Big Brother Brasil sem uma nação de gente frívola e fofoqueira como a nossa ? Que audiência teria a telenovela sem um público cativo preguiçoso demais para ler um bom ou mesmo eu péssimo livro ? Será que É o Tchan, Exaltasamba, Tati Quebra-Barraco e, mais recentemente, Michel Teló fariam algum mínimo sucesso, por exemplo, na Áustria ? Evidente que não.
Se a Mídia planta essas coisas, é porque encontra um solo fértil para esse tipo de porcaria. Então antes de criticarmos a Corporação, que tal criticarmos a nós mesmos quando damos indevida atenção a temas tão desprovidos de utilidade ou arte.
Não censuramos nossos colegas que possuem gosto duvido em nome de um suposto respeito à livre escolha. "Gosto não se discute", diz a máxima.
Discute-se sim. Acho que temos o direito de falar na cara de qualquer um "não sei, não vejo esse lixo." Acho que podemos, de modo mais construtivo, recomendar algo de bom no lugar do péssímo que predomina. E acho que devemos fazer isso com urgência, pois está custando uma geração a este país. Talvez duas, para ser mais honesto e autocrítico.

2 comentários:

  1. É um ponto interessante a se pensar esse negócio do "Gosto não se discute, se lamenta. E muito". Porém, a abordagem do tema em si demonstra um pouco de preconceito.
    Explico: você fala como se esse problema fosse um problema brasileiro. Não é, se trata de um problema mundial. E em alguns países é ainda pior do que aqui (o que tem de país ali para os lados da Áustria que adora o BB, e no qual o BB é assumidamente pornográfico não é brincadeira).
    Olhando para os Estados Unidos e para o Japão, duas das maiores potências econômicas do mundo, vemos o que é o nosso futuro provável: uma nação de consumistas desenfreados, alienados sem preparo algum para lidar com o fracasso e que prefere ver o filme do Harry Potter a ler os livros, isso porque os livros já tem valor literário duvidoso.

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    1. Longe de querer discrodar do que você diz, meu ponto é que falo do que eu conheço e para quem pode me ouvir e entender. Não tenho como ajudar japoneses consumistas desesperados ou holandanses punheteiros do Big Brother local. Mas os daqui estão mais perto e falam minha língua. Então vai para eles.

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