sábado, 21 de março de 2015

Falácias

Fazia tempo que eu devia ter feito isso. Então Douglas Donin passou na minha frente e fez ele mesmo. Então copiei e colei, com autorização dele.
Segue uma lista de falácias que, além de ótima referência de pesquisa, também serve para uma autocrítica eventual.

GUIA DE FALÁCIAS LÓGICAS
PELEGO EDITION

Ou seja: se quiser defender o Governo ou o seu partido, o faça - mas não incorra nos erros abaixo, pois, independentemente do conteúdo do seu argumento, ele está ESTRUTURALMENTE errado. A lista não é exaustiva, muitas categorias ficaram de fora... mas nada impede uma ampliação da lista, se necessária.

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*****Falácias de dispersão*****

FALSO DILEMA: são dadas duas alternativas quando de fato há três ou mais. Exemplo: “Ou você apóia o Governo, ou quer a volta da Ditadura Militar”.

APELO À IGNORÂNCIA: conclui-se que uma proposição é falsa (ou verdadeira) porque não se sabe se é verdadeira (ou falsa). Ex: “Não sabemos se a Dilma sabia o que ocorria na Administração da Petrobrás quando ela era do Conselho de Administração, LOGO, ela não sabia.”

DECLIVE ESCORREGADIO: consequências cada vez mais inaceitáveis são derivadas em série. Exemplo: “Se admitirmos que críticas possam ser feitas ao Governo, amanhã os militares estarão na rua com tanques de guerra”.

*****Apelo a motivos em vez de razões*****

PERGUNTA COMPLEXA: duas proposições são ligadas no que aparenta ser uma só pergunta. Exemplo: “Você é a favor do que o protesto do dia 15 pediu, ou seja, um golpe militar?”

APELO À FORÇA: o ouvinte é persuadido a concordar pela força. Exemplo: “Críticas ao Governo? Eu não discordaria do Governo se fosse você, pois seu chefe pode receber prints, e sabe como são as promoções no serviço público, né...”

APELO À PIEDADE: apela-se à compaixão ou simpatia do ouvinte. Exemplo: “A Presidente está triste, abatida, sua mãe está mal, logo, não podemos criticar o Governo.”

APELO À CONSEQUÊNCIAS: o ouvinte é prevenido contra consequências inaceitáveis. Exemplo: “Se admitirmos que o Governo é ruim, descobriremos que tomamos uma má escolha na eleição passada, e ninguém quer descobrir isso...”

LINGUAGEM PRECONCEITUOSA: associam-se valores morais positivos à causa defendida pelo autor. Exemplo: “O protesto do dia 15 é de uma elite branca, racista, machista e paulistana que odeia pobres negros, mulheres e nordestinos, logo, é evidente que ela está errada.”

APELO AO POVO: defende-se que uma proposição é verdadeira porque segundo a maioria da população ela é verdadeira. Exemplo: “Pouco importa se o Governo vai mal, é corrupto ou se inflação está incontrolável. O que importa é que a Dilma venceu as eleições, e isso blinda o Governo de críticas.”

*****Fugir do assunto*****

ATAQUES PESSOAIS (AD HOMINEM):
(1) ataque ao caráter da pessoa. Exemplo: “Dilma está certa, porque Aécio é cheirador.”
(2) referem-se circunstâncias relativas à pessoa (ad hominem circunstancial). Exemplo: “Dilma está certa, porque quem está falando mal dela é opositor. Óbvio que opositor tem interesse nisso!”
(3) invoca-se o fato de a pessoa não praticar o que diz (tu quoque). Exemplo: “Não podemos criticar o PT, porque o PSDB é corrupto também.”

APELO À AUTORIDADE:
(1) a autoridade não é um perito no campo em questão. Exemplo: “Como alguém pode criticar o PT, se o Gregório Duvivier falou que...”
(2) não há acordo entre os peritos do campo em questão. Exemplo: “Como alguém pode criticar o PT, se os maiores pensadores da esquerda nacional sabem que o socialismo que ele propõe é a melhor via para combater a crise internacional...”
(3) a autoridade não pode, por algum motivo, ser levada a sério — porque estava brincando, estava bêbada, etc.. Exemplo: “Ah, então é isso que os protestos querem? Mandar a Dilma para a Indonésia, de verdade?”

AUTORIDADE ANÔNIMA: a autoridade em questão não é declarada. Exemplo: “Vários estudiosos já concluíram que as medidas do PT são as melhores para combater a crise.”

ESTILO SEM SUBSTÂNCIA: sente-se que o modo como o argumento (ou o argumentador) é apresentado afeta a verdade da conclusão. Exemplo: “Óbvio que Gregório Duvivier tem razão, os vídeos da Porta dos Fundos são muito engraçados.”

FALÁCIA DA PRIORIDADE: Assumir que um problema só pode ser enfrentado se outro for previamente solucionado. Exemplo: "Os manifestantes não têm razão nenhuma para protestar contra o Governo Dilma, pois deveriam antes se preocupar com o que aconteceu no Governo FHC."

FALÁCIA DA PERFEIÇÃO: Sustentar que um problema parcialmente solucionável não admite solução parcial, apenas soluções totais. Exemplo: "É um absurdo cobrar punição dos corruptos do partido do Governo, porque todos os partidos tem seus corruptos, a corrupção faz parte da natureza humana, e a punição não vai acabar com a corrupção."


*****Falácias indutivas*****

GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA: a amostra é demasiado pequena para apoiar uma generalização indutiva sobre o domínio em questão. Exemplo: “Entrevistei duas pessoas no protesto, e os dois eram favoráveis à intervenção militar. 100% dos entrevistados! Logo, 100% das pessoas que estavam no protesto querem intervenção militar.”

AMOSTRA NÃO REPRESENTATIVA: a amostra não é representativa do domínio em questão. Exemplo: “Entrevistei um grupo de militares no protesto, e a maioria era favorável à intervenção militar. Logo, a maioria das pessoas que estavam no protesto quer intervenção militar.”

FALSA ANALOGIA: desprezam-se diferenças relevantes entre os objetos ou acontecimentos comparados. Exemplo: “As fotos desse protesto lembraram muito as da Marcha com Deus Pela Família e Liberdade, logo, querem a mesma coisa, a volta da Ditadura.”

INDUÇÃO PREGUIÇOSA: nega-se, apesar dos indícios favoráveis, a conclusão de um forte argumento indutivo. Exemplo: “Os manifestantes impediram Bolsonaro de discursar e se mostraram contra intervenção militar. Se eles são favoráveis às idéias de Bolsonaro e à ditadura militar? Impossível saber. Provavelmente sim.”

FALÁCIA DE OMISSÃO: não é considerada toda a informação relevante que devia pesar na conclusão de um forte argumento indutivo. Exemplo: “Hello friends from the world! Our elected leader is under a threat of COUP, with ABSOLUTELLY NO REASON. These are the facts. Help us!”

*****Falácias envolvendo silogismos estatísticos*****

ACIDENTE: uma generalização é feita quando as circunstâncias sugerem que deve haver exceções. Exemplo: “Várias pessoas foram inocentadas no processo do Mensalão, logo, não há UM CORRUPTO SEQUER no Governo!”

INVERSA DO ACIDENTE: generaliza-se o que apenas devia ser tomado como exceção. Exemplo: “Uma pessoa foi atacada na rua por estar com a camisa vermelha. É óbvio que TODOS os manifestantes são violentos!”.

*****Falácias causais*****

POST HOC: pelo fato de algo acontecer após outra coisa pensa-se que a coisa causa o algo em questão. Exemplo: “Bastou que se começasse a criticar o Governo e várias brigas e agressões aconteceram. É óbvio que este tipo de protesto contra o Governo causa comportamento violento.”

EFEITO CONJUNTO: conclui-se que uma coisa é causa de outra coisa quando, de fato, ambas as coisas são o efeito conjunto de uma causa subjacente. Exemplo: “O Governo não tem culpa pela crise econômica: ela é causada pela inflação, pelo desemprego e pela dificuldade de empreender no Brasil.”

INSIGNIFICÂNCIA: conclui-se que uma coisa é causa de algo, mas apesar de também o ser, é insignificante quando comparada com outras causas deste algo. Exemplo: “As pessoas estão bravas com o Governo e fazendo protestos porque estão sentindo reflexos da crise internacional de 2008. É exagero!”

DIREÇÃO ERRADA OU CONTRAMÃO: a relação entre causa e efeito é invertida. Exemplo: “Justamente porque a popularidade da Presidente baixou que as pessoas pararam de apoiar o Governo. Essa revolta toda é culpa dos índices e das pesquisas!”

*****Errando o alvo*****

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO: a verdade da conclusão já estava presumida nas premissas. Exemplo: “Como todos no protesto do dia 15 querem a volta da Ditadura Militar, é óbvio que o protesto é golpista.”

CONCLUSÃO IRRELEVANTE: um argumento apresentado para defender uma conclusão prova, em vez disso, outra conclusão. Exemplo: “Esse protesto é golpista, pois é inegável que várias pessoas dependem dos programas sociais do Governo.”

ESPANTALHO: o autor ataca um argumento diferente (e/ou mais fraco) do que o melhor argumento do opositor. Exemplo: “Basicamente, o que o protesto quer é a volta da Ditadura. Como ser a favor então de quem protesta contra o Governo?”

*****Falácias da ambiguidade*****

EQUÍVOCO: o mesmo termo é usado em dois sentidos diferentes. Exemplo: “Os opositores são coxinhas. E sabe o que significa coxinha? Significa policial militar mal-pago, que só tem dinheiro para comer uma coxinha no almoço. Então esperar o quê de um protesto de policiais militares, truculentos e despreparados para lidar com questões democráticas?”

ANFIBOLOGIA: a estrutura de uma frase permite duas interpretações diferentes. Exemplo: “Os protestantes estão gritando ‘ABAIXO A CORRUPÇÃO, FORA DILMA!’. Ou seja, querem a prisão de todos os corruptos, mas reconhecem que a Dilma é inocente!”

ÊNFASE: a ênfase numa palavra sugere um sentido diferente daquele que de fato é enunciado. Exemplo: “OK, sou obrigado a reconhecer que apenas uma minoria dOS MANIFESTANTES QUEREM DITADURA MILITAR!!!”

*****Erros de categorização*****

COMPOSIÇÃO: como os atributos das partes de um todo têm certa propriedade, argumenta-se que o todo tem esta propriedade. Exemplo: “Algumas pessoas pediam intervenção militar, logo, todo o protesto pediu intervenção militar.”

DIVISÃO: como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as partes têm essa propriedade. Exemplo: “Foi um protesto de um público em média socialmente mais privilegiado, que em maioria votou no Aécio na eleição. Logo, não há lá nenhum pobre, nem tampouco alguém que votou na Dilma e se arrependeu.”

*****Non sequitur*****

AFIRMAÇÃO DO CONSEQUENTE: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, B, portanto A. Exemplo: “Se a economia falha, as pessoas fazem protesto. Assim, se a economia falhar, será culpa de quem protestou!”

NEGAÇÃO DO ANTECEDENTE: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, Não A, portanto Não B. Exemplo: “Quando a Grécia quebrou, várias coisas aconteceram antes com a economia. A maioria destas coisas não aconteceu aqui, então estamos muito bem economicamente!”

INCONSISTÊNCIA: o argumentador usa premissas que não podem ser simultaneamente verdadeiras. Exemplo: “É importante informar que o Governo veio a público dizer que está tomando TODAS as medidas contra essa grave crise, e, também, ressaltar que, segundo Leonardo Boff, a crise é uma mentira da elite”.

*****Erros silogísticos*****

FALÁCIA DOS QUATRO TERMOS: um silogismo possui quatro termos. Exemplo: “O PT é de esquerda, e a Ditadura foi de direita. Logo quem é não é do PT é a favor da ditadura.”

MEIO NÃO DISTRIBUÍDO: diz-se que duas categorias separadas estão ligadas porque elas compartilham uma propriedade em comum. Exemplo: “Os petistas foram opositores da Ditadura Militar. Hoje em dia há pessoas que se opõem a uma Ditadura Militar. Logo, obrigatoriamente quem se opõe a uma Ditadura Militar é petista.”

*****Falácias de explicação*****

INVENTANDO FATOS: o fenômeno que se pretende explicar não existe. Exemplo: “A razão de todos os opositores estarem clamando, unanimemente, por Ditadura Militar, é porque eles têm problemas severos com a autoridade paterna.”

TORCENDO OS FATOS: a evidência para o fenômeno que está sendo explicado é tendenciosa. Exemplo: “Devemos nos preocupar com o perigoso fenômeno do ódio e da intolerância que foi o protesto do dia 15, conforme noticiado pelas reportagens da Carta Capital, Pragmatismo Político e Revista Fórum.”

IRREFUTABILIDADE: a teoria usada para explicar algo não pode ser testada. Exemplo: “Obviamente há uma conspiração americana para derrubar a Dilma, e uma prova de que é uma conspiração é que isso está escondido, não pode ser verificado...”

ÂMBITO LIMITADO: a teoria só pode explicar uma coisa. Exemplo: “Aquele ato isolado de violência é explicado pelo fato de que os opositores ao Governo são incrivelmente violentos e atacam pessoas assim que as vêem.”

PROFUNDIDADE LIMITADA: a teoria explicativa não apela a causas subjacentes. Exemplo: “O Povo votou em Dilma porque sempre elege os melhores governantes.”

*****Falácias de definição*****

DEMASIADO AMPLA: a definição inclui mais do que devia incluir. Exemplo: “Petista é aquela pessoa boa, que ama o próximo.”

DEMASIADO RESTRITA: a definição não abrange tudo o que devia abranger. Exemplo: “Uma pessoa boa é aquela que vota no PT.”

FALTA DE CLAREZA: a definição é mais difícil de entender do que a palavra ou conceito que está sendo definido. Exemplo: “Um bom Governo é aquele que respeita as múltiplas (re)vocalidades da multiplicidade de seres e estares das rugosidades culturais típicas da neo(anti, re, sobre)significação da sociedade enquanto construto sócio-dinâmico”

CIRCULARIDADE: a definição inclui o termo que está sendo definido como parte da definição. Exemplo: “Os únicos protestos que devemos aceitar são aqueles os quais podem ser por nós, de maneira exclusiva, aceitos.”

CONDIÇÕES CONFLITANTES: a definição é contraditória. Exemplo: “Imprensa livre é aquela firmemente regulada, sujeita ao controle de mecanismos governamentais.”

*****minha contribuição*****

Provavelmente ela se encaixa em outra definição, mas gosto dela mesmo assim:

AD HITLERIUM: alguma ação foi tomada pelo regime nazista, que foi mau. Portanto a medida também é má. 

Parece um misto de ad hominem com apelo à autoridade invertido. Mas é um caso especial tão usado que achei que merece nome próprio.

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